Atendendo a pedidos, vou colocar no ar os textos da série Turistando mesmo sem carro na pista. Até porque, em temos de isolamento devido ao coronavírus, esse é o melhor jeito de viajar…
Depois da primeira temporada do Turistando dar uma geral nos palcos de todas as etapas da Fórmula 1, a segunda veio em 2018 com todas as dicas para quem quiser acompanhar as corridas de perto, e a terceira, ano passado, deu um giro culinário pelo mundo (vocês podem conferir todos na categoria de Bastidores e Viagens). Agora é a vez de ampliar os conhecimentos sobre cada país por que a F1 passa, começando pelas curiosidades da dobradinha (dividida por mais de 12 mil quilômetros e muitas diferenças culturais) Austrália e Bahrein.
10 coisas que você não sabia sobre a Austrália
Quer dar uma de local no bar? Peça uma “schooner” (a pronúncia é mais para scunah). Trata-se de uma medida de copo de cerveja “padrão” na Austrália, de pouco mais de meio litro. Aliás, falando em pronúncia, o próprio nome do país muda por lá, ok? O campeonato da F-1 começa na Straya.
São várias as palavras diferentes. Uma que acho engraçada é usar “thong” para chinelo (que em outros lugares é chamado flip flop). A graça é que thong é a mesma palavra para calcinha fio dental, então até faz sentido!
Algo muito interessante em Melbourne é a zona de tram grátis. Há várias ruas do centro em que o tráfego de carros não é permitido, e foi criado um bolsão de estacionamentos ao redor para que as pessoas deixem seus veículos por lá e se desloquem usando os trams, que são gratuitos por todo o raio mais central.
Como no Brasil, especialmente em São Paulo, a Austrália teve uma grande imigração italiana, e os italianos, é claro, levaram sua culinária para lá. Mas os pratos ganharam algumas adaptações, sendo a mais famosa delas a parmegiana de frango.
Sobra praia para tudo quanto é lado na Austrália, e eles inclusive dizem ter a praia com a areia mais branca do mundo, em Hyams Beach. Mas o jeito de aproveitar o mar pode ser bem diferente do Brasil. Como o buraco na camada de ozônio pega a Austrália em cheio, é comum ver gente de roupa de manga comprida na praia. E usando barracas para se proteger do sol e do vento forte. Frescobol? Altinho? Não tem disso. Mas pelo menos na Gold Coast rola vôlei de praia.
Mas toda a mistura cultural que se vê hoje nas ruas das grandes cidades australianas esconde um passado absurdo: até 1967, os aborígenes, população original do território, não eram considerados humanos. Por lei, faziam parte da “fauna” australiana. De tão recente, é claro que a questão ainda dá o que falar por lá, pois há quem questionem as ajudas que o governo dá aos aborígenes, como se não houvesse nenhuma injustiça histórica a ser reparada.
Nunca fui a Sydney, mas uma amiga carioca que morou muitos anos em São Paulo e hoje vive em Melbourne me explicou certa vez que as duas cidades rivalizam pelos mesmos motivos: Sydney é mais quente, bonita e famosa por ter um povo mais relaxado. E Melbourne não é tão praieira e é onde o pessoal vai para ganhar dinheiro. O que posso dizer é que, em termos de clima, Melbourne parece, sim, muito com São Paulo: pode sair de casa de manhã esperando por todas as estações, porque que elas virão.
A Austrália também é marcada por lugares pouco usuais (e nomes de cidades também, por herança aborígene), mas acho que nada chega perto de Coober Pedy. É uma cidadezinha de menos de 2000 habitantes no meio do deserto, que mais parece cenário de filme. Para fugir do calor, que chega a quase 50 graus de média no verão, as casas ficam debaixo da terra. Haja esforço para morar no meio do nada!
Cidades pequenas como Coober Pedy são comuns na parte central da Austrália. Isso, quando você encontra uma cidade! E não é por acaso: quase 90% da população do país com menor densidade populacional do mundo vive nas costas.
