Depois de dois circuitos de rua e de uma pista em que os pneus dianteiros são a grande preocupação, o GP da Estíria marcou o retorno a uma pista em que o superaquecimento dos traseiros era o fator limitante em termos de estratégia, mas com um cenário muito diferente da última corrida em que isso aconteceu, na Espanha: desta vez, a Red Bull não derreteu seus pneus como em Barcelona e Max Verstappen ainda deu um banho de ritmo em Lewis Hamilton que, como o rival seis semanas antes, saiu da corrida admitindo que não tinha armas suficientes para contra-atacar.
Entre uma corrida e outra, a Red Bull primeiro aprendeu a tirar o máximo de sua asa traseira em forma de colher, que diminui bastante o arrasto aerodinâmico sem afetar tanto o downforce produzido, colocou um motor novo no carro na França (uma corrida depois da Mercedes) e correu com um novo assoalho na Estíria. Enquanto a Mercedes vem tentando administrar a temporada mais com a exploração de acertos diferentes do que com peças novas.
No Red Bull Ring, o acerto escolhido até ajudou o time na classificação (da qual Hamilton saiu decepcionado com sua performance), na avaliação do chefe de engenharia, Andrew Shovlin, mas provavelmente colocou energia demais nos pneus traseiros durante a corrida, que foi disputada sob um calor escaldante, com temperatura da pista acima dos 50ºC.
Ainda assim, a corrida foi tão tranquila para Verstappen, que é difícil imaginar que outro acerto teria mudado o resultado da prova. Na Estíria, a Red Bull era o carro mais veloz em uma volta lançada, nas retas, e não teve problemas de desgaste de pneus ou equilíbrio ao longo da prova, como celebrou o holandês após abrir 18 pontos de vantagem no campeonato.
Na largada, o pole Verstappen segurou um esboço de ataque de Hamilton e, em 10 voltas, já tinha aberto a vantagem de que precisava para não correr o risco de sofrer um undercut. A partir dali, foi uma corrida simples na ponta, com a Red Bull esperando a Mercedes chamar Lewis aos boxes para também fazer sua troca na volta seguinte. A distância entre os dois quando isso aconteceu já era de mais de 5s e o pior ainda estava por vir para os heptacampeões: o ritmo dos rivais era ainda melhor com os pneus duros, e Verstappen já tinha aberto 17s quando Hamilton parou novamente para, pelo menos, ficar com o ponto da volta mais rápida.
A terceira colocação ficou com Valtteri Bottas mesmo com a Red Bull tentando mudar a estratégia de Sergio Perez para colocar os dois carros no pódio, mas as 10 voltas que os dois passaram atrás de Lando Norris não só os tiraram de qualquer papel na parte da frente da corrida, como também foram mais prejudiciais para Perez, que estava com os pneus macios (não por uma opção estratégica, mas porque ainda está devendo em classificações, então a Red Bull preferiu não arriscar). O time o chamou aos boxes na volta 26, prevenindo-se de uma possível tentativa de undercut por parte da Mercedes, mas a parada foi lenta e eles acabaram levando o overcut depois que Bottas parou na volta seguinte. A perda total do finlandês na inlap e outlap foi quase 5s menor, o que indica que não foi só a parada lenta que fez o mexicano perder a posição.
A Red Bull tentaria reverter o quadro usando a mesma tática da França, colocando Perez no pneu médio para que ele tentasse passar Bottas no final, mas faltaram voltas para o mexicano. Talvez isso pudesse ter sido feito antes, já que os tempos de volta dele no final sugerem que o desempenho do pneu ainda era consistente.
Em quinto, sexto e sétimo chegaram três pilotos que tiveram tardes brilhantes. Norris, como sempre limpo e duro nas brigas por posição, teve uma troca de passões por fora com Perez, e depois não brigou quando sentiu que não tinha ritmo para lutar com carros mais rápidos: tratou de cuidar de seus pneus e foi um dos últimos a trocar os macios pelos duros, preferidos por oferecerem mais proteção contra o superaquecimento dos traseiros. Aliás, se havia qualquer dúvida de que os duros seriam o melhor pneu da corrida, ela se foi com o primeiro stint do único piloto que largou com eles, Kimi Raikkonen, que ganhou 5 posições na parte inicial da prova.
Tendo saído com os médios por se classificar só em 12º, Carlos Sainz usou muito bem a vantagem para ser o último a parar, juntamente com Daniel Ricciardo. Mas os dois tiveram destinos bem diferentes na prova: o espanhol passou quatro carros alongando seu stint com um bom ritmo, e chegou a esboçar uma perseguição a Norris. Essa também poderia ter sido a corrida de Ricciardo, que ganhara quatro posições na largada, mas teve uma perda de potência que o fez cair para 13º. Preso justamente atrás de Raikkonen, que demoraria para parar, ele não conseguiu fazer seu ritmo e terminou fora dos pontos.
Quem teve uma boa briga com Raikkonen foi Charles Leclerc, que começou mal sua tarde dando um toque que acabou com a corrida de Pierre Gasly e danificou sua asa dianteira. Essa acabou sendo sua sorte, já que ele se livrou rapidamente do pneu macio e fez a corrida com a combinação duro-médio, a mesma de Sainz e com a qual a Ferrari fica mais à vontade em termos de superaquecimento. Passou seis pilotos na segunda metade da pista para chegar em sétimo, ajudando a Ferrari a descontar dois pontos da vantagem da McLaren na luta pelo terceiro lugar nos construtores.
Já neste fim de semana os carros voltam ao Red Bull Ring, agora com os compostos mais macios da gama (macio e médio do GP da Estíria viram o médio e duro no GP da Áustria) e o problemático (para a Mercedes) C5 volta à cena.
2 Comments
Mattia Binotto sugeriu em entrevista que a continuidade do time da Red Bull por um longo período em contraste com a Mercedes, que vem perdendo técnicos de alta qualidade, pode estar desestruturando o time alemão até então imbatível. Soma-se a esse fato o teto de gastos, onde a Mercedes era a que mais gastava e agora se vê limitada.
Excelente matéria. Estou adorando o conteúdo, sempre há algo além do que se ve na pista.