Quando Max Verstappen fez a pole position em uma classificação complicada por conta do vento, com um carro que é sensível a isso justamente por gerar mais aderência. Desconfortável, se colocou em primeiro por uma margem pequena. No GP no sábado, o vento deu uma trégua, o carro ficou mais na mão do holandês, e ele largou todo mundo brigando atrás dele para vencer com impressionantes 22s de vantagem para o rival mais próximo. Que inclusive tinha o mesmo carro que ele.
Essa é uma maneira de ver as coisas. Ano passado, a vantagem de Verstappen na pole position foi de 0s3 no Bahrein. É uma pista que casa muito bem com o carro da Red Bull, especialmente por ser tão dura com os pneus, grande vantagem do time nos últimos anos. Eles já sabem que têm um carro forte em classificação (e muito forte em corrida), então ficam mais tranquilos em apostar em um acerto que vai totalmente na direção de tirar a energia dos pneus traseiros.
Nem todos podem fazer isso no mesmo nível. O pelotão atrás da Red Bull é apertado e uma classificação ruim pode jogar uma Mercedes lá para trás, como descobriu Lewis Hamilton, nono no grid.
Mas o carro mais veloz na classificação, na verdade, foi a Ferrari, que fez o melhor tempo com Charles Leclerc no Q2. O vento apertou no final e complicou a vida dos pilotos de maneiras diferentes, mas pode haver um sinal de esperança para os rivais na comparação com 12 meses atrás.
Vantagem de Verstappen foi menor do que em 2023
Na corrida, pelo menos o resultado final aponta na mesma direção. Em 2023, Verstappen venceu com uma vantagem média de 0s67 por volta em relação ao melhor não-Red Bull. Desta vez, foi meio segundo.
E, novamente, alguns fatores ajudam a inflar esses números.
O mais óbvio é a corrida diferente de Verstappen na frente, gerenciando os pneus desde o início. Se você consegue controlar como coloca energia nos pneus logo de cara, seu rendimento será melhor. E ele teve isso. Fez uma boa largada, abriu 0s9 em relação a Charles Leclerc, que logo percebeu que havia algo seriamente errado com seu carro, e a partir daí administrou seu ritmo.
Quando fez a primeira parada, depois dos demais, tinha 30s de vantagem. A segunda, também, foi feita depois de Perez. Ele teve tudo na mão para fazer a corrida perfeita, liderando todas as voltas e abrindo uma enorme diferença, podendo escolher quando faria a volta mais rápida. E o fez.
Perez não teve a tranquilidade de Verstappen
Os outros tiveram uma noite mais movimentada no Bahrein. O segundo colocado Perez saiu em quinto, passou Carlos Sainz na largada, depois George Russell na terceira volta, Leclerc logo depois. Com isso, seu primeiro stint acabou sendo mais curto do que o planejado.
Isso deixou o mexicano de certa forma exposto porque a Red Bull tinha optado por uma estratégia diferente que, para eles, era claramente mais rápida. Eles fariam o começo e o final da corrida com o pneu macio, e a parte do meio com o duro. Os demais fariam macio-duro-duro.
Ok, não sabemos o quanto Max forçou e certamente ele não tirou tudo o que poderia do carro. Não precisava. Mas esse é outro fator que exacerbou a vitória de Verstappen. A Red Bull é tão superior no trato dos pneus que permite que eles usem o composto mais rápido por mais tempo na corrida do Bahrein. Nem sempre é assim. Mas, para Perez, significava que ele tinha que administrar para não ficar exposto no final ao ataque de quem viesse por trás.
Sainz dá esperanças para o ritmo de corrida da Ferrari
E esse piloto foi Carlos Sainz. Ele caiu para quinto na largada e perdeu tempo por algumas voltas atrás de Leclerc, que fritava os pneus repetidamente. Algo fazia as temperaturas dos freios dianteiros dispararem, chegando a mais de 100ºC, e demorou para a situação se normalizar.
Após passar o companheiro, Sainz optou por estender seu primeiro stint para lucrar no final da prova. Mas isso o colocou novamente atrás de Leclerc após as paradas. Ele passou novamente o companheiro, e depois foi à caça de George Russell.
Sainz demonstrou um ótimo ritmo em uma pista que seria uma prova de fogo para a Ferrari devido ao desgaste de pneus. Mas também é verdade que a Mercedes, que costuma ter um ritmo de corrida melhor, não mostrou tudo o que podia.
Eles foram muito otimistas na abertura de refrigeração que usaram e, mesmo com 18 graus de temperatura ambiente, sofreram com superaquecimento do motor. Com isso, os pilotos tiveram de diminuir o ritmo – e, se formos acreditar nos números de Toto Wolff, a perda foi de algo em torno de 0s4 por volta.
Sainz foi, então, à caça de Perez. Ele antecipou sua parada, na volta 35, sabendo que colocaria pneus duros e querendo que o mexicano antecipasse a sua troca, tendo de fazer 20 voltas com o composto macio. Perez parou no giro seguinte.
Diz o mexicano que enfrentou muitas dificuldades nesse stint “com coisas que fizeram os pneus se desgastarem”. De qualquer maneira, a queda de rendimento nas últimas voltas não apareceu, e ele conseguiu manter a segunda colocação, com Sainz em terceiro.
Leclerc ainda aproveitou um erro de Russell para ficar com a quarta colocação, deixando o piloto da Mercedes em quinto.
McLaren fica um pouco para trás, pelo menos no Bahrein
Sexto, Lando Norris fez o que a McLaren podia neste fim de semana, em uma pista que expõe os pontos fracos de um carro que ainda não anda bem em curvas de baixa velocidade e gera muito arrasto. Hamilton foi o sétimo, Piastri o oitavo e Fernando Alonso tentou ficar na pista o máximo possível no segundo stint esperando um SC que não veio e fechou em nono, com Stroll (que chegou a cair para último) em décimo.
Todos os 20 carros terminaram a prova, com direito a uma boa performance de Zhou e uma confusão na RB. Tsunoda ficou a corrida inteira na frente de Ricciardo só para ouvir o pedido de inverter posições no final. A tentativa era superar Magnussen, já que o time sentia que Ricciardo estava mais rápido.
O australiano não conseguiu a ultrapassagem, a equipe não ordenou que a troca fosse desfeita, e o japonês fez uma “ultrapassagem” bem forçada já depois da bandeirada. A temporada já começou animada para alguns, e tranquila, pelo menos na pista, para Verstappen.
5 Comments
Ótima análise como sempre! Só uma correção: Piastri foi o oitavo, não Norris.
Você consegue passar alguma emoção numa corrida pra lá de modorrenta. Minha assinatura da F1 TV vai até o fim de março. Se continuara assim e não vejo porque iria mudar, esse ano eles não levam minhas moedas.
Parabéns pelo seu trabalho, excelente
Por que Alonso não optou pelos macios na ultima parada, visto que restavam poucas voltas para o fim?
O Espanhol não tinha pneus novos?
Ele não tinha