F1 Uma batida com cara de aviso - Julianne Cerasoli Skip to content

Uma batida com cara de aviso

A batida entre Lewis Hamilton e Max Verstappen logo na primeira volta do GP da Grã-Bretanha deu o que falar no paddock da F1 neste domingo em Silverstone. De um lado, o holandês, que teve até que passar pelo hospital após o choque, acusou o rival de “antidesportividade”. De outro, o inglês, que acabou vencendo a prova, citou Ayrton Senna para justificar sua manobra. Pelo discurso do heptacampeão, ficou a impressão de que ele sentiu que esse não era o momento de aliviar contra um piloto conhecido pela agressividade nas lutas por posição após ter tirado o pé nas largadas na Emilia Romagna e na Espanha.

Em termos de campeonato, era o momento propício para uma reação mais forte: o sprint deixou claro que a vantagem da Red Bull na Áustria não se repetiria, e a opção de Hamilton por um acerto com menos asa lhe dava, ao contrário do que acontecera em todas as provas desde a Espanha, mais velocidade de reta, que ele tinha de aproveitar antes que a prova entrasse na fase de administração de pneus, importante debaixo de um calor de 30ºC em Silverstone.

A Verstappen, parece ter faltado calcular justamente isso: ao fazer a tomada normal da Copse, ele provavelmente imaginou que, como das outras vezes, Hamilton recolheria o carro. Mas desta vez seria diferente.

O lance aconteceu ainda na primeira volta da prova: Verstappen largou na pole, mas vinha sofrendo forte pressão de Hamilton até que os dois entraram colados na curva Copse, feita a 280km/h, com Verstappen ainda à frente e Hamilton por dentro. O holandês fez a trajetória da curva deixando o espaço de mais de um carro entre ele e a linha que delimita a pista, como manda a regra, mas Hamilton o tocou com sua roda dianteira esquerda na traseira direita do carro da Red Bull, que rodou e bateu com violência no muro. Com dores nas pernas, Verstappen passou por checagens preventivas no hospital, mas está bem.

Verstappen and Hamilton collide!

The title rivals come together at Copse, pitching Verstappen into a high-speed crash.

The Dutchman was able to walk away but he has been taken to hospital for precautionary checks#BritishGP #F1 pic.twitter.com/ol1s9dRJoa— Formula 1 (@F1) July 18, 2021

A corrida foi paralisada e Hamilton foi punido com 10s, pagos em sua parada nos boxes. Segundo na relargada, ele caiu para quinto após pagar a pena, passou Lando Norris, viu o companheiro Valtteri Bottas abrir passagem e superou Charles Leclerc com duas voltas para o final (com uma manobra na mesma curva em que tentara passar Verstappen na primeira volta) para vencer a corrida, e tirar 25 dos 33 pontos da vantagem de Verstappen no campeonato.

“Não quero vencer batendo com alguém, nunca é minha intenção. Mas estamos em uma corrida e temos de ser agressivos. E, como Ayrton disse, se você não aproveitar o espaço, o que você está fazendo? É melhor nem correr mais. Ele criou um espaço e eu fui, coloquei de lado, e ele não tirou o pé. Corridas são assim. Depois eu segui adiante e aproveitei a oportunidade que eu tive”, disse Hamilton em entrevista à TV Bandeirantes.

O vice-líder do campeonato disse ainda que, em sua opinião, Verstappen “é um dos pilotos mais agressivos do grid, e acho que todos nós temos de equilibrar o espaço que damos e o respeito um com o outro para que possamos continuar disputando sem bater.”

A principal testemunha ocular do acidente foi Valtteri Bottas, que vinha logo atrás dos dois: “Saindo da curva 7, eu tive a sensação de que aquilo iria acontecer. Dava para ver que a disputa? que não acabaria bem. Então eu decidi ficar um pouco distante.”

De fato, Hamilton e Verstappen vinham brigando de maneira forte em um circuito de curvas de alta velocidade. E, pelas palavras do inglês, parecia estar claro em sua cabeça que, desta vez, ele não aliviaria, mesmo sabendo que o rival é famoso pela agressividade nas lutas por posição. A frase de Senna citada por ele é “se você não aproveitar um espaço, não é mais um piloto de corrida”. O espaço havia e, embora Verstappen tenha feito a tomada da curva normalmente, nunca desapareceu totalmente.

