“Foi uma corrida tão apaixonante do ponto de vista da estratégia que erramos todas as análises”, concluiu o comentarista da TV espanhola, Pedro de la Rosa, ao final do GP da Austrália. A maior liberdade na escolha de compostos, talvez a mudança menos alardeada para esta temporada, juntamente da bandeira vermelha da volta 18, fez com que nada menos que nove pilotos usassem os três compostos disponíveis durante o GP. Pior para a Ferrari, que pecou em sua preparação e ficou sem armas para se defender.
São três os grandes desafios da etapa de Melbourne em termos de pneus: prever a evolução da pista, uma vez que, como não se trata de um circuito permanente, é acentuada; evitar o graining causado pela baixa aderência do asfalto; e ler corretamente o efeito da chegada do fim da tarde e a decorrente queda das temperaturas do asfalto na segunda parte da corrida, já que trata-se de um GP cuja largada é mais tarde do que o normal.
Outro fator é o tempo alto de perda (23s) nos boxes, considerado alto e levando a crer que, quem conseguisse fazer o pneu durar, levaria vantagem. Porém, nem todas as equipes acreditavam que poderiam fazer apenas uma parada – e nem tiveram muito tempo para avaliar isso, já que a chuva na sexta-feira comprometeu a preparação. A saída para estes times seria apostar em stints mais curtos com os supermacios durante a prova para fazer dois pit stops e recuperar esses 23s a mais.
Foi com esse pensamento que a Force India, por exemplo, optou por não voltar à pista após ter seus pilotos na nona e décima colocações nos minutos finais do Q2 – o que significava que eles poderiam escolher seu pneu para largar, que seria o macio, e usariam supermacios novos no GP – e, mais crucialmente, Ferrari abdicou da segunda tentativa no Q3, ao contrário da Mercedes.
A partir daí, a Scuderia demonstrou que tinha uma tática clara: largaria com os supermacios usados do Q2, como manda a regra, mas usaria um segundo jogo, novo, para tentar superar os rivais que, segundo as previsões, fariam a prova com supermacio-macio-macio.
O plano vinha saindo até melhor que a encomenda devido à grande largada dos dois carros, com Raikkonen sendo usado para marcar a estratégia de Hamilton e Vettel se defendendo diretamente de Rosberg. Na primeira rodada de pit stops, o tetracampeão usou seu trunfo do supermacio novo e estava abrindo do compatriota até a bandeira vermelha que mudou a história da prova na volta 18.
Na volta anterior, a Mercedes já tinha dado o primeiro nó tático na Ferrari quando colocou os pneus médios no carro de Hamilton, uma manobra bastante ousada àquela altura. Afinal, seriam 40 voltas com um composto que, embora tenha sido testado exaustivamente pelo time de Brackley na pré-temporada, não havia sido usado no final de semana até então. Por outro lado, o time apostou que a queda da temperatura do asfalto com o cair da tarde ajudaria. Aliás, se o acidente de Alonso tivesse causado um SC, e não uma bandeira vermelha, seria quase impossível tirar a vitória de Lewis.
Assim, quando a corrida foi paralisada e as trocas de pneu, liberadas, era de se esperar que a Mercedes colocasse Rosberg na mesma estratégia de Hamilton, uma vez que a equipe acreditava que, dali em diante, era possível chegar até o final sem parar.
O óbvio seria copiar a estratégia, uma vez que já não restavam supermacios zerados para a Ferrari e Vettel teria que abrir os tais 23s, uma margem bastante considerável. Mas e se a Ferrari não acreditasse em seu ritmo com os médios e que conseguiria chegar ao final com eles, especialmente com a temperatura caindo, cenário em que os carros da Scuderia têm tido dificuldades para aquecer seus pneus nos últimos anos?
Parece fácil dizer que a Ferrari errou em manter seu plano, mas é importante lembrar que são carros diferentes e provavelmente Vettel perderia a corrida com qualquer pneu que tivesse escolhido naquele momento. Prova disso é a queda de rendimento das duas Williams no final da prova, mesmo tendo copiado a Mercedes e teoricamente acertado na tática. Afinal, quanto melhor aerodinamicamente o carro, menos sensível ele é quando são utilizados pneus mais duros. E talvez o que a tática de Melbourne realmente mostre é que a Ferrari ainda não está segura de seu rendimento com estes compostos.
No mais, vale a menção mais que honrosa à estrategista da Haas – que veio, inclusive, da Ferrari. Ela apostou que o acidente de Alonso era forte o bastante para provocar a bandeira vermelha e não chamou Grosjean aos boxes assim que saiu o Safety Car, como fizeram os rivais que, como o francês, ainda não tinham parado. Assim, efetivamente Grosjean não fez nenhum pit stop, trocando os pneus durante a paralisação e ‘economizando’ os tais 23s e, assim, levando a Haas do 19º lugar no grid ao sexto na bandeirada.
