(O último) Blog takeover 2021-22: 5 maneiras de melhorar a imagem da F1 - Julianne Cerasoli Skip to content

(O último) Blog takeover 2021-22: 5 maneiras de melhorar a imagem da F1

Escolhi o texto do Fábio para abrir o Blog Takeover de 2020 e desta vez também selecionei o material dele para encerrar essa temporada 2021-2022. E por que o Fábio? Os textos dele mostram que ele entende bem como é o esporte na real, como ele é estruturado é quais são seus problemas mais difíceis de serem resolvidos (alguns deles muito bem apontados neste artigo).

Nas próximas semanas, vou republicar textos que explicam mais sobre a técnica e sobre as regras para deixar tudo com informações atualizadas para vocês – até porque vários momentos do campeonato de 2021 mostraram que é importante conhecer bem as regras da Fórmula 1!

5 pontos para melhorar o esporte e ajudar a imagem da F1

Por Fábio Andrade (@fabiothef1gay – perfil pessoal e @f1alemdapista – perfil só de F1)

Um dos melhores campeonatos de todos os tempos, aumento de público, maior participação da nova geração e valorização financeira do esporte. O ano de 2021 teria tudo para ser lembrado como o melhor em décadas para a imagem da Fórmula 1, mas como nada nunca é tão simples nesse mundinho, a categoria se despede da temporada com problemas de imagem no âmbito esportivo e duas corridas finais bastante contestáveis.

Por isso, seguem 5 tópicos que podem trazer mais satisfação aos fãs em relação ao que acontece na pista.

1 Os pneus precisam melhorar

Esse tópico é autoexplicativo. E como tudo na Fórmula 1 é mais complicado do que deveria, não é culpa somente da Pirelli, mas das próprias equipes, que, escolheram continuar com pneus de 2019 até a temporada 2021. Apesar de os furos trazerem uma imprevisibilidade que costuma ser divertida, eles também são perigosos. É algo que ninguém quer ver.

2 Consistência, por favor!

A questão dos limites de pista, definitivamente, veio para ficar. As áreas de escape asfaltadas são mais seguras e, além disso, como muitas das pistas desejam manter a homologação da FIM para corridas de moto, as caixas de brita não vão voltar.

A grande questão é que, inevitavelmente, as áreas de escape transformam a Fórmula 1 em uma espécie de jogo de futebol cheio de “faltas” às quais a “arbitragem” é chamada a se posicionar.

A diferença da Fórmula para o futebol é que, no caso das corridas, raramente fica claro quando uma “falta” é para cartão amarelo, vermelho ou advertência. E as decisões descompensadas dos comissários e da direção de prova não ajudam a chegarmos a um entendimento.

Lances como Norris X Perez na Áustria têm resultado absolutamente diferente do de Verstappen X Hamilton no Brasil.

Um campeonato acaba sob bandeira amarela no Brasil em 2012, mas, em 2021, é como se isso fosse proibido, o que gera uma série de decisões atrapalhadas e um desfecho controverso.

Um título e uma derrota que serão para sempre trazidos à baila da contestação para partes da torcida. As imagens da Fórmula 1, de Max Verstappen e de Lewis Hamilton não mereciam isso, sobretudo após um ano tão equilibrado.

Tudo isso evidenciou a necessidade da categoria de pensar em formas de gerenciar melhor as subjetividades de seus lances. E de termos mãos mais firmes na direção de prova.

3 A FIA precisa se modernizar

Ninguém estava pronto para a morte de Charlie Whiting em 2019. Substituir uma figura tão respeitada por pilotos e equipes evidentemente não seria fácil. Whiting levou consigo um know-how não compartilhado e o vestibular de Masi está sendo uma grande prova prática ao vivo aplicada nas últimas três temporadas.

Bater em Masi é muito fácil no momento, mas além do diretor de provas, devemos também lançar um olhar sobre a FIA. O que a federação ainda faz na Fórmula 1? E o que a posição frágil de Masi diz sobre essa organização?

Se mandava e desmandava na categoria até meados dos anos 90, a FIA começou a perder terreno após o acordo em que cedeu a Bernie Ecclestone a gestão comercial do campeonato. À FIA, passou a caber cuidar da segurança, homologação de circuitos e do cumprimento das regras.

