Vocês me conhecem aqui no blog por falar de F-1, mas hoje também já se vão oito anos trabalhando na mídia especializada em outro tipo de corrida, a de rua. Assim, pude acompanhar mais de perto a trajetória de vários atletas que compõem a delegação de atletismo e conhecer melhor a dinâmica das competições.
Nos últimos anos, somo essa função à editoria esportiva em jornais diários. Ou seja, basicamente, futebol. E é essa a imprensa que passa quatro anos atrás de 22 jogadores e uma bola que, de repente, se torna porta-voz de um sem-número de modalidades.
Quem gosta de F-1 logo percebe quem não é espectador/leitor/ouvinte costumeiro da categoria e começa a dar palpite. O mesmo ocorre com tantos outros profissionais que se dedicam a modalidades olímpicas. E digo: se há um culpado pela atual onda de críticas ao desempenho dos atletas brasileiros é o total descompasso entre expectativa e realidade, gerado por pura ignorância em relação à cada esporte. E, de quebra, falta de compreensão do que uma competição como a Olimpíada representa.
No judô, apenas quatro atletas que ocupavam a primeira colocação no ranking mundial confirmaram o favoritismo e chegaram ao ouro. A japonesa Haruna Asami, por exemplo, é uma das 10 que ficaram pelo caminho, na categoria em que a brasileira Sarah Menezes venceu. Na ginástica artística, a norte-americana Jordyn Wieber despontava como a principal candidata ao ouro no individual geral e sequer se classificou para a final.
No atletismo, há mais exemplos, sendo o maior deles até o momento Yelena Isinbayeva, que abusou da confiança no salto com vara e acabou com o bronze. Por outro lado, o domenicano Felix Sanchez, tido como acabado, renasceu das cinzas para vencer os 400m com barreiras com folga, em meio a tantas outras surpresas que ainda nos esperam até o final dos Jogos.
Não que um erro justifique o outro ou que atuações como de Fabiana Murer, campeã mundial e dona da terceira melhor marca do ano – com a qual ganharia o ouro em Londres – não sejam passíveis de críticas, mas é preciso um mínimo de conhecimento de causa. Mas questionar o saltador Mauro Vinícius, em sua primeira olimpíada e despontando agora, após uma séria cirurgia no joelho, por ser o sétimo melhor do mundo, foge de qualquer justificativa lógica. Da mesma forma, esperar muita coisa de Diego Hipólito, vindo de uma série de lesões, ou Daiane dos Santos, em fim de carreira, é passar por cima da grandeza de uma Olimpíada. É como esperar, por exemplo, que Felipe Massa, após 3 anos e meio sem vitória, irá ressurgir como num passe de mágica, ou apostar em um pódio da Toro Rosso como naquela encharcada Monza-2008, esquecendo-se que oito equipes têm se mostrado melhores na atual temporada. Voltando aos Jogos, está claro que o Brasil precisa de uma elite mais representativa, pois nem todos os ‘ouros certos’ virão. Pasmem: há concorrência.
Uma competição dessa magnitude dá diversos significados à vitória. Quando se disputa um campeonato de tiro curto contra os melhores do mundo, muitas vezes chegar a uma final é um feito e tanto. Se buscássemos mais informação – e digo isso como jornalista e espectadora – saberíamos o valor exato das conquistas. Veríamos com outros olhos a luta impressionante de Del Potro por uma medalha para a Argentina diante de Fereder e Djoko, ou o último lugar de Pistorius na semifinal dos 400m. São dois dos grandes vencedores de Londres.
Quem prefere ficar em sua ignorância, questionando ‘o que eles fazem com nosso dinheiro?’ ou generalizações do tipo, sem considerar o investimento – não só financeiro – a longo prazo feito pelas grandes nações do esporte, que hoje têm uma estrutura que lhes permite buscar qualidade e quantidade quase simultaneamente, que continue a espera dos grandes heróis virtuosos. Só resta questionar de quem é o fracasso.
11 Comments
Ótimo texto. Por isso, pelas críticas e até pela falta de apoio que fico triste não com o esportista, mas com o brasileiro. Daiane dos Santos tem saltos com seu nome, algo nunca antes imaginado na história do esporte para o Brasil. Fez uma revolução. Fez o povo ver ginástica olímpica… E hoje é maltratada porque querem que ela seja aquela garota. É só um exemplo, mas temos tantos outros. A própria subvalorização que se dá pro Rubinho. O cara era o segundo, mas todos que xingam e reclamam não chegaram em suas áreas sequer ao 100º lugar.
