F1: Como funciona o parque fechado - Julianne Cerasoli Skip to content

Como funciona o parque fechado da F1

Não se sinta culpado/a se ouviu esse termo e não entendeu direito como funciona o parque fechado da F1 ou mesmo entendeu direito do que se tratava. “Os carros estão em regime de parque fechado”, convenhamos, é uma daquelas frases meio estranhas que costumamos repetir no mundo da F1.

O parque fechado surgiu na Fórmula 1 em 2003 e foi uma das criações do então presidente da FIA Max Mosley. Mas não é um termo usado apenas na Fórmula 1. Em competições de triathlon, o parque fechado é o lugar em que os competidores deixam seus materiais, como bikes e tênis de corrida, durante a prova. Trata-se de um local realmente fechado para impedir alterações nos equipamentos. Na F1, o conceito é um pouco mais abstrato.

A ideia surgiu por conta de um formato diferente de classificação, em que os carros faziam uma volta lançada na sexta-feira para determinar a ordem em que sairiam à pista no sábado. Na hora da classificação, tinham de fazer sua volta com o nível de combustível com o qual começariam a corrida. (Simples, só que não)

Enfim, a ideia de Max Mosley na época era impedir que as equipes preparassem os carros para a classificação, e depois de maneira diferente na corrida. O termo “regime de parque fechado”, portanto, quer dizer que, entre a classificação e a corrida, não é permitido fazer uma série de alterações no carro.

Mecânicos fazendo a revisão em um carro que está em parque fechado no domingo antes do GP

Mas os carros ficam no parque fechado?

Os mais atentos já prestaram atenção aos procedimentos pelos quais todos os pilotos passam ao final das sessões de classificação e de corrida. Os três primeiros param diante de placas com suas posições e os demais estacionam logo atrás. Todos eles, neste momento, estão dentro do parque fechado, no qual só entram membros da FIA.

Mas eles não passam a noite entre a classificação e a corrida ali. Depois de passarem pela inspeção da FIA, são devolvidos às equipes. Em até 2h depois do final da classificação, o carro tem de estar pronto para ser selado e coberto pela FIA, mas isso acontece dentro da garagem de cada equipe. Essa cobertura só será retirada 3h antes do sprint shootout (a classificação da sprint) e 5h antes do GP no domingo.

Após essa cobertura, que é uma espécie de rede, ser retirada, os mecânicos fazem uma série de revisões, os carros são levantados no cavalete, várias peças são desmontadas. Então não é correto dizer que os carros não são mexidos entre a classificação e a corrida. Porém, sempre com um vistoriador da FIA acompanhando cada carro, há limites no que cada equipe pode fazer, que vou detalhar na sequência.

Quando começa e quando termina o regime de parque fechado?

A partir do momento em que o carro deixa os boxes pela primeira vez durante a sessão de classificação, começam as restrições ao que pode ser alterado. E isso vai até o início da volta de apresentação.

No caso de um carro não chegar a ir à pista na primeira parte da classificação, o que pode acontecer se o piloto sofreu um acidente no terceiro treino livre, por exemplo, considera-se que o carro entrou em regime de parque fechado ao final do Q1.

Tudo vale, inclusive, para os finais de semana de sprint: o carro entra em regime de parque fechado a partir do momento em que vai à pista na classificação para o GP, mesmo que ela seja disputada na sexta-feira. Então a configuração tem de ser a mesma durante todo o sábado (shootout e sprint) até a largada no domingo.

É justamente essa regra do parque fechado que acabou restringindo as comemorações dos pilotos, pois o próprio regulamento diz que “após cruzarem a linha de chegada, os carros devem ser levados diretamente ao parque fechado sem atrasos ou ajuda dos fiscais. A única exceção é o vencedor, que pode celebrar antes de fechar ao parque fechado contando que isso seja feito de forma segura e sem gerar dúvidas sobre a legalidade de seu carro”.

