F1 Por que os pilotos não marcam tempo no Q3? - Julianne Cerasoli Skip to content

Por que os pilotos não marcam tempo no Q3?

Assistir, ao invés de participar dos treinos, virou tradição no meio do pelotão

É consenso na F-1 que ter apenas seis ou sete carros na pista durante a última fase de classificação, que deveria ser justamente o auge do sábado, não ajuda em nada o espetáculo. Porém, com os benefícios comprovados de se guardar o máximo de jogos de pneus possível para a corrida, apenas uma mudança nas regras vai evitar que o marasmo continue.

É fácil entender por que certos pilotos não têm saído no Q3. A regra determina que cada carro tem direito a três jogos de pneus macios e três duros para a classificação e a corrida e que os 10 primeiros colocados têm de largar com os pneus com que marcaram seus melhores tempos no Q3. Caso não saiam para a pista, podem escolher qual jogo e composto desejam usar.

Esse conjunto de regras, combinado com a vantagem de desempenho e durabilidade que um jogo de pneus novo apresenta em relação ao que é usado mesmo que por míseras três voltas na classificação, fazem com que a melhor opção pensando nos pontos seja não tentar ir adiante no sábado.

Isso não acontecia nos tempos dos Bridgestone porque, como eram usados normalmente apenas dois jogos de pneus nas corridas – a maioria com apenas uma parada, contra duas a três no mínimo com os Pirelli, sendo sempre dois ou três stints com os macios, os mesmos priorizados na classificação – economizar pneus não era tão crucial.

Como a estratégia de classificação varia de acordo com o rendimento do carro

Para entender porque isso acontece, é preciso primeiro compreender a estratégia de classificação. Red Bull, McLaren e Ferrari conseguem fazer o Q1 com o pneu duro, o Q2 com apenas uma tentativa no primeiro jogo de macios e têm à disposição mais dois jogos do composto mais rápido para a classificação.

Mas nem todos têm esse luxo. As equipes médias geralmente precisam usar o pneu macio já no Q1 e mais dois jogos para tentar passar para o Q3, chegando à última parte da classificação sem borracha nova. Por isso, às vezes ouvimos pilotos justificando uma má colocação no Q2 com um “ao menos economizamos pneus”, o que geralmente significa que fizeram uma tentativa a menos.

É bem possível também que um time do meio do pelotão use os duros no Q1, dois macios no Q2 e tenha um jogo para o Q3. E mesmo assim não marcam tempo na última parte da classificação. Por quê? Esses dados, que computam as primeiras 12 provas, ajudam a explicar. Eles relacionam as posições de largada e chegada.

Pos. largada Média de pos. de chegada
1 1.83
2 3
3 3.25
4 4.17
5 4.67
6 7.3
7 8.33
8 11
9 10
10 8.27
11 12.56
12 11.45
13 10.8
14 11.78
15 11.89
16 10.64
17 13.3
18 12.1
19 17
20 18.11
21 16.63
22 18.64
23 16.63
24 16.33

Há quatro posições de largada que se colocam como o melhor negócio para progredir na corrida – tudo relacionado com pneus: 18º, 17º, 11º e 10º. No 18º e no 11º largam os mais rápidos entre os eliminados no Q1 e no Q2. Eles ganham posições na prova justamente porque, por não completarem todas as sessões, têm mais pneus novos que os rivais que vão logo à frente. Isso é potencializado na 18ª posição, pois trata-se de um piloto eliminado com apenas uma sessão feita e 100% de pneus novos para uma corrida com três paradas, por exemplo. Aproveitando-se deste expediente, Alguersuari chegou nos pontos em três oportunidades largando em 18º.

Já o 17º e 10º lugares só são lucrativos se o piloto economizar pneus. E ele faz isso justamente para se defender dos que vêm atrás. Isso porque, largando apenas uma posição à frente daquele que tem pneus novos, a melhor defesa é se colocar pelo menos em condições iguais em relação à estratégia de corrida.

Por isso, um piloto que chega já sem pneus macios novos ou sabendo que não tem ritmo para largar muito além da 10ª colocação prefere desistir da luta no Q3 e focar na corrida. O problema é que cada vez mais pilotos têm usado deste expediente, fazendo valer algumas regras bizarras para a definição da classificação entre os que não completaram volta.

Assim, temos visto alguns absurdos: o piloto que sai à pista, mas não marca volta, é classificado à frente daquele que permanece nos boxes. E, se dois carros optam por não sair, a definição é pelo número do carro.

No final das contas, a regra que foi criada para que o meio do pelotão tivesse mais chance contra os 10 primeiros, que sempre largariam com pneus mais desgastados, acaba sem efeito.

Quais as soluções?

Não por acaso, a Pirelli vem buscando soluções, mas reclama que não há interesse de nenhuma das outras partes – FIA e equipes. As ideias vão desde mudar a alocação dos pneus – aumentando o número de duros, o que mexeria com a estratégia – até criar um pneu específico para a classificação, que não seria usado na corrida. A última não agrada muito as equipes, que teriam um desafio e tanto nas mãos para acertar o carro em tempos de parque fechado.

