F1 (Des)Estratégia do GP do Azerbaijão - Julianne Cerasoli Skip to content

(Des)Estratégia do GP do Azerbaijão

Quem diria que ele agradeceria por isso…

O vencedor largou em décimo. O terceiro, saiu em oitavo. E o segundo chegou a estar no fundo do pelotão. O pódio do GP do Azerbaijão esteve entre os mais inesperados de todos os tempos da F-1, e a estratégia teve pouco a ver com isso, em uma corrida em que aconteceu um pouco de tudo, até momentos bizarros como um descanso de capacete não ser bem fixado, um assento rachar e até um tetracampeão do mundo perder a cabeça.

Mas houve alguns momentos pontuais que ajudaram Ricciardo, Bottas e Stroll a se sobressair. E mais uma vez os pneus foram essenciais para os momentos de emoção, ainda que não da maneira que estamos acostumados.

Tive uma discussão (não no sentido de briga, por favor!) com Livio Oricchio ainda no sábado: ele acha um absurdo que os pneus sejam tão imprevisíveis, eu acho desejável. Isso, porque ele está olhando do ponto de vista de engenharia. E eu do entretenimento.

Pois, bem. Os pneus tiveram grande participação em uma corrida que está sendo considerada uma das melhores dos últimos anos. E foi uma corrida de deixar qualquer engenheiro de cabelo em pé!

Primeiramente, a Pirelli levou compostos duros demais para Baku. Segundo, a transição que parece ser a mais complicada é justamente entre supermacios e macios. Ou seja, é praticamente impossível fazer um carro funcionar com os dois, especialmente com diferenças grandes de temperatura de pista, como acontece no Azerbaijão devido à largada às 17h.

Então simplesmente não existia um acerto perfeito, algo amplificado pelas relargadas, com pneus fora da janela de temperatura, e em um circuito de poucas áreas de escape. Além disso, há a questão da linha de SC ser muito adiantada, obrigando o líder a diminuir muito o ritmo para não correr o risco de ultrapassar o carro de segurança antes do permitido. Isso deixa o pelotão muito colado nas relargadas, um problema que já tinha sido notado na GP2 ano passado, mas que foi interpretado como “esse povo da GP2 é maluco”. Junte a tudo isso um vácuo poderoso em 2.3km de pé embaixo na reta e… caos.

A vitória de Ricciardo tem muito a ver com os problemas enfrentados basicamente por todos que iam a sua frente, com exceção de Stroll: Hamilton com o head rest, Vettel com o stop and go, Bottas e Raikkonen com o toque na primeira volta, Verstappen e Massa com quebras e a dupla da Force India também com o toque. É claro que a “questão Stroll” foi resolvida com uma ultrapassagem na relargada, mas isso e o bom ritmo adotado depois foram facilitados pelo acidente no Q3. Afinal, isso significou que o australiano tinha dois jogos de supermacios novos, ao contrário dos rivais diretos, pneus que inicialmente ficariam na garagem, mas acabaram sendo usados devido à bandeira vermelha.

Não que Stroll não tenha nenhum mérito, pois se manteve longe dos problemas em uma prova recheada deles, ainda que a equipe tenha protegido-o de forma inteligente ao não fazê-lo esperar atrás de Massa em um pitlane movimentado no primeiro SC. Ele parou sozinho e ainda não perdeu posições.

O mesmo SC foi fundamental para a recuperação de Bottas, único carro que não estava na volta do líder. Mas a sequência de voltas atrás do SC e a relargada de fato só com mais de um terço da corrida tendo sido disputada deu menos tempo para ele se recuperar vindo do fundo do pelotão. E mais pela velocidade da Mercedes, sua habilidade em ficar longe dos problemas mesmo obrigado a arriscar e os infortúnios dos rivais, e menos por estratégia, o finlandês por umas quatro ou cinco voltas não ganha uma corrida que até Alonso em determinado momento achou que poderia vencer.

8 Comments

  1. Adoro suas análises Julainne, infelizmente não vi a corrida para comentar e trocar, mas vi todos os treinos e gostaria de contribuir com uma observação dos pneus.
    Todos os tempos do topo (até o 5 ou 4 tempo) da tabela, foram marcados apenas na quarta ou quinta volta, tamanha era a dificuldade de fazer os pneus funcionarem na janela ideal de temperatura.
    E sem querer ser chato, mas já sendo, a GP2 passou a se chamar Fórmula 2.
    rs
    Abraços pros meninos e beijos pras meninas!

