Um dos fatores que tornam a F1 interessante é como o “campo de jogo” vai mudando a cada corrida, obrigando os jogadores a se adaptarem e expondo seus pontos fortes e fracos. É quase como no tênis, pela maneira como você tem que adaptar seu jogo ao saibro, à grama, à quadra rápida.
E o ”campo de jogo” do GP do Canadá tirou a vantagem da McLaren e a colocou na Mercedes.
E olha que nem o time de Brackley acreditava muito nisso antes da corrida começar e mesmo tendo garantido a pole com George Russell e o quarto lugar com Kimi Antonelli. O motivo era o aumento da temperatura, com 25ºC de ambiente e 50ºC de pista. Será que o terror do time em etapas anteriores, o superaquecimento dos pneus, iria voltar a aparecer?
Verstappen tenta forçar pneus de Russell
A Red Bull apostava nisso e instruiu Max Verstappen a adotar um ritmo forte para pressionar Russell a também acelerar desde o início. E quem acabou primeiro com seus pneus? O próprio Verstappen, que acabou ficando exposto por duas vezes ao ataque de Kimi Antonelli, que por sua vez tinha deixado Oscar Piastri para trás logo na primeira volta.
Verstappen, inclusive, agradeceu Lando Norris pelo Safety Car causado no final da prova, pois seus pneus já tinham começado a dar sinais de desgaste acentuado. Nas duas vezes em que Kimi se aproximou, a Red Bull o chamou ao boxes. Desta vez, ele teria que aguentar até o final das 70 voltas.
Mas não vimos como esse filme terminaria. O que vimos foi a Mercedes vencendo a primeira do ano, com Russell coroando uma primeira parte de temporada bastante consistente, e o primeiro pódio de Antonelli, que se recuperou bem ao longo do fim de semana em uma pista que não conhecia.
A corrida de Russell foi ditada por Verstappen no início: o líder parou na volta 13 para trocar os médios por duros somente para cobrir o pitstop do rival. Mas depois o piloto da Red Bull já não conseguia mais segui-lo de perto e ele pôde esperar mais cinco voltas para parar pela segunda vez, colocar outro jogo de duros e ainda voltar tranquilo à frente do holandês.
Mas por que a Mercedes foi tão bem?
Eles claramente entendem como acertar o carro para Montreal e não é de hoje. A pista não tem curvas de alta velocidade, em que eles sofrem bastante, e aquela dúvida sobre o superaquecimento dos pneus foi sanada durante a corrida: essa superfície nova de Montreal, que estreou na corrida chuvosa de 2024, é tão lisa que, combinada com a falta de curvas que colocam muita energia nos pneus, faz com que as temperaturas fiquem sob controle.
Então os fatores que prejudicam a Mercedes não estavam “em jogo”, demonstrando as qualidades do carro em tração e no equilíbrio em curvas de baixa.
E isso nos leva à pergunta: mas e a McLaren?
A hair's breadth between Piastri and Antonelli's start times! 🤯
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Na prova das “primeiras vezes”, como sempre costuma acontecer no Canadá, eles estiveram fora do pódio pela primeira vez no ano, e isso aconteceu por falta de ritmo puro.
Piastri até conseguiu colocar o carro em terceiro no grid, mas logo caiu para quarto e lá ficou. Não longe de Antonelli, mas sem atacá-lo do jeito que o italiano fazia com Verstappen. No seu segundo stint, ele até conseguiu criar um tyre offset (uma diferença de número de voltas no pneu) de sete voltas, e só assim chegou mais perto no final da prova.
O problema para Piastri foi que ele tinha seu companheiro, Lando Norris, com pneus mais novos que os dele vindo muito rápido. Norris se classificou mal, assim como Charles Leclerc, e ambos fizeram a primeira parte da prova com os pneus duros. Acabaram parando cedo demais para tentar fazer só uma parada, e então tomaram caminhos diferentes: Leclerc colocou mais um jogo de duros porque a Ferrari queria minimizar ao máximo o tempo com os médios na pista, e Norris não só colocou o pneu de faixa amarela, como adotou um ritmo alucinante, que permitiu que ele chegasse em Piastri no final da prova.
Norris estava claramente melhor, mas não conseguiu usar isso para ultrapassar. Colocou o carro onde não havia espaço e tocou na traseira do companheiro que, por sorte, não ficou por ali também.
Piastri agradeceu e abriu 22 pontos de vantagem na disputa pelo campeonato.
Into the wall and out of the race! 😱
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Tática de uma parada funciona para Hulk, Ocon e Sainz
Faltou rendimento para as Ferrari chegarem nessa briga, principalmente para Lewis Hamilton, que atropelou uma marmota no começo da prova e perdeu 20 pontos de aerodinâmica no carro.
Fernando Alonso conseguiu não ser atrapalhado pelos pilotos que estavam na tática de uma parada e conseguiu levar a Aston Martin ao sétimo lugar, enquanto os outros três pilotos do top 10 fizeram a estratégia de uma parada funcionar.
No caso de Hulkenberg, a ultrapassagem dupla em Colapinto e Albon no início da prova foi fundamental, permitindo que ele se livrasse de trenzinhos de DRS, levasse o pneu médio até a volta 19 e conseguisse fazer 51 voltas no pneu duro na segunda parte da corrida.
Esteban Ocon e Carlos Sainz fizeram ainda mais do que isso: foram 57 voltas no pneu duro desde o início da prova, ou seja, com mais combustível do que Hulkenberg. Com isso, saíram de 14º e 16º, respectivamente, para a zona de pontos, algo particularmente impressionante para Ocon, uma vez que a Williams de Sainz estava bastante rápida em Montreal e só se classificou tão atrás porque o espanhol foi atrapalhado.

O que não deu certo para Bortoleto
Foi essa mesma tática que Gabriel Bortoleto, que largou em 15º, não conseguiu executar tão bem. O brasileiro segurou Sainz até a volta 15 e talvez tenha usado demais seus pneus duros com isso, pois passou a ter uma fase intensa de graining até que, lá pela volta 30, a situação começou a melhorar. O graining limpou, o que é comum, e ele conseguiu levar o pneu até a volta 50.
Essa fase de graining fez com que seu ritmo não fosse tão forte por um bom tempo e o afastou de Sainz e Ocon. Foram 10s perdidos em 15 voltas.
A segunda parte da tática era parar o mais tarde possível para ter pneus bem mais frescos que os rivais para criar um tyre offset e atacar no final, e por isso a Sauber esperou até a volta 50 (sete voltas a menos que Ocon e Sainz). Bortoleto passou Hadjar e Gasly até que veio o Safety Car e neutralizou a corrida até o final.
1 Comment
Esse desempenho ‘atípico’ dos papayas me lembrou a Red Bull de 2010, que quase sempre estava nos pódio (em condições normais), mas não conseguiu ir além do quarto lugar na prova de Montreal.
No mais, legal que a Mercedes entrou para o time dos que brigam por vitória, mesmo que esporadicamente.