O esvaziado paddock do GP da Rússia, muito em função da necessidade de vistos e pela dificuldade em encontrar boas rotas pós-dobradinha com Singapura, foi o escolhido para o esperado anúncio da volta da parceria da McLaren com a Mercedes. O acordo entra na lista dos poucos acertados para além de 2020, e dá ainda mais força política aos alemães na categoria em um momento crucial, que em os novos acordos estão sendo finalizados.
Mas o acordo também colocou uma pulga atrás da orelha de muitos no paddock. A Mercedes tem Toto Wolff sob contrato até o final de 2020, Hamilton também, renovou com Bottas e dispensou Ocon, optando por focar no curto prazo, e agora tem três clientes. Ao mesmo tempo, está entrando na F-E. Estariam contados os dias do time de Brackley em si?
Do outro lado, dava quase para tocar o clima pesado na Renault desde a quinta-feira. Com a Williams assinada com a Mercedes até 2025 e a Racing Point negociando a renovação, os alemães terão quatro times, contra apenas uma dos franceses. Esse é um duro golpe para um projeto que gastou rios de dinheiro mesmo sem nunca ter tido muita simpatia da liderança da montadora, que por sua vez passa por um momento delicado por conta da crise instaurada por Ghosn.
Junte a isso o fato de Daniel Ricciardo ter dito recentemente que não continuará na equipe em 2021 caso tenha outra temporada como esta e a grande aposta no paddock é de que os dias da Renault como equipe na F-1 estejam, novamente, contados, ou pelo menos o orçamento não seria o mesmo. Não dá para culpar a montadora, após ver o motor Honda superar o Renault em ritmo de corrida nesta temporada, mesmo com muito menos tempo trabalhando com a tecnologia dos V6 turbo híbridos.
É fato que a Renault tem um dos poucos contratos vigentes pós-2020, o de fornecimento de motores, válido até 2025. Mas como sempre vale a máxima de que, na Fórmula 1, contratos só existem para serem quebrados.
Agora é interessante ver as voltas que o mundo dá, com a McLaren rompendo com a Mercedes no final de 2014, tentando ser uma equipe de fábrica com a Honda, mas dando a seus “parceiros” uma missão quase impossível, de colocar em um espaço minúsculo uma unidade de potência que ainda engatinhava, e depois sucumbindo à Renault para, agora, voltar a ter o motor que, inclusive, não é mais o mais forte da F-1. Por um lado, há de admirar o tanto que o time cresceu mesmo com tantas mudanças – lembrando que eles também trocaram de fornecedor de combustível no meio do caminho e muito provavelmente o farão novamente em 2021 – e há de se questionar o porquê de tanta indefinição.
Falando em 2021, fala-se em disputar-se o GP da Rússia em São Petersburgo, uma vez que a pista de Sochi pode ser “operada” por adições ao parque olímpico, que se tornou (bem diferentemente do parque olímpico do Rio) um centro importante de eventos em uma região que é cartão-postal entre os russos. Há uma pista construída aos arredores da mais europeia das cidades russas e a mudança teria todo o apoio da Liberty Media, já que trata-se de uma cidade muito mais atrativa – e pertinho da fronteira com a Finlândia, que carrega um número importante de torcedores (e de dinheiro) para etapas como Rússia, Azerbaijão e Hungria.
O contrato do GP russo vai até 2025, e os apoiadores (quatro empresas privadas) fazem o que Putin ordenar. E sua vontade é de transferir o GP de Sochi.
Essa notícia vem logo na primeira vez que tivemos a oportunidade de aproveitar uma das instalações do parque olímpico, com o jogo entre o time local de hóquei no gelo contra o Dínamo Moscou sendo disputado na quinta-feira. Foi minha primeira vez vendo o esporte ao vivo, e a ação foi boa, mas a representação das mulheres, péssima: vestidas de cheerleaders até para limpar o gelo nos intervalos, enquanto os homens que faziam o mesmo vestiam roupas esportivas normais. Fiquei pensando nas meninas que viam o jogo e torciam empolgadas, segurando o bonequinho do mascote: como elas se sentirão representadas quando perceberem o que lhes resta no espetáculo de que tanto gostam?
Voltando à F1 e indo um pouco mais adiante no tempo, a conversa é de que o projeto de um segundo GP na China esteja encaminhado, na região de Sichuan, estreando em 2022. Existe um circuito novo por lá e grande interesse do governo local em promover a área. Fala-se, inclusive, que eles estariam dispostos a pagar tanto quanto Baku e os russos, e a Liberty não está em posição de negar tanta grana.
Com tinha adiantado em Singapura, a pedido dos times, o regulamento de 2021 passará por nova revisão. O carro já não é como aquelas imagens divulgadas há alguns meses, e as equipes estão muito resistentes em relação à padronização de peças. Cada vez mais, parece que aquela mudança que deveria acabar – ou pelo menos diminuir – a necessidade de se rever as decisões de tempos em tempos (algo que, já está mais que provado, só faz a vantagem dos grandes aumentar) vai ser muito menor do que se previa. Isso, é claro, abre brechas para estarmos falando, daqui uns dois anos, sobre as novas “grandes” mudanças de, digamos, 2023.
