F1 A queda da Ferrari e as saudades de Fiorano - Julianne Cerasoli Skip to content

A queda da Ferrari e as saudades de Fiorano

Schumacher testando no quintal de casa: bons tempos

Ao fazer uma avaliação sobre seus dois primeiros anos na Ferrari no final da temporada 2011, Fernando Alonso foi direto: “quando cheguei aqui, esse não era um time vencedor. Agora evoluímos em diversas áreas, nas estratégias, nos pit stops, na preparação para as corridas. Para o ano que vem, só falta o carro. Assim, teremos condições de lutar pelo título.”

Pois, bem. A Ferrari não fez um bom carro. Novamente. Ainda que a melhoria em toda a execução de corrida somada ao talento de seu líder faça com que a equipe seja atualmente a terceira no Mundial de Construtores e primeira no de pilotos, a posição real do carro não é bem essa. Mas como explicar a decadência de uma equipe que dominou a F-1 na última década, tendo conquistado 8 dos últimos 13 títulos de construtores?

Ainda que muitos se apressem em apontar o fim da era Todt-Brawn-Schumacher (o projetista Rory Byrne continua como consultor da equipe e vem trabalhando ativamente no projeto deste ano) como o principal motivo para a decadência vermelha, muito mudou na F-1 desde o último título da Scuderia, em 2008.

Uma grande revolução nas regras ocorreu em 2009 e mudou o panorama da relação de forças, possibilitando que a Red Bull entrasse na equação das grandes, enquanto a própria Ferrari e a McLaren pagavam pela intensa batalha técnica que haviam travado nos anos anteriores, dedicando menos recursos ao novo projeto.

Ainda que a McLaren, mesmo recuperando terreno tenha igualmente falhado na busca por fazer frente à Red Bull e vencer um Mundial de Construtores, algo que não consegue desde 1998 (ainda que na prática tenha feito pontos mais que suficientes em 2007), é a queda da Ferrari que chama a atenção e que, ano após ano, não dá sinais de ser apenas um hiato de conquistas.

Claro que alguns podem lembrar que Alonso por pouco não foi campeão em 2010, mas o terceiro lugar no Mundial de Construtores daquele ano mostra que aquela foi uma questão mais de oportunismo que fruto de puro desempenho.

O fato é que a queda técnica da Ferrari coincide com o banimento dos testes durante a temporada, algo simples de entender, afinal, o time italiano é o único que possui um circuito particular para colocar o carro na pista quando bem entender.

Ou assim era nos tempos de Schumacher-Todt-Brawn. Com isso, toda a estrutura de R&D da equipe foi montada baseada nessa realidade e obviamente a maior parte do investimento visou aperfeiçoar os testes de pista. Sem essa “mordomia”, os rivais naturalmente voltaram as atenções às simulações, que hoje reinam quando o assunto é desenvolvimento. Isso explica por que a Ferrari parece sempre estar correndo atrás das rivais: seu programa simplesmente não é tão eficaz pela menor importância dada ao túnel de vento e CFD por anos a fio.

Computando apenas os testes coletivos, foram 63 dias de atividades em 2008, último ano dos ensaios durante a temporada e, não coincidentemente, último título ferrarista. Em 2011, a pré-temporada contou com apenas 12 e outros quatro serão realizados no início de maio, em Mugello, na Itália.

A Scuderia vem investindo pesado em simuladores e contratando profissionais que trazem uma nova filosofia de trabalho. Mas até Pat Fry, que chegou como salvador da pátria em meados de 2010 e já está pressionado, logo percebeu que, em se tratando de Ferrari, a paciência é sempre curta. Por isso tanta esperança é depositada nesta primeira chance em quatro anos de se testar após o início do campeonato. De muitas formas, o GP da Espanha, o primeiro após as práticas de Mugello, irá definir o destino da equipe nesta temporada.

16 Comments

  1. Ju, sei que é uma pergunta inglória, mas vc saberia dizer se a diferença financeira de testar em uma pista particular, no caso da Ferrari, e desenvolver túneis de vento e CFD, ambos também caros, “sustentariam” esse corte de testes práticos?

    • O problema dos testes são os gastos com motores, câmbios, etc., que se somam aos deslocamentos e à manutenção de uma equipe de testes. Lembrando que testes de pista não excluem CFD e túnel de vento!