Seria bom pro brasileiro poder comparar os melhores em cada profissão, e descobrir que estamos mal das pernas no profissionalismo… Caixas de supermercado, mecânicos, torneiros, lixeiros, programadores, estilistas, tudo… Quais são brasileiros? Desses que reclamam tanto, quantos estariam no TOP 100 de sua profissão, seja ela qual for? Tenho certeza que colunista de F1 a Julianne estaria muito bem posicionada. Talvez não seria a melhor, mais continuaria a preferir suas críticas e textos. Assim também eu prefiro torcer por um Massa, mesmo que saibamos que ele pode e provavelmente não irá vencer. Prefiro torcer por uma Daiane dos Santos encerrar bem e feliz sua brilhante carreira… Ou prum Cielo, terceiro, que todos torcem hooje, mas que ninguém sabia existir na última olimpíada… E vez em quanto ser premiado com um Zanetti, ouro nas argolas, que eu nem sequer ouvira até os jogos (embora não tenha tanta empatia pela ginástica)… E mesmo sabendo que nossos brazucas no basquete (esporte que eu amo e pratico) tem pouquíssimas chances… Prefiro me esbaldar a um único resultado expressivo, uma vitória sobre a Espanha… E mesmo que eles voltem sem mais nada pra casa… Ficarei feliz… Pois os vi voltarem para as Olimpíadas… É um caminho para um futuro promissor… Ou somos brasileiros e torcemos por nossos pares… ou somos burros e torcemos pela nossa própria derrota.
Antes que eu me esqueça… Ju, que tal uma matéria sobre todos os pilotos, ou os principais??? como estão, coisas assim… É uma dica, sei que demora bagarai isso… 😛
Gostei, Julianne. E claro, vendo as coisas pelo outro lado do Atlântico, concordo plenamente com o que tu dizes. E até há um nome para isso: “medalhite”. Eu – tal qual como tu, também acompanho o atletismo – acho uma enorme piada ver pessoas aqui em Portugal exigirem medalhas quando se sabe que muita desta gente raramente chega aos pódios mundiais, e num ano em que os principais candidatos às medalhas estão lesionados.
E para piorar as coisas, aqui em Portugal ainda não se ganhou uma medalha, e as pessoas não andam otimistas. Mas “em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”, acho perturbador ouvir os “comentadores de ocasião”, do qual não os oiço discutir sobre atletismo, ténis de mesa, canoagem, vela, basquetebol, remo, etc… durante os períodos entre as Olimpiadas, discutir os financiamentos, o estado do desporto escolar, os financiamentos aos atletas e respectivas bolsas olimpicas, entre outras coisas. Tudo isso existe, não só no Brasil ou Portugal, mas também em mais alguns lados.
E no final, o que desejam, no fundo, no fundo, é a velha história: só querem ver alguém do seu pais no lugar mais alto do pódio, não lhes interessa como, não lhes interessa saber as dores, os esforços e os sacrificios que fizeram para chegarem até lá. Somente nas nossas cabeças é que o sucesso vem antes do trabalho.
Belo texto, Ju! Na verdade, em um país onde não há planejamento, este é o retrato de uma sociedade que não sabe cobrar seus direitos, mal sabe cantar o hino, e o pior, não dá valor à educação! Um país que se volta totalmente para o futebol, mas se esquece de cobrar os direitos civis…Enfim, a nação é maravilhosa, não possui terremotos, tornados ou tsunamis, mas infelizmente sobra uma sociedade de mentalidade distorcida e alienada…Ps: o que esperar de um país de dimensões continentais que não investe em ferrovias, hidrovias, educação, adora nepotismo e jeitinho, daqui há 200 anos aprenderemos…
Olá Julianne,
Você foi muito, muito feliz nesta análise. A cada post, cada vez mais, me torno seu fã porque sinto que tenho a mesma linha de pensamento que você.
Gostei quando você cita a função da imprensa no segundo parágrafo. É lamentável. Eu gosto muito de rádio e sempre critiquei os programas esportivos, principalmente aqueles que tem uma hora ou mais de duração falando o tempo todo de futebol e quando faltam 5min para terminar eles falam de F-1, volei, basquete, atletismo…
É uma falta de respeito com o público, falta de noção do que estão fazendo, falta de cultura esportiva, e depois criticam, falam bobagens, cobram, sendo que jamais dão o devido apoio aos atletas. E não digo apoio em passar a mão na cabeça, e sim divulgar o trabalho, mostrar quem são os patrocinadores (poucos) que investem na maioria dos atletas, cobrir os treinamentos, enfim…
Infelizmente vivemos num país em que a cultura é o futebol e o carnaval. Sábado jogava Brasil X China no basquete masculino e o Brasil dava um show nos chineses, mas a TV cortou para mostrar o quê? Futebol, Brasil X Honduras. E o basquele genial da seleção foi às favas.