    • Sim, havia uma grande dificuldade em aquecer pneus.

      E eu costumo confundir mesmo, mas me referi à GP2 porque falava da corrida de 2016 🙂

  2. Bom, uma corrida de deixar qualquer um louco. Bom Ju, gostei da sua análise. Em uma outra matéria, nos comentários, um dos leitores questionou porque o Hamilton não trocou os pneus durante a sua parada para consertar o encosto de cabeça. Eu entendi, e por isso respondi pra ele, que a mercedes optou por não trocar pois o pneu que ele usava era novo, além de demorar muito pra aquecer e entrar na janela de temperatura ideal, uma vez que ele iria ter que andar muito pra conseguir diminuir o prejuízo. Você não pensou por esse lado também não ?

    Outro ponto que achei interessante foi justamente a seção de “batidas” que houveram nessa pista. Toda hora tinha pedaço de carro voando pela pista. As batidas de Ocon e Perez, pra mim, foi um toque de corrida, porque acredito que Ocon não tenha visto Perez do seu lado de fora, e deu uma espalhada que acabou espremendo seu companheiro na curva. O toque entre Bottas e Raikkonen (outra vez) pra mim também foi toque de corrida. O Raikkonen tentou por fora e fez com que o Bottas ficasse sem espaço dentro da curva, atacando a zebra interna que jogou seu carro pra fora e acertou Raikkonen. O vacilo do Bottas foi ter freado muito cedo, como o próprio Raikkonen disse depois da prova. Sainz e Kvyat nem teve toque, foi só o susto mesmo hahaha. Hamilton e Vettel, na minha concepção, foi um vacilo do alemão, que acabou saindo baratíssimo pra ele. Ju, outra pergunta. Há rumores de que o Vettel deverá prestar esclarecimentos para FIA, e desse esclarecimento ele poderá ser punido novamente. Você sabe de algo ? e caso ele seja punido, ai teóricamente é injustiça, não ?! ser punido 2 vezes pelo mesmo incidente é foda …

    • Sobre os pneus, sim, estou com você. Os toques, também, ainda que Ocon soubesse que Perez estava ali e não quis aliviar.
      Do Vettel é menos rumor e mais pensamento lógico porque quando houve aquela confusão do México a FIA disse que não deixaria barato. Mas me surpreenderia se ele levasse mais do que um puxão de orelhas.

  3. Também gosto dos pneus com rendimentos diferentes e imaginar e apreciar as variáveis de estratégia.
    Achei o Vettel burro, mas como estavam devagar não teve grandes consequências.
    Parece que o Ocon resolveu jogar duro com o Perez.
    Ju, o Stroll ainda continua pilotado pelo carro? Sem erros conseguiu um belo pódio.

    • Não tive a oportunidade de ir ver os carros na pista em Baku para observar o Stroll, veremos se consigo arranjar um tempinho na Áustria

      • Eh, vamos aguardar pra ver o que vai sair dessa história, mas dificilmente acredito que o Vettel levará outra punição, e nesse caso, eu jogo mais pelo fato de: A FIA deu mole ao não puni-lo mais severamente na corrida, e aplicou uma punição “branda” nele. Uma vez que ele foi punido, querer reavaliá-lo e puni-lo novamente eu acho errado. Por mais que eu não tenha gostado da punição que a ele foi dada, eu acho injustiça um piloto pagar 2 vezes pelo mesmo erro, sendo que a FIA quem não soube dar a punição da forma correta. Se tivessem excluído ele da prova, como era o esperado, não daria margem pra questionamentos sobre o nível da punição.

        Mesmo se excluissem ele da prova agora, por exemplo. Seria algo que eu acredito que não “pegaria bem”, pois a partir daí, as corridas seriam ganhas no “grito”, no poder político da equipe, do chefe de equipe, etc.

        • A situação é igual um jogador de futebol que é expulso e depois vai para a comissão disciplinar para ver se o que ele fez se encaixa na pena automática ou se o gancho precisa ser maior. Não vejo exagero em existir isso. Mas me surpreenderia se ele efetivamente levasse um gancho.


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