F1 Raio-X do GP do Azerbaijão e a vitória do piloto mais rápido do dia - Julianne Cerasoli Skip to content

Raio-X do GP do Azerbaijão e a vitória do piloto mais rápido do dia

O GP do Azerbaijão é mais um daqueles que vamos lembrar como sendo uma corrida maluca mas que, na verdade, em termos de estratégia e até cinco voltas para o final, tinha apenas tido algumas boas histórias e cinco líderes diferentes (dois deles, por pararem mais tarde que os demais, e um, Max Verstappen, que vinha dominando desde a volta 13). No final, tivemos um pódio inédito na F1, com Sergio Perez se encontrando com a Red Bull justamente quando disse que o faria, após cinco provas, Sebastian Vettel se entendendo com os pneus e com sua Aston Martin e um Pierre Gasly que, finalmente, aproveitou uma ótima classificação com a AlphaTauri.

Não que isso tire o mérito do francês, que chegou até a liderar treino livre com o carro que, no balanço da temporada, é a sexta ou sétima força. Desta vez, diferentemente das outras duas em que tinha largado em quarto – na Alemanha em 2019 e Imola em 2020 – conseguiu converter isso em um ótimo resultado.

Com a Pirelli levando seus pneus mais macios para Baku justamente para forçar as equipes a usarem o pneu duro na corrida, a estratégia acabou ficando clara: qualquer permutação usando o macio e o médio exigiria que o ritmo fosse mais lento para cuidar dos pneus e, com uma perda de pitstop de menos de 20s e em uma pista na qual é possível ultrapassar, isso não fazia muito sentido. Junte-se a isso o fato de a volta ser uma das mais longas da F1, e fazer o Q2 com os médios se tornou muito arriscado, devido à diferença entre os compostos ser aumentada pelos 6km de pista, e a grande maioria (a não ser Raikkonen e as duas Williams) partiu com a ideia de fazer uma tática ou de macio + duro, ou o contrário (no caso de Lance Stroll).

Isso deveria ser atingido de maneira fácil. O composto duro em Baku (C3) é o mesmo médio de 2019, com o qual Kimi Raikkonen fez 45 voltas, e sua durabilidade não era uma preocupação, ainda mais com a nova construção da Pirelli trazida para este ano. A questão era tentar estender ao máximo o stint com os macios para ter mais borracha para atacar no final.

O que as equipes não sabiam era que, no final, tudo mudaria.

Na largada, Charles Leclerc (que, embora pole position, já sabia que teria um ritmo pior e mais desgaste que os carros ao seu redor) manteve a ponta mas, ao desviar de um galho de árvore no final da segunda volta, entrou lento na reta e perdeu a primeira posição para Lewis Hamilton, sendo logo em seguida também ultrapassado por Verstappen. Era praticamente inacreditável que Hamilton se colocara naquela posição depois da sexta-feira muito ruim da Mercedes. Mas as mudanças feitas no carro entre o FP3 e a classificação (algo sempre arriscado de se fazer) tinham dado a confiança de que ele precisava para colocar o carro no limite, ajudando no aquecimento dos pneus e colocando sua Mercedes na janela de funcionamento.

No entanto, mesmo assim, o ritmo da Mercedes não era tão forte quanto o da Red Bull em Baku. E, por mais que a equipe tenha tentado provar para a FIA que a flexibilidade da asa traseira na reta era a responsável por isso, não foi o que vimos na pista: a Red Bull usou sua asa de alto downforce, e não aquela que se movia bastante no GP da Espanha, acreditando que isso lhe daria vantagem nas curvas e, também na degradação dos pneus, pois o carro se moveria menos. Somando isso ao motor Honda, que hoje tem energia suficiente para toda a zona de aceleração plena de Baku, era um pacote que a Mercedes, que sofre nas curvas de baixa velocidade e apostou, com Hamilton, em uma asa pequena para tentar remediar isso nas retas, só bateria se tivesse posição de pista para tal.

Hamilton tinha conseguido isso, após se classificar à frente de Verstappen com a ajuda da bandeira vermelha – ironicamente causada pelo piloto Red Bull Yuki Tsunoda – no final da definição do grid. No entanto, havia um subproduto do acerto de baixo downforce de Hamilton: seus pneus acabariam antes.

Chegado o momento da parada nos boxes, não estava claro que o undercut seria mais poderoso que o overcut: por um lado, era difícil colocar temperatura nos pneus duros e, por outro, era difícil ter rendimento nos pneus macios para forçar antes da parada. 

De qualquer maneira, a Mercedes sabia que a segunda opção seria ruim para eles, pois o carro, com a asa menor, escorregava muito. É por isso que muitas ultrapassagens que são feitas no box, na verdade, são uma questão de ritmo. E foi por conta disso que Hamilton abriu a janela de pitstop em primeiro e terminou em terceiro.

