Continuando o post anterior, sobre as rivalidades que nos esperam em 2011, a dinâmica que mais interessa aos brasileiros é a que ocorre dentro da Ferrari, entre o já não tão queridinho Felipe Massa e o inimigo da nação, Fernando Alonso.
Massa x Alonso
Talvez seja o desfecho mais imprevisível do ano. Será que os pneus Pirelli removerão toda a diferença que marcou 2010? Quais serão os desdobramentos da ordem de equipe na imagem que Felipe tem dentro da equipe e perante si mesmo? O quanto vai pesar o trabalho que Alonso fez ano passado de trazer a equipe para seu lado? Será que isso só dura enquanto ele andar na frente?
O fato é que a Ferrari contratou Alonso sabendo o que vinha no pacote. Sua experiência dividindo as atenções com Hamilton na McLaren não foi nenhum conto de fadas e sua maneira absolutista de trabalhar acabou se encaixando como uma luva no modo de pensar ferrarista. No final das contas, é inegável que o espanhol – ajudado pelos erros da Red Bull, claro – levou a Scuderia a disputar um título com o qual a performance do carro não permitia sonhar. E que a falha em Abu Dhabi gerou um sentimento de débito do time com o piloto, embora este tenha cometido erros tolos no início do ano.
“Não posso falar que estou feliz da vida, porque, para mim, a felicidade é a vitória. Não corro aqui para chegar em segundo”. Felipe Massa, após o GP da Alemanha de 2010.
“É provavelmente a maior vantagem que tive sobre um companheiro e isso me deixa feliz”. Fernando Alonso sobre seu desempenho em 2010.
Do outro lado do box, um piloto cujo contrato termina ao final de 2012 e que foi humilhado ano passado. Tanto nas vezes em que teve que ouvir que era mais lento, quanto por indiretas nada sutis do chefe, que afirmou pensar que era seu irmão quem estava ao volante.
Felipe tem um incômodo histórico: em 5 anos de Ferrari, viu seu time disputar o título de pilotos até a última etapa 4 vezes, sendo que em 3 delas eram seus companheiros que estavam na briga – mesmo que 2 deles fizessem seu 1º ano na equipe. Conhecido como um guerreiro, é de se esperar que Massa esteja se concentrando em dar a resposta na pista. Afinal, iniciando sua 6ª temporada como titular na Ferrari, o brasileiro bem sabe que as crises se dissipam tão rapidamente quanto chegam em Maranello. Sabe também que, se repetir 2010, não deve se segurar por lá e, na pior das hipóteses, tem que render para valorizar seu passe numa possível transferência.
Resta saber qual o interesse da equipe nessa possível recuperação. Pelo menos, na Ferrari, não haverá surpresas: quem estiver na frente na metade do campeonato terá clara prioridade. É assim que o esporte funciona para os italianos.
Hamilton x Button
A postura não poderia ser mais diferente na McLaren. A constante necessidade de mostrar o quão igualitário é o tratamento entre pilotos e o quão bem se relacionam Lewis Hamilton e Jenson Button já deixou muita gente desconfiada. No entanto, se houve qualquer problema entre os dois em 2010, são atores de primeira.
“Aquele cara nunca desiste. Ele é como um pitpull”. Jenson Button descreve Lewis Hamilton.
“A McLaren está encantada com Lewis e Jenson. Na verdade, acho que eles causam inveja às outras equipes”. Martin Witmarsh.
Embora haja uma grande rivalidade entre seus fãs na Inglaterra, Hamilton e Button acabam, tanto atraindo públicos diferentes fora das pistas, quanto trilhando caminhos opostos dentro delas. Enquanto Button é o homem das decisões e oportunidades, Hamilton é o cara dos riscos, das voltas impossíveis. A vantagem para a Ferrari na pontuação ano passado, apesar da performance similar dos carros, mostra o quanto isso é benéfico à equipe.
Há quem acredite que estilos tão diferentes acabem perturbando o foco do desenvolvimento do carro que, aliás, foi o ponto fraco de 2010. Por outro lado, se há um time com capacidade técnica para suplantar necessidades tão distintas, é a McLaren.
Em 2010, vimos muito do impressionante Hamilton de 2007, o que comprova a teoria de que um bom companheiro de equipe é tudo o que um piloto precisa para dar o melhor de si. O mesmo pode ser dito sobre Button, que chegou a impressionar mais nas corridas no molhado do início do ano que em sua campanha inteira pelo título. Resta saber o quanto o fato do campeão de 2009 já estar adaptado e ter dado pitacos desde o início do projeto de 2011 pode mudar a dinâmica entre os dois, uma vez que, apesar da diplomacia, ninguém duvida que o território prateado tenha dono.
