“A célula de sobrevivência, o halo, os macacões à prova de fogo, os cintos de segurança, o sistema HANS (que ajuda a estabilizar a cabeça do piloto), o fato de o médico da FIA estar lá numa questão de segundos e indo impetuosamente ajudá-lo a sair do carro… claro que você sempre vai aprender com acidentes, mas bater em uma barreira a 220km/h e sair andando é o melhor resultado de hoje.”
O resumo de Christian Horner, chefe da Red Bull, mostra bem como toda a evolução da segurança da Fórmula 1 ao longo dos anos fez com que Romain Grosjean escapasse de um acidente impressionante, em que seu cockpit rasgou o guardrail e pegou fogo como há décadas não se via na categoria, apenas com algumas queimaduras. O francês será liberado na terça-feira do hospital e a Haas confirmou que Pietro Fittipaldi será seu substituto.
Como acontece com todos os acidentes em todas as categorias chanceladas pela Federação Internacional de Automobilismo, os detalhes do que aconteceu na primeira volta do GP do Bahrein serão estudados com cuidado, mas as duas grandes questões levantadas após a batida foram por que o carro pegou fogo, e como ele abriu um buraco no guardrail.
O chefe da Mercedes, Toto Wolff, concordou que há lições a serem tiradas do acidente, embora acredite que não seja algo que vá se repetir tão cedo. “Acho que foi um acidente estranho. O ângulo como ele bateu, acho que o carro pegou um pouco de lado, e foi preciso, como uma faca, partindo a barreira. Não achava que essas barreiras modernas poderiam se partir dessa forma, então precisamos analisar como isso aconteceu e como nós podemos otimizar as barreiras no futuro”, disse Wolff.
“O último acidente com fogo aconteceu em Imola há mais de 30 anos. A célula de combustível tem que se manter intacta. A traseira deveria se quebrar junto com o motor. Há muitas coisas para aprender e muita segurança para melhorar.”
O tanque de combustível fica acoplado na parte traseira da célula de sobrevivência, que é a parte que rasgou o guardrail. Ele é feito de kevlar, que é um dos materiais sintéticos mais fortes que existem.
Outros pontos também devem ser avaliados, como o fato de Grosjean ter perdido sua sapatilha, que é parte da proteção anti-fogo, ao sair do carro, e a maneira como sua viseira derreteu, embora uma análise feita no capacete tenha mostrado que não havia entrado fumaça dentro dele.
Mas e o que funcionou para salvar a vida de Grosjean?
É justo dizer que foi uma combinação de medidas que vêm sendo tomadas há décadas que ajudaram a salvar a vida de Grosjean, como listou Horner.
Halo: A proteção de titânio, que passou a ser usada em 2018, foi muito criticada por vários pilotos e chefes de equipe, inclusive o próprio Grosjean. E quem dizia que o “risco é inerente ao esporte” cada vez mais reconhecendo que não é preciso perder vidas para provar sua bravura nas pistas. O acidente do francês claramente teria consequências muito graves sem ele, já que o capacete de Grosjean muito provavelmente teria batido diretamente contra o guardrail. E também foi impressionante como a estrutura aguentou praticamente intacta o que talvez tenha sido seu maior teste até hoje, e Grosjean tenha conseguido sair do carro mesmo num ângulo ruim, já que uma das grandes críticas ao halo era o temor de que ele dificultaria a extração do piloto em caso de incêndio. “Acho que lembramos como a introdução do halo foi controversa, e temos de dar o crédito ao [presidente da FIA] Jean Todt porque ele insistiu com essa ideia. E acho que poderíamos estar passando por uma situação diferente não fosse pelo halo”, lembrou o diretor técnico da F1, Ross Brawn.
Célula de sobrevivência: Acoplada ao halo, a célula de sobrevivência existe há décadas, mas sua estrutura vem sendo reforçada ao longo do tempo e hoje é feita de uma camada bastante grossa de fibra de carbono e outra de kevlar. Embora o fato de o guardrail ter cedido estar longe do ideal, pelo menos a célula aguentou o forte impacto, evitando que Grosjean sofresse lesões mais sérias.
Roupa resistente ao fogo: Os pilotos usam macacões por cima de uma camiseta de manga comprida e uma calça, todas feitas de Nomex, um tecido sintético feito para aguentar temperaturas de até 800ºC por 10 segundos sem pegarem fogo. Em seu interior, a temperatura não pode passar de 41ºC quando expostos por 20 segundos ao fogo. Tudo isso é homologado pela FIA e, neste ano, alguns pilotos até reclamaram porque os macacões ficaram um pouco mais quentes devido a uma mudança de especificação que aumentou sua proteção em 10 segundos. As luvas e sapatilhas são feitas de um tecido um pouco mais leve para não prejudicar a sensibilidade no volante e nos pedais, e o fato de as queimaduras de Grosjean serem mais graves nas mãos pode mudar isso.
