O que acontece no grid da F1 - Julianne Cerasoli Skip to content

O que acontece no grid da F1

A experiência mais surreal dentro é estar no grid da F1, momento antes da largada. De certa forma, é como se pudéssemos entrevistas jogadores de futebol no vestiário mesmo nos últimos minutos antes de uma Champions League. Mais bizarra ainda é a presença de VIPs, que querem ser vistos ao lado dos protagonistas – e ainda bater papo! Isso, minutos antes deles entrarem nos carros para disputarem roda a roda a mais de 300km/h.

Para eles e suas equipes, contudo, o grid tem um significado completamente diferente. Afinal, é o primeiro contato com o carro na pista depois dele deixar o regime de parque fechado, no qual ficou desde a classificação. E há uma lista enorme para se certificar de que tudo está preparado para a largada, em uma contagem regressiva controlada nos segundos.

Chance de ouro antes de ir para o grid da F1

O pitlane abre 40 minutos antes da largada, dando a possibilidade para os pilotos fazerem mais de uma volta de instalação. Por conta do regime de parque fechado, não é um momento de fazer qualquer tipo de acerto, mas basicamente de resolver “pepinos” de última hora, como problemas na distribuição de energia do motor, por exemplo – algo que o bom e velho reset costuma resolver.

Para os pilotos, também é um momento importante para entender qual a aderência da pista naquele momento, e se algo mudou em relação à classificação. Saber as condições de todo o traçado é fundamental para ter uma boa primeira volta.

Em termos mecânicos, só é permitida a mudança do ângulo da asa dianteira. Mas, eletronicamente, com base no feedback do piloto e nos dados observados via telemetria, é possível alterar outras variáveis. O diferencial ou os mapas de motor que controlam o tanto de energia que é captada nas frenagens. Geralmente, os pilotos testam vários mapas durante essas voltas e cabe aos engenheiros determinar rapidamente qual a melhor configuração.

Checando o checklist do grid da F1

O trabalho segue frenético quando o piloto estaciona o carro no grid. Em provas nas quais a pista mudou significativamente ou há incertezas quanto à chuva ou estratégia, é comum ver os pilotos tendo longas conversas com seus engenheiros de pista. Mas mesmo quando os procedimentos são mais “normais”, os mecânicos logo correm para “resgatar” o carro no fim no grid portados de equipamentos de arrefecimento. E, assim que o carro para em sua posição, vários cabos e computadores são ligados aos diversos sistemas para controlar todos os parâmetros em termos de temperatura e energia.

Mesmo repetindo isso mais de 20 vezes por ano, existe um engenheiro no pitwall encarregado de conduzir o checklist pré-corrida. A ideia é checar todos os sistemas ao mesmo tempo em que o carro é mantido na menor temperatura possível para que o piloto consiga fazer os burnouts necessários para a largada sem superaquecer o motor. É por isso, também, que os carros costumam economizar nas voltas de instalação e ir para o grid o mais cedo que podem, para ter certeza de que terão tempo de esfriar o carro.

Mas nem todo o carro, claro. Os freios, especialmente dianteiros, precisam ser aquecidos. Isso é feito porque os burnouts aumentam a temperatura dos freios traseiros, e nem tanto dos dianteiros. Esse equilíbrio é conseguido com a instalação de aquecedores mesmo, e esse calor acaba se transferindo para os pneus dianteiros quando eles são colocados, algo que não acontece até os últimos minutos.

Grid da F1 é hora de espiar os rivais

E olha que os engenheiros não ficam só focados no próprio carro. Longe disso. O grid é um dos melhores momentos para espiar os rivais. É comum ver o diretor técnico de um time parado do lado do carro de um rival espiando sem tentar fingir, ao mesmo tempo em que os mecânicos tentam ficar na frente de áreas mais “delicadas”, como o assoalho. Essa coisa de “ver e ser visto” no grid, não é só para VIPs!

