F1 20 anos do tri de Senna: Ayrton para o Leão e leva o 3º - Julianne Cerasoli Skip to content

20 anos do tri de Senna: Ayrton para o Leão e leva o 3º

Depois de um começo arrasador, Senna e sua McLaren tinham perdido terreno para Mansell e a Williams e a diferença na tabela, que já havia sido de 34 pontos, caíra para 8. Na 10ª etapa, no sinuoso Hungaroring, Senna começou a reação com uma vitória de ponta a ponta, aproveitando-se da dificuldade em se ultrapassar no circuito húngaro. Neste último post contando a história do tricampeonato do brasileiro, em parceria com o Café com F1, contaremos como aconteceu essa virada.

O GP seguinte, da Bélgica, marcaria a estreia de Michael Schumacher, substituindo Bertrand Gachot, que havia tido problemas com a polícia londrina após disparar gás num taxista. Spa foi o palco de mais uma vitória de Senna, que largou na pole, foi para 3º após os pitstops e herdou o 1º posto com as quebras de Mansell e Alesi. A performance de seu McLaren havia melhorado, com a introdução de um novo motor Honda, equipado com válvulas de altura variável, controladas eletronicamente.

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Na Itália, Senna mais uma vez largou na pole e caiu para 5º durante os pitstops, deixando o caminho livre para a vitória de Mansell. O brasileiro passou Schumacher, teve a 3ª posição entregue pelo escudeiro Berger e superou Prost na penúltima volta para ser 2º. A diferença no campeonato era de 18 pontos, faltando 4 etapas para o final.

A próxima seria em Portugal. Com as Williams dominando a prova, desta vez foi Patrese quem cedeu a posição a Mansell. Porém, o inglês teve um problema no pitstop e caiu para 17º. O “leão” se recuperou, mas recebeu bandeira preta pelo incidente nos boxes quando já era 6º. Coube a Senna marcar pontos importantes em 2º, atrás de Patrese.

No GP da Espanha, Senna largou em 3º, mas chegou à liderança após um rápido pitstop. O brasileiro deixara Berger passar para segurar Mansell, mas rodou e o inglês rapidamente chegou na cola do austríaco, que acabou abandonando. Senna ainda seria ultrapassado por Patrese e Alesi e chegaria apenas em 5º.

A performance foi ruim, mas a diferença já era confortável. Senna tinha 16 pontos de vantagem, com 20 em jogo. No GP do Japão, as McLaren fecharam a 1ª fila, com Berger se classificando, como nas últimas provas, à frente de Senna. O brasileiro repetiu a estratégia da Espanha, deixando Berger escapar e segurando Mansell, que precisava da vitória. Pressionado, o inglês rodou na 10ª volta e entregou o 3º título de bandeja a Senna.

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Na entrevista coletiva antes do último GP da temporada, o agora tricampeão criticou fortemente os dirigentes da categoria. Mesmo dois títulos depois, o homem que não aceitava perder não havia se esquecido de 1989. “Em 89, fui roubado feio pelo sistema e isso eu jamais esquecerei. Em 91, nós conseguimos um campeonato limpo, sem políticos. Foi um campeonato técnico e esportivo. Espero que isto seja um exemplo, não só para mim mesmo, mas para todos que competem na Fórmula 1 agora e no futuro também”. Ayrton não se intimidou com a advertência de um repórter, de que poderia ser sancionado pelo que estava dizendo. “Que se fodam as regras que dizem que não se pode dar opinião, que não se pode falar o que se está pensando, que não se tem autorização para dizer que alguém cometeu um engano, que alguém fez alguma coisa errada. Merda! Estamos num mundo moderno e somos pilotos profissionais”.

Senna reconheceu que batera de propósito em Prost na final de 1990. “Por quê? Por que eu causei o acidente? Porque se você se fode cada vez que tenta fazer seu trabalho de modo limpo e correto, se o sistema te fode, se outras pessoas tentam se aproveitar disso, o que se deve fazer? Ficar atrás e dizer obrigado, sim, obrigado? Não! Temos de lutar pelo que achamos que é certo”.

As declarações fizeram com que o dirigente Jean-Marie Balestre falasse em punir o piloto, mas mudanças políticas tinham dado muito poder ao presidente da FISA, Max Mosley, com quem Senna tinha boa relação.

