O fim de semana começou estranho, com a morte de Niki Lauda. O austríaco deixou muitos amigos verdadeiramente queridos no paddock porque era um cara de palavra e verdadeiro, qualidades raras de se ver nesse meio. Lembro de estar morrendo de medo na primeira vez que o entrevistei, já que era minha quinta corrida. Mas ele logo viu que eu sabia o que estava fazendo, e foi generoso na entrevista.
Toto Wolff parecia, verdadeiramente, consternado. A relação dos dois não começou boa, mas eles aprenderam a conviver e se tornaram amigos. Ou melhor, Lauda o considerava um “meio amigo” e isso era o máximo em termos de amizade para ele. Já Lewis Hamilton demorou para falar com a imprensa – só no sábado – e lembrou que, sem o telefonema que Lauda lhe deu em 2012, iniciando as conversas com a Mercedes, ele provavelmente ainda teria apenas um título mundial.
Outro nome que se repetiu muitas vezes durante o fim de semana foi o de Charles Leclerc, o dono da casa. Lembro de tê-lo visto assistindo à Indy 500 ano passado no bar que fica logo abaixo da sala de imprensa, tranquilamente. Perguntei se faria o mesmo neste ano. Ele riu e disse que “não dá mais para fazer isso”.
Isso foi antes, é claro, o erro da Ferrari na classificação. Poucas vezes vi um piloto tão contrariado. Ele mal conseguia respirar, e tenho minhas dúvidas que tenha conseguido digerir mais um “tapa na cara” que levou neste ano.
O mais irônico foi que a Ferrari chamou os jornalistas para algo diferente na sexta-feira: uma aula de estratégia, com o estrategista chefe. Tenho que dizer que foi muito interessante, na verdade. Pudemos ver o software que os engenheiros usam na corrida, com o GPS de todos os carros em tempo real e o espaço em que o carro voltaria se parasse naquele momento.
Na “aula”, Mattia Binotto sentou do meu lado (na verdade, sentou no braço do sofá, no único canto livre). Perguntei se ele tinha vindo supervisionar o estrategista e ele disse que tinha ido “para aprender”. E até fez pergunta!
Uma coisa que sempre chama a atenção no mundo da F-1 é como um cuida do outro por aqui. E vou dar um exemplo bem bobo, mas foi um diálogo que achei curioso. O repórter da Fox asiática disse para o Will Buxton, da F1, quando estava saindo da sala de imprensa no sábado: “Amanhã, protetor solar! Estou vendo que você está ficando com os pés de galinha marcados!”
Mais exemplos muito mais representativos quem for assinante do meu projeto do Catarse vai ficar sabendo no longo podcast que gravei com Jayme Brito, produtor da Globo na F1 desde 1991 e com quase 500 GPs nas costas!
Falando em 500, os holandeses me contaram que o GP da Holanda, que acabou de ser anunciado, já recebeu 500 mil inscritos. Ao invés de irem à venda, os ingressos serão sorteados, no mesmo esquema que acontece no Japão. O problema é que só há 250 mil ingressos (contando os três dias). “Vai ter gente invadindo pela areia com certeza”, me disse o repórter da TV holandesa.
O fim de semana também foi de muita conversa sobre o projeto do Rio de levar o GP do Brasil para lá. Falei longamente com o promotor, que foi a Mônaco apresentar a proposta oficial, e com Hermann Tilke, empolgado com o sobe e desce do terreno. Há alguns pontos nebulosos ainda, e vou escrever mais longamente sobre o assunto nesta semana.
Por fim, algo engraçado que aconteceu comigo no domingo: fui na Mercedes pedir o boné vermelho que muita gente estaria usando no grid para homenagear Niki Lauda. Quando entrei na sala dos assessores de imprensa, Bottas estava lá, conversando com o assessor dele. Isso foi umas 2h antes da largada. Depois de me darem o boné vermelho, Bottas pegou o dele mesmo e disse: “Leva aí, já tá suado”. Na maior tranquilidade. Tive que pegar, né?
5 Comments
Ver a Ferrari dando uma “aula” de estratégia aos jornalistas na sexta-feira foi a coisa mais bizarra nesse fim de semana, marcada pelo adeus ao lendário Niki Lauda, que deve ter carregado o carro do Hamilton nas costas durante a corrida. #DankeLauda.
Devia ter pedido um autógrafo junto do boné na cara dura!
Hahaha
Como exatamente funciona esse projeto catarse Julianne? Tô querendo assinar algo para ajudar a melhor jornalista de F1 do Brasil!
Um pouco chato saber que o Tilk irá assinar o projeto do autódromo do RJ, sincersmente, ele faz péssimos autódromos, não tem um assinado por ele que tenha emoção sem depender de SC ou chuva.
Queria saber como que ele ainda desenha circuitos para a F1 e de onde vem esse status todo que ele tem.
Grande abraço a todos do blog!
P.S.: Bottas campeão esse ano!
É só ir no site http://www.catarse.me/nopaddock e escolher qual o volume de conteúdo que quer receber. Lembrando que não é uma ajuda, e sim uma troca!
Ju, fizeram alguma pergunta “espinhosa” na aula de estratégia?
Não estava aberta para perguntas específicas, só gerais de como bolam a estratégia e reagem na pista.