Outra hipótese seria mexer na regra, obrigando todos a uma volta lançada. Conhecendo a F-1, não seria de se estranhar se víssemos pilotos deliberadamente lentos em sua “volta rápida” para economizar pneu. Afinal, a maior regra desse mundo é tirar proveito de qualquer situação para ganhar, e não entreter o público.

11 Comments

  1. parabens ju outra analise perfeita já nem me espanto mais com a sua sabedoria, mas sobre 2007 eu te achei um pouco em cima do muro, na minha opiniao a dupla da mclaren era bastante superior a da ferrari, penso que se trocassem os pilotos das duas equipes massa e raikkonen talvez nem ganhassem corridas naquele ano independentemente do estilo de pilotagem de cada um. Por favor faça uma lista dos 10 melhores pilotos da atualidade pra mim quero muito saber sua opiniao

    • Não concordo, pois Massa guia bem com um carro na mão (provou em 2008) e ele teria isso com aquela McLaren e o Raikkonen é excelente, só peca em consistência e não é de ajudar muito o carro a durar. Considero Alonso e Hamilton acima daquela dupla ferrarista em geral (Alonso não naquele ano, para mim o pior dele como piloto disparado), mas dizer que Massa e Raikkonen não ganhariam nada com o Mp4-22 é exagero.
      Prometo uma lista da temporada para o final do ano. Fiz isso ano passado, acredito que esteja nos posts de dezembro (no máximo está em novembro). Se interessar, dê uma olhada!

  2. Oi Julianne,

    É preciso que haja uma mudança nas regras porque o Q3 perdeu importância. Hoje o Q1 e o Q2 estão mais emocionantes que a disputa pela pole em si.

    Tenho duas sugestões: A primeira seria que cada carro [não equipe] que passasse ao Q3 receberia um jogo extra de pneus macios. Soaria até como incentivo a todos lutarem pelo Q3, haja visto que muitos se dão por satisfeitos com o 18º lugar por economizar pneus novos.

    Outra opção seria acabar com a regra de o piloto ser obrigado a largar com o mesmo pneu que classifica.

    O que você acha?

    Um abraço e parabéns pelas suas análises sempre precisas.

    • Oi Sergio,

      O problema da sua primeira sugestão seria que certamente as equipes iam guardar esse pneu macio! O engraçado é que foram as soluções encontradas para as ultrapassagens que criaram esse problema: está provado que uma boa estratégia de pneus é mais eficaz do que a posição de largada, principalmente entre esses carros que não saem no Q3 que, convenhamos, são apenas 4 (os que sabem que vão ficar de sétimo a décimo).

      Essa segunda sugestão incentivaria ao menos eles marcarem um tempo com os duros. E também seria uma bela oportunidade para se livrar dessa regra que só serve para confundir quem não está acostumado à categoria. Acho um esporte complexo demais para complicarem com esse tipo de regra!

  3. A solução vem do passado. Pneus exclusivos para classificação.
    Um só tipo de composto para todo mundo e sem limitação.
    Mas, o fácil é complicar…….

    • Isso era simples no passado, mas não agora – e por isso há resistência entre as equipes. Tudo porque não se pode mexer no acerto da classificação para a corrida. Imagine acertar um carro para andar, além do tanque vazio, tirando tudo de um pneu bem macio, ao mesmo tempo em que procura balanceá-lo para andar pesado e com outro composto completamente diferente?

      Seria um ótimo desafio de engenharia – e talvez a única solução 100% confiável, uma vez que acabaria com essa história de equilibrar o uso de pneus entre classificação e corrida, pois os compostos de domingo seriam diferentes, mas tenho certeza de que as equipes vão tentar barrar o máximo possível!

  4. Pneus exclusivos pra classificação bateria de frente com a regra que não se pode alterar os carros após o treino.
    Se o piloto for forçado a dar uma volta ele terá que tentar tempo rápido pois já foi comentando na transmissão da Globo que o pneu mesmo dando um volta devagar cai o rendimento porque o problema é ele aquecer e depois esfriar, independentemente da velocidade.

  5. Uma possivel solucao seria: classificacao so com os pneus macios, 1 jogo p/ cada sessao. Para a corrida, cada carro teria 4 jogos, dois de cada tipo. Os numeros nao precisam ser exatamente esses, mas podem ser tomados como ponto de partida.

  6. libera apenas um tipo de pneu… 5 ou 6 jogos do mesmo tipo de pneu e acaba com o parque fechado.

  7. Continua válido o velho ditado;

    ” a solução de hoje, se transforma no problema de amanhã.”

  8. Olha Ju, ainda prefiro usar o pneu que a equipe quiser, limitando-se a quantidade é claro, e não poder regular o carro e contra a busca do limite! Economia faz sentido, mas engessar as opções, torna a disputa previsível e não premia os gênios da engenharia, pilotos e estrategistas, fica tudo mt igual!


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