É por isso que, no paddock da F1, muitos julgaram a batida como um incidente de corrida, ou seja, um acidente sem necessidade de punição, mas Hamilton foi punido porque havia espaço para ele à sua direita.

Os chefes de Mercedes e Red Bull, como era de se esperar, ficaram do lado de seus pilotos. “É uma situação que todos vimos no passado quando grandes pilotos estão numa disputa. Quando nenhum deles está preparado para ceder, esse tipo de situação acontece”, disse Toto Wolff, enquanto Christian Horner acredita que a punição de 10 segundos saiu barato para Hamilton.

“Eu revi a cena várias vezes e ainda não posso deixar de sentir que colocar uma roda por dentro na Copse, uma das curvas mais rápidas do campeonato, foi uma manobra que Lewis não julgou bem. Ele não estava significativamente do lado de Max, como dá para ver por onde eles bateram, a roda dianteira de Hamilton e traseira de Max. É uma manobra que nunca daria certo e que resultou em um impacto de 51G para Max.”

O holandês, por sua vez, se disse decepcionado com as comemorações de Hamilton. “Estou muito desapontado em ter sido tirado da corrida desta forma. A punição que foi dada não nos ajuda e não é suficiente para a manobra perigosa que Lewis fez na pista. Assistir a comemoração enquanto eu ainda estou no hospital é uma falta de respeito e um comportamento antidesportivo, mas seguimos adiante.”

‘Seguir adiante’ também é uma frase repetida por Hamilton, mas este “adiante” será em um cenário diferente no campeonato: Verstappen chegou a abrir 33 pontos na liderança, mas agora tem apenas oito após o resultado de Silverstone. E isso ajuda a explicar por que Hamilton sentiu que esse era o momento do campeonato para endurecer o jogo para cima do rival. E é difícil imaginar que essa será a última vez que os dois vão se encontrar na pista.

17 Comments

  1. O problema é que sempre os outros tiram o pé e o verstappen não, acho que já passou da hora dos outros não tirarem o pé. Se tivessem feito isso lá atrás em 16/17 o verstappen seria um piloto muito mais efetivo hoje, pois está acostumado como uma criança mimada a sempre ser atendido ou no caso os outros diminuírem para evitar o toque. O Hamilton só fez o que o Verstappen sempre faz.

    • Acidente de corrida! O xororo é porque o Hamilton seguiu na corrida.

  2. Perfeito o comentário do Marcu: ” Hamilton fez o q Verstappen sempre faz !”. É issp mesmo ! Compare com o comentário “conservador” de Bottas: “… achei q ñ ia terminar bem e fiquei mais atrás”. Isso explica, perfeitamente, o desempenho dele: na hora ‘h’, ele “recolhe”; resultado: alguém chega à sua frente ! (um “Alonso”, por exemplo). É a índole de cada um. Nesse caso, vejo Senna como a mais perfeito: até para “devolver”, um ano depois, o comportamento do narigudo francês.

  3. Imparcialidade não vemos por aqui.

  4. ‘Bestapin’ é menino criado com vó!

  5. Tb achei incidente de corrida, mas o Hamilton `espalhou` um pouco na curva. Nao fez a tomada de forma conservadora, dando espaço como Verstapen deu as curvas anteriores. Agora, será que ele seria magnânimo assim se fosse o inverso? Pela postura da Mercedes esse ano, correndo atrás da Red Bull, duvido muito. Teríamos mais choro que o da Red Bull hoje.

  6. Até que enfim o Lewis não tirou o pé… Corrida é isso… Risco de toque…

  7. Melhor esse título que o do UOL. Voce que achou ? Gostei muito do comentario do Button e me fez sentido, punicao ao Hamilton e chega de minimi, nao foi a primeira e nao será a última….vamos ver o que dira o Horner qdo o Holandes tirar o Hamilton da prova…

  8. Mesma manobra com o Albon no ano passado porem em outras circunstancias, o LH confia muito naquela suspensão dianteira, parece que é preparada para isso e ele não me estranha que seja algo proposital, agora cabe ao Max se preparar para as proximas

  9. Imaginem se fosse o Nikita Mazepin batendo da mesma forma no carro de Hamilton, os comentaristas pediriam a expulsão do russo das corridas. Muita parcialidade da galera, o Rico Penteado (ex chefe de motores da Renault) em live no Motorsport achou grande erro do Hamilton e a galera no Brasil caiu de pau em cima dele.