  2. Julianne,

    Comenta-se que o novo Pacto de Concórdia está em plena negociação com o Bernie. Você acredita que podem surgir grandes mudanças em relação a testes, restrições orçamentárias, número de carros por equipes e por que não, uma definição se as pequenas equipes ainda terão espaço na F1 em um futuro próximo?

    Abs.

    • Se há um consenso entre as equipes é que o regulamento deveria servir para controlar os gastos e acho que isso responde sua pergunta sobre a manutenção ou não das restrições. É possível que haja mais testes, mas nunca nos níveis que tínhamos em um passado recente. Hoje, com poucas montadoras, é inviável.
      Essa questão das equipes pequenas, diretamente ligada à manutenção ou não da obrigatoriedade de todos serem construtores, é o ponto mais delicado. É de se respeitar a informação dada por Livio Oricchio de que Montezemolo teria conseguido incluir a tal cláusula do terceiro carro. É difícil imaginar, sem saber com que extensão essa ideia seria adotada, a influência que teria nesse esporte cujo DNA é ser um campeonato de construtores. E, mais grave: a cláusula teria sido aceita porque Ferrari e Red Bull agora seriam acionistas da F-1. Por enquanto, há muita coisa debaixo do tapete para fazer qualquer avaliação.

      • Julianne,

        E a saída repentina e inesperada do Adam Parr, depois de ser considerado pelo próprio Frank Williams como uma peça importante na direção da equipe, parece ter sido influenciada pela negociações com o Bernie.

        Quem ri por último, ri melhor?

        Pois quem tem a faca e o queijo sempre foi o Bernie…

        Abs.

        • Sim, parece que foi mais uma jogada do baixinho! Na minha opinião, melhor para a Williams.

  3. A Mercedes pode sair da F1 por razão de discordar do acordo atual ?

    • Se de fato Red Bull e Ferrari se tornaram sócias da F-1 e a McLaren fechou seu acordo por fora, ignorando a FOTA, como tem sido noticiado, eles têm motivos suficientes para estarem descontentes!

  4. Julianne, há algum motivo aparente da Mclaren não ter seguido o caminho da Red Bull e Ferrari de se tornarem sócias da F-1? Isso não deixaria a mesma numa posição desfavorável perante as duas?

    • Imagino que a McLaren Group não tenha tanta bala na agulha quanto uma Ferrari ou Red Bull, mas não há nada de concreto, nem que confirme a informação, nem que explique essa diferença.

      • Você acredita que a McLaren Group seria mais fraca em termos econômicos do que a Red Bull?

        • Acredito que sim.

          • Obrigado pelas Respostas ^^ Mudando um pouco de assunto, sabe informar a quantas anda o desenvolvimento de carros esportivos da Mclaren? Li em alguns lugares sobre possíveis novos modelos, mas nada se concretizou, será que vão parar no MP4-12c?

  5. Julianne,

    Ótimo post, gostaria só de acrescentar que particularmente acho que em algum momento se chegará no equilíbrio entre testes de pista e simulações nos computadores e túneis de vento.

    Mas queria dizer que acho vergonhoso quando uma equipe comenta que o túnel de vento está “descalibrado” e por isso o carro está ruim.

    Calibrar um túnel é um procedimento que é quase uma disciplina independente, e eles tem que ter ciência que se não calibrar, não adianta colocar o carro lá, é melhor nem colocar!

    Outro ponto que até comentei uma vez em um post do Lucas de Grassi que ainda não dá para projetar um carro totalmente por CFD, pois requer também uma “calibração” do modelo. Tanto que a Marussia/Virgin ficou no mesmo patamar que a Hispania, possuindo super computadores que simulavam o carro todo, mas não tinham resposta de túnel e os resultados da pista mostraram que o carro não era bom.

    Resumindo…as três disciplinas se complementam, Túnel-CFD-Pista e os testes durante a temporada devem contemplar isso. Se você quiser, tenho um relatório que fizemos na faculdade de um projeto de um avião radio controlado.
    Projetamos ele usando CFD,Túnel de vento e claro, voando para se obter mais respostas. Se quiser te passo pq lá tá bem explicado como essas disciplinas se completam.

  6. “o time italiano é o único que possui um circuito particular ”
    Eu acho que A1 – Ring, depois de uma boa reforma, é dos bovinos energéticos.

    Sobre essa panelinha do pacto, disseram que a F1 sem Ferrari não
    é F1. Agora eu quero ver F1 com RBR e STR contra Ferrari e Sauber.

    Abr.


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