Mas a federação foi desaparecendo mais e mais após a chegada da Liberty Media, em 2017. O sangue novo dos americanos e a vontade de mudar para lucrar mais com o esporte fizeram com que eles montassem um grupo técnico para discutir novas regras, formas de facilitar as ultrapassagens e até mesmo softwares que prometem ajudar a desenhar pistas onde seja mais fácil um carro seguir o outro de perto.

A FIA? Foi espectadora no processo. Uma entidade parada no tempo, administrada por um conselho de senhores autocentrados, extremamente política, estagnada e sem saber exatamente qual o seu papel no circo.

É possível que o fantasma de Jean Marie Balestre ainda se sinta perfeitamente à vontade na Place de la Concorde. E se podemos dizer, sem muito prejuízo de sentido, que um homem que já era antiquado nos anos 80 poderia, em 2021, frequentar algum espaço sem estranhamento dos seus pares, é porque algo precisa mudar.

A fragilidade de Masi na direção de prova é o reflexo no espelho da fragilidade da FIA no atual ambiente que a Fórmula 1.

4 Precisamos ter perspectiva em relação à Liberty

Não é exagero dizer que a Liberty Media revolucionou a Fórmula 1 de 2017 para cá. Se não nas pistas, como negócio. O campeonato investiu em marketing, se popularizou e se abriu às novas gerações. Era um movimento necessário e urgente, ao qual Ecclestone e a CVC Capital Partners, os antigos donos da categoria, não se atentaram.

O campeonato de 2021 foi a cereja do bolo que a Liberty precisava. Um final apoteótico para um ano em que o esporte se valorizou. Chefes de equipe, CEOs e a turma do dinheiro, todos estão felizes, mas e para nós, fãs, o que restou?

É sempre importante lembrar que, quando a gente não paga por algo, normalmente, a mercadoria somos nós. É a lógica mais básica da tv aberta. Receber o sinal é de graça porque nós, a audiência, somos vendidos pelas emissoras para os anunciantes. Milhões estão rolando enquanto a gente assiste a novela.

Portanto, se há mais gente acompanhando o esporte, há mais “mercadoria”, mais audiência para que mais milhões circulem.

E nesse ponto é importante questionar: com o sumiço cada vez maior da relevância da FIA sobre o esporte, o quanto de pressão da Liberty existe sobre questões esportivas? Ou o quanto de interferência?

Essa é uma perspectiva da qual precisamos, sobretudo após o GP de Abu Dhabi. As decisões da última volta abrem margem para questionamentos acerca da necessidade da Fórmula 1 de servir um bom show e ainda permanecer um esporte, e não um episódio de Round 6.

O pacto com o espectador, aquele acordo não escrito que regula as expectativas do público com o evento, não pode ser rompido como foi, principalmente nas duas últimas corridas de 2021. Ainda queremos ver um esporte, não um jogo de video game ou um filme roteirizado para alcançar melhor desempenho comercial.

Não é como se esse limite não tivesse sido testado anteriormente, mas é possível falar numa impressão de que Whiting geria as corridas sempre com foco na segurança dos pilotos, até com certo preciosismo (quem nunca se irritou com as voltas e voltas atrás do Safety Car em corridas chuvosas?) e que isso se perdeu em nome de um show a qualquer custo.

Estamos irritados com a FIA, mas precisamos saber se também devemos cobrar algo da Liberty.

5 Let them race? (precisamos cuidar dos nossos fetiches)

Puxe pela memória e lembre-se do GP do Canadá de 2019. Foi um momento de baixa do esporte, onde uma interpretação ao pé da letra das regras estragou a diversão de uma corrida intensa entre Lewis Hamilton e Sebastian Vettel pela vitória.

Todos ficaram infelizes com o desfecho daquele dia e, desde então, se ouve falar em “let them race”, deixem eles correrem, deixem eles resolverem na pista.

Muito bonito. Mas que fetiche é esse que estamos querendo atender?

Boa parte do público – sobretudo o que acompanha a Fórmula 1 há mais tempo – idealiza tempos passados como um modelo para o esporte, como se não houvessem problemas, corridas chatas, polêmicas, controvérsias, política e tudo o que continua existindo até hoje.

