Sei que muitos fãs torcem o nariz, mas a pausa de agosto é muito bem-vinda para todos no mundo da Fórmula 1. Afinal, o que para quem está vendo pela TV é uma atividade de 3h30 de treinos livres no total, 1h de classificação e menos de 2h de corrida por fim de semana, para quem trabalha no esporte significa jornadas de 10 a 12h de trabalho por dia e, quando se tem uma folga, provavelmente isso significa algumas horas no aeroporto e no ar. E, nos últimos 5 meses, já passamos por quatro continentes!
Além de bem-vinda para a saúde física e mental de todos, a pausa de agosto também é importante para refletir sobre o que passou e avaliar qual o melhor caminho a seguir. Nesta época do ano, os projetos de 2020 já começaram faz tempo, mas vai chegando a hora de decidir onde se debruçar com mais afinco. Pensando nisso, deixei preparada para vocês uma série com as “lições de casa” de cada time para a segunda metade do ano. Começando por quem está precisando de aulas de reforço.
Não são poucas as equipes que parecem estar num lamaçal, colocando peças no carro que não funcionam a contento. E o mais impressionante é ver o time que tinha tudo para se destacar do meio do pelotão entre eles.
Haas
Mas comecemos pelo caso mais curioso: a Haas. O time começou o ano com um sexto lugar justíssimo na Austrália, mas depois se perdeu completamente. Tanto, que há três corridas Romain Grosjean vem usando o carro de Melbourne, sem qualquer atualização, e vem sendo mais rápido que Kevin Magnussen, que sofre com a falta de equilíbrio do carro que tem as peças novas. É a pior notícia possível para o time desde que eles tomaram a decisão de fazer essa comparação.
Isso porque não há um caminho claro. Mesmo com o carro “novo”, Magnussen se classificou em quinto na Áustria. Ou seja, em uma volta lançada, o carro responde. Mas ao longo de uma sequência de voltas, os pneus saem da temperatura ideal e o piloto não sente aderência, algo que só tende a agravar a situação dos pneus e gerar uma espiral negativa. Grosjean, com o carro novo, não sente isso, mas sem o desenvolvimento que os outros tiveram, o carro simplesmente não é rápido o suficiente.
Na penúltima colocação no campeonato, mas vendo a Racing Point, mesmo com todo o potencial, também escorregar, e a Alfa pontuando só com um piloto, o que fazer? A sétima colocação no mundial e os milhões a mais que isso representa estão perto demais para desistir da temporada, e há pistas, como Singapura, em que se classificar bem pode gerar bons pontos mesmo com um ritmo de corrida que não é maravilhoso. Some a isso toda a especulação sobre o futuro da dupla de pilotos e o patrocinador máster e Guenther Steiner tem muita dor de cabeça pela frente.
Renault
“Se eles realmente têm 1000 cavalos, então o carro deles é horrível”, cutucou Max Verstappen depois de fazer a pole no GP da Hungria e ver a dupla da Renault fora do Q3. Resquício de todo o divórcio litigioso da Red Bull com os franceses à parte, ele tem parcialmente razão em desconfiar da matéria do respeitado Michael Schmidt no Auto Motor und Sport que citava os tais 1000cv: as quebras que eles tiveram em partes da unidade de potência no começo do ano vão assombrá-los por toda a segunda metade do ano – na verdade, isso já vem acontecendo. Na Alemanha, Ricciardo largou sabendo que seu motor superaria a quilometragem para a qual foi projetado ao final da prova, então a quebra não foi surpresa. E na Hungria era Hulkenberg que estava usando o “modo de segurança” no motor. Então, mesmo se a reportagem de Schmidt estiver correta e a unidade de potência francesa realmente tiver tudo isso de potência, ela não resolve nada se não puder ser usada por preocupações com a confiabilidade.
Some-se a isso a ineficiência das atualizações trazidas especialmente a partir do GP da França, e a Renault tem um cenário bem desanimador para a segunda metade da temporada. O time precisa entender o que está errado no desenvolvimento do carro para, então, colocar o foco no carro de 2020 e, desta vez, acertar a mão. Mas há quem diga que, com Cyril Abiteboul no comando, tudo fica mais difícil. O lado positivo, se há algum, é que para um time do tamanho da Renault, os milhões a menos entre o quarto e o quinto lugar no mundial (sim, é verdade que eles ainda precisam passar a Toro Rosso e se desgarrar da Alfa, mas a tendência é que consigam isso ao longo da temporada) fazem mais uma diferença moral – e na moral com a montadora – no que nos cofres do time.
Racing Point
O time começou o ano sabendo que teria um início difícil, pois foi forçado a tomar decisões importantes quando o futuro da equipe estava completamente indefinido. Com isso, mais peças do que seria o ideal foram simplesmente carregadas do carro anterior para este, e somente o essencial – e que dependia das novas regras – foi redesenhado. Mesmo que a injeção de dinheiro dos Stroll tenha começado há um ano, é algo que não traz resultados para a pista da noite para o dia.
Ainda assim, não era esperado que os resultados ruins continuassem por tanto tempo. O carro passou por uma bela “dieta” com uma remodelação total da carenagem e da suspensão dianteira que estreou na Alemanha, mas o time ainda não parece conseguir extrair o máximo do pacote e, salvo o quarto lugar de Stroll por uma decisão inspirada da estrategista Bernadette Collins, a Racing Point não evoluiu tanto quanto esperado desde o upgrade. Mas os chefes confiam que as melhorias estão lá, só não foram completamente compreendidas pelo time. E essa, claro, é a lição de casa deles para a segunda metade da temporada, provavelmente trabalhando com a tranquilidade de já terem definida a dupla de pilotos para o ano que vem, uma vez que Perez indicou que só falta fechar detalhes para sua permanência.
1 Comment
Acho que os problemas da Renault estão muito mais em Estone do que em Viry-Châtillon . Os motores tem evoluído, ganharam corridas com a Red Bull e estão indo bem com a McLaren, agora o chassi na sede britânica parece que estão batendo cabeças e o Cyril Abiteboul tem todo o jeito de cabeçudo, que o diga o Frederic Vasseur .