Dia 23 de janeiro de 2017 foi marcante para a Fórmula 1, com a queda até mais repentina do que se esperava de Bernie Ecclestone e a chegada do trio formado pelo CEO Chase Carey, pelo diretor da parte administrativa e marketing Sean Bratches e o comandante da parte técnica Ross Brown. Eles chegaram sob grande desconfiança em um mundo em que a inovação técnica vem, ironicamente, de mãos dadas com uma grande resistência à mudança, em que um grupo de pessoas roda o mundo para fazer exatamente a mesma coisa, todo ano, a cada parada.
Não demorou, claro, para a desconfiança virar descrença. “Eles estão completamente perdidos, não entendem nada do negócio, estão contratando pessoas muito fracas”, era o que eu ouvia dentro do paddock. Era só abrir os olhos um pouco além da “vila de bang bang” onde ficam as equipes para começar a sentir a diferença.
É verdade que o Liberty Media começou pelo lado mais fácil – e o que era possível ser mudado antes das renegociações dos contratos que acabam em 2020 e das decisões acerca das mudanças de regras também no mesmo período – mas é notável a transformação do esporte do ponto de vista da relação com o público mesmo em pouco mais de 200 dias.
Foram ações simples, mas claramente pensadas por quem não estava dentro do esporte e contaminado por velhas práticas, mas também é um trabalho em direção totalmente oposta a Ecclestone e totalmente em paralelo com o mundo atual: aproximar o público ao invés de tentar conquistar pelo distanciamento de um glamour que muitas vezes sequer existe.
No mundo das mídias sociais e da interatividade, fechar-se ao público é tornar-se obsoleto. O que significaria meu blog se ele não fosse também um espaço para vocês trocarem ideias e tirarem dúvidas?
Se Ecclestone virou as costas ao público por não saber como lucrar, o Liberty Media está dando uma aula. Visivelmente o paddock está mais cheio, muito em função dos pacotes do F1 Experiences, que incluem desde dar uma volta na pista no mesmo caminhão em que os pilotos o fazem até andar em um F1 de dois lugares. Ouvi informações desencontradas a respeito do custo, mas certamente não está abaixo de 20.000 reais. Além de fãs em si, tais experiências, além de trazer novidades para o paddock em cada GP, de um robô (!) a uma mesa de pebolim(!), fazendo com que seja uma área atrativa até para quem mal sabe quem é Lewis Hamilton, também são uma inteligente carta na manga como showcase para novos investidores.
Mas o público das arquibancadas não foi esquecido, com a ampliação das fanzones, que acabam não chegando ao Brasil por falta de espaço físico em Interlagos. E as atividades, novamente, não são apenas para o público vidrado em automobilismo, o que me faz lembrar que tenho que experimentar a tirolesa ou o bungee jump ainda neste ano!
Outro alvo da Liberty foi o público em casa. A transmissão hoje é muito mais informativa a fim de aproximar o espectador casual. Um simples gráfico que contextualiza o momento do campeonato ou explica uma regra pode ser decisivo para alguém desistir ou perseverar. Isso sem contar na liberdade dada às equipes – e ainda pouco explorada – nas mídias sociais.
Já em termos administrativos, a mudança na postura da renovação dos contratos, trabalhando de forma mais produtiva com os organizadores e visando manter provas tradicionais é positiva, assim como, pelo menos por enquanto, a resistência em interferir politicamente nas equipes e seus contratos internos.
Desafios
Isso tudo não quer dizer que o Liberty já ganhou. As batalhas mais duras estão sendo travadas a partir de agora, com as definições das diretrizes para os motores a partir de 2021, o que é o mais latente no momento, a possibilidade de um novo regulamento para os carros e mudanças no cronograma do final de semana em si.
Tais decisões serão fundamentais para as negociações de renovação dos contratos, que acabam em 2020. A vontade da Liberty é usar o regulamento para diminuir os custos, mas isso pode ferir interesses dos grandes. Além disso, é delicada para o próprio apelo da categoria no futuro a decisão a ser tomada sobre os motores, especialmente em meio a alterações em leis como no Reino Unido que praticamente matam o motor de combustão e ao crescimento do interesse das montadoras na F-E.
