O 2º ano das 3 equipes que entraram na F1 com a promessa de um teto orçamentário fantasma de 45 milhões de euros – mais de 6 vezes menos que a Ferrari gasta, por exemplo – promete ser decisivo. Depois de um ano de adequação às demandas da categoria, a busca é por afirmação.
Lotus: dentro da pista, tudo bem encaminhado
Em 2010, Lotus, Virgin e Hispania trilharam caminhos diferentes. A primeira trouxe grande parte dos profissionais da Toyota, investindo prioritariamente em pessoal. O time de Tony Fernandes, empresário do ramo aéreo, começou bastante tarde o projeto, em setembro, mas a experiência do diretor técnico Mike Gascoyne contou a favor dos malaios, que terminaram o ano marcando tempos 2, 3 décimos mais rápidos seu rival mais próximo, o Virgin de Glock.
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Completou a prova de estreia com ambos os carros, porém a confiabilidade não seria exatamente uma marca: foram 11 abandonos por falha mecânica. Contudo, como seus problemas estão concentrados em 2 áreas específicas, câmbio e sistema hidráulico, o caminho parece mais claro que de suas rivais diretas – inclusive, fecharam um acordo para usar câmbio e transmissão da Red Bull em 2011.
Lotus | Hispania | Virgin | |
Motor | 2 | ||
Câmbio | 4 | 1 | 4 |
Hidráulica | 6 | 3 | 4 |
Freios | 1 | 1 | |
Mecânica | 4 | 4 | |
Elétrica | |||
Óleo ou água | 1 | ||
Outros* | 5 | 5 | 4 |
% de voltas
completadas |
78.1 | 73.5 | 70.5 |
*Acidentes ou desqualificações
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Se dentro da pista tudo parece bem encaminhado, fora dela a situação não poderia ser mais complicada. Envolta numa batalha pelo nome Lotus com os mais novos co-proprietários da Renault, pode ver todo seu trabalho em cima da marca jogado fora em breve, tendo que começar a construção da identidade da equipe do zero, algo difícil de fazer vindo do fundo do grid, lembrando que as intermediárias a pequenas independentes só sobreviveram com um forte aporte de capital nos últimos anos, vide Sauber e Minardi/Toro Rosso. Mas não parece ser essa a ideia de Fernandes que, além dos câmbios Red Bull, contratou o motor Renault para 2011.
Virgin: o futuro no presente
Todo esse investimento da Lotus está longe da realidade da Virgin. Mesmo sendo de propriedade do bilionário Richard Branson, a equipe contou com o que se acredita ser o orçamento mais baixo da categoria em 2010. Isso porque o britânico não pretende desembolsar dinheiro para o projeto da F1, mas sim usar seu nome para criar uma plataforma de negócios para sua marca, que já vende de CDs a viagens à lua.
Para isso, o projeto teria que ser o mais barato possível, e aí entra a equipe de Nick Wirth, que trabalha com CFD, ou Fluidodinâmica Computacional. A grosso modo, isso quer dizer que eles desenvolveram o carro usando o computador ao invés do túnel de vento. Todas as equipes usam ambas as tecnologias em conjunto, pois o CFD, apesar de estar em pleno desenvolvimento, ainda não é tão preciso quando as simulações em maquetes, mas poucos duvidam que será possível, no futuro, dispensar os velhos túneis.
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A questão é que a Virgin está no presente fazendo carros do futuro, e eles naturalmente não são tão eficientes ou duráveis. Assim, amargaram a última posição do campeonato, mesmo tendo um equipamento que, numa volta, pôde competir em alguns circuitos com a Lotus. Outro problema foi o recrutamento de pessoal vindo de categorias como GP2 e F3, cuja adaptação à F1 provou ser mais difícil que o previsto. Pelo menos o problema de financiamento para as pesquisas foi parcialmente corrigido para o ano que vem com a chegada da fabricante de carros russa Marussia como title sponsor e a empresa de Nick Wirth promete tornar-se o maior centro de CFD do mundo.
