É só fazer uma pesquisa rápida seja entre fãs, seja no paddock da F1, que três nomes se repetem entre aqueles considerados os melhores da história da categoria, e os coloco aqui em ordem alfabética: Ayrton Senna, Lewis Hamilton e Michael Schumacher. Hamilton costuma ser o menos lembrado dos três, é verdade. E Fangio, Clark, Prost, Lauda, Stewart também costumam fazer parte das infindáveis listas que buscam comparar o incomparável.
A Senna sempre vai faltar a perspectiva (assim como a Clark). É só voltar 10 anos no tempo e muita gente incluiria Fernando Alonso a essa lista, mas a maneira como ele ajudou a conduzir Ferrari e McLaren à autodestruição ao invés de títulos só deu a dimensão do quão importante é o extra-pista. E disso Senna, Schumacher e Hamilton sempre souberam muito bem.
O caso Alonso é emblemático para explicar o valor da tal perspectiva. Sem ela, Senna teve uma carreira praticamente irretocável. Ou praticamente, porque sempre ficará a sombra da forma como conquistou o título de 1990, mas sempre com a noção de que ele maximizou os resultados que poderia ter com o carro que tinha nas mãos – por três ou quatro anos, o melhor do grid. E também ganhou quando ninguém imaginava que seria possível – de Lotus e com aquela McLaren de 1993 (por cinco vezes!) – deu show quando as condições se complicavam, e era extremamente forte em classificação. Mas nunca vamos saber como Senna lidaria com os anos se passando e os rivais ficando cada vez mais jovens.
É esse o momento que vive Hamilton. Curiosamente, da mesma forma que Senna implicava (muito provavelmente com razão) com a legalidade da Benetton do jovem Schumacher, o inglês tem seus motivos para desconfiar que a Ferrari de Leclerc está apenas dentro do tal espírito das regras. E este pode ser apenas o começo de um capítulo que vai definir como o inglês vai ficar marcado na história.
Porque o que tivemos até agora foi um começo fulminante, seguido por erros em 2010 e 2011, e o retorno a performances muito fortes – e, mais importante – muito consistentes de lá para cá, em que pese a derrota na armadilha psicológica armada por Rosberg em 2016. Hamilton fez uma escolha acertada na carreira quando mudou para a Mercedes – e isso era pouco claro na época – e a partir daí foi construindo relações importantes que ditaram os últimos anos de domínio quase inabalável: Toto Wolff e Peter Bonnington, o famoso Bono que, inclusive, foi engenheiro de pista do próprio Schumacher na Mercedes.
A partir especialmente de 2021, veremos os capítulos finais, aqueles que vão dar a perspectiva necessária para posicionar Hamilton na história: quem vai batê-lo e o quão forte será um Lewis batido e perto dos 40?
Essa perspectiva é algo que temos no caso de Schumacher. Escrevi sobre como as mudanças por que a F1 passou entre quando ele dominava e na época em que teve sua segunda (e muito menos premiada) carreira e como elas “atacaram” tudo o que o fez ter os números que conquistou. Além disso, são dois os pontos que pesam contra aquele que (ainda) o melhor currículo da história – ampliado pelo fato da temporada ser mais enxuta em sua época: os pneus feitos sob medida na era Ferrari, e as atitudes, no mínimo, questionáveis que ele tomou para se defender de Hill, Villeneuve e Alonso.
Repare que é o mesmo tipo de mancha que Senna carregou e que Hamilton, por enquanto, não tem (embora Rosberg tenha feito de tudo para que isso acontecesse – quem não lembra do GP da Bélgica de 2014?). Veremos, então, o que acontece nas cenas dos próximos capítulos.
11 Comments
Muito bom Ju, acho que Hamilton já é um dos melhores da história, mas é muito difícil essa comparação entre pessoas que viveram em épocas tão diferentes. Schumacher e Hamilton possuem as melhores estatísticas, Senna e Clark poderiam ter também se não fossem os infortúnios na pista. Impossível cravar quem é o melhor dos 4. Só um detalhe: a referência no final não seria ao GP da Áustria de 2016 em vez do GP da Bélgica?
Pra iniciar a discussão eu já iniciaria com um top 4, até com uma certa distância para um quinto lugar. Mas de início já faria a distinção entre o “Melhor” e “Maior” piloto… Os 4 seriam (Senna, Clark, Schumi e Lewis).
Senna e Clark levam vantagem na briga de piloto puro, ou o “Melhor”… sem considerar equipe, política extra-pista, estatísticas e etc. Considerando principalmente as valências de habilidade, arrojo, classificação, ultrapassagens, e principalmente chuva que é onde vejo a técnica real de pilotagem e controle automotivo. Onde o piloto entra em cena e a valência do melhor carro perde um pouco a força na comparação.
Em relações estatísticas e consistência que definem o “Maior”. Colocaria Schumi e Lewis bem a frente dos outros dois. Com uma trajetória muito parecida entre eles, com estreias espetaculares, limbo no meio de carreira, e reta final de domínio completo. Porém o Alemão escreveu um capítulo bônus, que manchou a sua carreira, e o Lewis conseguiu empatar em número estando no ápice do auge de sua carreira. E ainda tem tempo de pista pra escrever a sua reta final….
Hoje na minha opinião eles encontram-se empatados como os “Maiores”. Onde o Lewis ainda tem a chance de entrar na discussão de “Melhor”. Portanto, fatalmente vai passar o Alemão desse quesito. Agora resta aguardar pra ver como será o desfecho do capítulo bônus do Lewis.
