F1 Binotto: uma bomba relógio - Julianne Cerasoli Skip to content

Binotto: uma bomba relógio

Lá nos idos de 2010, eu comecei um blog totalmente independente. Minha ideia era escrever coisas que eu gostaria de encontrar na internet, mas não conseguia. E não é que tinha mais gente com a mesma “sede” que a minha? Não demorou para o Faster F1 ser notado por profissionais da área e, no final do ano, Luis Fernando Ramos, o Ico, me convidou para escrever um texto no blog dele. E logo depois ele e o Felipe Motta me chamaram para fazer parte do time do TotalRace. Quase dez anos depois, chegou a hora de eu retribuir. Selecionei 12 textos entre as dezenas que me mandaram e espero que curtam o material que vai ser publicado até meados de janeiro por aqui.

Por Sergio Milani

Depois de muitos meses balançando, em 7 de janeiro de 2019 foi anunciado que, após quatro anos, Maurizio Arrivabene deixava o comando da equipe de Fórmula 1. O italiano, vindo da área de Marketing da Phillip Morris, não era querido dentro do meio: sujeito de trato difícil, foi colocado por Sergio Marchionne (presidente da Ferrari) e veio com a missão de sacudir a equipe. Sob sua batuta, a Ferrari voltou a andar na frente na era híbrida e consolidou a política de “um carro italiano feito por italianos”. Mas esta mudança foi feita às custas de um crescente afastamento da equipe com a imprensa e a ampliação de brigas internas.

[Faço uma nota aqui: o grande problema de Arrivabene era sua falta de capacidade para atuar em um cargo que exige um conhecimento mais amplo do que o de um homem de marketing. Não é a toa que a equipe foi se fechando para a mídia, era necessário brindá-lo para que sua incapacidade não ficasse evidente. E é nessa brecha que essa história começa a desenrolar.]

A maior briga foi com a área técnica. Este setor era comandado por Mattia Binotto, profissional que fez toda a sua carreira na Ferrari e foi o responsável por coordenar o trabalho de vários técnicos que, como ele, eram também da casa e não tinham tanto contato assim com o programa da F1.

Desde quando assumiu o posto em 2016, este suíço-italiano de fala e semblante tranquilo foi ganhando espaço. O trabalho desempenhado no desenvolvimento das unidades híbridas o cacifou para ser “o cara” da área técnica da Ferrari. E isso foi sendo notado pela cúpula ferrarista, que via o estilo “duro” de Arrivabene não fazendo o mesmo efeito de antes.

Embora fosse negado, o caldeirão político de Maranello estava a todo vapor e dois mundos se chocaram. A escolha de Charles Leclerc para ser o companheiro de Sebastian Vettel em 2019, orquestrada por Marchionne antes de sua morte e indo contra a preferência de Arrivabene, que era favorável à permanência de Raikkonen, acabou por ser um indicativo de quem estava “prestigiado” na casa.

E a Ferrari começou o ano com novo comandante. A esperança é que as coisas fossem mais tranquilas, pois teríamos alguém com mais vivência esportiva, conhecedor de todos os tijolos de Maranello e pudesse ter a tranquilidade para comandar a equipe para bater a Mercedes. Mas o tiro saiu em parte pela culatra.

Inicialmente, a perspectiva parecia interessante: o SF90 parecia ser bem-nascido e andou na frente na pré-temporada. Tanto, que o plano era que Binotto acumulasse o posto de chefe de equipe com o de Diretor Técnico. Mas Melbourne acabou sendo um balde de água fria, com a Mercedes sendo dominadora e os italianos um tanto quanto perdidos.

Ao longo do ano, a calma de Binotto pode ter sido confundida com uma espécie de transe. Embora tudo parecesse desmontar, seu olhar impassível por trás dos grossos óculos permanecia o mesmo. E os problemas não eram poucos: conceito do SF90 pouco efetivo, disputa dentro da equipe pelo posto de número 1, desenvolvimento do carro insuficiente… Binotto seria um homem de visão, com uma paciência de monge tibetano, ou simplesmente não entendia o que se passava à sua volta?

Embora contasse com o apoio da cúpula, uma série de ações foram tomadas (contratação de novos técnicos, reestruturação da área técnica) e após as férias, as começaram a mudar: um novo pacote aerodinâmico veio, junto com um motor revisado e a Ferrari venceu na Bélgica e Itália. A pressão reduziu, mas não foi embora totalmente. 

Embora a área técnica parecesse resolvida, dois problemas permaneceram: a gestão de estratégia de corrida e o controle dos pilotos. Embora sejam diferentes, em vários momentos se misturaram. O maior exemplo foi em Singapura, quando Leclerc foi orientado a andar mais devagar para controlar o consumo de pneus e acabou levando o “undercut” de seu próprio companheiro, Sebastian Vettel….

As estratégias na Ferrari foram um caso à parte. Justamente pelo fato do carro não ter um gerenciamento de pneus tão bom, as estratégias tinham que ser “menos convencionais”.

Sobre os pilotos, foi algo que os antigos chamavam de “crônica de uma morte anunciada”. A vinda de Leclerc configurou um daqueles típicos casos de um jovem impetuoso contra um medalhão estabelecido. Esta situação foi concebida por Marchionne, queria ser evitada por Arrivabene e estourou no colo de Binotto. Que optou por levar ao máximo no fio da navalha a situação. O resultado foi um equilíbrio sinuoso até o Brasil, onde os dois se chocaram de forma até bizarra no final da prova.

Binotto chega ao fim da sua primeira temporada à frente da Ferrari como um sobrevivente, cheio de cicatrizes, porém ainda guerreando. Aparentemente, conseguindo resistir à pressão interna e externa. A calma aparentemente está lá, bem como o método. Afinal, um bom técnico o utiliza para o desenvolvimento de suas tarefas. E isso que parece diferenciar este suíço dos demais. Ao que parece, 2020 será sob seu comando e a vontade de não cometer os mesmos erros está lá. 

Entretanto, se a Ferrari mostrar novamente equívocos semelhantes aos de 2019, não apostaria muitas fichas que Mattia Binotto prossiga à frente do time italiano. Não à toa que os boatos de uma possível vinda de Toto Wolff circulam por aí. Muita gente acha que tem calma demais ali, faltaria um “gosto de sangue na boca” para dar uma sacudida nas coisas. O que não deixaria de ser uma volta ao estilo “italiano” tipo Arrivabene. Pode até servir para a galera, mas não para o bom andamento das coisas. Este parece ser a filosofia de Binotto, que se vê mais como um “tutor” do que um “gestor”.

O desempenho da Ferrari em 2019 tem muitos pais e Binotto é um deles. Embora no banco de réus, não pode ser o único culpado. Mas pode ser o perfeito bode expiatório.

1 Comment

  1. O fato é que a Ferrari esta lutando contra uma equipe quase perfeita de Toto Wolff, a Ferrari sendo Ferrari, lembro bem John Todd, tinha suas falhas mas era compensado pelo super talento do Shumacher, coisa que atualmente não acontece na Ferrari com seus pilotos.


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