Quando Hamilton parou, na volta 11, Verstappen estava a menos de 1s dele. Sua única chance de manter-se à frente seria ter um pitstop perfeito e uma primeira volta irretocável, o que seria uma tarefa e tanto com um carro que sofreu novamente com aquecimento de pneus, lutando contra uma equipe cujos pitstops são mais rápidos, e ainda contra um conjunto que, se conseguia manter-se tão perto dele mesmo com o ar turbulento, só poderia ter mais ritmo (basicamente, o inverso do que aconteceu na Espanha). Dito e feito: assim que Hamilton parou, Verstappen passou a ser o carro mais rápido da pista, antes de fazer sua parada na volta seguinte. Para completar, Lewis ficou preso pela AlphaTauri de Gasly no pitlane e perdeu tempo.

Verstappen era, então, o líder, mas a Red Bull sabia que seu segundo piloto também estava ali para tirar mais pontos da Mercedes: Sergio Perez largou em sexto, passou dois carros na primeira volta, depois superou Leclerc e vinha muito rápido no final de seu stint, casando seu estilo de pilotagem com as qualidades da Red Bull para esta pista.

Mesmo parando uma volta depois, Perez ganhou 0s4 em relação a Verstappen, e mais de 1s2 em relação a Hamilton em sua inlap. Pela maneira com que saiu do box, bem perto do companheiro, é de se imaginar que ele emergiria na frente caso não tivesse parado um pouco à frente de sua posição, o que fez com que a parada da Red Bull não fosse tão rápida.

Mas essa briga ainda não seria a ponta da corrida: largando em 11º, Sebastian Vettel usou bem a vantagem de ter um jogo novo de macios, e levou seus pneus com um ótimo ritmo até a volta 18, tendo sido alçado à liderança momentânea da prova. Com a estratégia, passou na realidade dois carros, indo para a sétima colocação (antes das paradas, era o nono, tendo ultrapassado dois carros na pista). Com a batida de seu companheiro, na 29ª volta com o pneu duro, Vettel ganhou mais uma posição, passando Leclerc e Gasly na relargada para se colocar em quarto, posição que o daria o pódio.

Como todos os pilotos já tinham feito suas paradas antes do SC causado por Stroll, isso não serviu para a corrida ficar movimentada ou ter táticas diferentes: estavam todos focados em fazer seus pneus duros chegarem até o final, com Hamilton até atacando Perez nas retas, mas perdendo no miolo, até o pneu do líder Verstappen também estourar, a cinco voltas do final, causando uma bandeira vermelha.

Isso quis dizer que os pneus poderiam ser trocados, e todos escolheram os macios. Na relargada, era claro que Hamilton tinha trabalhado duro para aquecê-lo, o que seria fundamental para ele devido ao comportamento de seu carro até ali no fim de semana, se ele quisesse maximizar sua pontuação contra um rival que estava fora. E a tática parecia estar dando certo nos primeiros metros, quando ele conseguiu ficar à frente de Perez, para depois passar reto por ter voltado a acionar o dispositivo que ajuda a aquecer os freios dianteiros, mas faz com que basicamente só eles funcionem.

Atrás de quase todo o pelotão após o erro, Hamilton também não pontuaria. Mais líder do que nunca, embora uma perda de pressão hidráulica fizesse com que a Red Bull sequer soubesse se ele chegaria ao final, Perez estava a caminho de vencer em sua sexta corrida pela Red Bull, com Vettel tranquilo em segundo e Pierre Gasly tendo de suar pelo terceiro posto, defendendo-se do ataque de Leclerc que, por sua vez, tentava fazer o mesmo com Lando Norris, que se recuperara de uma punição que o colocou em nono no grid, e de uma primeira volta ruim, para ser quinto. Logo atrás dele, estava Fernando Alonso, que chegara a andar em sétimo, mas tinha sido um dos primeiros a parar, perdendo posições e caindo para 12º. Porém, isso lhe deu a oportunidade de ser o melhor colocado a parar para colocar pneus novos no SC de Stroll. Na relargada após a bandeira vermelha, ele era o décimo, e passou três carros em uma volta para colocar a Alpine em sexto.

No final das contas, não foi a estratégia que fez o GP do Azerbaijão não desapontar como uma daquelas corridas clássicas em Baku: o fato de a classificação com bandeiras vermelhas ter misturado os carros se uniu às falhas nos pneus Pirelli que provavelmente têm a ver com detritos somados ao final da vida útil dos pneus, quando eles têm menos borracha para se protegerem. De qualquer maneira, foi uma prova em que Sergio Perez consagrou-se como especialista em Baku, tendo tido ritmo para vencer mesmo independentemente de qualquer confusão.

2 Comments

  1. A prova foi de pneus? Tantos elementos interessantes reunidos na disputa, deixar os pneus reinarem é tão ruim quanto a economia de gasolina imposta aos pilotos.


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