Hispania: equipe fantasma
A pior posição, de longe, é da Hispania. No projeto inicial, chamaria-se Campos, seria comandada por Ádrian Campos, ex-piloto de F1 com experiência como chefe de equipe na GP2, e teria o chassi feito pelos italianos da Dallara. No quadro de funcionários, um misto de experiência em F1 e engenheiros/mecânicos espanhóis.
A realidade, um ano depois, não poderia ser mais diferente. No lugar de Campos, o empresário José Ramón Carabante, cujo envolvimento prévio com o esporte resumia-se ao patrocínio de um time de basquete. A equipe rompeu com a Dallara e não recebeu nenhum upgrade no ano. Depois, anunciou a cooperação técnica com a Toyota, que também logo foi encerrada. No momento, o ex-Red Bull e Honda Geoff Willis projeta o carro de 2011, que não deve ficar pronto para os testes de fevereiro e sequer tem piloto, depois das más explicadas trocas em 2010. Guiaram o carro Bruno Senna, Karun Chandhok, Sakon Yamamoto e Christian Klien.
Esse vídeo mostra bem o trabalho que todos eles tiveram para segurar esse carro em comparação aos pilotos da Red Bull:
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O grande fantasma, principalmente para a Hispania, se estiver no grid, neste ano, será a regra dos 107% – quem fizer um tempo 7% pior que o pole na classificação, não larga. E não largar seria um pesadelo para estas equipes, que perderiam seu já pequeno espaço na TV, impedindo seu progresso, ainda mais em uma categoria sem testes.
Se a regra dos 107% estivesse em vigor em 2010:
Provas | Desclassificados | Equipe |
Bahrein | Senna
Chandhok |
Hispania
Hispania |
Austrália | Di Grassi
Senna Chadhok |
Virgin
Hispania Hispania |
Malásia | Senna
Chandhok |
Hispania
Hispania |
China | – | – |
Espanha | Chandhok | Hispania |
Mônaco | Chandhok | Hispania |
Turquia | – | – |
Canadá | Chandhok | Hispania |
Europa | – | – |
Inglaterra | Chandhok
Yamamoto |
Hispania
Hispania |
Alemanha | Yamamoto | Hispania |
Hungria | Kovalainen
Trulli Di Grassi Glock Senna Yamamoto |
Lotus
Lotus Virgin Virgin Hispania Hispania |
Bélgica* | 7 pilotos | 5 equipes |
Itália | Senna
Yamamoto |
Hispania
Hispania |
Cingapura | Senna
Klien |
Hispania
Hispania |
Japão | Senna
Yamamoto |
Hispania
Hispania |
Coréia | Senna | Hispania |
Brasil* | 8 pilotos | 5 equipes |
Abu Dhabi | Klien | Hispania |
*provavelmente todos largariam, pois a classificação começou com chuva e terminou no seco.
Os carros da Hispania ficaram acima dos 107% do tempo da pole em 16 das 19 provas do ano, desempenho que foi piorando no decorrer da temporada, devido à falta de desenvolvimento do carro. Como era de se esperar o único GP, fora os que tiveram classificação com chuva e seco, em que os 6 carros das equipes novas ficariam de fora foi o da Hungria, em que a Red Bull colocou mais de 1s em toda a concorrência – e quase 5s5 em Timo Glock, o 1º classificado entre as novatas.
2 Comments
a lotus, pela seriedade, parece que crescerá. o quadro comparativo, parece filme de terror, hehe! em reta, tudo bem, mas em cada curva, parece que a hispania quer praticar rally, tamanha a instabilidade na pista.
É Julianne, seu blog é tão bom e único que já virou fonte para jornalistas picaretas…
Ótimo trabalho e ótimo 2011!
Ah, gostei muito dos seus textos sobre corrida…
Parabéns!!