Aproveitando o gancho de minha revolta, domingo fiquei horrorizado com a (des)cobertura da Band na F-Indy. Mostraram a F-Truck inteira, pódio, comercial, entrevista com os vencedores, mais comercial e quando foram para Mid-Ohio já estava na 22ª volta.
Ai, coitadinha da Bia que teve que se esforçar ao máximo para consertar as bobagens do narrador, Ulisses Costa que é daqueles que só conhece futebol.
Foi um festival de comerciais que perdi as contas. Nunca vi uma transmissão tão ridícula na minha vida. Melhor se não tivessem transmitido a prova. Uma absoluta falta de respeito com os fãs da categoria. Passei tanta raiva que só não desliguei a TV em respeito à Bia. Ela merecia coisa melhor.
É por essas e outras que nosso automobilismo anda de marcha-a-ré, e que quando chega as Olimpíadas aparece um monte de entendidos a piiiiiiiiiiii nenhuma (desculpe a expressão, Julianne, mas é revolta mesmo) criticando, cobrando resultados, cobrando medalhas, cobrando do governo, dos patrocinadores, e depois passam mais quatro anos só falando de futebol.
Um abraço, Julianne.
Tenho acompanhado seu blog há algum tempo e quero dizer que está sendo ótimo. Você realmente se afasta das emoções e predileções para escrever seus textos. Quem ganha com isso são os leitores que desejam imparcialidade.
Parabéns!
Bom tema, Julianne.
Acredito que parte dessa expectativa de “vitória certa” não importa o esporte é, em grande parte, culpa da forma que a imprensa cobre as competições. Colocam para o atleta como obrigação trazer a medalha “para o Brasil”, de preferência a de Ouro.
Se o atleta entra nessa pilha fatalmente não irá render 100%; imagino que por isso que vários atletas rendem melhor nos campeonatos mundiais, que dependendo da modalidade são disputados anualmente, do que na Olimpíada.
Não tenho acompanhado pela TV, dado todo o oba-oba que é feito quando tem brasileiro na disputa, mas no fim de semana assisti a final do salto em distância; o brasileiro ficou com o 7º lugar, um excelente resultado. Mas, o reporter tratou de diminuir o feito do rapaz, perguntando algo do tipo “se não tivesse queimado o salto, daria para pegar medalha?” É complicado assim…
Acho que enquanto não mudarem essa mentalidade de que “se tem brasileiro(a) na competição, ele(a) tem que vencer”, sempre a visão das Olímpiadas aqui no Brasil será de fracasso; como você pontuou, há concorrência, mas isso parece que sempre é omitido nas coberturas, não importa a emissora. Impressionante…
Sergio Magalhães
no bandsports passou a corrida inteirinha da indy
nesse caso ai do automobilismo você não está sendo patriota igual seu comentário, formula truck é totalmente brasileira e a indy é totalmente americana.
Marcelo,
Eu não critico a F-Truck até porque sou fã da categoria e assisto a todas as provas, assim como já fui a Interlagos assistí-la. O que critico é a falta de respeito da Band, pois, se o horário é da Truck, então porque a Band não antecipou a corrida? Eles poderiam ter feito isso, era só iniciar a transmissão 12h50, largada às 13h e às 14h a emissora estava pronta para mostrar a Indy desde a largada.
Mas não. A largada da Truck foi às 13h10, 14h10 a bandeirada, depois foram mostrar o pódio, comercial, entrevistas, mais um monte de comercial e só depois mostraram a corrida que mais teve comercial do que carro correndo. E olha que foi numa corrida sem bandeira amarela.
Foi a pior transmissão de corrida que já vi na F-Indy.
Eu jamais critiquei a Truck, e sim a maneira de a Band lhe dar com os fãs do automobilismo.
contrato, o horário das 13 as 14:30 sei lá se é esse é totalmente da Formula Truck, a indy não tem isso porque passa no bandsports.
no bandsports passa totalmente na integra inclusive com reprises.
também não concordo com a band por isso vejo só no bandsports.
O problema foi que aqui, em Minas, pelo menos, no horário da Indy estava passando Olimpiadas.
Aqui o Bandsport não mostrou a corrida ao vivo.
Abs