F1 Sobre o GP do Brasil de 2021. Que pode não acontecer - Julianne Cerasoli Skip to content

Sobre o GP do Brasil de 2021. Que pode não acontecer

Red Bull Content Pool

Muita gente está me perguntando sobre o calendário publicado pelo jornalista Dieter Rencken no site RaceFans não ter o GP Brasil de em 2021. Estava escrevendo uma thread no Twitter que ficou tão grande que resolvi colocá-la em texto por aqui.

Segue o “fio”.

A matéria deixa claro que é uma especulação baseada em todas as dicas dadas pela Liberty e pelos promotores nos últimos meses a respeito do calendário de 2021. Sabe-se, por exemplo, que a Austrália não tem condições de receber o GP em março, sabe-se que a Arábia Saudita está pagando muito para entrar mesmo que a obra da pista original, que foi divulgada no começo do ano, tenha atrasado. Sabe-se que a segunda parte do ano vai ser mais movimentada, e que algumas pistas européias ficarão de prontidão caso viajar e ter público ainda seja complicado.

Como vocês podem perceber, o mundo está bem mais reticente quanto à vacinação em massa efetiva e ao fim da pandemia do que vemos em muitas notícias no Brasil.

Sabe-se, também, que o Brasil não tem contrato em vigor e que a Liberty prefere o projeto do Rio (parado à espera da aprovação do relatório de impacto ambiental, o que já leva meses e pode se estender até sabe-se lá quando). Eles preferem porque é financeiramente muito mais atraente que a proposta de SP e pelo apelo turístico. Mas já está mais que claro que a pista não sai para 2021.

A Liberty deixou claro para mim com todas as palavras que só haverá GP Brasil se isso for comercialmente vantajoso para eles. A última proposta de SP de que se tem notícia é de US$20 milhões por ano e eles não têm saído da Europa por menos de 30 milhões.

Além disso, há equipes pressionando para que a F1 não volte a Interlagos. A questão não é a pista, obviamente, mas sim infraestrutura e o entorno do circuito. Falando da minha experiência de cobrir a temporada toda, Interlagos é, de fato, a pista com pior localização em termos de segurança (na Cidade do México não é muito diferente em termos de área, mas a sensação de segurança trazida pelo policiamento pra lá de ostensivo é bem maior). E, mesmo que a reforma tenha melhorado muita coisa, ainda é um autódromo em que é mais difícil de trabalhar do que na grande maioria.

Junte-se a isso o fato de ser caro ir para o Brasil e de a corrida ser isolada (é errada a afirmação de que “não vai ter GP Brasil em 2020 porque não fazia sentido ir para as Américas para fazer só uma prova”, uma vez que o equipamento e os profissionais voltam para a Europa após a dobradinha EUA-México, ou seja, o Brasil é sempre sozinho), e fica mais fácil entender por que é importante que seja economicamente vantajoso.

Hoje, o Brasil só colabora com os números de audiência da TV. O restante, olhando friamente do ponto de vista comercial, é descartável. Digo isso sabendo, em primeira mão, como o país é tratado no paddock.

Há um movimento para tentar garantir um GP no Brasil de 2021 em outra localidade, e existe pressão há algum tempo por Brasília, mas, de qualquer jeito, isso depende de vários milhões de dólares.
Para finalizar, antes que venham demonizar a Liberty: a F1 não ficou tão longe quanto vocês imaginam de quebrar neste ano. Se a Liberty Group não não tivesse emprestado dinheiro e os sauditas da Aramco não tivessem fechado um mega contrato pré-pandemia, haveria um problema sério de liquidez porque três das fontes de renda primárias (taxas para a realização das corridas, direitos de TV e paddock club) foram seriamente afetadas.
Na era da internet, a Liberty sabe que não precisa correr em todos os mercados que lhe deem visibilidade, pois ela pode ser alcançada online. Ao mesmo tempo, as taxas de realização de GPs já rendem, desde o ano passado, mais do que os contratos de TV. Então, a F1 só vai correr onde essa conta fechar.

6 Comments

  1. Ótimo texto!
    Se a tendencia já era seguir a rota da $$$, com a pandemia virou questão de sobrevivência. Nunca assisti uma corrida em Interlagos, era meu sonho, mas terei que resignificar.

  2. Fui no GP de Interlagos em 2019, foi uma das melhores corridas que já vi, e pode ter sido a última (pelo menos por um bom tempo) no Brasil. F total

  3. Ju, só uma correção: a maior fonte de renda são os contratos publicitários, que são divididos em duas partes: as que são obtidas pelas TVs, que recomercializam com os patrocinadores locais, e a dos patrocinadores master (Heineken, Ineos, etc). Superam em muitas vezes o valor arrecadado na promoção dos GPs. Cada país tem seu contrato separado.
    A promoção dos GPs cobre custos básicos, transporte, montagem, hospedagem, e olhe lá. E os promotores locais tem sérias dificuldades em viabilizar esses eventos, pq o fee é alto.

    O Brasil tinha um fee especial, assim como Silverstone, Mônaco e Monza. Liberty tá se lixando pra estória da categoria. Ou o Brasil passa a ser um queridinho internacional novamente, ou estará fora.
    Alguns patrocinadores master da categoria se ressintirão dessa perda com Globo e GP local. A Heineken é uma delas.

    • Excelente o texto, mas só vim ler por causa da foto do pneu com papelzinho metalizado. Que foto!

  4. Assisti as 7 primeiras corridas de F1 em Interlagos, depois foi para o Rio, na volta a São Paulo estragaram a grande pista que lá existia, até o Senna que ajudou a redesenhar quando viu quase pronta não gostou, mas a mer da já estava feita. O entorno da pista também virou uma grande favelização com grande adensamento populacional, o acesso era ruim e continuou piorado. A ideia do Rio é boa, mas tem muito entrave politico, parece até a cloroquina. Sem pilotos no grid fica mais difícil trazer, lembrando que a F1 só veio ao Brasil por causa do Emerson.

  5. Claro. O que manda é a grana, então vamos sair de locais tradicionais e clássicos e vamos fazer corridas horrorosas em Hanói, Paul Ricard e Sochi…


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