F1 Por dentro da F-1 e pela volta da boa e velha brita - Julianne Cerasoli Skip to content

Por dentro da F-1 e pela volta da boa e velha brita

Se fizesse uma eleição do momento mais decisivo no campeonato do ano passado, imagino que o abandono de Sebastian Vettel no GP da Alemanha teria sido, pelo menos, um concorrente muito forte. Dá para ter mil teorias de por que o alemão saiu da pista naquele ponto, mas o mais importante é por que ele não conseguiu voltar: havia brita ali. Em um campeonato em que as áreas de escape de asfalto cada vez ganha mais espaço, foi a boa e velha brita que fez a diferença.

Porque se aquela área de escape fosse asfaltada, Vettel teria perdido 2, 3s, permaneceria na liderança e Hamilton jamais venceria, pois se aproveitou do Safety Car causado pelo rival para tal. E isso nos leva a outra pergunta: quantas emoções as áreas de escape asfaltadas estão nos tirando e o quanto elas deixam de testar a habilidade dos pilotos?

Sim, as britas passaram a ser substituídas por asfalto por questões de segurança, mas quem leu o Por Dentro da F-1 da última corrida sabe do nível de refinamento do que se tem hoje em função do controle das consequências de acidentes à disposição da FIA. Isso, sem contar as barreiras techpro, sistema francês desenvolvido em conjunto com a federação em 2006 que reduz consideravelmente o impacto em caso de acidente. Falando nestas barreiras, elas passaram por um grande teste em 2015, na Rússia, em acidente com Carlos Sainz: foi o impacto mais forte registrado nos últimos anos, de 153kmh, com pico de desaceleração de 42G, e piloto nada sofreu. E estamos falando de uma falha mecânica e em um circuito de rua, ou seja, uma situação perigosíssima.

Isso sem falar em outro exemplo: Suzuka. Não sei se dá para ter a noção exata na TV, mas as áreas de escape lá são bem pequenas especialmente se pensarmos na velocidade em que os carros fazem as curvas. E a opção foi por continuar com brita na maioria das partes. Sim, a última morte na F-1 aconteceu devido a um acidente ocorrido lá, mas por uma série de fatores que não têm nada a ver com o solo da área de escape. Suzuka é, sim, a prova de que a F1 não precisa mais de áreas de escape asfaltadas.

É justamente por toda essa evolução que aconteceu depois que as áreas de escape com brita começaram a ser trocadas por asfalto que coloquei a seguinte pergunta aos chefes da divisão de segurança da FIA há alguns meses, enquanto eles nos explicavam todo o conjunto de medidas que diminuiu o risco de consequências graves em acidentes nos últimos anos: já que os carros estão tão seguros, não seria a hora de liberar a pista um pouco mais? Mesmo entendendo que, quanto maior a segurança, melhor para o lado de vocês, será que, quando isso interfere negativamente nas disputas, não seria algo a ser revisto?

No final da discussão, ficou claro que a F-1 pode, sim, se flexibilizar. E basicamente a culpa pelas saídas asfaltadas recaiu sob a MotoGP. “Até mesmo uma via normal não pode ser segura apenas para os carros, precisa ser para as motos também”, argumentou o respeitadíssimo médico Gerard Saillant. “Temos que pensar que não é só a F-1 que corre nestes circuitos e os demais têm outras necessidades”, apontando a MotoGP como grande exemplo.

Atualmente, F-1 e MotoGP dividem quatro circuitos: Austin, Barcelona, Áustria e Silverstone. Em três deles as corridas costumam ser mornas (em Austin o traçado excelente e mudanças no clima ao longo do fim de semana costumam compensar). E em todas há problemas com limites de pista que todo ano Charlie Whiting tinha que resolver e que sempre causam confusão porque é muito difícil manter uma consistência nas punições – e ninguém na verdade quer ficar vendo punição vinda da direção de prova para quem não respeita os limites de pista. Isso deveria acontecer “automaticamente”, com a pista punindo.

Seria, então, uma questão de evitar os circuitos em que a MotoGP corre? “Tenho que concordar com você”, disse o Dr. Saillant. 

Não parece, contudo, ser o caminho que a F-1 está tomando, uma vez que se comenta sobre a possibilidade de um GP na Holanda em Assen, outro circuito que recebe as motos. De qualquer forma, cabe a reflexão se, na era do halo, das luvas biométricas, das câmeras de alta velocidade, da célula de sobrevivência que passa por testes cada vez mais duros, se não daria para trazer as britas de volta em circuitos como Melbourne, Bahrein, Paul Ricard, Sochi, México e, por favor, Abu Dhabi.

