F1 20 anos do tri de Senna: a construção de um mito - Julianne Cerasoli Skip to content

20 anos do tri de Senna: a construção de um mito

A obstinação e o desejo de vencer acima de tudo dentro das pistas, mesclados com uma imagem frágil e uma fé inabalável fora delas fazem de Ayrton Senna um dos pilotos mais admirados da história da F1. Naquele 1991, todos já sabiam o que teriam pela frente quando viam aquele McLaren vermelho e branco, com o capacete amarelo ao centro: fosse em termos de velocidade pura, em uma volta lançada, fosse disputando roda com roda por posição nas corridas, era osso duro de roer.

Como a grande maioria dos pilotos, Senna começou ainda criança no kart, conquistando 6 títulos entre brasileiros e sul-americanos, sendo que uma de suas grandes frustrações foi nunca ter sido campeão mundial. Estreou na Fórmula Ford 1600 em Brands Hatch, em 1981, com um 5º lugar. Na prova seguinte, foi 3º e, 15 dias depois, venceu sua primeira corrida em monopostos, no que seria o início de uma carreira recheada de recordes na F-Ford, inglesa e europeia. Em 1983, estreou na F3 batendo o então prodígio inglês Martin Brundle de maneira controversa, mostrando a agressividade que seria seu cartão de visitas na F1.

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O brasileiro chegou a testar com equipes grandes, mas estreou na categoria pela modesta Toleman, em 1984, marcando seus primeiros pontos logo na 2ª corrida, na África do Sul. Mas foi uma performance em Mônaco, debaixo de chuva, que deu notoriedade ao tímido garoto, então com 24 anos. Largando em 13º, foi abrindo espaço até ultrapassar Niki Lauda pelo 2º lugar na volta 19 e ir à caça de Alain Prost pela vitória. Ayrton chegou a passar Prost, mas a prova havia sido interrompida e valeu a ordem da volta anterior, por questões de segurança. Não faltariam oportunidades de vingar o triunfo negado.

O piloto deu seu primeiro salto na carreira ao assinar com a Lotus para a temporada seguinte. Ainda não era um carro para lutar pelo título, mas Senna pôde, ao menos, mostrar à concorrência duas daquelas que seriam suas marcas registradas: colecionar pole positions e dominar corridas no molhado. Em sua primeira vitória, logo na 2º prova do ano, em Portugal, obteve o que apenas 21 pilotos conseguiram até hoje: um grand chelem (pole, volta mais rápida e vitória liderando todos os giros), com direito a uma volta de vantagem sobre o 3º colocado. O ano de 1985 ainda resultaria em mais 6 poles, mais 2 melhores voltas e outra vitória, na Bélgica. Mais 8 poles e 2 vitórias marcaram a temporada seguinte e, em 1987, finalmente venceria seu primeiro GP de Mônaco, cena que se repetiria outras 5 vezes.

Terceiro colocado no campeonato daquele ano, Senna foi contratado para ser companheiro do então bicampeão mundial Alain Prost. Começou sua carreira na McLaren com uma pole position no GP do Brasil. Após uma pane na largada, fez uma prova de recuperação e foi desclassificado quando estava em 2º. Curiosamente, teve que esperar até 1991 para vencer na terra natal pela primeira vez.

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Num ano em que o duelo se polarizou apenas entre as duas McLaren, que venceram 15 das 16 provas, Senna emplacou uma forte sequência de 6 vitórias em 7 provas na metade do campeonato e levou a melhor sobre Prost por 3 pontos, dando início a uma das maiores rivalidades que a F1 já viu. A conquista foi suada. Senna fez a pole, mas o carro morreu na largada, o que o levou à 14ª posição. Foi ultrapassando um a um até vencer o GP do Japão e se tornar campeão pela 1ª vez. “Quanto mais difícil, melhor, mas não achei que tinha que passar por este sofrimento todo. Só Deus sabia que seria tão duro. Mas agora que acabou acho que foi melhor assim. Guiei o que podia e o que não podia. Foi a corrida da minha vida”, disse na época, num claro exemplo de frase de efeito sennista, alguém que soube usar a mídia como poucos. Fora das pistas, teve um bate-boca com Nelson Piquet por meio da imprensa, marca de uma rivalidade que sobrevive até hoje.

No ano seguinte, Prost conseguiria a revanche e o tricampeonato, mas o clima dentro da equipe havia se tornado insustentável. O acidente entre os dois e a consequente desclassificação no GP do Japão decidiu o campeonato e colocou Senna contra os dirigentes da época, particularmente o francês então presidente da FIA Jean Marie Balestre. Já Prost acreditava que Senna era privilegiado na McLaren e arriscou uma mudança para a Ferrari, que não era campeã havia 10 anos.

Isso não acabaria com a rivalidade dos dois, que disputaram palmo a palmo o campeonato de 1990. Senna chegou à penúltima prova do ano com chances de ser campeão. Revoltado com a posição do pole, que não lhe daria muita vantagem, e ainda se sentindo injustiçado pela decisão de 1989, Senna jogou o carro em cima de Prost e, assim, tornou-se bicampeão, numa das jogadas mais polêmicas da carreira. Era nesse clima que chegava a 1991 com pompa de favorito.

4 Comments

  1. Impossível não se emocionar recordando a história deste que é o maior piloto de todos os tempos.

    Parabéns pelo artigo, Ju!

    Forte abraço, visita-me quando puderes!

  2. Senna e Prost eram dois pilotos brilhantes em suas épocas, utilizando o mesmo equipamento na McLaren. O nível de pilotagem dos dois era tão alto e tão semelhante, que para sobrepujar o adversário tiveram que se utilizar de “ajudas externas” como o caso do favorecimento ao Prost pela interpretação do regulamento através do dirigente francês Jean Marie Balestre, no caso da batida ente ambos e em que Senna foi desclassificado no GP do Japão e Prost campeão.

    Mas o troco veio no ano seguinte e na mesma moeda, com outro batida favorecendo Senna.

    Essa forma polêmica de decidir campeonatos, voltou a ser utilizada por Schumacher anos depois, tornando-o um grande campeão, porém igualmente polêmico.

    Realmente na Fórmula 1, se vence dentro e fora das pistas.

  3. Senna era tão diferenciado, que acredito, tenha tentado fazer algo, que se não me falhe a memória, nunca foi conseguido por nenhum piloto na história da f1, dar uma volta no 2º colocado, como tentou fazer com Prost em Mônaco, em 1988. Seu lado arrojado, duelava com seu espírito emotivo, como ficou bem mostrado no acidente com Brundle. Esse espírito emotivo, seria mostrado na f1, quando se não me engano em Spa, durante um treino, parou o carro perigosamente para socorrer um companheiro. Diz a lenda, que no dia de sua morte, em San Marino, 1994, carregava uma bandeira austríaca para homenagear Ratzenberger. Verdade ou não, fazia parte do espírito desse guerreiro, e diga-se de passagem, entraria para a história da f1, como o momento mais emotivo do automobilismo, uma pena!

  4. Pra sempre Ayrton Senna !! Jamais existira outro igual, como pelé no futebol, unico e eterno!
    Saudades dos bons tempo de F1, e que privilegio foi ter acompanhado a belissima carreira desse brasileiro de verdade, sem demagogia e sem hipocresia! Sua historia de garra, perseverança e superação, serve como exemplo para nossa juventude, tão carente de idolos de verdade. Parabens pelo artigo!


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