F1 Por que começar a temporada na Áustria (e o que tem de acontecer até lá)? - Julianne Cerasoli Skip to content

Por que começar a temporada na Áustria (e o que tem de acontecer até lá)?

O plano da Fórmula 1 de iniciar sua temporada em julho, que mais parecia conversa para tentar parar a queda vertiginosa no valor das ações da categoria, começou a tomar forma. E, antes que os pessimistas comecem com o discurso de “não acredito que vai acontecer”, é preciso observar a evolução das últimas quatro semanas no cenário europeu e entender quais os próximos passos no continente em que a temporada vai, eventualmente, começar.

Mas por que a pressa? É exagerado dizer que a F-1 corre pela própria existência, mas é fato que, como todos os tipos de negócios no mundo, seus grandes atores buscam soluções que, ao mesmo tempo, sejam aplicáveis do ponto de vista sanitário e gerem o mínimo baque financeiro possível.

Nesta matéria do UOL expliquei o cenário em que se encontram algumas provas europeias. Note que a pandemia atingiu países de maneira diferente e as respostas também foram distintas, o que faz com que a F-1 tenha de analisar caso a caso o que é possível fazer.

Economicamente, a Liberty entende que vale mais pagar aos circuitos ou arcar com os prejuízos de não ter público nesse momento do que receber menos dos patrocinadores, dos direitos de TV e potencialmente comprometer a continuidade dos GPs após um baque tão grande. Mas isso não quer dizer que todos os GPs estarão a salvo mesmo se a temporada toda for feita com portões fechados. A ideia atual é tentar fazer 20 corridas em rodadas duplas, possivelmente com GPs até quarta e domingo. Mas muita coisa precisa acontecer para chegarmos a este ponto.

 

Por que ficar de olho no Reino Unido?

A resposta brasileira ao vírus tem sido, no mínimo, confusa e bem diferente da realidade europeia. Escrevo do Reino Unido, país fundamental para que o campeonato comece: estamos na quinta semana de isolamento e começando a ver a curva de novas infecções e mortos diminuir. O país está um pouco atrasado em relação à Europa continental, até porque o governo titubeou com sua estratégia no começo, e isso é fundamental salientar quando falamos de F-1. Pelas regras atuais, seria impossível fazer uma corrida por aqui porque só os serviços essenciais seguem funcionando, e o governo acaba de estender o isolamento por tempo indeterminado.

Porém, embora o Estado esteja bancando boa parte da folha de pagamento das empresas para segurar as pontas também do fator econômico, a tendência é que os serviços sejam liberados aos poucos a partir de maio.

Mas quando a F-1 poderá voltar na Inglaterra, casa de sete das 10 fábricas e de parte da operação da AlphaTauri? Pelo que se desenha nos vizinhos que já começaram a aliviar as regras do isolamento, como Áustria e Alemanha, isso vai depender muito da capacidade do governo britânico ampliar o número de testes – o Reino Unido testou pouco mais de 7000 pessoas por milhão de habitantes, enquanto estes outros dois países europeus testaram mais de 20.000 – e da resiliência do sistema público de saúde (que está aguentando bem no momento, mas com o alerta pela falta de máscaras e roupas).

Ou seja, ainda que a F-1 trabalhe com a possibilidade de suas atividades estarem liberadas em menos de dois meses, isso bem provável, mas não é totalmente garantido, e obviamente não está nas mãos da categoria. E, sem essa liberação da Inglaterra, não tem equipe suficiente para começar o campeonato.

Na Suíça da Alfa Romeo, algumas lojas começam a abrir na semana que vem, então é outro país que está na frente dos ingleses, e a Itália, que entrou no lockdown antes de todo mundo, também já iniciou a lenta retomada. Caso não haja uma segunda onda forte de contaminações, eles poderão correr em dois meses.

 

Por que começar na Áustria?

Caso todas as equipes estejam liberadas para funcionar normalmente em junho, o próximo obstáculo é convencer algum governo a sediar o evento, o que representa a chegada de, pelo menos, 1000 pessoas. A ideia de Ross Brawn é que todo mundo esteja testado. Mas testado como? Você faz um teste no dia X, para viajar no dia Y, continua trabalhando normalmente e como terá 100% de certeza de que não tem o vírus? Ou se for aquele teste de imunidade, que mostra se você já entrou em contato com o vírus em algum momento (não apenas se está com o vírus naquele dado momento)? Este ainda não é considerado tão confiável. Em outras palavras, no momento é mais fácil dizer “todos que viajarão terão sido testados” do que, na realidade, se certificar de que ninguém terá o vírus.

Contando que isso seja suficiente, vamos à questão da Áustria. É um caso muito especial e não é por acaso que a prova esteja sendo cotada para abrir a temporada. O circuito fica num lugar bem isolado, só com algumas vilas por perto. E a rede hoteleira é controlada pelo dono da Red Bull. Não seria tão difícil (de executar e de bancar para uma companhia cujos gastos com marketing são focados em promoção de eventos ao invés da publicidade tradicional) que uma operação diminuída da F-1 voasse até Salzburg e de lá fosse direto para os arredores do circuito. Para completar, o Red Bull Ring é um dos poucos circuitos equipados com cozinha, ou seja, é possível fazer refeições para centenas de pessoas lá dentro (como ocorre nos GPs). Seria o melhor lugar imaginável para um GP hermético.

Voltando aos testes, isso não parece ser um problema para os austríacos no momento, uma vez que os italianos estão liberados para entrar no país portando o comprovante de que foram testados. Eles também estão começando antes dos demais a reabrir o comércio e outras atividades, então estão bem adiante da situação do Reino Unido, voltando ao exemplo anterior.

 

Pois, bem. Minha ideia quando comecei a escrever era tentar elucidar as ramificações de todas as decisões que a F-1 tem de fazer para viabilizar a temporada, mas é tudo tão complexo que vou fazer em partes. Quinta tem mais, e publicarei, atendendo a pedidos, algumas considerações sobre o GP Brasil na minha coluna no UOL na quarta-feira.

2 Comments

  1. A F1 com portões fechados parece ser a única oportunidade de ver corridas ao vivo esse ano? Só com as equipes e a equipe de TV? Mas como ficaria para os promotores que não teriam nenhum ganho com o público e tudo o que vai junto (vendedores dentro do circuito, propagandas de empresas locais, etc) ? Como pagar para a Liberty os vários milhões? Como pagar a preparação dos circuitos? Sem receita, só despesas. No Canadá, onde estou, noto o imenso esforço do promotor para vender o máximo possível de ingressos a cada ano pq é a grande fonte de renda para pagar todos os envolvidos e a cada ano, mesmo se as arquibancadas lotam, ele acaba dando calote em vários prestadores de serviço, alega não ter como pagar, sempre dá prejuízo. Não acredito q o poder público de cada país vai arcar com essa conta, o dinheiro deve ir corretamente para coisas mais importantes. Tb não acho q a Liberty e as equipes vão se contentar só com os direitos de transmissão para a TV. Evitar aglomerações vai ser a norma em todos os países até o ano q vem, e corridas de F1 com público são um belo exemplo de aglomerações. Sem público, vira algo economicamente inviável para os envolvidos.


Add a Comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Adicione o texto do seu título aqui