7 Comments

  1. Podiam simplesmente desenvolver algum produto, um pó ou algo do tipo que ao mesmo tempo que segurasse o carro ou moto, em caso de escapada, aderisse aos pneus e demorasse umas 5 voltas para sair, aí sim teríamos a perfeição do mundo asfalto x brita.

  2. Essa resposta do pessoal da FIA não é muito convincente. Em Spa não tem corrida de moto GP e tudo é asfaltado por lá. I clusove anunciaram essa semana q vão investir pesado para renovar o circuito para a Moto GP. Não vão precisar gastar dinheiro com isso. Em Montréal tb só tem corrida de F1 e tudo foi asfaltado. Isso tirou muito de pimenta dessa corrida pq antes quem cortava as chicanes pagava caro, hj só perdem alguns segundos.

  3. Sempre achei a abolição da brita exagerada.
    Acho que as áreas asfaltadas só incentivam os pilotos a não se preocuparem com as consequências de sua pilotagem. Corridas como as da Áustria são patéticas, já que TODOS os pilotos se aproveitam dessas áreas, assim como das zebras baixas.
    É muito mais fácil pilotar sem o medo de errar e sair da prova, como acontecia há anos atrás.
    Senna perdeu o GP da Itália em 1987 por não aliviar na entrada da Parabolica. Hoje em dia, nada teria acontecido e ele venceria aquela prova.

  4. Concordo plenamente com você Ju, mas também entendo o por que dos Circuitos aderirem as áreas de escape asfaltadas.

    Paul Ricard quando foi comprada pelo Tio B recebeu todas essas áreas de escape por que se tornou uma pista de testes, E por isso entendo que quem ia la testar os seus carros não ia querer que ele fosse parar na caixa de brita, ainda mais quando não se tinha nenhuma equipe de resgate por perto..

    A F1 é apenas uma das categorias que corre nas pistas e geralmente é a que tem a melhor estrutura de resgate. E mesmo assim as vezes observamos que demora até o trator chegar no local do acidente para retirar o carro batido ou danificado. Muito disso foi amenizado por os pilotos utilizarem aquelas zonas laranjas, que são áreas abertas, no guardrail quando tem que parar por problemas mecânicos, nesses caso é só os fiscais de pista empurrar o carro para fora da pista.

    Em outras categorias com menor orçamento, não tem tantos tratores e um carro na caixa de brita daria bastante trabalho para ser retirado, envolvendo varias voltas atras do Safety Car.

    Então vejo que a situação das áreas de escapes são bem complexas. Muito em função de varias categorias diferentes, não só por causa da MotoGP, utilizarem as pistas. Cada categoria tem sua própria necessidade.

    Mas no meu modo de pensar poderia haver uma “faixa de brita” nas áreas de escape. Talvez uma faixa de 5 metro de brita, antes do asfalto. Isso iria fazer os pilotos ter cuidado para não sair da pista, mas também daria mais possibilidade para não ficarem com os carros presos la fora. Acredito que essa seria a melhor opção “global”, que ficaria melhor para todas as categoria e não apenas para a F1

  5. A F1 assim como qualquer prova de automobilismo, precisa do imprevisível para , digamos assim apimentar as coisas e aumentar o interesse do público.
    Com certeza caixas de brita , poderiam tornar pequenos erros em abandonos e até perda de título ( Hamilton na China em 2007) , isso traria maior imprevisibilidade para as corridas e iria diferenciar os homens dos meninos.
    Mas existe o outro lado, o acidente tenebroso do Alonso na Austrália , foi pior devido a caixa de brita, após atropelar Esteban Gutierrez Alonso levanta vôo e ao tocar a brita o carro começar a capotar , fosse ali apenas asfalto , provavelmente as cabotagens não aconteceriam.

    Sou purista e adoraria o retorno das caixas de brita, mas a segurança vem em primeiro lugar e assim como o Halo , teremos que engolir essas áreas de escape asfaltadas.

  6. Perfeita a lembrança da Julianne…gasta-se horrores de tempo e dinheiro pensando em carros e circuitos que proporcionem mais disputas e se esquece de algo elementar : o traçado da pista tem que ser delimitado em algum ponto, não pode simplesmente continuar asfaltado fora do traçado, do contrário a curva deixa de ser um desafio, a freada no fim da reta pode ser retardada para além do ponto, enfim o erro deixa de ser punido…

  7. Gostei da ideia de um pó aderente aos pneus nas áreas de escape, esse pó deixaria os pneus uns segundos mais lentos em umas 2 voltas, já seria um prejuízo ao piloto infrator sem deixar o espetáculo mais pobre, afinal são poucos carros (20) em cada corrida e terminar com 10 a 15 carros num circuito enorme como o da China ou Austin fica monótono .


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