São duas preocupações: alguém colocar algo no carro no meio da comemoração. Ou mesmo o piloto carregar algo ou tomar líquidos. Isso porque o piloto ainda não passou pela pesagem obrigatória. Os pilotos precisam ser pesados com seu capacete e macacão porque eles fazem parte do peso mínimo, junto com o carro. E uma das maneiras mais eficazes de burlar o regulamento da F1 é andar abaixo do peso mínimo, pois isso dá uma vantagem clara de tempo de volta.

O que pode ser alterado no regime de parque fechado da F1?

Essa lista aí é tudo o que foi trocado no carro de Sergio Perez depois da sua batida na classificação do GP de Mônaco de 2023. A partir do momento em que ele saiu do box para aquela classificação, o carro dele estava sob regime de parque fechado. A gente aprende que isso quer dizer que nada mais pode ser alterado até a corrida começar. Mas não é bem assim.

A primeira lição que esse documento ensina é que é permitido trocar peças que estão quebradas. Seja por acidentes, seja por outros motivos. Porém, caso uma peça seja trocada, a substituta precisa ser da mesma especificação, ou seja, ser igual. Isso impede, por exemplo, que uma equipe troque por exemplo uma asa por outra que vai mudar o acerto do carro.

Essa permissão de troca inclui elementos da unidade de potência e do câmbio, também sem que haja punição. Isso, se o piloto estiver dentro da alocação à qual ele tem direito ao longo da temporada.

LEIA TAMBÉM: Tudo sobre o sistema de punições por trocas de motor e câmbio na F1

Tudo o que foi trocado vai para esta lista, que é acessível a todos por meio do site da FIA, em todos os GPs. Chama-se “Parts and parameters replaced or changed during the Parc Fermé” e dá uma boa ideia das alterações que as equipes fazem. E também revelam se havia algo quebrado ou com mau funcionamento no carro na classificação.

O que acontece com quem sai do parque fechado na F1?

A regra do parque fechado foca em coibir mudanças de configuração de suspensão e aerodinâmicas, com exceção da asa dianteira, cuja angulação pode ser alterada. As equipes são obrigadas a entregar à FIA uma desenho com a configuração de suspensão escolhida antes do carro ir à pista no Q1.

Portanto, se alguma alteração de suspensão ou aerodinâmica for feita, o piloto tem que largar do pitlane. Isso traz uma enorme desvantagem, pois ele terá de esperar todos passarem pela saída dos boxes para receber a luz verde. No entanto, algumas equipes optam por fazer isso quando há algum erro gritante no acerto do carro, que vai prejudicar ainda mais o resultado final.

Caso o piloto tenha trocado algum elemento da unidade de potência ou o câmbio, ele paga punição se essa nova unidade estiver fora da alocação anual dele. Aí ele perde 5, 10, 15 ou vai para o fundo do grid, dependendo de quantos elementos são trocados. Não se trata de uma mudança de configuração do carro, então ele não precisa largar do pitlane.

Manobras do parque fechado foram importantes no tetra de Hamilton

Se você chegou até aqui no texto imaginando que é besteira ter esse tipo de conhecimento, saiba que um momento crucial do campeonato de 2017 foi decidido no parque fechado.

Era o GP do Japão. Lewis Hamilton vinha em uma crescente, mas a Ferrari e Vettel ainda tinham motivos para acreditar que poderiam batê-lo. Até uma vela de ignição deixar o alemão na mão logo no começo da prova. Pois, bem.

Os carros que não ficaram no top 3 ficam no pitlane esperando a pesagem

Na lista de peças trocadas pela Mercedes no carro de Hamilton depois da classificação, lá estava ela, a vela de ignição. Afinal, era um dos itens cuja troca era permitida pelo regulamento. E era importante naquele momento do campeonato, em que tanto os alemães, quanto a Ferrari, estavam abusando do uso de óleos lubrificantes na combustão, algo que desgasta a peça.

