Fechando a semana, escolhi o texto do Diogo Xavier, que inclusive tem um blog, o Fórmula 1 Sem Cortes. O Diogo é mestre em Engenharia Mecânica, de Santa Catarina, e empresta para a gente a lógica da engenharia para responder à pergunta: seria Lewis Hamilton o melhor de todos os tempos ou seus números vêm do carro?
Esse ano a Fórmula 1 escreveu na história o nome de mais uma lenda: Lewis Hamilton. Não há exagero na afirmação. Superou os recordes de vitórias de Schumacher e o igualou em títulos, se tornando em números o maior piloto da história da categoria. Entretanto isso acontece no mesmo momento em que há também um domínio técnico inédito da Mercedes, a equipe de Lewis. Por isso levantam-se tantas dúvidas a respeito de Hamilton, seria ele o maior de todos os tempos ou é somente o carro? Para responder, passemos por 3 pontos: história, técnica e origem.
História
Por que sobre Schumacher não pairam tantas dúvidas? O alemão surfou no domínio da Ferrari para se tornar multicampeão, entretanto pouco se colocou em dúvida sua técnica e habilidade. Sem falar que Schumacher nunca teve um companheiro de equipe que fosse permitido enfrentá-lo, esse é o modo Ferrari. Ao contrário de Lewis que durante toda a sua carreira, enfrentou grandes pilotos, como Alonso e Button, e teve guerra aberta com seu ex-amigo Rosberg. Mesmo Bottas tem liberdade para enfrentá-lo. Comparando as trajetórias desses dois multicampeões, não existe razão para se duvidar mais de Lewis do que de Michael (este que possui o polêmico título de 94).
Outro fato que esquecemos é o percurso de Lewis. Nos tempos de kart até a Fórmula 2, empilhou títulos e performances incríveis. Iniciou na Fórmula 1 enfrentando como companheiro de equipe ninguém menos que o espanhol Fernando Alonso, sensação da época e vitorioso em cima de Schumacher. O então novato, fez frente de igual ao espanhol, tendo empatado em pontos no campeonato (ficou na frente por outros critérios). Já no ano seguinte foi campeão vencendo Massa na forte Ferrari (melhor que a McLaren na época). Nos anos seguintes, com uma McLaren mais fraca, conseguiu a incrível marca de vencer e fazer pole em todas as temporadas. Sempre conseguiu ser competitivo com um carro inferior, fazendo exatamente o que Max faz hoje na RBR.
Ao longo da Fórmula 1 foram várias as corridas memoráveis. Algumas corridas na chuva, manobras espetaculares e poder mental impressionante. Somente este
ano, as principais foram no GP da Estiria, onde sob forte chuva cravou a pole 1.2 segundos à frente de Max (vencendo o GP) e o GP da Turquia, num misto de chuva e falta de aderência, em um dos raros momentos de inferioridade da Mercedes. Venceu por pura técnica, inteligência e frieza, largando da sexta posição. Como já disse Reginaldo Leme, Hamilton é uma mistura dos grandes campeões Senna, Prost, Mansell e Piquet, onde conseguiu fundir técnica, inteligência, agressividade e conhecimento do carro em um único piloto.
Técnica
Lewis é um piloto rápido, mas muito rápido. Não é só capaz de fazer uma grande volta para uma pole, uma de suas marcas, mas também alcançar excelente ritmo de corrida. Além do mais, consegue ser agressivo quando precisa (era uma das suas fontes de erro no início de carreira) já o credenciando como um dos grandes, mesmo na época da McLaren. A habilidade de ultrapassar também é uma de suas marcas. Enquanto bons pilotos sofrem nesse quesito, Lewis tem um leque de ferramentas que só não fazem inveja a Ricciardo e Albon (sim, Albon era um dos melhores overtakers da Fórmula 1).