5 Comments
É a primeira vez que posto por aqui, mas pelo que vi, é muito legal, com bastante informações completas. Parabéns!
Sobre a briga de equipes:
Red Bull: o Vettel como o campeão atual vai obviamente começar com a vantagem, e como piloto técnico que é não vai permitir que seja submisso. Do mesmo modo, o Webber não é nenhuma flor que se cheire, mas é inferior tecnicamente e deve naturalmente acabar como um segundo piloto.
Mercedes: Apesar das impressões pouco otimistas, a equipe comandada por Ross Brawn, na minha opnião, pode surpreender e até brigar por vitórias. Agora o Schumacher parece melhor habituado ao carro e tem se saído melhor com os Pirelli. Com o heptacampeão em forma, acho que o Rosberg não aguenta…
Ferrari: pelos testes, parece que o abismo entre os dois em 2010 já é menor. Eu ainda acredito que o Felipe pode dar trabalho na briga pelo título, mas tem um piloto que é ardiloso com seu companheiro e tem que mostrar serviço já no começo do campeonato. Mas ainda acho que vamos ter surpresa.
McLaren: os britânicos tem estilo de pilotagem completamente diferentes. O Button é um piloto de pilotagem mais limpa, poupa mais o equipamento e tem uma postura mais cautelosa. O Hamilton é o showman. Tenta ir pra cima de qualquer modo e força tudo que tem. Com os aspectos do Pirelli, o Button é um piloto que pode levar bastante vantagem pois sabe como usar o equipamento, mas o Hamilton tem se adaptado bem ao novo composto. à princípio é o confronto que mais promete.
Com relação a briga Alonso x Massa eu acho que a Ferrari só esperaria chegar a metade do campeonato caso Massa saia na frente. Se Alonso começar o campeonato na frente acho que a situação do Massa vai se complicar.
A filosofia da Ferrari é muito clara, ela irá sempre privilegiar aquele piloto que estiver em melhores condições de conquistar o campeonato, pois o que interessa a ela é ser campeã. É uma questão mercadológica que influi diretamente na venda de seus carros esportivos.
O problema é que ela costuma tomar a decisão de apostar todas as fichas em um só piloto, muito cedo e de forma escancarada, revoltando a opinião pública.
Ao Massa, cabe disputar um campeonato de forma consistente para postergar ao máximo esta decisão da equipe, o que poderá recuperar a sua imagem arranhada pelo campeonato pouco competitivo do ano passado.
Em relação à McLaren, a sua postura mais liberal se deve mais ao fato de ter dois fortes candidatos ao título e por serem dois ex-campeões. E acima de tudo, por serem ingleses.
Não só em relação ao título de pilotos, Massa deverá render mais como forma de manter o emprego, e somar precio$o$ pontos nos construtores, além do marketing. O grande problema de Massa, me parece o nível de competitividade que Alonso imprimiu com um carro duvidoso. Na Mclaren, sabemos que Hamilton é o homem de confiança de Dennis, mas o fato de Button tbm ser inglês, além do caráter analista, e sua pilotagem serena (na base do que vier é lucro), tendo em vista os frágeis Pirelli, pode criar os primeiros confrontos diretos. Não é torcer pelo desastre, mas conhecendo a natureza humana, como não se lembrar de Senna e Prost, Piquet e Mansell, no começo, tudo cordeal, mas quando a busca por espaço é ferrenha….cada um por si!
O Alonso é #1, não tem nem conversa. O que temo possa acontecer este ano é que o Massa seja tão humilhado tão cedo que perca a motivação como perdeu ano passado. Se isso acontecer o Alonso também dançará, porque com a metade dos dados coletados, e apenas um piloto desenvolvendo o carro, ele não vai ter chances de competir com a Red Bull e McLaren pela temporada inteira.
Se o Alonso fosse mais esperto não falaria coisas como [é a maior diferença entre eu e um companheiro da minha carreira e isso me deixa feliz]. Mas se ele fosse mais esperto não cometeria tantos erros e teria sido campeão mais vezes.
Viajando na maionese, e não que eu esteja desejando isso: Se o Massa dançar no meio da temporada quem sabe sobra para o DiGrassi, que não teria pretensões de primeiro piloto e é bom de engenharia.