“Não, porque nos anos 80 os caras eram muito machos, não tinha esse mimimi, resolvia na pista”. Sim, resolvia, numa década com corridas não tão boas como a nostalgia faz pensar, dois pilotos mortos durante corridas, dois em testes, campeonatos possivelmente vencidos por carros fora do regulamento e uma temporada cujo resultado sofreu flagrante interferência do alto comando da FIA.

A idealização de uma época “pura” da Fórmula 1 é algo que povoa o imaginário dos fãs, em maior ou menor grau. Mas a gente precisa entender que: 1) essa pureza não existe e sempre será preciso analisar contextos; 2) não estamos mais nos 70’s ou 80’s e muita coisa aceitável naquela época não o é mais; 3) sim, deixem eles resolverem na pista, mas de uma forma que faça sentido.

Na pista, não 20 metros fora dela (sim, volta 48 de Interlagos, eu tô falando de você). O let them race não pode patrocinar um vale-tudo. Os pilotos não vão resolver a coisa na pista dando socos uns nos outros de capacete, porque, além de ridículo, não é mais essa a imagem que o esporte quer passar.

Eles vão resolver na pista desde que existam regras, uma linha de raciocínio coerente e aplicações claras para a maioria das situações. Esse é o papel da regulação do esporte. E que precisa melhorar urgentemente na Fórmula 1.

8 Comments

  1. São 5 pontos para melhorar o esporte na opinião do articulista. Conheço várias pessoas que discordariam fundamentalmente de alguns desses pontos e concordariam visceralmente com outros. Um ponto notável é a questão FIA – Liberty. Lembra muito CBF- Rede Globo, não? Quem manda no futebol são as emissoras de TV, não a FIFA ou a CBF. Quem sempre mandou na F1 foi Bernie Ecclestone, que era o explorador comercial do esporte, e não a FIA. Acredito fortemente que a FIA, assim como qualquer outra entidade normativa em esportes que envolvam muito dinheiro, jamais terá grande relevância. Outro aspecto notável é a idealização da formula 1. O articulista acredita que a audiência mais velha idealiza os anos 80. Acredito que ela seja jovem o suficiente para não ter visto corridas naquela época. Eu sou velho o suficiente para ter visto as dos anos 70, que dirá as dos 80. De modo geral, a cada década baixa o nível de emoção nas pistas, porque vai-se reduzindo aquilo que gera emoção nos seres humanos: desgraça. Quanto mais seguras são as pistas e mais civilizado é o campeonato, menos emocionante as corridas são. Observe que emoção é o oposto da razão. Razão é o que te faz civilizar o esporte. Emoção sugere uma linha oposta: let them race. É dificil compatibilizar as duas coisas. Tanto isso é verdade que, em qualquer esporte, o que mais fica guardado na memória são os lances polêmicos. A F1 dos pontos na carteira, da impossibilidade de zanzar na frente do oponente, das áreas de segurança que são extensões da pista, dos Hamilton que se recusam a voltar a correr porque perdeu o campeonato, dos carros que não podem se tocar na pista sem meio mundo ter chilique no rádio, do diretor de prova que é prensado por chefe de equipe, de tokens que limitam investimentos, de regulamentos que parecem descritivo técnico de nave espacial, é um esporte civilizado. Muito bom para a audiência jovem do século 21, toda cheia de razão e civilidade. Um tanto infantil, para não dizer muito infantil, para quem cresceu vendo muita emoção e pouca razão

    • Não faz nem sentido essa questão da emoção depender da desgraça. Os melhores momentos do esporte esse ano foram as lutas na pista de Hamilton X Verstapen, Hamilton X Perez… As batidas só serviram pra encerrar as provas prematuramente sem dar graça a corrida. A exceção foi Hungria pq o Hamilton veio de trás e travou algumas boas brigas.

      Emoção na Fórmula 1 é corrida com briga. E (agora vou comprar briga mesmo), poucos campeonatos nos anos 80’s tiveram tanta briga direta na pista (teve algum?). Quem vê fórmula 1 pra ver desgraça, Vai pra corrida em oval que lá tem muito mais.

