F1 Retrato da temporada - Julianne Cerasoli Skip to content

Retrato da temporada

No final ficou aquele gostinho de domínio de Lewis Hamilton, mas quando até chove durante uma corrida em Abu Dhabi é sinal de que aconteceu um pouco de tudo nesta temporada. E o mais interessante das últimas quatro corridas do campeonato foi o equilíbrio entre três equipes. Desde os EUA, o rendimento de Mercedes, Ferrari e Red Bull ficou embolado. Resta saber se foi a Mercedes que tirou o pé e a Ferrari que jogou a toalha. Mas esse é um papo para 2019.

São vários os fatores que fazem do circuito de Abu Dhabi uma pista “anti-corrida”: faltam curvas de alta velocidade para estressar os pneus, o fato da prova ser ao entardecer minimiza consideravelmente o desgaste por superaquecimento, e ter essa corrida no final da temporada significa que os pilotos já chegam pendurados em relação aos motores, que têm de ser administrados. Em que pese toda essa lista, houve ação no último domingo.

Muito dessa ação teve nome e sobrenome: Max Verstappen teve um problema em seu motor na largada e o karma o levou para perto do algoz Esteban Ocon, com quem protagonizou outra batalha ferrenha. Com um carro que se mostrou forte no domingo mais uma vez, Max escalou – com os cotovelos de fora, como diriam os ingleses – até o terceiro lugar, em outro final de semana em que o pouco potente modo de classificação do motor Renault ditou o resultado dele e de Ricciardo.

Esse, agora, passa a ser problema apenas do australiano, já que a Red Bull terá o motor Honda a partir de agora. Mas este, também, é papo para 2019.

Já Hamilton chegou a achar que a Mercedes tinha cometido um erro ao chamá-lo aos boxes logo cedo e deixá-lo na pista por quase 50 voltas com o pneu supermacio. O time fez isso para dividir estratégias porque se sentia exposto por degradar mais a borracha que os rivais diretos, algo que foi sentido, como foi a tônica da temporada, mais por Bottas (que também teve problemas nos freios) do que pelo inglês.

O time alemão estava certo e a degradação do supermacio foi mínima, dando a Hamilton a 11ª vitória do ano. As últimas voltas acabaram sendo um retrato fiel da temporada: Hamilton com tudo sob controle, Sebastian Vettel chegando a diminuir a vantagem do líder, mas sem fôlego para chegar a pressionar de verdade, Verstappen aos trancos e barrancos para chegar em terceiro e Bottas às voltas com problemas. Talvez a única diferença tenha sido que, desta vez, foi Raikkonen, e não Ricciardo, quem quebrou.

Também como ocorreu por todo o ano, a briga do melhor do resto foi animada, ainda que o “campeão moral” da série B tenha ficado pelo caminho de forma espetacular. Perguntei a Nico Hulkenberg se ele achava que o halo tinha deixado-o preso no acidente, e ele foi político. Basicamente disse que não lembrava, que talvez tivesse sido o ângulo em que o carro parou. Bom, vimos algo parecido com Alonso na Austrália sem o halo, e ele saiu rapidamente. Mas há um comportamento geral de não criticar o halo a qualquer custo, então não era de se esperar resposta diferente.

Falando em Alonso, foi uma despedida melancólica pelo resultado, mas com o espírito lutador de sempre – tudo bem, foi uma briga com Sirotkin, e na verdade até por isso: o que impressionou nessa última fase da carreira do espanhol foi como ele seguiu disputando posições como se estivesse na briga pelo título. Daí o respeito demonstrado na bela homenagem de Hamilton e Vettel como “escudeiros” do bicampeão.

Perguntei a Lewis como ele se sentia vendo seu antigo rival indo embora, Kimi saindo da Ferrari, e meninos com seus 20 e poucos anos chegando para brigar com ele nas equipes grandes. “Como eu deveria me sentir? Velho? Eu me sinto ótimo!” E se diz pronto para outra. Mas o final dessa história só vamos saber em 2019…

4 Comments

  1. Perfeita sua análise Julianne, mas adicionaria a ela o trabalho do Bottas, que se repetiu ontem:
    Larga atrás, segura todo mundo, o Lewis dispara, ai o pneu acaba e todo mundo passa por ele.

    • pneus 1o voltas mais novos que o de hamilton.
      A mercedes queria ver Bottas ganhar, mas se ele não tem conseguido chegar nem em segundo mais, seria difícil de qualquer jeito.

  2. São muitos fatores “anti-corrida” pra esperar uma corrida.
    O GP vira uma espécie de mini corrida de endurance.
    Administrar pneus e motores.
    De modo que os destaques da corrida foram as escaladas das duas Red Bulls (que deviam estar com motores mais frescos que os demais) e a capotagem do Hulkenberg.
    Que aliás o narrador oficial dramatizou ao máximo pra uma situação totalmente sobre controle.
    Foi o momento “datenizado” (quem for de São Paulo vai entender) do GP de Abu Dhabi.

  3. Obrigado por mostrar imagem da celebração dos 3 campeões ao fim dessa última prova de 2018; isso, nem a escolta homenageante a Alonso, por Hamilton e Vettel , e nem o pódio (e a ‘ante-sala’) foram mostradas ao vivo pela paquidérmica retransmissora televisiva verdamarela — soube da celebração-homenagem ao espanhol por vocês da rádio, que fazem, de longe, a melhor transmissão de corridas de F1 aqui no Bananal, já há um bom tempo.
    “Elbowing his way up in the races” parece ser uma característica do jovem holandês que teremos o prazer de acompanhar por toda sua carreira — embora isso deverá levar a ‘altercações’ físicas tanto entre carros como com adversários já fora dos cockpits…


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