Rubens Barrichello ganhou várias manchetes na semana passada com declarações na mídia inglesa em que deixava em aberto seu futuro na Williams caso o time não reagisse. Problemas de interpretação e tradução à parte, prefiro ficar com que ouvi da boca do piloto, no áudio de entrevista na quinta-feira do GP da Turquia.
“Acho que a história da Williams sempre será escrita pelo aquilo que ela fez no passado. É uma das equipes mais queridas na Inglaterra, é uma das que mais tem torcedores pela Europa inteira. Dito isso, acredito que o time tem que voltar à tona. Há muito tempo que ela não vence. Acho que o exemplo do Sam é algo que vemos com outros: tem muita gente fazendo dois ou três serviços. Eles precisam se dividir melhor para que cada um possa fazer o seu trabalho, a fim de que a equipe possa voltar à tona. Eu não posso guiar o carro, descer e fazer a pressão de pneu. E tem gente fazendo isso. Por isso acho que o time tem que passar por mudanças e são elas que vão fazer o futuro da Williams.
“A projeção de melhora do carro é muito boa, só que a tradução daquilo que vem do túnel de vento para a pista não é boa. Então, o carro fica estagnado. Temos novidades em todas as corridas. Se a equipe conseguir fazer com que eles realmente melhorem com essas partes, vamos evoluir com certeza.
“Sam precisava de um tempo para ele mesmo, dar uma relaxada e colocar a cabeça no lugar porque ele tem um trabalho e estava fazendo seis. Isso não ajudava nem a ele, nem à equipe, já que ele não conseguia fazer o próprio trabalho direito. Acredito que, assim, o trabalho dele venha a melhorar.”
Uns veem uma pressão justa, outros choradeira de perdedor. Mas não é esse o ponto. O fato é que não é de hoje que o esporte se profissionalizou e ficou um tanto chato. Quando se é expulso de campo por usar uma máscara para comemorar um gol, fica claro que passamos do limite do politicamente correto. A causa ou o efeito disso é que, quando há algo polêmico sendo discutido, como a briga dos direitos comerciais ou a ida ou não ao Bahrein, a tendência é todos se calarem.
A não ser quando começam a ser questionados.
Não é a primeira vez que Barrichello critica publicamente seu time – e muito menos é o primeiro a fazê-lo. Em 2009, sentindo-se prejudicado pela estratégia da então equipe Brawn, afirmou que nem perguntaria o que havia acontecido, porque não queria ouvir o blá, blá, blá de sempre. Não dá para deixar de imaginar o que teriam sido seus anos de Ferrari caso adotasse essa postura antes. Será que teria saído antes? Sua situação dentro da equipe teria mudado? Só podemos especular.
Como não lembrar de Alonso e os “não estão respeitando os décimos que trouxe à equipe”, na McLaren em 2007 ou o “não me sinto emocionalmente apoiado” de Webber sobre a Red Bull no final do ano passado. Voltando um pouco na história, há o clássico exemplo do então tricampeão Alain Prost, demitido da Ferrari após chamar o carro de “carroça”.
Outro exemplo que se repete a cada semana é a bronca de Timo Glock com a Virgin. O alemão, que vem sofrendo com problemas técnicos praticamente em todos os finais de semana, claramente não vê luz no fim do túnel – e, surpreendentemente, tem tido um duelo igual com o estreante d’Ambrosio.
Os pilotos só reclamam quando atingem certo grau de maturidade e se sentem ameaçados, a fim de esclarecer que é o carro ou a atitude da equipe que está por trás de seus resultados, e não a habilidade deles que deve ser questionada. Outro exemplo foi o jogo codificado no GP da Coreia, com quem estava atrás no campeonato dizendo que havia condições de iniciar a prova e quem liderava garantindo que era perigoso demais. É justo que todos queiram se valorizar, mas seria muito melhor se toda essa coragem de lavar a roupa suja levasse a uma participação mais ativa em questões menos individualistas.
2 Comments
Os únicos pilotos que consigo imaginar fazendo algo na GPDA, pela visibilidade que possuem, seriam Vettel, Hamilton, Alonso e Shumacher juntos! Mas ao que parece, os contratos e o marketing, falam mais alto. A GPDA me parece com o famoso “apêndice” humano, ninguém sabe ainda para que serve, mas pode causar mts problemas. Rubens falou sobre a ATM em Mônaco, e concordo sobre a periculosidade desse artifício nas ruas do principado.
Toda pessoa quando ainda jovem e com pouca experiência profissional acaba por aceitar determinadas situações por receio de ser prejudicada.
Mas depois de um certo tempo e com anos de bagagem e principalmente com a independência financeira garantida, certas situações não são mais toleráveis e fica difícil de engolir os sapos que tentam lhe empurrar. Então a pessoa não sente mais receio de falar o que pensa.
Quem dera os pilotos pudessem ser sempre sinceros e não se dobrassem por causa do medo de perder contratos milionários.