      Basear a emoção da Formula 1 em desgraça chega a ser piada. Pergunta pra alguém que realmente gosta de Formula 1, que sente emoção na corrida, se gostou do fim da briga de Lewis e Max em Monza…

      Ju, vc cobra F1 esperando acidente e desgraça? Pergunta pra Mariana se é por isso que ela tá aí pra mim, por favor…

      Ver uma corrida como as três últimas da temporada é que dá emoção.

  2. Excelente, Fábio!

  3. PQP que TEXTÃO!!!
    Absolutamente coerente e com lentes, mente e capacidade de escrever , mesmo nas entrelinhas, um resumão dos últimos trinta e poucos anos… e ainda olhar pra frente e apontar a “linha tutorial” para se contornar a “curva”… AMÉM!!!

  4. esta temporada foi levada aos limites pelos pilotos, suas equipes, suas mecânicas… nem a FIA e o rulebook estava preparado para isto.

    Épico, mas controverso. concordo.

    o caminho é claramente este , mas há aspectos a cuidar:

    – as mudanças técnicas têm que ser progressivas e incrementais, não como em 2014 em que mudas muita coisa e fica uma equipa na ponta do campeonato anos a fio com uma margem gigante

    – os carros têm que ser difíceis de guiar. os pilotos não podem ir só em gestão de equipamento/ gasolina / pneus a 5 segundo de lentidão da volta da pole… tem que ser levados ao limite e com isso haver mais erros ou até desistências

    – os pneus têm que ter algumas resistência e permitir fazer stints medianos a puxar. há situações em que 3 voltas a puxar em corrida e ficas sem pneu por excesso de temperatura

    – as regras têm que ser clarificadas para não haver tantas penalizações. o normal e o espirito deste desporto é haver ultrapassagens, logo haver, carros ao lado, toques, saídas de trajectória

    – não penalizar tanto em casos de tentativa de ultrapassagem, temos que promover quem ataca e não haver proteção exagerada a quem defende… é esse o espírito do desporto

    Quanto à ultima corrida ficam algumas lições:

    – o SC deve sair o mais rápido possível

    – os retardatários têm que se desdobrar de uma forma ágil, por exemplo, fazendo drive-thru pela box e retomar de seguida atrás do pelotão

    – se estão na ultima volta com SC, então os carros devem fazer + 2 voltas finais em modo corrida

  5. Excelente, boa visão do articulista. Como conspiranóico de carteirinha, vi em 2021 um campeonato direcionado para o campeão, e não estou insinuando que ele não tenha merecido o campeonato.
    Mas Liberty Media + FIA manipularam e direcionaram o campeonato.
    Prova disso é o campeonato de construtores para a equipe Mercedes e os dois erros de estratégia cometidos em duas provas que tiraram de seu piloto número 1 o campeonato.

  6. Acho “engraçado” as pessoas pedirem punição para a manobra de Verstappen em Hamilton em interlagos 2021 onde os dois saíram da pista: quantas vezes Hamilton espalhou e deixou pra freiar além dos limites da pista deixando o dadversario da ocasião sem espaço? Fez com Rosberg, Bottas e outros – não aconteceu nada e ainda foi aplaudido, eu mesmo aplaudo qualquer disputa – ou quando alguém emparelhar o carro por fora quem está por dentro tem que deixar sem dIsputar? É autorama? Como disse Masi para Wolff: “that’s car racing”. Cito outras duas manobras questionáveis do próprio Hamilton no Albon no Brasil 2019 e Áustria 2020 – essa ele estava tomando um passão por fora e deu um toquezinho no Albon tirando ele da pista…

    Também vejo muitos pedindo consistencia: como isso é possível? as curvas não são consistentes uma com as outras, os circuitos são diferentes, os carros, os pilotos, o vento, a temperatura… existem muitas variáveis e cada caso é um caso – e deve ser avaliado individualmente, pelo diretor e comissários… Será que porque o campeonato de 2012 acabou em bandeira amarela agora somos obrigados a terminar todos assim? Prefiro terminar como terminou o de 2021.

    Não estou impondo nada, só apresentando elementos para ampliar o debate

  7. Excelente texto! Parabéns e obrigado!


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