F1 Entenda por que a Williams perdeu terreno – de novo – nos boxes: o undercut perfeito - Julianne Cerasoli Skip to content

Entenda por que a Williams perdeu terreno – de novo – nos boxes: o undercut perfeito

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Nem a escolha até certo ponto ousada da Pirelli com os compostos – macio e médio – para Monza motivou as equipes a flexibilizar as estratégias em uma prova que tradicionalmente tem apenas um pit stop muito em função da grande perda no box (perto de 25s) justamente em um dos circuitos com menor tempo de volta do ano. Mas, ainda com poucas variáveis estratégicas, novamente ficou a sensação de que a Williams poderia ter feito mais para proteger pelo menos Felipe Massa da Mercedes de Nico Rosberg.

O sucesso do undercut do alemão, que antecipou sua parada para superar Massa e Bottas de uma só vez, acabou não tendo efeito no resultado final da prova, devido ao abandono do vice-líder do campeonato, mas é um exemplo que nos ajuda a compreender um pouco mais sobre as nuances da estratégia na F-1.

A janela de pit stops prevista abria na volta 18 para quem largara com os pneus macios, como Massa, Bottas e Rosberg, que vinham em terceiro, quarto e quinto lugares quando abriram o 18º giro, separados por 2s3. Foi então que a Mercedes chamou seu piloto. Após a parada dele e de Massa, Rosberg cruzou 0s6 à frente. Como o alemão conseguiu tirar tudo isso?

É um erro buscar respostas para um undercut apenas com o trabalho de box. Sim, o tempo total de perda de Massa foi 0s6 maior que o de Rosberg, mas isso obviamente não seria suficiente para o alemão voltar à frente.

O undercut é a tática de antecipar a parada e usar a aderência maior dos pneus novos para andar rápido enquanto o rival permanece na pista uma volta a mais com pneus usados. No caso de Rosberg, a diferença começou a ser tirada antes mesmo da parada: avisado que faria o pitstop, o alemão ganhou 0s8 de Massa somente na inlap. Após a troca, foi 1s5 mais rápido que o brasileiro em sua outlap, lembrando que os 0s6 do box estão dissipados entre estes dois momentos.

É esse conjunto inlap (que inclui todos os setores da volta em si, além do limite que o piloto encontra para diminuir a velocidade e entrar no box perdendo o mínimo de tempo) + tempo total de parada (somando o trabalho da equipe ao do piloto em parar exatamente em sua marca) + outlap que determina uma ultrapassagem no box. E tudo correu perfeitamente bem para Rosberg superar ambas as Williams.

A análise dos tempos de Rosberg deixa claro que a parada em si foi o menor dos problemas da Williams. A questão é: a equipe deveria ter antecipado que a Mercedes tentaria o undercut e parado Massa antes, pelo menos na mesma volta de Rosberg? Uma equipe mais agressiva na estratégia, como a Red Bull, por exemplo, provavelmente o faria. Afinal, com os carros tão próximos, sabendo que tinha mais ritmo e vendo Rosberg com dificuldades de superaquecimento de freios, era uma questão de tempo para a Mercedes chamá-lo ao box.

Por outro lado, a Williams tinha motivos para temer comprometer a corrida de Massa, uma vez que sabia que tinha problemas para fazer os pneus durarem, algo que ficou evidenciado pela dificuldade que o brasileiro enfrentou nas voltas finais.

Valia a pena arriscar, uma vez que ficara claro que o ritmo era bem superior em relação a quem vinha atrás ou a Williams entendeu que Rosberg passaria de qualquer maneira e resolveu fazer sua própria corrida? É mais uma das situações que o time de Grove certamente está analisando para as próximas etapas.

10 Comments

  1. Mais didático, impossível! Excelente Julianne. A Williams sempre fica analisando, analisando, analisando. . .

  2. Mais uma volta na pista e Massa provavelmente perderia a posição para Bottas, que vinha com pneus mais novos. Logo, Massa não suportaria a pressão de Rosberg com um carro muito mais equilibrado.

  3. Primeiro parabéns pela explicação sobre o undercut.
    Acho que a Willians é muito conservadora e sempre fica esperando as outras fazerem para tentar responder. E geralmente mantém a mesma estratégia para os dois pilotos, parece que receio de privilegiar um em detrimento do outro. E assim perde oportunidades de tentar algo a mais na corrida e até uma vitória. Como não tentam, não sabemos se daria certo. Acabam fazendo uma corrida previsível, e assim não voltarão a ser um equipe “grande”. Se tivessem 30% da ousadia da RedBull. Até deixar o companheiro passar para tentar mais pontos para a equipe, virou um tabu na Willians. Parabéns ao Nico e a Mercedes pelo undercut duplo.

  4. É por posts como este e tantos outros que este blog é visita diária obrigatória, Ju. Parabéns!

  5. Muito bom, Ju.
    Massa é um piloto que larga muito bem mas tem muita dificuldade em fazer os pneus durarem. Em Silverstone ele não conseguia escapar de Bottas e Rosberg e em Monza aconteceu a mesma coisa.

    Penso que, enquanto não resolverem isso não há estratégia que dê jeito e a Williams será freguês da Mercedes sempre que isso acontecer.

  6. Fico pensando o curriculum necessário para que um engenheiro seja admitido em uma equipe de F-1. Não só engenheiro. os mecânicos também. Eu não sei, mas desconfio que eles precisam de uma qualificação monstro. Não pode ser um “engenheirinho” recém formado.

    Com a tecnologia atual, uma pessoa fera em informática, não deve ser tão difícil fazer uma simulação cruzando dados de durabilidade de pneu, se parar com x voltas, com pneu novo o tempo é y, com pneu usado é z. Pneu amarelo dura n voltas, pneu branco dura w voltas e etc,etc.

    Aí o que acontece na Williams? Os caras não dão uma dentro. Tem pessoas experientes, a equipe já é antiga. É uma bundada atrás da outra. Até pneus diferentes já instalaram…
    Ainda se essas ‘bundadas’ fossem só em um dos carros, a gente até dava um desconto. Seria aquele lance de favorecer sutilmente um dos pilotos. Só que não é o caso…

  7. Ju, envia este post para o Rob Smedley.

  8. Hoje saiou uma entrevista do pat symonds sobre os problemas operacionais….mas não tinha como o massa segurar o nico …ele ia destruir seus pneus se fosse aos boxes na Volta 18. Na Inglaterra sim a estratégia poderia surtir efeito

  9. Julianne, mais uma vez, excelente post!
    Seguindo sua linha de raciocínio sobre o que a Williams poderia (ou deveria) prever para proteger seus pilotos – ou pelo menos o MAS – de um provável e ate previsível undercut, penso que a equipe tinha que pedir giros melhores pro MAS nas voltas 18 e 19 e ainda orientar BOT a girar mais lento.
    Se a Mercedes fizesse o undercut na 18 ou 19 (como realmente o fez), MAS não perderia 0,8s na inlap do ROS. Se a Mercedes não fizesse o undercut, MAS poderia ter aumentado a diferença pra eles.
    Se após as voltas 18 e 19 ROS não tivesse entrado, MAS entraria de qualquer forma pois esse era o plano antes da antecipação da Mercedes e seus pneus do primeiro stint teriam cumprido o plano.
    O que acha?

    • Faz sentido, Ricardo. Isso, se o Massa tivesse pneu para acelerar. Acredito que a perda de tempo acentuada no inlap também tenha a ver com isso.


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