Perguntei aos diretores técnicos de Mercedes, Ferrari e Red Bull se eles realmente acham que os fãs se importam que os carros sejam diferentes. Eles disseram acreditar que sim, que as pessoas também acompanham o esporte porque sabem que a Ferrari, por exemplo, tem a chance de desenvolver algo diferente e dar o salto que deu ultimamente. Jogo a pergunta para vocês.
7 Comments
Eu tenho 28 anos e acompanho a F1 “desde que me entendo por gente”. Ja vi situações absurdas como o GP dos EUA 2005, anos a fio sem conteudos nas midias sociais, hoje sim hoje não (Barrichello), Vettel dominando na RBR, Hamilton dominando na Mercedes e inumeras outras situações….
Mas o que me deixa cada vez menos animado é ver que o egoísmo e ganancia das equipes é tão grande que não conseguem tomas decisões pensando apenas no “bem do esporte”, sempre tem uma variável das equipes pensando em beneficiar elas mesmas ou mostrar que tem força politica e poder de decisão.
Enquanto isso vejo outras categorias do automobilismo se atualizando e tornando as corridas e campeonatos mais interessantes. Dou aqui como exemplo a Nascar, com alterações nas corridas, divindo em estágios e acabando com a parte monotona do meio das corridas, mudanças nos playoffs, Inspeção dos carros por scanner etc. Também a MotoGP que apesar do atual domínio do Marc Marquez ninguém questiona que ele tem uma moto acima das outras, mas devidos as regas de concessão e outras regras esportivas, é bem claro que o #93 está um nível acima dos concorrentes em questão de habilidade mesmo.
Mas diante de tudo isso que você escreveu aqui fico ainda mais desanimado. Vou continuar acompanhando pq automobilismo é meu esporte numero 1, mas a espectativa é que a Mercedes continue dominando muitos anos, as equipes do meio do pelotão continue contando como pódio chegar na P6 e equipes tão tradicionais como a Renault e a Williams indo pro buraco.
Existem os prós e os contras em ambos os lados.. Acredito que é interessante pro público que as equipes tenham carros/peças não padronizadas pois alimenta a competição entre equipes e consequentemente episódios como esse da Ferrari ou até episódios de grandes reviravoltas, seria incrível ver algo assim levando em consideração como vai o campeonato desde 2014.
E como um fã de corridas, também digo que seria legal ver carros “iguais” pra que os pilotos sejam testados sem aquela velha história de que carro ganha corrida. Não que os desenvolvimentos nos carros iam estagnar mas como a ideia é homogeneizar os pelotões, pode ser que as mudanças sejam menos impactantes e nós tenhamos um campeonato menos previsível também.
Eu penso que uma vez na vida a F-1 poderia quebrar o paradigma.
Ou padronizar um “X” numero de itens (digamos, assoalho por exemplo) ou permitir o repasse entre equipes sócias.
Isso oficializaria uma Toro Rosso/Red Bull, Alfa Romeu/HAAS/Ferrari, Racing Point/Mclaren por exemplo.
Nessa minha viagem utópica o abismo entre grandes e médias seria de algum modo diminuido.
*Onde escrevi Mclaren, leia-se Mercedes… acho que me empolguei com o retorno da parceria Woking/Stutgart.
Olá Julianne!
Respondendo à sua pergunta:
Sim, considero importante que carros sejam diferentes entre si, pois como o amigo acima assisto a F1 a 20 e tantos anos e a categoria sempre foi vendida como um campeonato de construtores e assim deve ser.
Considero a F1 tão fantástica no quesito tecnologia e como tudo é programado e pensado, principalmente na questão dos motores, em de vida útil, que inspirou a monografia da minha pós-graduação.
Padronizar as peças é acabar com o DNA da categoria. Burrice absoluta fazer isso.
O que deveria ser permitido, como já foi feito outrora, é a compra de peças de outras equipes, faziam muito isso nos anos 60/70 se não me engano.
Grande abraço a todos do Blog!
Cada time produz o seu carro é um diferencial da F1. Sempre foi assim. Sempre houve times dominantes, sempre houve equipes grandes, médias e times pequenos. Lógico que hoje há um abismo financeiro entre elas e mesmo que vc padronize peças, sempre vai continuar a ter equipes grandes, médias e pequenas. Pegue qualquer categoria padronizada e vc terá essa mesma divisão. Indy, Nascar, Stock Car… O que querem é utópico.
O que pode ser feito para diminuir essa diferença é aumentar a verba das menores e ter um teto de gastos. Acho que o campeonato inglês de futebol é um bom exemplo.
Um abraço Ju.
Futuro da Renault na F1 é a retirada.
Sobre os carros novos, só não gostei daquelas calotas ridículas, colocam uma roda maior pra esconder com aquilo? N me interessa a questão aerodinâmica nisso.
Por fim. Deixem essa questão de carros iguais iguais para outras categorias. A graça da F1 é a disputa tecnológica ebrre aa marcas. Assim como é o WEC e como foi a DTM no passado.