F1 Respeite o rei - Julianne Cerasoli Skip to content

Respeite o rei

2020 Belgian Grand Prix, Saturday – LAT Images

Fechando a semana, escolhi o texto do Diogo Xavier, que inclusive tem um blog, o Fórmula 1 Sem Cortes. O Diogo é mestre em Engenharia Mecânica, de Santa Catarina, e empresta para a gente a lógica da engenharia para responder à pergunta: seria Lewis Hamilton o melhor de todos os tempos ou seus números vêm do carro?

Esse ano a Fórmula 1 escreveu na história o nome de mais uma lenda: Lewis  Hamilton. Não há exagero na afirmação. Superou os recordes de vitórias de  Schumacher e o igualou em títulos, se tornando em números o maior piloto da história  da categoria. Entretanto isso acontece no mesmo momento em que há também um  domínio técnico inédito da Mercedes, a equipe de Lewis. Por isso levantam-se tantas  dúvidas a respeito de Hamilton, seria ele o maior de todos os tempos ou é somente o  carro? Para responder, passemos por 3 pontos: história, técnica e origem. 

História 

Por que sobre Schumacher não pairam tantas dúvidas? O alemão surfou no domínio  da Ferrari para se tornar multicampeão, entretanto pouco se colocou em dúvida sua  técnica e habilidade. Sem falar que Schumacher nunca teve um companheiro de  equipe que fosse permitido enfrentá-lo, esse é o modo Ferrari. Ao contrário de Lewis  que durante toda a sua carreira, enfrentou grandes pilotos, como Alonso e Button, e  teve guerra aberta com seu ex-amigo Rosberg. Mesmo Bottas tem liberdade para  enfrentá-lo. Comparando as trajetórias desses dois multicampeões, não existe razão  para se duvidar mais de Lewis do que de Michael (este que possui o polêmico título  de 94). 

Outro fato que esquecemos é o percurso de Lewis. Nos tempos de kart até a Fórmula  2, empilhou títulos e performances incríveis. Iniciou na Fórmula 1 enfrentando como  companheiro de equipe ninguém menos que o espanhol Fernando Alonso, sensação  da época e vitorioso em cima de Schumacher. O então novato, fez frente de igual ao  espanhol, tendo empatado em pontos no campeonato (ficou na frente por outros  critérios). Já no ano seguinte foi campeão vencendo Massa na forte Ferrari (melhor  que a McLaren na época). Nos anos seguintes, com uma McLaren mais fraca,  conseguiu a incrível marca de vencer e fazer pole em todas as temporadas. Sempre  conseguiu ser competitivo com um carro inferior, fazendo exatamente o que Max faz  hoje na RBR. 

Ao longo da Fórmula 1 foram várias as corridas memoráveis. Algumas corridas na  chuva, manobras espetaculares e poder mental impressionante. Somente este 

ano, as principais foram no GP da Estiria, onde sob forte chuva cravou a pole 1.2  segundos à frente de Max (vencendo o GP) e o GP da Turquia, num misto de chuva  e falta de aderência, em um dos raros momentos de inferioridade da Mercedes.  Venceu por pura técnica, inteligência e frieza, largando da sexta posição. Como já  disse Reginaldo Leme, Hamilton é uma mistura dos grandes campeões Senna, Prost,  Mansell e Piquet, onde conseguiu fundir técnica, inteligência, agressividade e  conhecimento do carro em um único piloto. 

Técnica 

Lewis é um piloto rápido, mas muito rápido. Não é só capaz de fazer uma grande volta  para uma pole, uma de suas marcas, mas também alcançar excelente ritmo de corrida.  Além do mais, consegue ser agressivo quando precisa (era uma das suas fontes de  erro no início de carreira) já o credenciando como um dos grandes, mesmo na época  da McLaren. A habilidade de ultrapassar também é uma de suas marcas. Enquanto  bons pilotos sofrem nesse quesito, Lewis tem um leque de ferramentas que só não  fazem inveja a Ricciardo e Albon (sim, Albon era um dos melhores overtakers da  Fórmula 1). 

