Há quem diga que quem mais gostou da notícia da volta de Kimi Raikkonen a Maranello é Sebastian Vettel, que pode continuar tranquilo em seu caminho de dominação enquanto o finlandês divide pontos – e a equipe – com Fernando Alonso. Mas a Ferrari precisa de mais que uma dupla de campeões para tirar o sono do alemão.
Quando pensamos em uma união de gigantes que deu certo, ou seja, que venceu campeonatos, logo vem à mente Prost e Senna na McLaren. Como se o ambiente dentro da equipe tivesse sido totalmente saudável, como se a parceria tivesse durado muito tempo… Lapsos de memória à parte, se por um lado um companheiro forte teoricamente puxa a performance do outro, é inevitável que os pontos se dividam. Voltando ao final dos anos 1980, será que Prost-Senna foi uma dupla vitoriosa porque os dois eram pilotos muito fortes ou porque seu carro era tão superior à concorrência que eles podiam focar no duelo interno sem se preocupar em jogar o campeonato fora?
A Ferrari sabe que sua mudança de paradigma em relação aos pilotos não vai dar em nada se continuar sempre correndo atrás do prejuízo. Até porque, nesta condição, a única maneira de vencer campeonatos é jogando no erro do adversário e priorizando um piloto.
Não coincidentemente, a equipe vem se fortalecendo tecnicamente. E todos os contratados trabalharam com Alonso e Raikkonen e sabem bem do que os dois precisam para render. O diretor técnico Pat Fry está em Maranello desde 2010, vindo da McLaren, onde era um dos projetistas; James Allison, diretor técnico de chassi, ex-Lotus/Renault; Dirk de Beer, que era diretor de aerodinâmica da Lotus. Além deles, comenta-se que Jarrod Murphy, chefe de CAD da Lotus, também seja contratado, assim como o eterno engenheiro de pista de Raikkonen, Mark Slade (que, curiosamente, trabalhou com Alonso na McLaren).
Um êxodo em massa de Enstone para Maranello. Qualquer semelhança com o último ciclo vitorioso ferrarista não é mera coincidência.
Na fábrica, a equipe chegou a fechar em outubro do ano passado seu túnel de vento, construído em 1997, para uma remodelação, mas reconheceu em julho que ainda tinha problemas e estava usando o equipamento da ex-Toyota para desenvolver seu carro. A pobre correlação de dados é grave e preocupa para o próximo ano, além dos rumores de que a Ferrari esteja atrasada em relação à unidade de potência, ainda que seja difícil estabelecer comparações no momento.
O tempo está jogando contra. Assim como aconteceu em 2009, quem começar na frente em 2014 terá a possibilidade de dominar por um bom tempo. Por outro lado, com mais um insucesso a Ferrari pode rapidamente perder sua dupla estrelada. Tanto Alonso, quanto Raikkonen têm menos títulos que mereciam e pouco tempo de carreira para mudar isso. Antes de pensar em problemas de relacionamento entre pilotos ou coisa do tipo, a Ferrari sabe que precisa, de uma vez por todas, de um carro competitivo. Só assim a opção de colocar dois galos no mesmo galinheiro tem chance de sucesso.
34 Comments
Será que bastará a contratação de meio mundo a peso de ouro pra dar jeito na tradicional zona Ferrarista?
O que me parece é que não há um projeto de equipe e sim tentativas de justificar o fracasso.
Perfeita colocação. Sem um projeto descente e um bom chefe de equipe, não adiantam dois ótimos pilotos. Em relação a Senna e Prost, correto, um carro no nível dos red bulls e sem concorrência, 15 vitórias em 16, sendo a unica derrota devido a falhas. Senna bateu e Prost quebrou. Senao seria como 1986 e 2007, a outra equipe que priorizou um único piloto no final levou.
O totalrace poderia ter um post tecnico, sobre explicações de funcionamento e inovação técnicas dos f1, apesar de você fazer as vezes esta parte.