Já mudanças no final de semana podem esbarrar nos atuais contratos de TV, outro terreno arenoso para a Liberty. Vendo o futuro no conteúdo on demand especialmente online, os novos donos precisam equilibrar interesses e tipos de consumo de diferentes partes do mundo. E com mais algumas (várias) cabeças duras.
4 Comments
Agora existe uma perspectiva de melhora.
Eles sabem como fazer o show acontecer. E tem um tempinho para negociar com as equipes grandes.
O título é bem sugestivo. Mais liberdade, essa deveria ser a tônica dessa nova F-1. Sempre encarei a F-1 como uma excentricidade, onde o gasto desmedido não deveria ser repudiado, mas apreciado. Com a chegada do politicamente correto, inventaram uma categoria verde. Nem sei dizer se o correto seria o teto, mas quem sabe menos regalias para as grandes, como a premiação pelo valor hi$tórico em detrimento do aumento no bolo para as pequenas ( as nanicas não precisam de bolsa esmola, mas liberdade para crescerem por seu mérito e trabalho, para isso, a FIA não pode agir como o estado paternalista brasileiro, que serve de muleta, mas sim, deveria intervir o menos possível no modo de trabalho e criatividade das equipes); mais liberdade para se buscar diminuir deficits de rendimento; motores a combustão interna e uma unidade por corrida; vídeos livre no youtube; fim do DRS; continuação do tanque cheio, enfim, disputa mais simples, barulhenta e imponente, é a receita! Ps: a F-1 não vai salvar o mundo, e sendo excêntrica no mundo esportivo/diversão, não vai exaurir os recursos financeiros/minerais do planeta ;o.
Eu nao tenho menor duvida que acharao formulas para fazer com que mais pessoas voltem a curtir F-1.
Um ponto da receita tem que passar por maneiras de promover o fator humano como mais importante que dinheiro/software. Temos que ter um regulamento que permita equipes menores de chegarem no podium com mais frequencia, engenheiros e projetistas que consigam se sobrepor, pilotos que facam a diferenca com mais nitidez.
Dos anos 70 ate early 2000s era assim. As equipes maiores SEMPRE acabavam faturando os campeonatos, mas as pequenas sempre beliscavam algo, como vitorias ocasionais.
Outro ponto seria custos tambem mais ”humanos” para que possamos ter autenticos RACERS na F-1. Gente que esta nas F-2/3/4 da vida e poderia chegar a primeira divisao… como ja foram Jordan, Williams, Ronzo…Dallara, Minardi, Ligier, Arrows, Fittipaldi, Shadow, March, Tyrrel, e Stewart que venceu corridas!
Precisamos dos racers de verdade e menos fabricas com toda aquela fanfarra mas sem gasolina na veia.
He lindo contar com as fabricas, mas essa turma ai a qualquer hora pica a mula. Vide BMW, Honda, renault…toyota.
Goodyear, Michelin, Dunlop, Continental, Bridgestone competirão na Fórmula 1 junto com a Pirelli a partir de 2019?
Até quando vai o contrato da Liberty Media Corporation com a empresa que promove o Grande Prêmio da Bélgica de Fórmula 1 no circuito de Spa-Francorchamp?.
Até quando vai o contrato da Liberty Media Coporation com a empresa que promove o Grande Prêmio da Alemanha de Fórmula 1 no circuito de Hockenheim?
Até quando vai o contrato da Liberty Media Corporation com a empresa que promove o Grande Prêmio da Inglaterra de Fórmula 1 no circuito de Silverstone?
Até quando vai o contrato da Liberty Media Corporation com a empresa que promove o Grande Prêmio de Fórmula 1 em Mônaco?
Até quando vai o contrato da Liberty Media Corporation com a empresa que promove o Grande Prêmio da Áustria de Fórmula 1 no circuito de Spielberg?
Responda quando puder, por favor. Obrigado.
Escopo do inquérito: esclarecimento.
Renato Monteiro / Curitiba – Paraná