Obs.: Eu no lugar no Lewis, se fosse campeão em 2020 na F1, a partir de 2021 iniciaria uma carreira na Formula E. Pra daqui a 50 anos, ser lembrado por um atleta a frente do seu tempo. Que dominou a combustão e a eletricidade.
Ju,
Hoje eu aprecio muito o Hamilton. Mas confesso que inicialmente tive antipatia por ele. No seu ano de estréia existiam rumores de uma biografia, por ele aprovada, que dizia ele tinha sido campeão de pilotos no seu ano de estréia. Acho que fui vítima de Fake News, você lembra de algo dessa história?
Mas com o passar do tempo, e tendo mais conhecimento, eu me “rendi” ao *ser-humano* e piloto Hamilton. Não sou fã dele ou de qualquer outro piloto. Apenas gosto do esporte.
Ser “bom” quando as coisas dão certo é fácil. Vide Alonso… Ser bom quando as coisas vão mal é que mostra o verdadeiro caráter dos indivíduos. Acho, que na maior parte Hamilton se comporta bem, mesmo quando as coisas vão mal. Mas não me esqueço do seu período de “crash kid”. Em 2010 ele forçava muito e batia em todos que ele tentava passar ou que tentavam passar ele. Lembro até que Ico mencionou que talvez ele nunca deslanchasse. Sim, Hamilton estava numa “espiral descendente”. Sorte nossa que ele se recuperou. Mérito, e trabalho, dele!
Quanto ao “espirito das regras” vamos combinar, nesse meio, todos querem puxar a “brasa p/ sua sardinha”. Vai querer me dizer que a suspensão BRIC(?) da Mercedes não ia contra esse “espirito da regra”? Pra cima de mim não, cara pálida! 🙂
1° Hamilton já foi batido: Raikonnen em 2007 e Rosberg 2016.
2° Eu, como brasileiro fã de F1 nascido na era pós Senna, nunca vou engolir o fato dele ter sido campeão no Brasil em cima de um brasileiro.
Como o Airton senna nunca vai ter outro e assim Hamilton e um fenomeno mais p ser melhor teria q guiar um V12 e racha na pista mostrar no braço mais na atualidade e o mais completo.
O melhor de todos os tempos participou de oito temporadas, foi campeão em cinco e vice numa delas. Venceu mundiais pilotando Alfa Romeo, Maserati, Lancia, Ferrari, Mercedes.
Largou 51 vezes com 24 vitórias e 39 poles.
Caso seja feita uma comparação entre número de temporadas e títulos, largadas e vitórias, largadas e poles. Hamilton, Schumacher, Senna, perdem de lavada.
Correu em Nurburgring e seus 22 km, em pistas perigosas, sem as mínimas condições de segurança, embaixo de verdadeiros dilúvios, quando morriam três, quatro por ano e outros passavam longas temporadas em hospitais.
O nome do melhor de todos os tempos: Juan Manoel Fangio.
O Ayrton para mim será o melhor dos três…porque ele enfrentou o melhor dos melhores Alan Prost, Niki Lauda, Nelson Piquet, Nigel Mansell, enquanto schumy teve hill e Jacques Villeneuve que apesar do apelido jamais seria como o seu pai Gilles e ambos bastante mais fracos… depois Hamilton noto nele grande qualidade mas falta adversários a altura. vettel só se tiver um grande carro, vamos ver as evoluçoes de verstappen e leclerc. Também não vi hamilton quando tinha a mclaren em baixo a fazer grandes corridas, mas vi corridas diabolicas de senna com carros inferiores…toleman, lotus, mclaren, tambem para não falar de corridas brilhantes á chuva e as diabolicas qualifacações!
Estava sentido falta de falar do grande Fangio nessa lista!!! Top4 se tornando top5 agora!! Mas não podia faltar o grande campeão Fangio!
Adoro seus textos. Os melhores sobre F1.
Neste texto em especial, você cita as manchas do alemão e em menor numero do Senna. E coloca o Hamilton impune. Porem eu considero o Rosberg mais santo que esses, mesmo sofrendo muito com as atitudes do companheiro. O Hamilton joga o carro em cima dos outros (Bahrein 14 Austin 15 Mexico 19 etc…) e a maioria evita bater, quando jogam o carro em cima do Hamilton, invariavelmente ele deixa a batida acontecer. Na minha opinião ele tem suas manchas, menores que as do Senna e logico, que as do Shumacher.
As manobras do Rosberg costumavam ser mais fora do que dentro das pistas…
E essa de deixar a opção do outro bater é uma clássica na F1, curiosamente usada muito por grandes campeões 🙂
Em minha opinião Hamilton leva o título de melhor da história da F1 (personalidade, talvez). Não por fatores de pista ou algo relacionado diretamente com a equipe, mas por ser o primeiro negro a chegar na categoria (depois de quase 60 anos de existência da própria). Não dá para negar que o esporte, por ser de elite, é racista. Por tanto, Lewis Hamilton ser o maior da atualidade e seguir à quebrar recordes, torna ele muito maior do que qualquer outro. E sim, sei que ele não é o único de origem humilde, mas isso somado ao racismo é um belo agravante. Por fim, ressalto que após Hamilton, apenas Pascal Wehrlein e chegou à Fórmula 1. Mais nenhum negro.