F1 Um GP “brasileiro” - Julianne Cerasoli Skip to content

Um GP “brasileiro”

(Ferrari)

Era para a próxima corrida do calendário ser justamente o GP Brasil, dia 15 de novembro, e curiosamente a prova que acabou ficando para o lugar de Interlagos tem uma forte relação com o país. Muita gente lembra do GP da Turquia como o palco da primeira pole e da primeira de três vitórias seguidas de Felipe Massa no país, mas o circuito de Istambul também foi o palco de um dia importante para Rubens Barrichello, quando se tornou o recordista de largadas na F1.

O recorde, estabelecido em 2008, acabou caindo neste ano, com Kimi Raikkonen, e Rubinho deve ficar atrás também de Fernando Alonso, que volta ao grid ano que vem. E pensar que, no GP da Turquia de 2008, o próprio Alonso estava falando que seria muito difícil chegar em Rubens, que já avisava que passaria dos 300 (e os dois passaram: 322 e 312). Kimi já tem 325 (e odeia falar sobre isso).

E o mais engraçado dessa história é que, na época, Sebastian Vettel, em sua primeira temporada completa, brincava que, quando Rubens estreou, ele “ainda estava no jardim de infância”. Talvez possa ouvir o mesmo de outros pilotos hoje em dia.

Mas é impossível falar do GP da Turquia sem falar de Felipe Massa. Foram três poles e três vitórias (das 11 corridas que ele venceu na F1) que só não foram absolutas porque ele foi ultrapassado por Lewis Hamilton durante a corrida de 2008, mas volto nessa história (muito interessante para entendermos a evolução do hexacampeão) mais tarde.

Massa já tinha dado um sinal de que se daria bem com a pista da Turquia quando colocou a Sauber em oitavo lugar no grid, abandonando logo no começo da prova por um problema no motor. Em 2006, já na Ferrari, vinha tendo uma temporada difícil até começar a trabalhar com Rob Smedley, na quinta prova do ano, como engenheiro de pista. Chegou à Turquia como terceiro colocado em um campeonato no qual a Ferrari tentava se recuperar: Schumacher estava a 10 pontos de Alonso, o equivalente a 25 pontos na “moeda” de hoje. O espanhol vinha de um abandono por problemas mecânicos na corrida da Hungria, que Schumacher não tinha conseguido aproveitar.

Sim, o GP anterior fora o da Hungria. Em sua segunda edição, a prova turca foi realizada em pleno verão, em agosto, num clima bem diferente do que a F1 vai encontrar neste final de semana. Então o desafio era ter um carro com a frente bastante presa para as curvas de baixa do começo e do fim da volta, e evitar que os pneus traseiros estivessem quentes demais após a saída da 8, já que isso tiraria aderência das curvas rápidas antes da longa reta.

Trechos sinuosos, longa reta? Sim, Istanbul Park é um Tilkódromo. Mas principalmente pela curva 8 ter três tomadas, é considerado mais do time de Austin (que inclusive tem uma curva parecida, e não é por coincidência) do que Abu Dhabi.

Voltando a 2006, a Ferrari dominou as ações e Massa fez sua primeira pole position com quase 0s4 de vantagem em cima de Schumacher. Na largada, o alemão até protegeu o brasileiro para que a Ferrari mantivesse o 1-2 e deixasse Alonso para trás.

É bem possível que o plano da Scuderia fosse inverter a ordem de seus pilotos mais tarde, mas a primeira parada nos boxes foi em período de SC, e Schumacher teve de esperar a parada de Massa, perdendo a segunda posição para Alonso. Para piorar, o alemão não se deu bem com o segundo jogo de pneus, então seu foco era na briga com o espanhol. E eles cruzaram a linha praticamente lado a lado!

Lá na frente, Massa venceu tranquilo. “Sinto muito por Michael, mas obrigado”, disse ele no rádio. E mandou um “aqui, ó!” quando saiu do carro.

O brasileiro chegou em uma situação bem diferente no ano seguinte, lutando pelo campeonato. Ele dividiu a primeira fila com Lewis Hamilton, ultrapassado pelo novo companheiro de Massa, Kimi Raikkonen, na largada. As Ferrari eram novamente muito melhores e fizeram a dobradinha com tranquilidade. Quando Massa venceu aquela corrida, quatro pilotos (ele, Kimi, Lewis e Fernando Alonso) tinham três vitórias cada, com cinco provas para o final. Seria a quebra no GP seguinte, na Itália, que tiraria o brasileiro da disputa direta já que, a partir daquele momento, estava acertado na Ferrari que quem estivesse na frente teria tratamento prioritário, o que acabou dando certo: foi o último título de pilotos da Scuderia.

(Ferrari)

Em 2008, o GP da Turquia foi puxado para ser a quinta etapa. A Ferrari vinha de uma dobradinha com sobras na Espanha e com Kimi como líder, mas novamente Massa se impôs em solo turco e fez outra pole, numa classificação que teve Heikki Kovalainen superando Lewis Hamilton na McLaren. Mas os dois finlandeses tiveram um toque na primeira curva e a corrida se tornou uma questão de limitação de danos para o campeão de 2007.

Hamilton parecia mais forte que Massa e passou o brasileiro. Seria o fim do reinado do sultão Massa? Logo ficou claro que Hamilton estava numa estratégia de três paradas, contra duas de Massa. E não porque era a mais rápida: o inglês estava forçando tanto os seus pneus que a Bridgestone o aconselhou a fazer três paradas, já que seria mais seguro para ele terminar a corrida. Sim, o Lewis que ganha corridas ficando mais tempo na pista que os rivais hoje em dia já foi um destruidor de pneus (perdeu 2007 também por conta disso, inclusive). Massa, então, recuperou a posição nos boxes e venceu a terceira.

Felipe ainda teria um sexto lugar com uma Ferrari ruim em 2009 (novamente terminando na frente de Kimi) e defenderia sua invencibilidade contra companheiros também contra Alonso no sábado e no domingo, em uma corrida épica em 2010, com direito a batida entre companheiros na Red Bull e outra briga dentro da McLaren pela vitória, que acabou ficando com Hamilton.

A prova de 2011 foi a última na Turquia e a única com uma F1 mais próxima ao que é hoje em termos de regulamento. Pneus Pirelli, DRS, sem reabastecimento. E foi também uma temporada de extenso domínio, mas de Sebastian Vettel: ele venceu com facilidade, de ponta, abrindo 34 pontos de vantagem depois de quatro etapas.

E também foi uma corrida parecida em 2020 porque as disputas foram intensas mais para trás. Com pilotos e equipes ainda se adaptando na quarta corrida dos pneus de alta degradação da Pirelli, houve nada menos que 80 pitstops, um recorde, e também foi a corrida com mais ultrapassagens desde 1983. 

As equipes sabem muito mais sobre os pneus, as corridas sem reabastecimento e o DRS hoje em dia, e detalhes destes parâmetros mudaram também. Mas isso não deixa de criar uma expectativa toda especial para a corrida que ficou com a “vaga” de Interlagos, mas está entre as mais brasileiras das etapas.

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