Abraços
Elcir,
Acho o site abaixo muito bom p/ detalhes tecnicos
http://scarbsf1.com/blog1/
Grato Mugello, vou dar uma espiada.
É legal saber que há interesse nessa parte mais técnica. Saiba que também é uma vontade nossa fazer mais coisas nesta área.
Historicamente, a Ferrari se constituiu num icone romático do esporte a motor, o espiritu mesmo da F1. mas depois da masacrante era Shumi-Todd e agora com o Chiliquento, a Ferrari ganhou um crescente numero de detratores.
Se não forem bem no próximo campeonato, eu serei mais um do grande numero que dirá: Chuuuuuuuupa Ferrari!!!!
Não entendi Julianne. O Byrne está trabalhando no projeto do carro do ano que vem. E ainda tem a volta do James Allison, que trabalhou na equipe de 2000 a 2005. Quer provas melhores do que essas de que a Ferrari sabe que precisa mais do que uma dupla estrelada?
“A Ferrari sabe que sua mudança de paradigma em relação aos pilotos não vai dar em nada se continuar sempre correndo atrás do prejuízo”. Até porque não precisa ser gênio para chegar a essa conclusão, certo? Então a questão é: a poucos meses de uma mudança que dá uma grande oportunidade, quais os sinais de que a Ferrari vai aproveitá-la?
”Então a questão é: a poucos meses de uma mudança que dá uma grande oportunidade, quais os sinais de que a Ferrari vai aproveitá-la?”
É justamente ai que entra a contratação do Byrne, o último carro campeão da equipe, o F2008, teve como base os seus conceitos. Faltou uma certa criatividade ali quando o Byrne saiu, tanto que o Tombazis e o Pat Fry vivem patinando no desenvolvimento aerodinâmico dos carros. O Byrne vem mais pra ser o Anti-Newey e por uma ”ordem na casa” no departamento de aerodinâmica da equipe. E sinceramente, todas as equipes precisam correr atrás do prejuízo. Até porque, novas regras vão ser aplicadas ano que vem.
Byrne voltou a trabalhar na Ferrari para resolver os problemas do carro de 2012, sua presença não é novidade.
Ué, se não me engano, trabalhou mais na consultoria, e a base do F2012 foi feita e criada pelo Pat Fry, e as atualizações também desse carro não foram feitas pelo Byrne. Mas no novo carro de 2014, o diretor técnico do projeto é o Byrne, e ele está trabalhando integralmente no projeto do novo bólido ferrarista. É uma forma de melhorar isso, pois, querendo ou não, fica fácil cobrar o Alonso sem lhe dar um equipamento necessariamente tão bom quanto o Vettel. A esperança é que isso mude pro ano que vem.
Só fazendo um adendo Julianne. A Ferrari patina no desenvolvimento aerodinâmico dos seus carros desde as mudanças de regra da categoria, em 2009.
A Ferrari está melhorando a parte técnica porque, até onde eu sei, a Scuderia nunca conseguiu um motor turboalimentado vencedor.
Ela sabe que vai ter que se virar com aerodinâmica e equilíbrio, porque em matéria de potência acho que não vai dar. Os pilotos da equipe vão acelerar mais do que o motor permitirá.
Verdade. E a Renault tem longa expertise com turbos, desde a Era solitária de Jean Pierre Jabouille. Mas o bicho-papão era o BMW Turbo, muito bem amestrado por Nelsão Piquet, o mestre das ultrapassagens inigualáveis até hoje.
Digo, o PRIMEIRO bicho-papão foi o BMW Turbo
Agora rebobinei legal. Como esquecer das Renaultzinhas Amarela/Preta ?
Realmente o motor BMW de 4 cilindros encarava os V-6 sem fazer feio. Acho que, se o regulamento permitisse tanto os V-6 quanto os L-4, muita gente grande ia se meter na categoria. Tipo VW e BMW.
