A primeira oportunidade que tive de ser lida por um público maior do que eu conseguia atingir com meu pequeno blog que tinha começado alguns meses antes foi quando o Luis Fernando Ramos convidou três produtores de conteúdo que ele gostava de ler para escrever um artigo para o blog dele. Foi lá no final de 2010. Lembro até hoje de onde estava e como as ideias foram surgindo para o texto.
Foi um tijolo na história que me levou à F1, mas um tijolo importante por me dar confiança. É como se alguém que estava dentro do barco me visse tentando embarcar e puxasse minha mão. Venha, você pertence aqui.
Então já faz um anos que tento retribuir isso e convido o pessoal para me enviar textos sobre F1. Aqui estão os 10 selecionados de mais uma temporada do Blog Takeover.
Autor anônimo (a pessoa que me escreveu, ainda com as emoções cruas por tudo o que passou, me pediu para que seu nome não fosse publicado. É um relato forte e importante)
Quando do anúncio da homenagem para os 30 anos do falecimento do Senna foi anunciado, eu jamais poderia imaginar as emoções pelas quais eu passaria e tudo aquilo que foi aflorado.
No início da semana quando se ainda tinha a dúvida de quem seria o piloto a dirigir a mítica McLaren MP4/5B muitas coisas passavam pela minha cabeça, naquele momento todos os caminhos apontavam que o piloto a dirigir seria Sebastian Vettel.
Eis que numa postagem no Instagram vem a confirmação que a condução seria realizada por Lewis Hamilton me fez muito feliz, ele era a cereja naquele bolo ou pacote que viria no final de semana. A Homenagem seria no sábado mas com o mau tempo foi transferida para o domingo, o que a minha ansiedade e apenas 2 horas de sono foram ainda mais curtas.
Quando termina a classificação é o momento se aproxima meu coração acelera a cada segundo, já estou tomado pela emoção quando decido só tomar uma água e nesse momento ouço algo que por mais que as pessoas neguem, ele ainda existe, não sei se do lado ou atrás eu ouço, “é ele realmente representa o Brasil, ele representa a fauna brasileira”, não sei se falaram pra me atingir, se me viram ali, ou realmente o pensamento deles.
Voltei ao meu lugar refletindo muito sobre aquilo como estamos atrasados, de onde vim, o que eu me tornei, quem eu quero ser, quando de repente ouço ligar o motor V10, não tive tempo sequer de esboçar qualquer reação a não ser ver correr as lágrimas dos meus olhos. Naquele momento aqueles dois insignificantes já tinham ficado para trás, eu lembrava que em 90 já amante da Fórmula 1 eu não tinha dinheiro para assistir ao GP, algo que fui conquistar com meu primeiro emprego de office boy em 1994.
Lembrei do meu pai que já faleceu e que me fez amar a Fórmula 1, ele gostava da categoria pelas máquinas, por que era um mecânico de mão cheia e me colocava todo domingo de manhã em frente a TV para assistir a corrida. Esse mesmo pai que me deu bronca quando eu quase comemorei a batida do Senna em Mônaco 88, pois naquele momento eu era 100% Piquet, o primeiro brasileiro que eu vi correr, eu olhava a McLaren e lembrava não só de 90 e a batida, lembrava quando esse mesmo pai me acalentou e fui dormir 4 horas da manhã pois o Senna havia sido roubado em 1989 e ele com a sua experiência sabendo lidar muito mais com a derrota do eu, dizendo que haveriam outras chances.
A chance veio justamente no carro que passava a menos de 10 metros de mim.
Ver o piloto que eu sinto orgulho e que representa guiando aquele carro me fez aflorar uma esperança de continuar lutando e quando acabou o tema da vitória e às lágrimas começavam a secar eis que olho para a tela do telefone e vejo meu filho de 2 anos apontando pra TV com o Boné do Senna, ai foram mais 5 minutos de choro, pois ele já assiste corrida comigo, já sabe balbuciar o tema da F1 e espero um dia ser o exemplo pra ele como meu pai foi pra mim, assim como o Hamilton é para os negros e o Senna foi para o Brasil.
Realmente como é especial a manhã de domingo.
2 Comments
Realmente emocionante, parabéns pelo texto! também sempre acompanhei f1 com meu pai, lembro de ficar com raiva, chorar, perder a fé, celebrar e pular vendo tv.
Essa conexão com os pilotos e com as pessoas (equipes) e fábricas (cheias de gente) atrás deles por algum motivo nos lembram nos nossos próprios sonhos, parabéns em já passar esse sentimento ao pequeno.
Obrigada por compartilhar seu relato. Também comecei a acompanhar a F1 com meu pai quando criança e quando soube que a homenagem ao Ayrton ficaria para o domingo (era o único dia que tinha o ingresso pra ver a corrida em Interlagos), só conseguia pensar que existe sempre algo maior em nossa jornada e que se conecta com os nossos sonhos, que parecem impossíveis até serem realizados.
Lembrando dele, que já partiu há alguns anos, chorei feito criança na arquibancada a cada volta da McLaren e me arrepiava o som daquele V10 rasgando na reta, ao ponto de um senhor argentino colocar a mão no meu ombro, sorrir com ternura e dizer “quedate tranquila”. Muito emocionante o que você sentiu e essa experiência vai ser eterna. Principalmente com um legado que passa de geração para geração e que não devemos esquecer quem constrói essa história, sejam nossos pais, sejam pilotos e equipes que fazem parte dessa trajetória!