Mesmo com todo o controle dos checklists, imprevistos podem acontecer, como a chuva ou a detecção de algo que não está funcionando bem. E isso é fácil de ver de fora. No GP do Japão de 2017, o carro de Sebastian Vettel estava aberto com cerca de 10 minutos faltando para a largada e os mecânicos tentavam resolver o problema de vela que tinham identificado. Pela linguagem corporal, não pareciam ter conseguido. E essa é uma das inúmeras vantagens de se estar in loco. Logo no começo da prova isso se confirmou e Vettel praticamente deu adeus ao título ali.

Às vezes, é claro, o problema não é tão grave e nada tem a ver com o carro. No GP da Espanha, a organização resolveu tocar o hino espanhol e o catalão. Como é tudo cronometrado, como vocês verão a seguir, isso complicou a vida dos mecânicos encarregados em “instalar” os pilotos nos carros. Há um deles cuja função é apertar os cintos, conectar o capacete à garrafa de água/eletrolítico e posicionar o descanso de cabeça. E fazer isso na correria é algo que pode acabar com a corrida de um piloto.

Os 40 minutos antes da largada:

40min: pitlane é aberto e carros podem ir à pista.

32min: é tocado alarme de 2min para o pitlane fechar.

30min: a luz vermelha acende no final do pitlane. Quem ainda não saiu tem de largar de lá.

14min: pilotos se reúnem na frente do grid para o hino nacional. Quem não aparece na hora leva reprimenda.

10min: todas as pessoas que não são essenciais no grid têm de sair, só ficam alguns membros de equipes e pilotos, que entram em seus carros com 10 a 8min para a largada.

4min: as “pranchas” que ficam embaixo dos carros são removidas e eles ficam apoiados nos macacos.

3min: é o limite para os carros estarem com os pneus com os quais vão largar.

2min: os cobertores são retirados dos pneus e são apenas apoiados por cima deles.

1min: motores são ligados.

15s: todos os membros das equipes precisam sair do grid.

0s: a luz verde é dada para o início da volta de apresentação.

11 Comments

  1. Texto sensacional, Julianne! Obrigado por compartilhar. Sem você nós nao teriamos outra forma de participar tao de perto da F1. Obrigado, obrigado, obrigado!

  2. Ju, você não fará um artigo sobre Raikkonen na Sauber e Leclerc na Ferrari?

  3. (Deu erro no comentário anterior…. se sair em duplicidade, favor deletar este)

    Que baita texto!!! Julianne, se possível eu gostaria que você tirasse uma dúvida: no GP Brasil de 2009 o Button deu pelo menos 3 voltas de instalação, passando pelos boxes e, salvo engano, nem parando. Me lembro que havia uma neura de não perder nada de combustível (por essa época o Raikkonen chegou a dar uma volta extremamente lenta após a sua classificação para ganhar uma volta a mais no dia seguinte – só não me lembro o GP). O Button alguma vez chegou a comentar sobre isso? Fazia parte da estratégia ou mudaram antes da largada? Pergunto porque foi a corrida em que ele foi campeão, inclusive. Obrigado e parabéns pelo blog!

  4. Post muito interessante, curti!

  5. Ótimo texto! Boa descrição sobre o passo-a-passo e a metodologia da F1.

    Parabéns pelo trabalho!

  6. um dos textos mais legais desde sempre.

    um texto desse nao sairia na epoca do faster F1, né? porque hoje você esta realmente la dentro…

    valeu, julianne!

    parabéns (novamente)!

  7. Muito Interessante esse texto.

    Inclusive na ultima etapa da F2 na Itália, o Sette Câmara teve de largar dos boxes pelo descumprimento da regra dos 15s.

    O que foi uma pena, pois largaria de segundo.

  8. Sua qualidade profissional faz o virtual parecer real! Parabéns, continue brilhando, Ju!!! 😉

  9. Fantástico texto. Narrativa me levou para dentro da pista.


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