Mas o que o faz ser dominante como piloto não é segredo para ninguém: a gestão dos pneus. Conseguiu alinhar velocidade com boa gerência dos desgastes que acaba se tornando seu principal trunfo nas corridas. Isso exige uma sensibilidade fora do comum e inteligência para o acerto do carro. Nesse quesito é imbatível. Os compostos da Pirelli têm sido um desafio, visto que mantê-los sempre na estreita faixa de temperatura ótima com boa velocidade não é tão simples. O próprio Vettel já mencionou isso algumas vezes. Bottas não o vence principalmente por isso. Um antigo engenheiro da McLaren explicou como no momento em que Lewis aceitou não ser tão rápido para melhor gerir pneus, foi chave na carreira. Bom lembrar que Lewis iniciou a carreira naqueles horríveis pneus estriados (ao meu ver uma das piores ideias para a categoria) e foi se adaptando e evoluindo ano a ano, sem precisar mudar seu estilo de frear em cima da curva e retomar aceleração antes.
Origem
Cada vez mais pilotos são preparados desde o berço. Verstappen é um bom exemplo. Filho do ex-piloto Jos Verstappen, desde muito criança foi basicamente criado e talhado para se tornar piloto (às vezes de forma controversa). Não só dispunha de um tutor técnico, mas de um conhecedor dos caminhos para a principal categoria. E acima de tudo, possuía recursos para tal, equipamento, dinheiro e contatos. Não à toa, Max se tornou um fenômeno e é um dos melhores da atualidade. Um outro caso semelhante (e que estamos todos na torcida que siga os caminhos de Max) é da piloto Juju Noda de 14 anos, filha do ex-piloto Hideki Noda, atualmente na F4 dinamarquesa. Assim como Max, foi treinada desde o berço, conquistando incríveis resultados contra pilotos mais velhos e tem tudo para seguir o caminho do holandês. Também, por ter um pai ex-piloto, possui todos os recursos para construir uma carreira planejada, podendo treinar e focar exclusivamente no desenvolvimento técnico como esportista. Com Lewis, o contexto foi exatamente o oposto. Não era filho de ninguém ligado ao automobilismo e tampouco tinha os recursos necessários para desenvolver uma carreira tão cara na base. Mesmo assim, o pai de Lewis se dispôs a muitos sacrifícios para impulsionar a carreira de Lewis permitindo que treinasse. Como o próprio já comentou, corria com os piores equipamentos, diante de pilotos bem mais estruturados. Mesmo assim conseguiu ser vitorioso. Lewis parece ter tido um talento natural. Tinha tudo pra não dar certo num esporte essencialmente voltado para ricos.Foi dessa forma que chamou a atenção de Ron Dennis, que permitiu que assinasse um contrato com a McLaren ainda nos tempos do kart. O resto é história.
Essas são as credenciais que fazem de Lewis Hamilton o maior piloto de todos os tempos. Pode ser sim considerado um dos melhores da história, discussão essa sempre tão espinhosa. Fora das pistas, assumindo um protagonismo na luta contra o racismo, o colocou em outro patamar como esportista, partindo para o caminho de lenda do esporte. Mentalidade de campeão, exemplo como esportista, não se abateu nem quando foi derrotado por Rosberg. Pelo contrário, atingiu outro patamar depois disso. E parece que por enquanto não tem fim, segue forte. Será vencido um dia, mas jamais deixará de ser o que é: uma lenda.
4 Comments
Belo texto !
Para mim exprime na excencia as qualidades, e as barreiras vivenciadas e vencidas !
Para mim o maior da história!
Belo texto.
Estamos vendo um do melhores pilotos no seu auge.
Grande piloto, mas impossível afirmar que é o melhor de todos os tempos já que essa discussão, como disse o Vettel, passa por aspectos emocioniais… são comparações entre pilotos de épocas e situações completamente diferentes. Com excessão do Alonso em 2007, nunca teve um piloto fora de série como companheiro e ainda assim perdeu tanto para Button quanto para Rosberg… mas é indiscutível é que se trata de um dos maiores nomes do esporte…
Excelente texto. De facto, estamos a viver uma das melhores épocas da F1 e a ver um dos melhores pilotos de todos os tempos.
Atualmente, acho que é o melhor. Se é o melhor de todos os tempos? não sei responder a isso, mas de certeza que está no mesmo patamar que os grandes campeões de F1.
visitem: https://estrelasf1.blogspot.com/