F1 A sala secreta dos comissários - Julianne Cerasoli Skip to content

A sala secreta dos comissários

Se a tecnologia é apontada por muitos para resolver as falhas dos juízes em jogos de futebol, o exemplo da F-1 mostra que é melhor ficar com um pé atrás. A FIA divulgou ontem detalhes do que chama “comissariado cibernético”, mostrando a quantidade de informações que os “juízes” têm à disposição para tomar suas decisões durante os GPs.

Enquanto todos nós temos acesso a replays por dois ou três ângulos de câmera, eles podem ver e rever o incidente por todos os ângulos existentes – que nem sempre são mostrados na TV – além de filmagens do circuito interno e onboard.

Além das “provas” de imagem, os comissários têm à disposição um sistema de GPS, para saber onde os carros estão em determinado momento; a comunicação via rádio com as equipes – novamente, não apenas aquelas mostradas na transmissão – e, a partir de meados do ano passado, a telemetria dos carros em tempo real. Esses profissionais também dispõem de um disco rígido com todas as punições do passado e podem verificar se um piloto é reincidente e, assim, aplicar uma punição mais dura.

Primeiramente, isso mostra por que as decisões demoram tanto. O volume de dados que os comissários têm à mão e absurdamente grande. E, pior: mesmo assim, por várias vezes as punições ficam para depois da prova, já que eles sentem a necessidade de ouvir os pilotos. Isso gerou episódios em que o resultado final só foi divulgado horas após o fim do GP.

E, sim, eles são inconsistentes. À primeira vista, a determinação em vigor após o GP do Bahrein deste ano de que um piloto não pode forçar o outro além dos limites da pista depois que o rival coloca a asa dianteira em paralelo com seu carro parecia colocar um toque de lógica no mundo de subjetividades das regras esportivas. Porém, houve episódios, como na dupla ultrapassagem de Hulkenberg sobre Hamilton e Grosjean na Coreia, em que isso foi ignorado.

Mas é fato que uma regra objetiva ajudou bastante. Talvez o caminho para os comissários não passe por tanta tecnologia na hora de apurar o que aconteceu, mas em deixar absolutamente claro o que pode e o que não pode.

Sim, automobilismo é um campo difícil para se aplicar regras esportivas porque o “campo de jogo” não é sempre o mesmo. Jogar um carro fora da pista em Mônaco não é o mesmo que na Malásia; passar reto nas chicanes de Monza não é o mesmo que em qualquer outro lugar, por exemplo, e essas diferenças costumam entrar na pauta das reuniões dos pilotos, que tomam ares de encontros de maçonaria. Por que não tornar esse processo também mais transparente?

Mas talvez o que mais incomode junto da demora nas decisões seja a falta de consistência nas punições. Isso, principalmente nas classificações – ora piloto X perde 3 lugares, ora piloto Y perde 10 pelo mesmo delito. Isso é explicado pelos comissários pela reincidência, e é um princípio que faz sentido. Porém, a maneira como o reincidente é punido deveria ser mais clara. Houve uma tentativa nesse sentido com as advertências, mas nunca ficou claro com quantas “faltas” se leva um “cartão”. Como as transgressões às regras podem ser variadas, quem sabe um sistema de pontos na carteira não daria conta?

A F-1 é mais complexa que um jogo de futebol, é inegável, e pode ter um sistema de comissariado cibernético e de regras ao mesmo tempo mais específicas e com certa flexibilidade. Inventem o que for necessário, desde que não esqueçam da coerência e da agilidade. Ou será que é pedir demais querer que um evento esportivo seja justo e acabe quando termina?

3 Comments

  1. Julianne,

    É verdade que a homologação final dos resultados do campeonato de 2012 só sai (ou saiu) agora em fevereiro? São essas avaliações nebulosas que trazem descrédito à categoria e provocam a evasão da audiência. Só ficam mesmo os aficionados fanáticos e apaixonados por automobilismo em geral.

    Como exemplo, uma das punições mais absurdas, a meu ver, foi a de Hamilton em SPA em 2008, quando ele DEVOLVEU a posição a Raikkonen e em seguida aplicou-lhe um fantástico “drible”, ultrapassando-o novamente. O que queriam os comissários? Que Hamilton desse pelo menos mais meia volta pela pista antes de tentar de novo? Francamente, isso é castrar a adrenalina e a emoção do verdadeiro automobilismo! Aí, quando ganha (às vezes depois do pódio) um lá de trás, é aquele blá blá blá, de que é frio, sabe esperar, é inteligente, estrategista e outras coisas que cabem apropriadamente e geram emoção legítima em um jogo de xadrez, não em automobilismo!

  2. Ju, vejo, que as vezes, alguns comissários são patriotas…Em 2010, em Silverstone, Alonso foi punido por ultrapassar Kubica por um “suposto” corte da chicane, ora, se não fosse para fora, bateria no polonês, Mansell era um dos comissários e, sabemos da birra dos ingleses com o espanhol…http://www.youtube.com/watch?v=wQqz3bJe-IA, no mais, a categoria poderia adotar ex-pilotos/árbitros “forasteiros”, como fazem no futebol e, assim, poderíamos ter decisões mais rápidas, em tempo real, e sendo imparcial. Ju, o fim do seu post é perfeito!

  3. Perfeita análise. Gosto da ideia de uma tabela de pontos para que seja aplicada uma punição a um determinado piloto. E acredito que mesmo eles tendo toda essa tecnologia, falham na demora para aplicá-las e pelo fato de quase toda corrida, ser um ex-piloto diferente como chefe dos fiscais. São interpretações diferentes de situações semelhantes.

    Mas a pior falha é quando uma punição vem só depois da prova, a menos, é claro, quando o causador do incidente abandona a corrida antes da punição sair.


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