F1 GP da Hungria por britânicos, espanhóis e brasileiros: “por que sempre chove em mim?” - Julianne Cerasoli Skip to content

GP da Hungria por britânicos, espanhóis e brasileiros: “por que sempre chove em mim?”

David Coulthard não quis saber de suspense. Nem mesmo os carros saíam para a volta de apresentação, já cravou na BBC. “Especialmente Jenson Button vai pensar: essa corrida é para mim.” Como frisou Pedro de La Rosa, na La Sexta, “ninguém esperava chuva” naquela que Martin Brundle descreveu como “pistinha complicada, que causa muitos erros”. Para Galvão Bueno “é praga do Bernie Ecclestone, que queria molhar a pista.”

Na Globo, a preocupação é com os pneus macios da Ferrari e a posição de largada de Massa. “Ele preferia que estivesse seco e pudesse usar os supermacios. Também dizia que é a pior pista para quem larga do lado sujo. Ele que sempre é muito agressivo na largada.”

Quem voa na largada são as Mercedes, superando as Ferrari. Na frente, a briga é boa entre as McLaren. “Eles vão se tocar!”, exclama o narrador espanhol Antonio Lobato. “Achei que Button ia passar Hamilton”, Brundle se surpreende. “Parece que já recebeu ordem da McLaren”, suspeita Reginaldo Leme.

Os brasileiros veem Massa como o grande prejudicado. “Alonso passou por ele como Massa costuma fazer”, observou Galvão no replay, enquanto Brundle se impressiona com a dificuldade enfrentada pelos pilotos. “Parece rally! Eles são 38s mais lentos que na classificação”. Coulthard explica, assim como De La Rosa para os espanhóis, que está escorregadio pela “natureza da superfície antiga”.

Mesmo de lado, Hamilton pressiona Vettel. “Uma coisa é clara: a Red Bull não tem vantagem no molhado. É uma questão de tempo para ele passar”, observa Coulthard. Na La Sexta, a torcida é para que isso demore porque “a luta ajuda Fernando”. Na verdade, o melhor seria que os dois se enganchassem, não é, Lobato? “Como é muito impaciente, Hamilton pode cometer um erro”.

Mas quem estava passeando fora da pista com certa frequência era Alonso. “Quando você quer algo mais, nestas condições, tem de arriscar”, justifica o narrador. “Alonso ainda pensa em possibilidade de recuperação, por isso está arriscando. Hoje quem está guiando acima do limite do carro não é o Hamilton, é ele”, define Galvão.

Hamilton, enquanto isso, “força Vettel a um erro”, segundo Brundle, e toma a ponta, em uma jogada ensaiada, para Galvão. “Vettel errou e Hamilton vai embora. Na volta anterior, ele botou por fora para fazer o X, Vettel resolveu se defender e não fez o traçado correto”. “O problema é ele sumir agora”, teme Lobato. “Que incômodo é ter Hamilton atrás. Ele fica mostrando o bico onde nem tem espaço. Na sexta-feira, forçou uma ultrapassagem em cima do Alguersuari e perguntei para ele porque tinha feito aquilo. Ele disse: ‘para mostrar que estava lá’”, ilustra De La Rosa.

Depois de mais uma saída de pista de Alonso, o espanhol rapidamente recupera a posição perdida para Massa. Enquanto na Globo, por um momento, há a confusão de quem estava atrás, Brundle vê ordem de equipe. “Ele (Massa) não fez esforço algum para evitar que seu líder o passasse. Pelo menos é como eu vi.” Coulthard concorda.

Logo depois, o brasileiro roda no mesmo lugar onde Alonso e Vettel tinham escapado. “É uma lição para o Massa”, Coulthard ri. “Vettel e Alonso saíram no mesmo lugar e eles deixaram o carro escapar, mas ele tentou brigar com o carro e rodou.” Os espanhóis veem o mesmo. “Se tivesse jogado para o asfalto, como fizeram Alonso e Vettel, não teria rodado”, diz De La Rosa. Na Globo, a saída de pista só evidencia “o problema da Ferrari em aquecer pneu. Alonso também está com dificuldades.”

Marc Gené ficou preocupado com a possibilidade de troca do aerofólio traseiro danificado, porque “demoraria muito”, enquanto Reginaldo, voltas depois, especula se o pit stop menos de 2s mais demorado de Felipe não seria porque a equipe teria efetuado a troca!

Massa e Webber, os “valentes que têm pouco a perder”, como define Lobato, são os primeiros a arriscar com os slick. “A Ferrari vai usar Massa para ter informação”, aponta Coulthard, algo que Gené já havia previsto algumas voltas antes na La Sexta. Ninguém crê que a pista está seca o bastante. “Webber é mais esperto e vai arriscar tudo. Massa também. Eles vão andar no sabão no ladrilho. É como se fizesse bolha de sabão no banho”, compara Galvão.