O mesmo raciocínio seu vale com os Honda.
Exato. A Honda é um ótimo exemplo. Eles contrataram o Brawn no final de 2007 e usaram seus dois túneis de vento para se aproveitar de uma oportunidade dada pela mudança de regras de 2009.
A Ferrari está contratando uma série de profissionais agora e ainda tem problemas com seu túnel a menos de seis meses dos testes. Montezemolo disse hoje que Allison chega para rever procedimentos, enquanto Fry continua focando na operação de pista e no simulador.
O projetista chefe é o Tombazis, sendo que Fabio Montecchi está focando no projeto desde seu início, entre o fim de 2011 e o início de 2012. A Ferrari confirmou que Byrne, como vem fazendo desde 2012, está atuando “de forma distante” no projeto.
O carro será uma porcaria? Será o melhor do grid? Terá as mesmas qualidades e defeitos do atual? Não trabalho na fábrica, não posso saber. O que tenho para avaliar são esses sinais.
A grande dificuldade não é o motor turbo em si, mas descobrir a melhor forma de usá-lo junto das baterias e com o pouco combustível disponível. Isso, é claro, sem contar no grande problema aerodinâmico de acomodar componentes bem maiores e com grande necessidade de arrefecimento. É um desafio completamente diferente dos anos 1980, por isso essas comparações diretas não fazem muito sentido.
Muito se fala da deficiência da nova unidade de potência ferrarista, pois eles teriam problema de consumo. Isso porque, no início do ano, pediram que o regulamento fosse alterado, aumentando a capacidade do tanque, o que foi negado. Fora isso, é tudo especulação.
Ju, mas indo contra seu título, vc não acha que um carro próximo da RBR, contando com dois pilotos fortes, não seria um obstáculo maior para o alemão, afinal se um não vai bem, fatalmente o companheiro poderia roubar pontos importantes(sem segundismo)…A máquina com certeza será fundamental, mas como podemos ver nos últimos anos, em algumas provas, mesmo que não intencionalmente, Webber roubou pontos de Alonso como em Silverstone, 2012, contribuindo para o título do alemão. Sobre os motores, e a aerodinâmica mais limitada, vc acredita que o reinado de Newey será dividido?
Para o mundial de construtores sim, mas primeiro eles precisam de um carro próximo da Red Bull, não? Os vices de 2010 e 2012 só foram possíveis graças a dois elementos: erros dos rivais e forças concentradas em um piloto. Os carros em si eram bons de corrida, mas lentos em classificação e tiveram desenvolvimento inconstante.
Sobre Newey, acho complicado personificar o sucesso de uma equipe. A F-1 é complexa demais para falar que um time é superior por um único projetista. É claro que, com um projeto começando do zero, abre-se a possibilidade de uma grande mudança na relação de forças, mas a Red Bull parece bastante afiada em compreender deficiências e resolvê-las, como fizeram na segunda metade do ano passado e nesta temporada nas pistas de alta.
Foi por isso também que apontei a chance para a Mercedes dar um salto. Nesse momento, ninguém sabe quem está com o carro mais adiantado para 2014, se alguém descobriu algo para dar o pulo do gato no estilo Brawn, mas o que podemos ver são os sinais de times que demonstram mais capacidade de desenvolvimento.
Ju, não tenho certeza se já ti perguntei, mas a RBR utiliza qual túnel de vento? Sobre a resolução de problemas, me lembro que em Interlagos, 2012, após o toque de Vettel, apareceu nas mãos de Newey uma foto em alta definição, algo digno de filme de espionagem…Realmente, os caras são muito bons e eficientes!!!
Usam o próprio.
wagner,
“mesmo que não intencionalmente, Webber roubou pontos de Alonso como em Silverstone, 2012, contribuindo para o título do alemão”
– Vira e meche, você toca neste assunto. Incrível!
