F1 A Mercedes rosa virou abóbora? - Julianne Cerasoli Skip to content

A Mercedes rosa virou abóbora?

Os treinos livres desta sexta-feira são muito importantes para uma equipe em particular: a Racing Point está pagando o preço por ter mudado totalmente a filosofia de seu carro de um ano para o outro. Mesmo tendo se inspirado fortemente, digamos assim, no melhor carro do grid.

E isso não tem nada a ver com o resultado do protesto da Renault, que rendeu uma multa de mais de 2.5 milhões de reais e a perda de 15 pontos.

Enquanto é cada vez maior o grupo de engenheiros no paddock que acredita que é impossível fazer um carro tão parecido com outro somente pela observação de fotos, algo que vai além dos protestos da Renault, a equipe também enfrenta outros desafios dentro dos próprios boxes. “O carro tem picos de performance que nos mostram o que ele pode fazer. O problema é mantê-lo com esse tipo de desempenho o tempo todo”, explicou o CEO Otmar Szafnauer depois de um final de semana muito pior do que o esperado em Silverstone na semana passada. Afinal, na pista que, em teoria, deveria ser a melhor para a Racing Point neste início de campeonato, eles saíram com dois pontos apenas.

Esse era um risco sobre o qual o diretor técnico Andy Green vinha salientando desde a pré-temporada. Nos últimos anos, a Racing Point vinha tentando encaixar a caixa de câmbio que comprava da Mercedes na filosofia da Red Bull. Até que o dinheiro de Lawrence Stroll chegou e Green decidiu arriscar mudar isso completamente, ainda que para usar por apenas um ano (ou pelo menos ele acreditava que seria assim, em um mundo pré-pandemia): o carro de 2020 usaria todo o conhecimento que eles, parceiros técnicos de longa data e aliados políticos da Mercedes, tinham sobre a filosofia do carro alemão.

Acontece que não é por acaso que ninguém segue o rake baixo, distância entre-eixos longa, e o bico mais largo da Mercedes. E até eles mesmos vinham tendo dificuldade em fazer sua filosofia funcionar desde que as dimensões dos carros mudaram em 2017, Ok, com eles vencendo ano após ano não dava a impressão de que eles estavam sofrendo tanto assim, mas é clara a evolução do comportamento do carro de lá para cá.

E qual era o problema da Mercedes? Era um carro cuja janela de funcionamento otimizado era pequena. Em algumas classificações, até mesmo uma uma nuvem do céu já mudava seu comportamento. Foi uma “jornada”, como costuma definir o diretor-técnico da Mercedes, James Allison, até eles “domarem” o carro e chegarem no modelo que parece andar sobre trilhos de 2020.

E olha que foram eles que desenharam completamente o carro.

O que quero dizer com isso é que eles entenderam o porquê de todas as soluções às quais chegaram, e como uma peça do carro dialoga com a outra. E mesmo assim sofreram. Imagine se você fez o que tem sido chamado no paddock de “engenharia reversa”, ou seja, ter acesso às informações de algo já feito e projetar a sua “versão” (segundo a Racing Point, estas informações seriam fotos, e para muita gente no paddock, um scan ou algo do tipo). Seja como for, demora para os engenheiros entenderem como responder quando o carro não rende como esperado. 

Era este o “grande risco” ao qual Green se referia lá em Barcelona. E é a materialização dele que a equipe viveu semana passada, em que pese estar com um carro só basicamente para chegar ao melhor acerto (com o outro mais focado em deixar Hulkenberg à vontade) em um final de semana difícil tecnicamente pela disparidade entre as condições climáticas de sexta em relação à classificação e à corrida. “Acabamos otimizando o carro para usar justamente o pneu que não foi utilizado na corrida, explicou Szafnauer, referindo-se ao melhor tempo da sexta-feira, com o pneu macio, frente ao desempenho do restante do final de semana. Poderia ter adicionado: o carro estava otimizado para o pneu macio e pista perto dos 50 graus, e isso foi irrelevante na classificação e na corrida.

Isso leva a crer que eles sempre vão estar mais expostos do que os demais a mudanças climáticas ou a outro tipo de alteração de condição de pista. Quanto mais estabilidade em meio a uma mudança tão grande, melhor para eles, comprovando que, na F1, até uma cópia tão boa que até parece mentira, não é tão simples quanto parece.

4 Comments

  1. Numa mera suposicão, se o Hamilton fosse para a RP hoje, conseguiria fazer este carro andar?

  2. Hoje soube-se que a Racing Point foi penalizada e multada pela cópia grosseira que fez do Mercedes W10, tendo usado ficheiros informáticos da Mercedes.
    A FIA já deu o aviso que vai proibir clones na F1.
    Mas a Racing Point vai poder continuar a usar o mesmo carro nas restantes corridas. É como a policia apanhar o ladrão, castigar o ladrão, mas ele poder continuar a usar o que roubou.
    Na verdade essa questão da Racing Point copiar o Mercedes apenas é por a equipa cor-de-rosa usar os CAD dos ductos de travão traseiros, deixando de fora os frontais por considerar ser uma evolução dos de 2019, que eram inteiramente iguais aos da Mercedes.

    cumprimentos

    visitem: https://estrelasf1.blogspot.com/

  3. Oi Julianne!
    Li uma declaração interessante do Szaffenauer (acho que escrevi certo), ele dizia que a Haas e a Toro Rosso, hoje Alpha Tauri, sempre utilizaram dutos de freio de Ferrari e Rede Bull, respectivamente. Foi mais Além, afirmando que a Haas nunca havia sequer, desenhado um duto de freio.
    A questão é que os dutos de freio passaram a ser uma parte listada do regulamento, quando eles começaram a utilizar o desenho da Mercedes, mas quando eles começaram a desenhar o carro desse ano, os dutos de freio não eram listados no regulamento, e portanto, cópias eram liberadas.
    Sob esse ponto de vista, a penalidade a Racing Point, é realmente muito injusta, algo que era liberado, deixou de ser de forma repentina.
    E você que tem mais acesso a informações, o que nos diz dessa história toda?
    Grande abraço a todos do Blog.

    • Essa justificativa não cola, já que a Haas passou pelo mesmo e redesenhou seus dutos de freio. Eles tiveram meio ano para fazer isso e não mexeram o suficiente para a FIA não considerar uma cópia.


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