A McLaren venceu o GP de Miami com Lando Norris, 14 meses depois de começar 2023 amargando as últimas posições do grid. Ok, o Safety Car ajudou, mas Norris não teria vencido não fosse o ritmo que impressionou até Max Verstappen já com pneus médios usados na metade da corrida.
Todo o final de semana em Miami foi marcado pelo rendimento aleatório dos pneus, com os pilotos relatando uma falta de consistência da aderência. Isso teve a ver com o aumento da abrasividade do asfalto e com o calor, na prova mais quente do ano até aqui.
Pitstops não eram definidos pelo desgaste
O interessante dessa prova do ponto de vista de estratégia é que trata-se de uma corrida de uma parada, mas em que cuidar dos pneus gera uma flexibilidade grande para se escolher em que momento parar. E as paradas são mais ditadas pela tática mesmo, seja pela tentativa de sair do trânsito, seja para tentar obrigar os rivais a pararem também, seja para tentar criar uma diferença grande de desempenho.
Primeiro, porque é preciso uma diferença maior que em outras pistas para termos ultrapassagens em Miami. E, segundo, porque justamente isso gera a necessidade de proteger a posição de pista.
Norris faz primeira parte da corrida em sexto
Explico. O GP começou com uma largada agressiva, com os pilotos sabendo da dificuldade para ultrapassar em Miami. Sergio Perez se jogou na primeira curva, causou um certo caos, e ajudou Piastri a pular de sexto para terceiro, dividindo as duas Ferrari. Norris caiu para sexto, atrás de Perez, enquanto Verstappen liderava.
Na quarta volta, Piastri passou Leclerc, o que foi recebido como uma ótima notícia por Norris. Afinal, ele sabia que tinha o carro com a atualização completa (e muito extensa) que a McLaren trouxe para Miami e pensou que, se Oscar tinha conseguido passar a Ferrari em uma pista em que é tão difícil ultrapassar, ele teria chances também.
Mas a velocidade de reta da Red Bull de Perez era alta demais para Norris, que tinha a mesma velocidade final do mexicano mesmo com DRS aberto. Então ele teve que ter paciência e esperar Perez parar, o que aconteceu na volta 17.
Ritmo de Norris impressiona até Verstappen
Foi aí que vimos o verdadeiro ritmo de Norris. E ele era rápido. Nas voltas seguintes, ele é mais veloz que Verstappen, até que o holandês para na volta 23.
O normal seria ver Verstappen abrir o equivalente a uma janela de SC – em Miami, 9s – e ainda por cima ser o último a parar. Mas nenhum dos dois aconteceu. Ele não abriu o equivalente para parar e voltar na frente no caso de um SC nem em relação a Norris, que era quinto, e parou antes também de Piastri e Sainz.
Entre eles havia uma dinâmica interessante. Sainz vinha pedindo para a Ferrari inverter posições porque acreditava estar mais veloz que Leclerc, e quando o monegasco parou, na volta 19, ele passou realmente a virar mais rápido e colocar pressão em Piastri.
Essa foi uma oportunidade que a Ferrari não aproveitou: Sainz acabou parando na mesma volta do australiano, quando poderia ter tentado ficar mais na pista para ganhar a posição.
Mas seus pneus tinham acabado, ao contrário do que estava acontecendo com Norris, ainda muito rápido. Tanto, que começou a preocupar Verstappen. O holandês foi avisado pelo engenheiro sobre os tempos que Norris estava virando com os pneus médios usados e se surpreendeu: naquela tarde em Miami, ele não podia replicá-los.
Não ajudou, também, que Verstappen tenha escapado da pista, atropelado um cone, e danificado seu assoalho. Ele achava que o carro estava desequilibrado apenas por conta dos pneus, mas também havia esse dano.
Safety Car dá uma mãozinha para Norris
Norris chegou a abrir 18s na ponta, mais que o suficiente para parar e voltar na frente no caso de um Safety Car. Mas seu plano era outro: ficar na pista tempo suficiente para criar uma diferença no número de voltas do pneu tão grande que permitiria passar Verstappen (e talvez Leclerc, dependendo de onde voltasse) na pista.
Ele teria umas 10 voltas a menos no pneu, lembrando que, embora a estratégia não tenha sido ditada pelo desgaste, isso se dá pela importância da posição de pista e não porque não havia desgaste. Era daquelas corridas em que vale mais andar lento na pista. Mas, com uma diferença tão grande entre os pneus, ultrapassar não seria tão difícil. O único porém seria a falta de velocidade de reta da McLaren principalmente em relação à Red Bull.
Não sabemos como isso teria terminado, mas o Safety Car apareceu, Norris economizou tempo em sua parada e voltou em primeiro. Na relargada, ao contrário do que aconteceu tantas outras vezes nos últimos anos, Verstappen não teve armas para atacar.
Seu carro nunca teve um desempenho muito superior. O máximo que ele tinha aberto na liderança tinha sido 3s7, e isso contra a McLaren menos atualizada. Contra Norris, ele não tinha chances. Viu o britânico abrir mais de 7s em 24 voltas e vencer a primeira corrida da carreira.
A pergunta que fica é se Norris teria vencido sem o SC
Não seria fácil porque ele teria que fazer ultrapassagens na pista (e em Miami isso não é fácil), mas é fato que o ritmo dele com pneu usado era tão forte quando a Red Bull foi tantas vezes nos últimos anos.
Verstappen cruzou em segundo, com Leclerc em terceiro, seguido por Perez, Sainz, Hamilton, Tsunoda, Russell, Alonso e Ocon, que marcou o primeiro ponto da Alpine no ano.
Alonso e Ocon fizeram uma estratégia exatamente oposta. O espanhol largou com pneus duros e passou para os médios na volta 22 (semelhante ao que Hamilton adotou), enquanto Ocon fez exatamente o contrário. Ambos se encontraram na pista do começo ao fim, algo impensável para a Alpine um mês atrás.
E Tsunoda vai sonhar com o carro de Hamilton nos próximos dias. Passou muito tempo na cola dele na sprint e praticamente a corrida toda. As RB estão crescendo e podem tornar a briga pelo s pontos ainda mais interessantes.
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