Ou seja, quando procuram maneiras de ganhar performance, as equipes estudam, inclusive, o que pode ser mudado depois da classificação. E a lista é longa

Considera-se que um carro entrou em regime de parque fechado na primeira vez que ele vai à pista na classificação. A partir daí:

Outras mudanças permitidas sob regime de parque fechado

  • Motores podem ser ligados;
  • Combustível pode ser adicionado ou tirado;
  • Rodas podem ser removidas e balanceadas e pode haver alteração de pressão de pneus;
  • Velas de ignição podem ser removidas para inspeção do motor;
  • Dispositivos que esquentem ou esfriem o carro podem ser usados;
  • Baterias externas podem ser conectadas para analisar parte elétrica;
  • Pode-se carregar ou descarregar o ERS, que também pode ficar retido com a equipe sob supervisão de um delegado da FIA;
  • Bateria principal e de rádio podem ser trocadas;
  • Pode-se “sangrar” os freios e retirar o óleo do motor;
  • Gases de compressão podem ser drenados ou adicionados;
  • Fluidos podem ser drenados ou preenchidos, desde que com a mesma especificação do original;
  • O acerto da asa dianteira só pode ser ajustado com as peças já existentes;
  • É possível fazer mudanças nos dutos de ar dos freios e nos radiadores caso as equipes recebam a mensagem de “mudança nas condições climáticas”;
  • Bodywork pode ser removido e limpo e pode sofrer “mudanças cosméticas” (como colocar alguma fita adesiva);
  • Qualquer parte do carro pode ser limpa;
  • Câmeras onboard e os sistemas que informam os pilotos de ações dos fiscais (como bandeiras azuis, por exemplo), podem ser removidos e checados;
  • Podem ser ajustados espelhos, cintos de segurança e pedais a fim de melhorar o conforto do piloto, mas tal trabalho tem de ser acompanhado por um delegado da FIA. Líquidos ingeridos pelos pilotos podem ser adicionados a qualquer momento;
  • Todas as peças que forem retiradas do carro devem permanecer próximas a ele e visíveis ao inspetor.
Mais detalhes…

Também são permitidas mudanças sempre por componentes da mesma especificação após as sprints, até por conta do desgaste das peças: discos de freio e pastilhas, sistema de escapamento, filtros de óleo do motor, filtro de ar de admissão, velas de ignição.

Há um ponto curioso: o carro continua sob regime de parque fechado entre as voltas de reconhecimento e a largada. E, se há um problema, não há tempo de fazer o pedido em escrito e receber a permissão da FIA. A regra diz que a equipe pode fazer a troca, desde que acredite que ela seria permitida. É claro que, quando tem gente trabalhando no carro no grid, sempre tem um monte de rival e também o pessoal da FIA de olho para ver se ninguém está usando isso para tirar vantagem.

Outro detalhe da regra é que pelo menos três carros são escolhidos para ir direto a uma checagem aleatória para estabelecer se eles estão legais. Levaria muito tempo para vistoriar absolutamente tudo do carro de F1, pois ele é muito complexo. Então, algumas áreas são escolhidas, também aleatoriamente. O resultado disso também é publicado no site da FIA.

Três ou quatro horas depois do final da classificação, todos os carros precisam estar cobertos e prontos para que a FIA assuma o controle, ou seja, nenhuma mudança pode ser feita depois disso.

15 Comments

  1. Legal a matéria, desconhecia como era o processo, mas por que o fluido de freio?

    • Como mero chute, imagino que fluído de freio possa eventualmente contaminar ou estar abaixo da especificação, e aí seria um risco à segurança.

    • O fluido pode perder propriedades por conta das grande temperaturas atingidas durante a classificação, portanto, em nome da segurança, troca-se o fluido.

  2. hehehe otima explanaçao Ju ( posso chamar de Ju? rs)
    eu sabia do q se tratava mas nao com todos detalhes q vc abordou…
    Hehe Vettel nao sofreu punicao nehuma novidade neh kkk mas daquela vez tava extravazando um titulo neh..aceitavel!

    Obs: prepara um material desse nivel sobre corrida em regime de Safety Car!

    • Cara Julianne, o seu blog continua espetacular e com o elevadíssimo nível a que nos habitou.

      Se vier a seguir a sugestão do Paulo H., por favor inclua a justificação da FIA para que os carros dobrados possam recuperar uma volta, bem como a sua opinião sobre o tema.

