O bi de Piquet e a legalidade da Brabham - Julianne Cerasoli Skip to content

O bi de Piquet e a legalidade da Brabham

No GP da África do Sul, Nelson Piquet conquistou seu segundo título mundial com o que pode ser chamado de nó tático em Alain Prost, da Renault, que chegara à última etapa do campeonato de 1983 liderando o campeonato por dois pontos. O francês tinha 57 pontos, contra 55 do brasileiro e 49 de René Arnoux, da Ferrari, que também tinha chances.

Depois de um 1982 recheado de acidentes, o efeito-solo foi proibido, o que fez com que os carros evoluíssem bastante ao longo da temporada e se alternassem na relação de forças. Isso, aliado às quebras, bem mais comuns em uma época em que a F1 se rendia aos motores turbo (Piquet, por exemplo, abandonou quatro das 15 etapas), fizeram com que o campeonato fosse bastante aberto e disputado, ainda que a Ferrari tenha se mostrado com o melhor conjunto ao longo do ano, com as Renault também fortes e a Brabham do campeão melhorando muito na parte final.

A Brabham de Piquet era legal?

Tanto, que Piquet venceu a primeira etapa, no Brasil, e só voltaria ao primeiro lugar com três corridas para o final, fechando o ano com três vitórias para ser campeão. A explicação seria uma alteração na turbina do motor BMW, e as adaptações feitas pelo lendário projetista Gordon Murray.

É bem verdade, contudo, que os títulos de Piquet na Brabham são questionados no paddock. Assim como é comum falar que a Benetton com a qual Schumacher foi bi era ilegal, há dúvidas se os campeonatos de 81 e 83 foram limpos.

Em relação ao bi, o que se comenta é que o carro estava sempre abaixo do limite de peso e, como a medição na época era feita apenas após as corridas, Gordon Murray e companhia usavam o combustível como uma espécie de lastro para não serem pegos. Essa suspeita vem do fato de que Piquet sempre fazia o reabastecimento bem depois dos rivais e usava o ritmo obtido nestas voltas em que o carro estava leve para ter vantagem.

“Tudo o que posso dizer é que sempre tentávamos fazer com o que o carro estivesse o mais leve possível”, disse o ex-chefe de mecânicos da Brabham, Charlie Whiting. “Costumávamos fazer 60 a 70% da corrida no primeiro jogo de pneus porque isso significava que podíamos correr muito perto, ou abaixo, do limite de peso antes de ajustá-lo com a quantidade de combustível que colocávamos”, admitiu o próprio Murray.

Como aconteceu em várias ocasiões na F1, ainda que o carro chegasse ao final de forma legal, fica claro que a competição não era totalmente justa. Um exemplo mais recente disso, ainda que menos contundente, são as questões levantadas em relação à flexibilidade das asas da Red Bull no ano de seu domínio.

Voltando à corrida do título de Piquet

Essa teoria, inclusive, muda a cara daquele GP da África do Sul, pois nele foi adotada justamente a tática inversa, de fazer um primeiro stint muito curto. A lentidão de Piquet na parte final da prova, então, não seriam resultado dos abandonos dos rivais, mas sim (ou também) da necessidade de poupar combustível.

A versão oficial, contudo, é outra. Depois de vencer as duas etapas anteriores, Piquet foi o segundo colocado na classificação, atrás de Tambay, da Ferrari. Passou o francês nas primeiras voltas e passou a imprimir um ritmo muito forte. “De 220 litros, saímos só com 70 litros no tanque. Eu abria quase três segundos por volta”, contou o brasileiro, que viu seus rivais ficarem pelo caminho: Arnoux teve problemas em sua Ferrari logo na nona volta, e Prost viu o motor Renault quebrar na 35ª de 77 voltas.

A vantagem aberta no início em relação aos demais era tanta que Piquet fez o reabastecimento e voltou ainda em primeiro, mas diminuiu o ritmo, uma vez que seria campeão com um quarto lugar. Foi ultrapassado por Patrese, Lauda e De Cesares, todos os que estavam na mesma volta que ele, mas com a quebra do austríaco voltou ao pódio, selando o bi por dois pontos.

6 Comments

  1. Ju, tudo bem?
    Mas se a pesagem era feita de tanque cheio e após a corrida, não seria lícito usar combustível como lastro para bater o peso?
    Grande Abraço

  2. “Ser humano, para alguém que passa a vida fazendo papel de super-homem, não parece difícil quando o homem é Nelson Piquet” – caraca, que baita texto do Regi para encerrar a reportagem!

  3. É interessante que as pessoas falam que os títulos do Piquet são contestados, mas nunca li que se contestam o titulo de 1988 do Senna, em que ele marcou muito menos pontos que o Prost.

    Ambos estavam dentro do regulamento, mas só o do Piquet é contestado pelo padock?

    Sério?

    • Você vai gostar de uma entrevista exclusiva que fiz com o Prost sobre aquela temporada e que será publicada no Yahoo provavelmente semana que vem.

      • Não esqueça de publicar o link, quando ela sair.

  4. É impressão minha ou a foto de abertura desse texto está invertida?


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