F1 Tragédia de 1994 tem as marcas de uma época - Julianne Cerasoli Skip to content

Tragédia de 1994 tem as marcas de uma época

Não resta muito a escrever sobre aquele domingo de 1º de maio de 1994. Mas, ainda que o contraste entre as carreiras dos dois pilotos nascidos em 1960 que perderiam a vida naquele final de semana seja gritante, a história que cerca a morte de Roland Ratzenberger reúne alguns ingredientes que marcam uma época.

Ratzenberger era um piloto pagante. Não nos moldes que temos hoje, de Sergio Perez, Jerome d’Ambrosio, Vitaly Petrov, Pastor Maldonado, cujas carreiras foram cuidadosamente articuladas por grandes empresas desde a adolescência. Pagava do próprio bolso, fechava patrocínios às pressas, e assim foi conduzindo sua carreira.

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=2kxrEZBwTWU&feature=related]

Sempre correndo atrás de dinheiro, o austríaco inclusive chegou a mentir a idade, dizendo-se nascido em 1962, para tentar prolongar a carreira no automobilismo. Depois de ganhar títulos austríacos e do centro da Europa na Fórmula Ford – na mesma época em que Senna já era temido nas categorias de acesso, colecionava títulos, e fazia testes em várias equipes de F1 – foi promovido à Formula 3 Britânica.

A similaridade de seu nome com um personagem da TV inglesa da época, Roland Rat (sim, um rato), lhe garantiu um patrocínio. Chegou a ser contratado pela BMW para correr de turismo e foi terceiro colocado no campeonato de F3000 inglesa em 1989 – enquanto Senna lutava por seu segundo título. Sem perspectivas, foi correr no Japão. Protótipos, turismo, tentou de tudo.

Com o dinheiro ganho no Japão e um acordo com uma empresa monegasca, conseguiu, aos 33 anos, realizar seu sonho: fechou um contrato com a novata Simtek para correr as cinco primeiras provas da temporada de 1994 da F1. Como havia pré-classificação na época, largou apenas na segunda, em Aida, Japão – ficou fora da prova de abertura, em Interlagos. Chegou em último, a cinco voltas do vencedor Michael Schumacher. Não completaria sua terceira classificação.

Não se pode culpar a falta de experiência de Ratzemberger por sua morte ou mesmo levantar o perigo representado pelos pilotos pagantes. Afinal, o austríaco foi vítima de uma falha mecânica, guiando por uma equipe a qual, ainda que muitos considerem a Hispania uma piada, jamais teria lugar na F1 atual. Mesmo andando lá atrás, o time de Liuzzi e Karthikeyan tem um orçamento de R$ 79 milhões.

Ironicamente, no dia seguinte, até o maior piloto da história da categoria sucumbiria a uma falha mecânica, ainda que estivesse sentado no carro que dominara as temporadas anteriores, de uma das equipes mais vencedoras da história. No entanto, o erro da Williams com a “gambiarra” na barra de direção não apaga a quebra da asa dianteira da Simtek.

Andrea Montermini sofreria um grave acidente no mesmo carro, semanas depois

Fundada por Nick Wirth – atualmente à frente da Virgin – e Max Mosley, a Simtek era um empresa de consultoria de engenharia, que se tornou equipe de F1 em 1994. Quebrou no ano seguinte, sem nunca ter conseguido patrocínio suficiente. O time empregou diversos pilotos pagantes, inclusive o filho do tricampeão mundial Jack Brabham – David – e tinha apenas 35 funcionários. Mesmo na época, o número representava 10% em relação à Ferrari.

Duas provas depois da morte de Ratzenberger, Andrea Mondermini, pilotando o mesmo carro, teve um acidente fortíssimo e saiu com algumas fraturas. Depois de 18 meses de existência, a Simtek já somava mais de R$ 15 milhões em dívidas. Mesmo com melhores resultados no ano seguinte, acabou falindo.

Hoje, 17 anos depois, não há mais lugar para o amadorismo da Simtek. Não há mais lugar para pistas estreitas, com muros próximos, como Imola. Não há mais lugares para sonhadores como Ratzenberger. E, desde aquele 1º de maio, não há mais lugar para tragédias.

7 Comments

  1. O que acho mais marcante desse vídeo é o comentário. Antes de se saber que o RR havia morrido, os comentaristas discutem como a tecnologia hoje é moderna e um acidente desse tipo é sobrevivível.