Brundle volta a lembrar de seu conterrâneo. “Parece a vitória de Button na Austrália”, referindo-se à corrida de 2010. “Recordemos que Button é especialista nestas condições”, Lobato também não esquece. A decisão de parar antes se prova acertada e Webber e Button passam Alonso e Vettel. “Nós os questionamos, mas eles estavam certos”, recua Brundle. Lobato se desespera. “Ai, essas temperaturas do pneu como atrapalham!” Luciano Burti explica. “Cada carro aquece o pneu de um jeito. Depende da geometria de suspensão e aerodinâmica.”

Galvão frisa que “Massa perdeu parte da asa e ele está com dificuldade em controlar o carro”. Mas os colegas britânicos e espanhóis discordam. “Essa parte é mais por regulamento do que por função aerodinâmica”, explica Coulthard.

Enquanto Galvão discursa sobre a “falta de decência” que incentiva “até atiradores” na Internet, citando o boato gerado por um hacker de que Button teria sofrido um acidente, o repórter inglês Ted Kravitz vai até a Ferrari saber a quantas anda a corrida do time. “Me disseram que prova do Alonso está indo bem e que a do Massa está arruinada porque ele não consegue passar o Schumacher, mesmo estando 2s mais rápido”. Para os espanhóis, a explicação está no fato de que “só há um trilho e não dá para sair dele com slick.” Burti destaca como a “Mercedes é difícil de passar” e Galvão, o “rival duro” que é Schumacher.

Britânicos e espanhóis começam a se preocupar com a estratégia. “O pneu macio está durando o dobro do supermacio e isso permite fazer uma parada a menos”, avisa De La Rosa, enquanto Coulthard questiona se Hamilton não teria forçado demais no início do stint.

As elucubrações são interrompidas pelo fogaréu no carro de Heidfeld. Todos lembram que não é a primeira vez que vemos a cena no ano. Todos acreditam que haverá um Safety Car. Parece que Ferrari e Red Bull também, ao pararem Alonso e Webber. “É esperto porque, se tiver um SC, ganham. Se não, já estavam em sua janela para parar”, observa Coulthard. A continuidade da corrida e a maneira como o carro é recuperado provocam críticas à direção de prova na BBC e na La Sexta, e à organização do GP húngaro na Globo. “Eles simplesmente rebocaram o carro na contramão onde o líder do campeonato estava passando”, se revolta Galvão.

Coulthard observa que, após a chuva, a pista ficou mais abrasiva e quem estava colocando pneus macios se dava bem. Para Burti, é porque a “degradação do supermacio é muito alta.” O escocês ainda vê que, como Alonso se mantém muito colado em Webber, significa que está tão mais rápido que nem o efeito da aerodinâmica o freia. “Era para ele estar com Button e Vettel não fossem os erros do início”, lembra Brundle.

A tentativa da Ferrari é antecipar bastante a parada do espanhol. “Para ultrapassar Webber, vai ter de colocar supermacios. Arriscado”, aponta Gené. “Então ele vai a quatro. A princípio, os outros também, mas agora podem esperar para ver a degradação e decidir o que fazer”, explica De La Rosa.

Alonso volta andando 2s6 mais rápido e “os outros vão ter de responder”, para Brundle. Webber o faz, mas adiciona um tempero diferente: coloca pneus macios. “A Red Bull quer chegar ao final, com 30 voltas no pneu. É difícil. Esperávamos 16 voltas no super macio e ele durou menos”, alerta De La Rosa. “São duas ideias completamente diferentes. Não vamos saber como vai funcionar após 10 a 12 voltas. Precisamos de um pouco de chuva para animar ainda mais”, Brundle parece prever o que está prestes a acontecer.

Hamilton copia Alonso. Button vai na linha de Vettel e Webber. De La Rosa gostou. “Para Jenson, o único jeito de ganhar é fazer três paradas. Faz muito sentido porque cobre as chances de vitória da McLaren.” Na BBC, após as primeiras voltas, começam a questionar a estratégia de Hamilton. “Perguntei ao Jonathan Neale se eles querem que Hamilton vá até o final com os super macios. Ele riu e disse: ‘ele vai ter que forçar o máximo (push like hell)’. Será que foi um erro?”, pergunta Kravitz.

Os espanhóis estavam nos comerciais quando começou a chover e a corrida parece que virou de cabeça para baixo. Na volta, Lobato explica: “Começa a chover! Button passou Hamilton, que rodou. Alonso nos boxes, vai ser o primeiro a colocar intermediários”. É interrompido por Jacobo Vega: “Não, Antonio, são macios”. “Madre mia”.

Todos acreditam que a manobra de Hamilton para se recuperar da rodada foi “arriscada”, palavra mais repetida das transmissões. Brundle e Coulthard não acreditam em punição – “seria duro” – e Galvão tem “certeza” de que “vai haver investigação. Ele não pode sair assim.” Acerta.

Os pilotos da McLaren lutam pela ponta, para a alegria de Galvão. “Hamilton adora este tipo de condição de pista. E eu adoro a McLaren porque libera os pilotos para lutar. Isso vem dos tempos de Senna e Prost. É espetacular como eles são liberados.”