  10. Na minha opinião foi um incidente de corrida e a penalização de 10 segundos ao Hamilton é exagerada.
    O Verstappen já não se deve de lembrar da forma como ganhou o GP da Áustria em 2019.

    Cumprimentos

    visitem: https://estrelasf1.blogspot.com/

  11. Foi incidente de corrida? Foi. Dava pra ser evitado? Dava. Alguém ia levantar o pé? Não. Se invertessem as posições, iria acontecer a mesma coisa? Pode crer que sim. Temos um campeonato? Ô, se temos!

  12. O Helmut Marko ia pedir pra FIA punir o Hamilton fazendo ele largar só com três rodas na próxima corrida. Mas aí lembrou do GP da Inglaterra de 2020 e desistiu.

    No meu ponto de vista Max foi pro tudo ou nada. Se os dois se enroscam e saem da corrida, ele continuava com 33 pontos de vantagem e uma corrida a menos pro Inglês tentar reverter, parece que não deu muito certo. Se esse moleque perder o campeonato desse ano pra própria soberba vai se arrepender amargamente, especialmente porque é um piloto talentosíssimo, mas que parece herdou algumas bardas do pai e recebe muita passada de pano do Markito.

    Pra nós torcedores, dando graças a Deus que nada de mais grave aconteceu, não podia ser melhor. A cobra vai fumar e só precisamos de uma boa TV e muita pipoca pra assistir o circo pegar fogo.

    Ótima cobertura a sua, as usual!

  13. Incidente de corrida. MARTIN BRUNDLE disse muitas vezes que SENNA – forçando sempre a barra além dos limites – colocava seu carro em uma posição em que cabia ao adversário decidir se queria bater ou não. VERSTAPPEN sempre agiu dessa maneira também, inclusive em Barcelona e Ímola neste ano, quando LEWIS prudentemente tirou o pé, pois liderava o campeonato. A batida aconteceu. Simples assim. Nesta altura do campeonato, se os dois estivessem em posição inversa, a batida iria ocorrer também, de vez que VERSTAPPEN NUNCA tira o pé. LEWIS provou limpamente neste GP que na CORPSE se ultrapassa também, ao ultrapassar LECLERC e NORRIS.

    LEWIS e MAX são dois legítimos RACERS. Não são DRIVERS. É isso que faz a emoção do esporte, embora devamos lembrar que MOTORSPORT IS DANGEROUS. Um RACER sempre leva seu carro para além do Impossível em busca de uma posição, até mesmo contra os limites da Física e do carro. Sua habilidade natural é diferenciada. Um DRIVER espera os acontecimentos. Sua tocada é morna. Só vai quando der. Só desembarca quando não houver inimigos na praia. GILLES VILLENEUVE era um RACER. RINDT era um RACER. KEKE ROSBERG era um RACER, NIKO era um DRIVER. Os HILL (pai e filho) eram DRIVERS. PROST era um DRIVER, as pistas molhadas que o digam.

    AUTOMOBILISMO que se preza e que não deixa o espectador dormir na poltrona ou bocejando na arquibancada é feito de RACERS. LEWIS e MAX estão em outra prateleira, inalcançável para qualquer um do presente grid: os dois são cobras no seco e no molhado, arrojados, velocíssimos e completos.

    Lá atrás, quando ele ainda estava no KART, eu fiz uma postagem neste blog dizendo que no futuro iria se falar muito em MAX VERSTAPPEN. Ele era simplesmente um ASSOMBRO!!! O Futuro chegou. Não me enganei (sou velhinho, estou na janela desde os tempos de FANGIO). E LEWIS é LEWIS. Agora Sir, merecidamente. Em 2021 ele ainda tem a fome que demonstrava em Indianápolis em 2007 contra o grande ALONSO (este nos brindou naquela ocasião com uma tocada inesquecível, para além dos limites da Física). LEWIS tem o vigor de um Sir JACK BRABHAM, a estamina de um RONNIE PETERSON e a velocidade de um JIM CLARK.

      • Agradeço suas atenciosas palavras, JULIANNE. Fazem este velho aficionado por Fórmula 1 se sentir importante. Suas competentíssimas, imparciais e didáticas análises – aliadas à tradicional atenção que você sempre dispensa a TODOS os seus leitores – fazem deste um blog especial para aqueles que verdadeiramente amam o AUTOMOBILISMO, e diferenciado de todos os demais.


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