F1 “Aquela” decisão que deu 1º título a Schumacher - Julianne Cerasoli Skip to content

“Aquela” decisão que deu 1º título a Schumacher

Não sei se é daquelas peças que a memória prega na gente, mas, quando penso naquele GP da Austrália de 25 anos atrás, a primeira imagem que me vem à mente é de um Schumacher atrás do alambrado com um sorriso amarelo no rosto. Teria sido amarelo mesmo ou escolhi guardar isso na memória dessa forma? O fato é que, por pouco menos de dez anos, parecia que todo título de F-1 seria resolvido com um piloto tirando o outro da pista, o que foi ótimo e horroroso para o esporte ao mesmo tempo. E aconteceu pela terceira vez em seis anos naquela decisão entre o alemão e Damon Hill.

Mesmo tendo começado o ano (com uma ajudinha do controle de tração ilegal da Benetton) disparado na frente (ele ganhou seis das primeiras sete), Schumacher chegava à última corrida do ano apenas um ponto à frente de Hill, depois de um campeonato em que aconteceu um pouco de tudo. Depois da morte de Senna, na terceira etapa, muita coisa mudou no regulamento e a Williams também foi melhorando um carro que não tinha nascido bem, uma vez que o time era o mais desenvolvido no uso da eletrônica e grande parte dela tinha ficado pelo caminho no final de 1993. Além disso, a temporada tinha sido cheia de polêmicas, com direito a duas desclassificações de Schumacher – uma por excesso de desgaste na placa de madeira que fica no assoalho, o que significa que o carro não respeitava a altura mínima, e outra por ignorar uma bandeira preta. Para piorar, Schumacher ainda foi excluído de duas provas na parte decisiva do campeonato devido ao problema com a altura.

Hill ganhou essas quatro corridas em que Schumacher não pontuou, e com isso tirou quase toda a vantagem construída no começo do ano.

Relatada como “uma daquelas raras corridas que te pegam pela garganta”, o GP da Austrália foi movimentado em sua primeira parte. Nigel Mansell largara na ponta, depois de superar Schumacher por apenas 18s – o alemão foi parar no muro tentando bater o tempo do Leão – e Hill largou em terceiro.

Mansell perdeu a liderança nos primeiros metros e ainda rodou pouco depois, caindo para quinto, enquanto os dois rivais travavam sua batalha particular na frente. Ambos estavam na estratégia de três paradas para reabastecer, então o ritmo era alucinante. Hill não deixava Schumacher escapar por mais de 1s5, e volta e meia fazia voltas mais rápidas, mostrando que tinha ritmo para atacar mais adiante na corrida.

A diferença chegou a ficar em 0s4 depois que Schumacher foi atrapalhado por um retardatário, mas Hill não conseguiu se aproveitar. Na volta 32, subiu para 2s3 (a maior da corrida até então), mas Frentzen segurou Schumacher, a distância voltou a diminuir, aumentou novamente quando foi a vez de Hill passar a Sauber e caiu mais uma vez na volta seguinte: 1s9.

Foi quando Schumacher cometeu um erro e saiu da pista, batendo no muro. O alemão tentou, então, voltar para a pista exatamente quando Hill estava passando. O inglês fez a trajetória normal, talvez imaginando que Schumacher abriria por estar com o carro danificado, mas o líder do campeonato virou bruscamente como se Hill não estivesse ali (ou talvez justamente porque Hill estava ali) e os dois bateram. Schumi ficou por lá mesmo – e daí a tal lembrança do sorriso amarelo atrás do muro – enquanto seu rival se arrastou até os pits, mas abandonou com a suspensão quebrada.

Aos 25 anos e 10 meses, em recorde que seria quebrado por Alonso e por Vettel anos depois, Schumacher se tornava o mais jovem campeão do mundo da história desde Emerson Fittipaldi em 1972.

A corrida acabou caindo no colo de Mansell, que tinha passado toda a prova em meio a batalhas com Barrichello, Hakkinen e Berger. Ele e o austríaco se alternaram na liderança por terem estratégias diferentes, e parecia que o ferrarista levaria a melhor, sobrevivendo a forte pressão, até a volta 64, quando Berger cometeu um erro. Mansell ainda sofreria a pressão do rival até o final, mas celebraria sua última vitória na carreira, ajudando a Williams a conquistar o Mundial de Construtores.

Já seu companheiro evitou atacar Schumacher diretamente e preferiu ver o lado positivo. Ele nunca foi considerado páreo para o rival, e até por isso ficou feliz de tê-lo induzido ao erro. “Agora que acabou tenho um sentimento de vazio muito forte. Mas eu dei trabalho a ele. Ele certamente estava sentindo a pressão quando saiu da pista. Ir para a decisão contra Schumacher com um ponto a menos sempre te coloca em uma posição em que tem tudo a perder.”

3 Comments

  1. Damon Hill e Jenson Button, estão aí dois pilotos campeões do mundo e muito subestimados, há que lembrar que Hill já chegou tarde na F1, mesmo para a época, aos 32 anos se a minha memória não falha e ainda faturou um caneco. Já Button era o único companheiro de equipe a ter batido Hamilton na pontuação do campeonato, feito igualado apenas por Rosberg posteriormente. Esse último ainda possuo dúvidas se é subestimado, mas Hill e Button com certeza são.
    Grande abraço a todos do Blog!

  2. Primeiro trambique de muitos que mancharam para sempre a carreira de um grande campeao. Foi de doer acompanhar aquela batida. E hoje temos Lewis com 6 titulos que nao podem jamais serem contestados, ingles ate na etica. Hill era melhor do que o trolavsm. Eu o vi ao vivo nas corridas e era muito suave na pista.

  3. Oi Julianne,
    Lembro bem do ano de 94.
    O que se falava é que, desde o início da temporada, o carro do “seu” Flávio Briattore estava fora do regulamento. Nem preciso dizer do caráter de Flavinho….
    Impossível o piloto não saber das quinquilharias tecnológicas ilegais que o ajudavam a vencer.
    Bom, apesar de tudo e das desclassificações Dick Vigarista chegou com um ponto de vantagem na Austrália.
    Quando o alemão despistou e voltou capenga imaginei que Damon seria inteligente o suficiente para esperar o melhor ponto para ultrapassar. Mas, não. Ele foi muito ingênuo.
    Enfim, o sorriso não era amarelo. Sorriso de quem matou a temporada. Sorriso como a dizer o quem vem por aí, moçada. Um campeão sujo.
    Não há como lembrar da carreira de Michael sem todas as barbaridades cometidas.
    E, cá entre nós, o verdadeiro Schumacher é aquele que voltou e tomou um pau de Rosberg.
    Abraços.


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