Porém, era claro que o brasileiro tinha mudado bastante desde seu primeiro título. Continuava disposto a tudo para ganhar, mas já não tinha a mesma paixão por seu esporte. “Meus sonhos mais recentes são quase sempre ligados às corridas e à necessidade de ficar distante das pistas e dos carros. Sonho que estou fazendo um monte de coisas que me desligam do automobilismo”, disse, na época do 3º título. Seria o início de uma época particularmente frustrante para Ayrton.

O tricampeão foi se fechando cada vez mais com o tempo

Paralelamente, seu rival também passava por maus momentos. Depois de um campeonato mais que discreto e de ter chamado sua Ferrari de “caminhão”, Prost foi demitido antes de última etapa, na Austrália. Sob forte chuva, Senna venceu, numa corrida que não chegou ao fim.

O que terminaria naquele ano era uma página importante na história da Fórmula 1. Seria a última temporada em que Mansell, Piquet, Senna e Prost, que haviam monopolizado as disputas desde meados dos anos 1980, estariam juntos nas pistas. Piquet se aposentou da F1 ao final do ano. Prost tirou um ano sabático para voltar, ser tetracampeão em 1993 e pendurar o capacete. Mansell fez o mesmo, foi campeão em 1992, mudou-se para a Indy em 1993 e retornou por 4 provas em 1994, justamente na vaga deixada pela morte de Senna.

6 Comments

  1. É interessante como f1 e politicagem andam juntas. O domínio da Willians em 93 com Prost, parecia agradar o influente Balestre, que apesar de fora de combate, mexia os pausinhos nos bastidores. Com a ida de Senna para a poderosa Willians em 94, resolveram mudar as regras técnicas, visando, hehe, maior competitividade, será por quê? Ao que parece, o caráter forte de Senna, foi capaz de mover regulamentos. Senna incomodava muita gente. Me lembro do caso do vídeo da batida que ocasionou sua morte, quando a FOM/FIA, diziam que não existia nada. A verdade veio a tona, mas na hora do impacto, cortaram deliberadamente. Fica a dúvida: será que Bernie guarda essa fita em algum cofre?

    • Se essa fita existiu ela com certeza deve ter sido destruída há muitos anos…

  2. Senna era muito foda mesmo!

    O cara peitou os gringos todos e quando pode botou todo mundo no bolso.

    Dar a vitória a Berger foi incrível, Senna era um cara que só pensava em vencer, por aí dá pra imaginar a grandeza do gesto.

    É desse material que se fazem os grandes ídolos.

    E nunca mais haverá um no Brasil como ele.

    • Diz a lenda que no dia de sua morte em 94,Senna carregava no cockpit da Willians, ou não sei se estava com Jo Ramires,no box, algo assim, uma bandeira austríaca, para homenagear Ratzenberger. Seria um tapa na cara da FIA/Fom. Seria maravilhoso!

  3. Sou fã do Ayrton. Ele foi uma das figuras publicas que definiu a minha geração. Mesmo assim, sempre achei o ufanismo do Galvão enjoento e brega. Em inglês há uma palavra perfeita: corny. Há muitos anos não moro no Brasil, portanto não acompanho a transmissão brasileira. Continua assim?

    Ju (e outros): com relação a esse assunto, acho que você vai achar interessante a matéria abaixo. Um jornalista que escrevia para a Sports Illustrated (Thomas Bowles) foi demitido por aplaudir a belíssima vitória do Trevor Bayne na Daytona 500. Este site tem um bom resumo dos fatos:

    http://www.insideline.com/car-news/sports-illustrated-responds-to-freelancer-fired-after-daytona-500.html

    e o site a seguir tem um podcast de uma entrevista do jornalista no programa “Talk of the Nation” com o Neal Conan (Neal Conan é um dos grandes nomes do jornalismo americano, cobriu eventos desde a Desert Storm — primeira guerra do Iraque — à vitória do hóquei americano sobre a USSR nas olimpíadas de 1980):

    http://www.npr.org/2011/03/10/134428729/For-Journalists-Is-It-Ever-OK-To-Cheer

    • Muito interessante. É uma questão de tradição. Aqui, achamos mais normal torcer – para os “nossos” ganharem E para os “outros” se darem mal. Mas não é a única maneira de narrar, como vemos nas análises das transmissões que faço por aqui.
      Acho que o ufanismo hoje na F1 é até pior, pois a qualidade do produto que se tenta vender (o piloto brasileiro vencedor, desbravando o mundo dos protecionistas europeus) é pior. E isso faz com que as distorções aumentem.
      Como já discutimos várias vezes por aqui, a questão é agregar valores diferentes à transmissão, o que gera interesse a despeito de termos brasileiros no topo. Ao menos na internet podemos fazer isso.


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