Mas o que o faz ser dominante como piloto não é segredo para ninguém: a gestão  dos pneus. Conseguiu alinhar velocidade com boa gerência dos desgastes que acaba  se tornando seu principal trunfo nas corridas. Isso exige uma sensibilidade fora do  comum e inteligência para o acerto do carro. Nesse quesito é imbatível. Os compostos  da Pirelli têm sido um desafio, visto que mantê-los sempre na estreita faixa de  temperatura ótima com boa velocidade não é tão simples. O próprio Vettel já  mencionou isso algumas vezes. Bottas não o vence principalmente por isso. Um  antigo engenheiro da McLaren explicou como no momento em que Lewis aceitou não  ser tão rápido para melhor gerir pneus, foi chave na carreira. Bom lembrar que Lewis  iniciou a carreira naqueles horríveis pneus estriados (ao meu ver uma das piores  ideias para a categoria) e foi se adaptando e evoluindo ano a ano, sem precisar mudar  seu estilo de frear em cima da curva e retomar aceleração antes. 

Origem 

Cada vez mais pilotos são preparados desde o berço. Verstappen é um bom exemplo.  Filho do ex-piloto Jos Verstappen, desde muito criança foi basicamente criado e  talhado para se tornar piloto (às vezes de forma controversa). Não só dispunha de um  tutor técnico, mas de um conhecedor dos caminhos para a principal categoria. E acima  de tudo, possuía recursos para tal, equipamento, dinheiro e contatos. Não à toa, Max  se tornou um fenômeno e é um dos melhores da atualidade. Um outro caso  semelhante (e que estamos todos na torcida que siga os caminhos de Max) é da piloto  Juju Noda de 14 anos, filha do ex-piloto Hideki Noda, atualmente na F4 dinamarquesa.  Assim como Max, foi treinada desde o berço, conquistando incríveis resultados contra  pilotos mais velhos e tem tudo para seguir o caminho do holandês. Também, por ter  um pai ex-piloto, possui todos os recursos para construir uma carreira planejada,  podendo treinar e focar exclusivamente no desenvolvimento técnico como esportista. Com Lewis, o contexto foi exatamente o oposto. Não era filho de ninguém ligado ao  automobilismo e tampouco tinha os recursos necessários para desenvolver uma  carreira tão cara na base. Mesmo assim, o pai de Lewis se dispôs a muitos sacrifícios  para impulsionar a carreira de Lewis permitindo que treinasse. Como o próprio já  comentou, corria com os piores equipamentos, diante de pilotos bem mais  estruturados. Mesmo assim conseguiu ser vitorioso. Lewis parece ter tido um talento  natural. Tinha tudo pra não dar certo num esporte essencialmente voltado para  ricos.Foi dessa forma que chamou a atenção de Ron Dennis, que permitiu que  assinasse um contrato com a McLaren ainda nos tempos do kart. O resto é história. 

Essas são as credenciais que fazem de Lewis Hamilton o maior piloto de todos os  tempos. Pode ser sim considerado um dos melhores da história, discussão essa  sempre tão espinhosa. Fora das pistas, assumindo um protagonismo na luta contra o  racismo, o colocou em outro patamar como esportista, partindo para o caminho de  lenda do esporte. Mentalidade de campeão, exemplo como esportista, não se abateu  nem quando foi derrotado por Rosberg. Pelo contrário, atingiu outro patamar depois  disso. E parece que por enquanto não tem fim, segue forte. Será vencido um dia, mas  jamais deixará de ser o que é: uma lenda.

4 Comments

  1. Belo texto !
    Para mim exprime na excencia as qualidades, e as barreiras vivenciadas e vencidas !
    Para mim o maior da história!

  2. Grande piloto, mas impossível afirmar que é o melhor de todos os tempos já que essa discussão, como disse o Vettel, passa por aspectos emocioniais… são comparações entre pilotos de épocas e situações completamente diferentes. Com excessão do Alonso em 2007, nunca teve um piloto fora de série como companheiro e ainda assim perdeu tanto para Button quanto para Rosberg… mas é indiscutível é que se trata de um dos maiores nomes do esporte…

  3. Excelente texto. De facto, estamos a viver uma das melhores épocas da F1 e a ver um dos melhores pilotos de todos os tempos.
    Atualmente, acho que é o melhor. Se é o melhor de todos os tempos? não sei responder a isso, mas de certeza que está no mesmo patamar que os grandes campeões de F1.

    visitem: https://estrelasf1.blogspot.com/


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