  2. Infelizmente fatalidades têm que acontecer para se avançar. Segundo as leis italianas, pela morte óbvia em pista de Ratzenberger, no sábado, a corrida (domingo) deveria ter sido anulada, mas o show tem que continuar. Se Senna morreria ou não, em outra corrida, é impossível saber, mas o fato é que o espetáculo falou mais alto. É notável a fragilidade do cockpit da Simtek. Será que foi mesmo aprovada no crashtest? Os Tilkódromos em relação às áreas de escape, são salutares. Em vista do austríaco ter quebrado o pescoço, as laterais mais altas hj, apoiando o capacete, além do hans, poderiam ter salvo o piloto austríaco. Para o bem ou para o mal, essa dupla fatalidade/negligência (FIA; além da gambiarra da Willians), salvaram vidas futuras. Pena que para certas melhoras acontecerem, tem que se sacrificar o cordeiro.

    • Não concordo com isso. Fatalidades precisam ser evitadas, assim se avança.

      Se alguma autoridade tivesse tido a coragem de cancelar a prova, ou no mínimo ter exigido um pouco mais de segurança, essas duas mortes teriam sido evitadas.

      Mas o dinheiro fala mais alto.

      • Beatle Ed, mas aí é que está o grande problema, pois se não fosse a “morte de Senna”, em específico, não teria acontencido por exemplo, a reformulação da Tamburello (mesmo já havendo ocorrências de outras batidas, inclusive a batida/fogo de Berger-1989, e pasme, de Ferrari; Piquet bateu na mesma Tamburello (86), mt forte, mas sobreviveu; imagina, o cara vir a 290 km/h e bater em um muro de concreto! Isso só foi possível pela morte do maior piloto da F1), as laterais mais altas, os cabos de aço nas rodas, o hans, enfim depois que perderam um dos gênios,…. Infelizmente, isso não é um defeito apenas da F1, mas da humanidade, onde apenas após tragédias, medidas racionais são tomadas.

  3. Esse foi o mais sinistro fim de semana de corrida que eu já tive oportunidade de acompanhar.

    E isso desde a sexta-feira, quando houve o acidente do Barrichello pilotando uma Jordan, quando seu carro passou por uma zebra e foi catapultado contra uma barreira de pneus, chocando-se violentamente contra uma grade e capotando. Se não me engano ele quebrou o nariz ao bater o capacete contra o volante na batida.

    http://youtu.be/yip0UwGCGIk

    Só esse acidente já mostrava a falta de segurança do circuito, mas as coisas foram piorando, culminando com duas tragédias no sábado e no domingo.

    Antes da corrida, Senna já mostrava toda a sua preocupação e pressão que passava naquele momento, quando se apoia sobre a asa traseira do carro com um olhar distante diferente do normal, talvez influenciado pelos acidentes e pela má performance do carro.

    O resto da história, todo mundo conhece.

  4. O problema é que o preço a ser pago pelas mudanças foi alto demais. E a F1 acabou por se tornar um negócio maçante, cheio de frescura. Claro que a segurança é necessária, mas os excessos da alta cúpula que foi inerte naquele fim-de-semana em Ímola acabou sendo danoso. Porediam ter evitado o pior se tivessem um pouco mais de ombridade, pois vidas foram perdidas e carreiras destruídas.

    Eis uma história de arrepiar sobre o Senna:

    http://f1socialclub.wordpress.com/2011/05/01/um-sonho-veloz-ayrton-e-uns-garotos-de-kart/

  5. Aproveitando a lembrança de Senna, vou colar alguns trechos de uma matéria do caderno de esporte do Jornal Estado de Minas de 2/5/2011, feita pelo jornalista Rodrigo Gini.
    O título: “O mecânico do nº 1 da F1”
    “A engrenagem da terceira marcha se partiu em três lugares e só ficou presa ao eixo de engate por sorte. Na época, ainda tinhamos o câmbio convencional, com os engates em forma de h, enquanto outros times já usavam as borboletas atrás do volante. Foram 18 voltas apenas com a quinta marcha e o Patrese se aproximando perigosamente, mas ele conseguiu”. Palavras ditas pelo escocês Mick Austin, hj na F-Indy, a respeito do GP Brasil de 1991. Austin era o responsável pelo câmbio da Mclaren de nº1.
    Austin para e pensa por alguns instantes até encontrar um adjetivo que descreva Senna. “Inacreditável, é o que eu posso dizer.” E diz o momento que mais o impressionou não foi a pilotagem heroica em Interlagos, mas sua primeira corrida com o brasileiro, o GP de Mônaco de 1988 ( quando Senna estava quase dando uma volta no segundo colocado, Prost). “Ouvia pelo rádio, nos treinos, ele dizendo continuamente: ‘touching’, ‘touching’, ‘touching’ (encostando) e perguntei para os demais mecânicos, o que diabos ele está tentando avisar? Quando o carro voltou aos boxes, entendi perfeitamente, A marca dos quatro pneus estava raspada. Ele encostava nos muros apenas o suficiente para conseguir voltas rápidas.
    PS: Falar o que?


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