F1 Estratégia do GP da Itália e por que Gasly “deve” a vitória a Kvyat - Julianne Cerasoli Skip to content

Estratégia do GP da Itália e por que Gasly “deve” a vitória a Kvyat

(AP Photo/Luca Bruno, Pool)

O GP da Itália tinha tudo para ser uma corrida simples do ponto de vista de estratégia: a prova mais curta em termos de tempo no campeonato é uma das que gera a maior perda nos boxes (em torno de 24s), então não vale a pena fazer uma parada a mais. Além disso, com carros tão parecidos em termos de desempenho no meio do pelotão, o desenho mais provável era ver as Mercedes lá na frente, com Bottas sofrendo para conservar os pneus correndo no ar turbulento de Hamilton e não conseguindo fazer nada para evitar mais uma vitória do companheiro, e atrás um trenzinho com todo mundo usando DRS e ninguém passando ninguém.

Os times nem ficariam esperando por um Safety Car, já que tinha ocorrido apenas uma intervenção nas últimas cinco provas, e isso explica por que quem estava se sentindo encaixotado começou a antecipar suas paradas, começando por Charles Leclerc na volta 16. Aliás, o fato de mesmo os pilotos que largaram com os macios estarem demorando para parar demonstrava que eles queriam fugir dos compostos duros, com o qual alguns tinham largado.

Era o caso de Daniil Kvyat, que estava no rádio reclamando do ritmo do companheiro Gasly, que largara no top 10, ou seja, com macios usados. A solução da equipe foi, então, chamar o francês para os boxes na volta 19. Não poderiam imaginar o tamanho da oportunidade que lhe dariam.

A Haas de Kevin Magnussen para perto da entrada dos boxes, em um lugar em que havia uma abertura para fiscais, mas não para um carro. O jeito seria empurrá-lo para os boxes e, por isso, a direção de prova tomou duas providências: acionou o SC e fechou a entrada do pitlane. É algo que gera um alerta automático para as equipes, mas cujo sistema da Mercedes não está programado (ou não estava até aqui) para identificar. Hamilton estava entrando na Parabólica quando o pitlane foi fechado e não viu a sinalização a sua esquerda na curva. Mais atrás, a Alfa Romeo teve mais chance de reagir e cometeu o mesmo erro com Giovinazzi. A infração é grave porque, se a pena for branda, vale a pena os times ignorarem a regra e isso obviamente traz implicações de segurança.

Depois que o pitlane foi aberto, a Racing Point dividiu as estratégias, chamando só Perez e não Stroll, talvez imaginando que seria menos pior para o canadense esperar mais uma volta do que aguardar atrás do companheiro em um pitlane bastante congestionado. Mas, assim que os carros entraram, apareceu a informação de que o Safety Car entraria naquela volta. E Stroll teria que ficar na pista com os pneus macios usados.

Para Perez, esse momento não poderia ter sido pior: ele foi atrasado por Norris, que segurou o pelotão para que ele não tivesse que ficar esperando muito tempo pela parada do companheiro Sainz, e depois teve uma parada ruim. Caiu de quarto para 14º.

Na relargada, Leclerc, que estava conseguindo andar no top 10 porque tinha antecipado a parada, foi para o ataque, exagerou com um carro desequilibrado, e bateu forte na Parabólica. Com a proteção de pneus destruída, a bandeira vermelha teve que ser acionada. 

Depois de Gasly, era a vez de Stroll ter sorte, já que ele poderia trocar os pneus sob bandeira vermelha. O stop and go de Hamilton tinha sido confirmado, então ele estava fora da disputa pela vitória. Na primeira vez em que a largada normal após uma bandeira vermelha seria usada, Stroll era, de fato, o primeiro, com Gasly em segundo e Sainz (tendo Kimi, bem mais lenta, para superar), efetivamente terceiro. 

Stroll patinou na mesma posição em que Bottas também tinha largado mal e disse que ali não havia aderência. Depois errou a freada na segunda chicane, e caiu para “terceiro” na corrida de fato. Com uma Alfa saindo do caminho para cumprir a punição e outra sendo passada por um a um (inclusive, as ultrapassagens da corrida ficaram restritas às de Hamilton neste final de prova (oito em 14 voltas, depois que a Mercedes “abriu” o carro para ele andar no tráfego, durante a bandeira vermelha) e todas as ultrapassagens que Raikkonen sofreu, de certa forma inevitáveis pela falta de ritmo do carro, mas também facilitadas pela escolha de colocar pneus macios. A melhor escolha ali seria os médios, lembrando que seria uma largada parada, a não ser que você tivesse que arriscar (vide Hamilton na frente e Albon lá atrás, com o assoalho destruído depois de dois toques na primeira curva).

Sainz teve uma briga com Stroll, que tentava se recuperar, e pois isso demorou mais que o normal para passar Raikkonen (quatro voltas). E então foi à caça de Gasly, que tinha um trunfo importante: a AlphaTauri tinha andado tão bem na sexta que se deu ao luxo de colocar mais asa no carro, protegendo os pneus e sendo mais rápida que a McLaren no segundo setor. Então toda vez que Sainz forçava, Gasly respondia no segundo setor e conseguia ficar mais de 1s na frente. O espanhol só conseguiu chegar na última volta, mas não o suficiente para colocar de lado.

No final das contas, a gente chama de corrida maluca quando o imponderável é quem dita as regras. E, em um esporte em que os detalhes são levados tão a sério como na F1, isso é raridade.

3 Comments

  1. Além de linda, a Julianne Cerasoli escreve super bem todos os artigos! Até a minha avó começa entender melhor a F-1!

  2. Não concordo e acho injusto a troca de pneus e alterações nos carros durante a bandeira vermelha. Os carros deveriam de ficar num parque fechado.
    Já a questão do alerta automático do fecho do pit lane. Deveria ser obrigatório todas as equipas terem esse sistema. Como não é obrigatório, a Mercedes não o tinha, o que lhe custou uma clara vitória.

    cumprimentos

    visitem: https://estrelasf1.blogspot.com/

  3. Ridículo Norris não ter sido punido por fazer aquilo. Vettel e Hamilton já foram no passado e a explicação foi que ele se manteve dentro de um delta.
    Então é só se manter dentro de um delta e destruir a corrida de quem vem atrás! Injusto e incoerente. Mas se tem uma coisa que esses comissários não são é coerentes.


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