Resgate rápido: O carro médico chegou ao local do acidente apenas segundos depois devido a algo que o ex-médico da Fórmula 1, Sid Watkins, personagem fundamental no aumento da segurança entre os anos 1970 e 1990, brigou para implementar. O carro médico sempre faz a primeira volta inteira atrás dos carros, justamente porque a chance de acidentes é maior e isso dá possibilidade de chegar quase instantaneamente. O médico Ian Roberts reconheceu que ficou confuso quando viu a cena do acidente, pois “havia uma parte do carro apontada para o lado errado, e não dava para ver onde o piloto estava. O restante era uma bola de calor. Mas o fiscal chegou com um extintor e conseguiu abrir um espaço nas chamas, onde Romain estava saindo.” E foi aí que o médico o ajudou a pular o guardrail e escapar das chamas.
7 Comments
Olá! O nome é ANJO DA GUARDA, que com todos os itens listados, em suas performances maximizadas deram uma incrível VITÓRIA a Grosjean hoje… se eu fosse ele pediria à HASS aquela sucata pra enfeitar o jardim… Os retrovisores precisam aumentar… para mim o corte pra direita foi “cego” e acabou atropelando o russo que nesse caso não teve culpa…
Belo post Julianne!
Interessante pensarem na proteção dos médicos também, visto que o Dr. ficou bem exposto ao fogo o que o limitou em uma ação até mais próxima ao piloto caso fosse necessário, ainda que não sei se a remoção deve ser feita pelo medico quando acontece… porem neste caso ele ajudou e muito a orientar o Grosjean na saída, algo muito determinante ao meu ver, pois o nível de desespero deve ter sido descomunal.
Não tem como eleger o que foi mais importante. Sem dúvida a combinação de medidas e a eficiência de cada uma delas foi fundamental pra que ele sobrevivesse.
Sobre seu substituto na próxima etapa, acabei de ver a confirmação de Pietro Fittipaldi. Vc acredita que, a depender do desempenho, ele tem alguma chance pro próximo ano ou Schumacher e Ilott já são nomes certos?
Ilott falou no twitter que não irá correr na F1 ano que vem.
Ah sim, então é uma ótima chance para o Pietro. Torcendo pra que ele tenha um bom desempenho.
Foi um grande susto e depois muita espectativa e por fim um alivio por ver o Grosjean sentado no carro médico.
Agora é mesmo preciso analisar porque o carro e o rail se partiram daquela maneira, tal como afirmou o Vettel, para não se repetir o mesmo no futuro.
Achei ainda um bocado exageradas as afirmações do Ricciardo no final da corrida ao criticar a F1 por mostrar tantas imagens do acidente na TV. Essas imagens só foram mostradas depois do Grosjean estar já no interior do carro médico e estar bem.
Mas foi uma corrida muito estranha, com o acidente depois do Stroll e com um final com o Safety Car.
Esperemos que no próximo fim de semana corra melhor e que o Pietro Fittipaldi faça uma boa corrida, pois já é muito tempo sem ter um piloto a falar português na F1.
cumprimentos
visitem: https://estrelasf1.blogspot.com/
O evento todo pareceu “extraordinário “ como bem assinalou o Brundle na transmissão de TV britânica (penso q se referiu a Grosjean saindo do fogaréu por conta própria) ; como espectador, a mim primeiro a explosão do combustível – pensava ser isso impossível acontecer na F1 septuagenária . Depois a vista dos rails abertos com o chassi ‘encaixado’ no meio … isso muito longínquo na memória de espectador, 4 fatalidades em que o carro rompeu e atravessou o guardrail , Cevert e Koinigg em Watkins Glen ‘73 e ‘74, Revson em Kyalami ‘74, e Gerry Birrell na F2 em Rouen ‘73. Incrível Grosjean não ter desmaiado com o choque, o dada a abrupta desaceleração.
Talvez não coincidência que Jean Todt tenha feito carreira no automobilismo em carros de cabine fechada em que é mandatório a instalação de ‘gaiola’ protetora em torno de toda a cabine – o Halo muito lembra essa solução utilizada nos ‘tin-tops’.
Um ponto também de sorte o fato de carregarem menos gasolina do que noutras épocas em que tanques cheios comportavam tipo o dobro da quantidade atual (Burti menciona 120 kilos/ cento e poucos litros na F1 atual).
Uns anos atrás lembro de um quase acidente entre dois team-mates, acho q Hamilton e Rosberg num GP Bahrein ainda disputado durante o dia, Hamilton sendo fechado na trajetória saindo da pista e passando a centímetros do guardrail, talvez nesse mesmo ponto do acidente desta vez – me ou parece um tanto próxima demais da pista a colocação das barreiras. A ver se será mantida assim para a etapa próxima.
…na parte final da corrida a erradíssima atitude de um marshall q decidiu atravessar correndo a pista com a prova rolando, e carregando um extintor!! Para atender o carro de Perez em princípio de incêndio – claro o marshall afetado pelo mega susto da 1ª volta. Mais uma memória mórbida de anos 70 ( acidente de Pryce em Kyalami ‘77) – e mais uma do Anjo Da Guarda da F1 neste GP ( concordo com o comentário acima e antes)