Um adolescente australiano junta grana e finalmente consegue sair pela primeira vez do país. No Brasil, muita gente vai para a vizinha Argentina, certo? Eles estão basicamente longe de todo mundo (quando você chega em território australiano no voo vindo da Europa para Melbourne, que fica no sul, ainda tem umas 5h pela frente!), então o jeito é encarar seis horas de voo para ir para Bali, que não é o lugar mais próximo (a Nova Zelândia fica a umas 3h), mas certamente é bem mais barato.
10 coisas que você não sabia sobre o Bahrein
Em 2010, a F-1 mal vai se recuperar do fuso australiano e já vai para o Bahrein. E o contraste é grande, embora o “figurino” não mude muito: em Melbourne ora vai fazer muito calor, ora muito frio. E no Bahrein também: toda vez que você entrar em um ambiente, vai congelar, pois o ar condicionado é considerado quase como um cartão de visitas imprescindível. Então não se assuste da temperatura ir de mais de 30 graus para menos de 20 quando entrar em qualquer estabelecimento.
A F-1 é tão importante para o turismo do Bahrein que ganha destaque nas propagandas estatais e nas que são mostradas pela maior companhia aérea do país, a Gulf Air. Eles agora estão tentando atrair outros eventos, mas a categoria foi a primeirona a “colocar o país no mapa”, em 2004.
O aeroporto de Manama é bem ruinzinho, mas é interessante do ponto de vista geográfico-sociológico, já que recebe muitos voos de e para lugares que fogem aos nossos livros de história. Não é raro eu seguir um grupo com traços e vestimentas cuja origem não consigo identificar para ver qual o voo eles vão pegar – e geralmente quem eu não consigo “localizar” está indo para o Paquistão. É claro que o aeroporto de Dubai também tem muito disso, mas, por ser menor, em Manama me parece que as diferenças são mais latentes.
O conceito de calçada passou longe por lá. Como a sociedade é muito voltada para os carros – o litro da gasolina sai por menos de R$2 – e o calor pela maior parte do ano desencoraja caminhadas, é bem normal que o que seriam calçadas na verdade sejam só um amontoado de areia.
Os dias de semana na capital Manama são sossegados até que chega a quinta-feira – que é o equivalente à sexta para os muçulmanos. Milhares de sauditas cruzam a fronteira sedentos por álcool e mulheres. É raro um hotel que não tenha também uma balada, e elas viram a noite.
O Bahrein é uma ilha – na verdade, um arquipélago de 33 ilhas – então a ligação com a Arábia Saudita é feita por uma longa ponte. E o mais curioso é que a fronteira fica bem no meio dela. Quem não tiver visto, pode ser obrigado a dar meia volta. Mas dizem os locais que não tem pôr do sol mais bonito do que lá, bem no posto de controle da divisa com os vizinhos.
O Bahrein é bem mais liberal também em relação às mulheres. Não são todas as muçulmanas que cobrem a cabeça por lá, e não existe um código de vestimenta para as estrangeiras. Mas, por outro lado, o voto feminino é uma conquista recente: as barenitas só passaram a votar em 2002
O Bahrein é um dos aliados norte-americanos no Oriente Médio, alinhando-se politicamente à Arábia Saudita. Os americanos inclusive têm uma base naval no distrito de Juffair, que é inclusive onde muita gente da Fórmula 1 se hospeda. A cooperação vem desde a época da primeira Guerra do Golfo, em 1991.
Tem um pedacinho de Portugal por lá. Trata-se de um forte que não foi erguido pelos portugueses – sua construção começou em 2300 a.C e o local serviu como capital de uma importante civilização local, os Dilmum. Mas foi ao conquistar o que hoje é conhecido como Qal’a que os portugueses se instalaram na ilha, em 1559, ainda que sua presença não tenha durado muito: em 1602, foram expulsos por locais.
Não que eles tenham se isolado desde então. O Bahrein já liderou ranking de melhores lugares para estrangeiros morarem e hoje é considerado o melhor lugar para expatriados no Oriente Médio, o que curiosamente significa que as pessoas ainda preferem ir morar lá do que em Dubai.
No comment yet, add your voice below!