Veja bem… Em 2009, Webber roubou 5 pontos de Vettel (pontuação antiga); Em 2010, roubou 7; Em 2011, 10; Em 2012, 2.
Ou seja, contando com dois fortes pilotos, a Ferrari pode se dar bem, como também pode se dar mal.
(O fato é que Vettel, Alonso e Kimi irão perder pontos. A questão é > Qual dos três será “O” beneficiado?)
Julianne, quem empunha a batuta para reger essa orquestra toda descrita por você? Rory Birne? É ele quem aponta o rumo, os caminhos? Só sei de uma coisa, Julianne, se as coisas não derem certo, os primeiros sinais do Apocalipse vão se fazer sentir lá por aqueles lados de Maranello. . .
Hehehe, Aucam, O terrível, kkkkkk. Aucam, acredito que já providenciaram a visita do Papa para abençoar o projeto de 2014, hehe…
Hahahahaha, gostei, mas lembre-se que o bondoso Papa agora circula de Renaultzinha desde a semana passada e está encantado com ela. . .
hahahahahaha, Grande Aucam, afiado nos detalhes, hahahahahaha
Cada vez mais na F-1 se trabalha de maneira mais descentralizada, estilo que ficou famoso na McLaren. Só na área de aerodinâmica, eles estão com quatro especialistas: Tombazis, ex-McLaren; Ben Agathangelou, ex-Red Bull; Loic Bigois, ex-Mercedes e agora de Beer. E Byrne, pelo que me consta, está envolvido nos projetos desde 2012. Não é nenhum salvador da pátria que volta só para 2014.
Julianne, só mais duas perguntas: no meio dessa chacoalhada toda na equipe, você reparou a faceirice do Briatore circulando nos boxes? Será que Domenicalli corre o risco de também ser vitimado por um coice do garanhão preto até o final do ano (a depender dos resultados) e ser substituído por Briatore? Achei estranho a desenvoltura dele. . . Na verdade, não sei se ainda perdura alguma restrição legal contra ele.
Briatore costuma aparecer em Mônaco e Monza – e sempre na Ferrari, pela ligação com o Alonso. A imagem dele na Itália é diferente da que temos por aqui, não é algo totalmente negativo. E ele conseguiu anular judicialmente a “life ban” que sofreu no Crashgate.
Colegas que conhecem bem o ambiente interno da Ferrari garantem que Domenicali corre, sim, risco. Mas, tendo em vista o que aconteceu na era Todt – o francês tornou-se tão poderoso que iniciou uma disputa interna com o presidente – Montezemolo vai escolher a dedo seu sucessor caso isso ocorra. Não deve procurar alguém com o perfil Briatore.
Ju,
Mas para a Ferrari, o que importa mesmo não é o título de construtores? Então se um tirar pontos do outro, não é problema. Desde que um não tire o outro da corrida…
E o Rob Smedley? Será que sai junto com o Massa, com a chegada do Mark Slade?
A questão é que, para sonhar com campeonato de construtores é preciso um carro melhor do que os últimos cinco que eles fizeram. Não é só uma questão de piloto.
Sobre Smedley, deixo as declarações dele mesmo em agosto de 2011, dando conta de que pode seguir na Ferrari, mas não como engenheiro de pista, mas também há boatos de que ele possa ter um cargo importante na Williams (sem Massa): “From what they [Ferrari] tell me, they’ve got plans for me, whether they’re good and bad. To be honest, I’m coming to the end of my career as a race engineer. I don’t want to be the oldest race engineer in the pitlane. I’m not at the minute. I think it’s probably gonna be time, towards the end of next year or this year, that I start doing something else. I wouldn’t follow him to a team, I think I’m coming to the natural end of that part of my career, and it’s time to move onwards and upwards.”
Concordo plenamente com vc,Julianne!
E Raikkonen pouco ou nada acrescentará em termos de desenvolvimento da Ferrari.