F1 Estratégia do GP da Austrália e o fator Verstappen - Julianne Cerasoli Skip to content

Estratégia do GP da Austrália e o fator Verstappen

Era para ser uma corrida das mais simples do ponto de vista estratégico: pneus duros e médios com rendimento muito parecido, e desgaste de bem menos que um décimo por volta – ou seja, algo que seria compensado pelo consumo de combustível – e o macio com um pouco mais de desgaste, mas não o suficiente para provocar uma corrida com duas paradas.

Mas havia um fator que potencialmente abriria possibilidades: o tráfego. Até por conta dele, quem saia fora do top 10 poderia arriscar largar com o médio – cinco pilotos o fizeram – e estender o primeiro stint. E quem estivesse largando atrás deles faria de tudo para se livrar desse trânsito o mais rápido possível, algo que poucos conseguiram e que fez a diferença no meio do pelotão.

Lá na frente, Hamilton primeiro perdeu a liderança nos metros iniciais, depois danificou o assoalho do carro, provavelmente por atacar demais uma zebra, na quarta volta. A Mercedes não divulgou quantos pontos de aerodinâmica ficaram faltando, mas tudo indica que não foi algo muito grave, talvez o suficiente para a traseira escorregar um pouco mais e tirar um pouco da aderência, o que explica as constantes reclamações do inglês via rádio.

Mesmo assim, o top 4 permaneceu compacto o suficiente para que os pilotos não sentissem o efeito da turbulência de quem ia à frente e ao mesmo não não deixassem o rival mais próximo escapar – em outras palavras, estavam todos na distância de um possível undercut caso conseguissem algumas voltas voadoras logo antes da parada.

As equipes estavam considerando a volta 12 como o começo da janela de pit stops não pelo desgaste dos macios, mas pela possibilidade de colocar o médio e ir até o final a partir dali. Ou seja, se seu piloto estivesse sob risco de levar um undercut, essa seria a hora de parar. Quando Kimi Raikkonen arriscou e abriu os pit stops, a Ferrari tinha Verstappen a 1s6 de Vettel, e decidiu que o melhor era se defender e parar o alemão.

Nesse momento, a vantagem de Hamilton para Vettel era de 2s8, potencialmente grande demais para o alemão conseguir um undercut, mas a Mercedes foi conservadora e decidiu parar Lewis. Conservadora demais, alguns podem dizer, mas naquele momento ainda se esperava que a Ferrari, como de costume, viesse à vida na corrida – inclusive, a Mercedes já viu o filme de perder corrida para a Ferrari em Melbourne com um undercut.

Verstappen, que provocou tudo isso, ficou na pista, assim como Bottas e Leclerc. Todos fazendo a melhor estratégia, com pista limpa e parando depois da volta 20.

Enquanto isso, no meio do pelotão, conseguir se livrar rapidamente de Giovinazzi, que largara com os médios e vinha segurando todo mundo, fez a diferença para Magnussen e Hulkenberg, os dois pilotos que responderam ao undercut de Raikkonen e evitaram a “armadilha” da Alfa. O ritmo lento do italiano, contudo, seria decisivo para arruinar a corrida de outros pilotos, como Albon e Norris.

Gasly, por sua vez, foi um capítulo à parte: foi parar atrás do piloto que mais quer sua vaga, Kvyat, e lá ficou.

Voltando à disputa da frente, Vettel começou a perder rendimento após seu pit stop e começou a pilotar para um delta visando manter a posição em relação a Verstappen. A missão foi cumprida, mas Max estava muito mais veloz quando colocou os pneus novos e passou com facilidade. A vantagem de velocidade de reta na manobra levantou a dúvida se Vettel não tinha um problema de motor, ainda que a posição da Ferrari seja de que ele não se deu bem com os pneus médios.

Quando Verstappen passou Vettel, ele estava a 2s de Hamilton e também com os pneus muito mais gastos. Mas o inglês conseguiu administrar a vantagem até o final, e Max não ajudou cometendo um erro na volta 49 que lhe custou cerca de 2s.

Isso, pelo menos, o tirou do ar turbulento da Mercedes e lhe deu a chance de entrar na disputa pessoal com Bottas para ver quem ficaria com o ponto da volta mais rápida. Leclerc, outro que tinha os pneus mais novos, também tentou entrar na farra depois que recebeu a ordem da Ferrari de não passar Vettel, e isso deixou ainda mais escancarado o fato de que realmente não era o dia da Scuderia: ele ficou a meio segundo da Mercedes e da Red Bull mesmo com o modo de classificação à disposição, assim como os rivais. Em um dia no qual um piloto se deu bem com o pneu macio, outro com o médio, a falta geral de ritmo foi outra fonte de dor de cabeça.

No final, Bottas achou espaço entre os retardatários e ficou com o ponto extra, com a vitória e com 20s de vantagem em cima do próprio companheiro Hamilton, seguido muito de perto do que esperava pelo rival em que não apostaria.

No Bahrein, o asfalto é uma mesa de bilhar e vai fazer mais calor no início da corrida, ainda que a prova ao entardecer mude o panorama. As curvas de média que não agradaram a Ferrari seguem por lá, assim como a chance do vento, outro fator importante em Melbourne, dar as caras novamente.

3 Comments

  1. Dos diversos comentários de jornalistas especializados, cheguei a uma conclusão, a Ferrari chegou da fabrica de Maranello com equívocos no acerto que não puderam ser mudados na Austrália, o que deixou todo mundo perdido na equipe e sem muitas opções de ajustes.

  2. Análises ótimas e imparciais, a melhor dos josnalistas brasileiros.
    Será que há alguma chance de ocorrer o troca-troca entre Kvyat e Gasly?
    Cenas dos próximos capítulos…
    Grande abraço a todos do blog!


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