      Na minha modestíssima opinião, é a regra mais absurda da atual fórmula 1, esses carros foram dobrados porque algo ocorreu, (acidente, menor velocidade, problema mecânico, outro…) então, não deveriam poder retomar a volta como se estivesse tudo bem. O caso do Bottas em Baku é, para mim, incorreto para todos os pilotos que o finlandês passou a caminho do podium, pois ele estava uma volta atras em resultado de um erro cometido e assim foi-lhe possível recuperar a volta sem custo.

      Além disso, ainda atrasa a relargada e a continuação da corrida “a sério”.

      PS – Não tendo oportunidade de realizar sempre, será que consegue, de quando em vez, ter um tempinho para escrever um post das transmissões em vários países?

      • Obrigada pelo comentário, Luis. Comigo estando em todas as corridas da temporada, o blog ganhou muito, inclusive novos features. Mas um lado teve que sair perdendo e foi o que aconteceu com as transmissões, um único post que me tomava de 10 a 12h.

      • Muito obrigado pela sua resposta.
        Percebo perfeitamente a questão do tempo que despendia com um único post. A vida é um conjunto de compromissos e, obviamente, não se pode ter tudo nem chegar a todo o lado.
        Certamente que enquanto experiência profissional e pessoal, acompanhar o “circo” durante toda a época de será algo fantástico, e os seus leitores também beneficiarão do seu conhecimento de causa em primeira mão.
        Mas é pertinente ter saudades desse posts, mesmo muito interessantes, isto sem desprimor para os conteúdos atuais, que também são sempre originais e de qualidade indiscutível.
        De qualquer forma, pela minha parte, só tenho a agradecer o que, espontaneamente, partilha connosco. Obrigado.

  3. Boa noite, Ju.
    Ultimamente eu vi uns boatos em alguns blogs como esse:
    http://www.grandprix247.com/2017/06/28/alonso-to-ferrari-hype-or-a-possibility/
    indicando que Alonso poderia voltar para a ferrari. Sinceramente achei isso uma loucura mas queria saber de alguém profissional que anda pelo paddock se isso pode ter alguma procedência , ainda que essa seja mínima(embora eu acredite que já saiba a resposta haha).
    Enfm, muito obrigado pela atenção e continue com o trabalho excelente!

    • Começou a se aventar essa possibilidade no paddock no final de semana de Baku, e seria para a vaga de Vettel. Tem muitos “se” na história, não tenho como dizer no momento se existe alguma chance concreta, mas já vi várias transferências bastante inesperadas na F-1, então não descartaria.

      • Essa seria mais surpreendente que a transferencia de Hamilton p/ a Mercedes….. Pelo menos olhando de fora!

        • E a ida dele para a McLaren?

          Acabei de perguntei para ele se existe alguma possibilidade dele ser companheiro de Hamilton ou de Vettel ano que vem. Ele disse “não sei”. Mas não acredito nessa possibilidade. Se ele for para a Ferrari, seria no lugar de Vettel.

      • Bom, me surpreende que exista essa possibilidade, dado que (pelo menos de fora) Alonso não parecia trazer muito equilíbrio interno para a equipe(não que Vettel atualmente seja um bom exemplo disso). Qual seria o motivo de trocar Vettel por Alonso?

  4. Julianne, a corrida da Belgica é a única onde os carros não podem dar uma volta após a bandeirada. São obrigados a entrar pela saida dos boxes na contramão. Vc sabe pq isso acontece somente lá. Poderia se dizer que é porque a pista é muito longa (7Km), mas a pista do Azerbaijao é tb muito longa (6km), o tempo de volta nos dois é até similar. Vc sabe pq essa limitação na Bélgica ? Acho meio triste isso para os torcedores que perdem esse momento de comemoração que ocorre em todas as outras pistas.

    • É por conta disso mesmo. E é uma boa pergunta porque eles não sentem a necessidade de fazer o mesmo em Baku, imagino que tenha a ver com o fato de ser apenas a segunda corrida lá.

  5. Aquela comemoração do Seb reverenciando o carro na pista foi de arrepiar!!!!
    Toca aqueles que gostam da F1!!!!


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