Antes da punição, muita água passaria por baixo da ponte. Nem tanta para colocar intermediários, no entanto. Para De La Rosa, a chuva fraca “ajuda quem quer ir até o final com macios porque não deixa o pneu superaquecer”, enquanto Lobato está mais interessado na “patinação artística” em que se tornou o GP com a dificuldade dos pilotos se manterem na pista.

É demais para Hamilton, que coloca os intermediários e que deveria estar pensando “por que sempre chove em mim?” – expressão inglesa dos azarados que até já virou música – segundo Coulthard. O inglês aposta pela chuva. “É uma decisão difícil”, Brundle fica em cima do muro. Os espanhóis não concordam. “É uma decisão muito arriscada porque era primeiro. Não tem por quê”, critica De La Rosa. “Não esperava isso de Hamilton. Quem colocou intermediários já está lento”, completa Gené.

“A equipe nas trocas do Hamilton só fez besteira”, avalia Galvão. Os britânicos querem saber de quem foi a decisão. “Jonathan Neale diz que foi Hamilton quem decidiu porque ele era o primeiro e tinha a escolha”, intervém Kravitz. De La Rosa também acredita que este é o caso. “Nessa situação, o piloto importa mais que o pitwall porque só ele sabe como está a pista. Foi Hamilton que quis entrar, porque não faz sentido que só tenham chamado ele. Se é para arriscar, escolhe quem está atrás.” Burti concorda. “Por que a McLaren errou com Hamilton e acertou com Button? Quem decide é o piloto.”

Mesmo com a vitória de sua equipe, De La Rosa reconhece que a Ferrari salvou bem uma corrida que poderia ser bem pior. “Tenho que dizer, Marc, que tudo conspirou contra vocês neste final de semana e ainda assim conseguiram um pódio”, afirmou, dirigindo-se ao colega Gené. Uma questão de sorte, para Galvão. “Alonso vai para o pódio só porque a estratégia de Webber e Hamilton não funcionou. A posição normal dele seria logo à frente do Massa.”

Todos destacam como Button “aproveita as oportunidades” e “sente onde está a aderência com a pista com partes secas e molhadas”. Para Galvão, “é tão suave com as pessoas quanto ao conduzir o carro”, ainda que, logo depois, diga que “caiu no colo dele a vitória.” Mas os espanhóis se preocupam mais com outro bom resultado de Vettel. “Foi sorte de campeão colocar macios na volta 42 e chover, o que ajudou a durar até o final, nos moldes do que aconteceu em Mônaco”, acredita De La Rosa. “É nessas condições que se ganha um campeonato. Vettel não podia vencer, mas manteve a calma e pilotou com a cabeça”, concluiu.

7 Comments

  1. Adoro as comparações entres as emissoras. E é impressionante ou decepcionante como as bobagens em excesso são as mesmas, só mudam para que lado cada um torce.
    Parabéns!

  2. Foram até gentis em não destacar a falha do Galvão ao justificar o incêndio do Heidfeld como “culpa do reabastecimento”. Para mim esses locutores estrangeiros não cometem tantos erros …

  3. Oi Julianne, muito bacana esses comparativos que você faz. Uma coisa me chamou atenção: “os espanhois estavam nos comerciais”. Detesto comercial no meio das corridas. A Globo já fez isso na década de 80, mas Graças a Deus abandonou aquela bobagem. Mas a Band é dona de colocar comercial nas transmissões da F-Indy. E aí eu pergunto:

    Quanto tempo dura uma corrida? em média é quase que o mesmo tempo de uma partida de futebol, e eu nunca vi uma emissora colocar comercial no meio do futebol, exceto no intervalo. Então pra quê comercial no meio da corrida?

    A Band já comeu pit stops, ultrapassagens, etc. Isso não se faz, muita coisa pode acontecer durante um comercial no meio de uma corrida.

    Outro detalhe: O profissional estar no autódromo onde acontece a corrida faz muita diferença, por mais que a tecnologia permite transmitir a distância, estar aonde tudo acontece dá outro ponto de vista.

    Parabéns, Julianne.

    • Acho muito bom esse modelo da Globo de fazer uma chamada rápida, cortando o áudio apenas por alguns segundos. Na Espanha, eles dividem a tela e você não consegue ver, nem o comercial, nem a corrida – e SEMPRE alguma coisa importante acontece. Na BBC, como é uma TV pública, eles não têm esse problema – mas tinham até pouco tempo atrás, quando as corridas eram na ITV.
      Ter todos in loco faz uma diferença gritante. Uma atuação que gostaria de destacar é do repórter da BBC, Ted Kravitz. Ele busca informação o tempo todo junto às equipes, sempre tem algo importante para reportar.

  4. Foi uma corrida onde o pessoal da Globo comeu bola em alguns momentos, mas na parte final até que se sairam melhor. Há um certo equilíbrio pela forma de transmitir corrida.

    E o Ted Kravitz seria uma espécie de Elia Jr. da BBC?

  5. Parabéns pelo excelente blog. Essa comparação entre as 3 emissoras é fantástico.

  6. A perfeição na transmissão não existe, mas com certeza quem está mais próxima dela é a BBC.


Add a Comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pesquise
Redes Sociais
As últimas
Navegue no Site

Adicione o texto do seu título aqui