11 Comments
Acho que no Bahrain a Ferrari tem boas chances pra ser a favorita em ritmo de corrida, pois é um lugar mais quente. Agora na China e na Russia que estão entrando na primavera eu não sei se no inicio de primavera por lá esquenta muito, se for frio deve favorecer a Mercedes.
A propósito, RAMON, dê uma olhada no link lá embaixo – achei genial e hilariante o comentário de um leitor, dizendo: “se você quiser exercitar seu cérebro, seja fã de F 1”.
Hahahaha, a mais pura verdade! Para mim, que já estou velho, é a garantia de que não terei Alzheimer, graças a Deus. . . Eita Fórmula 1 complicada!!! Saudades de Monza 71. . . e olha que não sou saudosista, rsrsrsrs. . .
http://www.autoracing.com.br/f1-mercedes-e-ferrari-escolhem-pneus-diferentes-para-o-bahrain/
Um abraço!
Eu acho que o que torna qualquer esporte chato ou atraente não é regras simples ou complicadas, mas sim quando tem competição entres os competidores. Mesmo que a F1 seja complicada, se ela tiver competição de verdade as pessoas vão gostar e se esforçarão para entender pelo menos o básico. Claro que se tiver competição e regras simples é melhor.
Ramon, competicao he bom, mas ainda melhor se acompanhada da ciencia que os competidores estao num nivel de dificuldade, de velocidade, de dominio da maquina muito muito alto e que nao ha outros iguais no mundo.
Hoje com os carros parecendo GP2 os fans de verdade que conhecem a categoria por decadas ficam putos sabendo que os pilotos nem estao perto do limite e se errarem na freada, vao parar na areia e de la nao sairao mais.
Queremos o limite, o alem do limite. E carros com som de verdade.
Por isso que as corridas de MotoGP sao tao legais faz muito tempo!
Ramon,
Sou totalmente de acordo com você, quantos aqui conseguem entender beisebol ou basquete? Meu cérebro “dá tela azul” nas regras desses dois!
Julianne,
Sabe pq é permitida a troca de pneus em bandeira vermelha? seria devido ao desgaste dos pneus associado a baixa temperatura que ele passa a ter? Essa combinação gera riscos para os pilotos?
Ao meu ver essa troca dá vantagem esportiva a alguns competidores, como por exemplo o citado caso do Grosjean com a Haas.
Um abraço pros meninos e um beijo pras meninas!
É exatamente por isso.
Ju acho q se a ferrari colocasse os medios ,ela venceria, mesmo a mercedes tendo um ritmo melhor, ela iria esta presa atras da ferrari, e acabaria o pneu mas rapido, e assim o ritmo ficariam praticamente iguais, a dificuldade q lewis teve contra vestappem de pneu supermacio ambos, mostraram q a mercedes teria dificuldade pra ultrapassar nessa pista q é dificil de passar. Mas pelos pneus escolhidos para o barhein vai ser interessante.
A questão é que eles acreditavam que seriam ultrapassados na relargada por demorar mais para aquecer os pneus
Este GP da Malásia pra mim, éh uma corrida à parte por causa das altas temperaturas. Ano passado, Ferrari & Vettel foram muitíssimo bem. Devido a esta nova regra dos pneus, acho incerto declarar um favorito! A única coisa que podemos afirmar éh que a Ferrari produziu um bom carro e a Mercedes tem um bom bólido em mãos. Diante disto, tudo pode acontecer. E concordo com o Ramon quando diz que não são as regras que tornam um esporte chato, mas sim a falta de competição.
Julianne não ficaria mais interessante se modificar essa regra da troca de pneus durante a bandeira vermelha ou a paralisação da corrida? Acho que daria um algo a mais as corridas e abriria um leque ainda maior no que diz respeito as estrategias durante as corridas.Me lembro da corrida de Monaco, mas não me lembro o ano em que a corrida tbm parou e tinha Vettel na liderança Button em segundo e Alonso em terceiro e Vettel ja vinha com pneus muito desgastados e Button e Alonso ja tinham feito suas paradas pouco antes da corrida parar, mas com essa regra Vettel pode trocar os pneus e a corrida perdeu em emoção no fim.
Eu corcordo com você. Essa regra existe pelo que o Nato apontou no outro comentário, por segurança, mas na minha visão ninguém vai querer largar com pneu muito desgastado e correr o risco de bater, então não há necessidade de controlar isso por meio de uma regra.