O GP do Bahrein sempre é um teste e tanto para os pneus. Os traseiros principalmente sofrem muito com superaquecimento pela combinação entre asfalto áspero, muitas freadas fortes e consequentes zonas de tração e a temperatura do asfalto, alta mesmo à noite. Depois de terem ficado sem sua arma principal, a possibilidade de cuidar melhor dos pneus do que qualquer outro carro, no Japão, a McLaren voltou com tudo na quarta etapa do campeonato.
Ou quase tudo: Lando Norris foi perdendo o controle do carro à medida que foi anoitecendo durante a classificação. No Q3, duas voltas com muitas correções fizeram com que ele não passasse do sexto lugar no grid, com o carro que tinha tudo para fechar a primeira fila e conquistar a dobradinha no domingo. Gol aberto para Oscar Piastri, muito mais confortável por todo o final de semana, diminuir sua desvantagem na luta pelo campeonato.
O australiano fez a pole position, se manteve em primeiro na largada, chegou a abrir 8s para o rival mais próximo, viu o grid se compactar novamente por um Safety Car na volta 32, e abriu mais 15s nas últimas 21 voltas de bandeira verde para vencer pela segunda vez no ano e quarta vez na carreira.
A corrida de Norris
Enquanto isso, Norris tinha mais dificuldade do que o esperado para colocar um carro que se mostrou ser o mais veloz e o que cuidava melhor dos pneus no pódio. E em uma posição abaixo do que deveria.
Na largada, ele se posicionou um pouco à frente do lugar de largada e levou 5s de punição, que seriam pagos em sua primeira parada. A largada em si foi ótima e ele pulou de sexto para terceiro, mas ficou preso atrás de Russell por todo o primeiro stint.
Tanto, que a McLaren antecipou sua parada, chamando-o aos boxes na volta 10. Não tinha como fugir do trânsito de qualquer maneira, então era melhor já pagar a punição e recuperar o tempo perdido na pista, aproveitando o undercut, bem poderoso justamente por causa do desgaste excessivo.
Mas havia um fator complicando a estratégia de todo mundo na ponta: Leclerc largou, da segunda colocação, com pneus médios, assim como Hamilton, em nono. As Ferrari tentariam ficar na pista por mais tempo e estariam fora de sincronia com o restante.
Leclerc acabou perdendo duas posições na largada, mas pode fazer o resto do primeiro stint de maneira mais tranquila, tendo carros mais lentos atrás. Hamilton passou apenas Sainz no primeiro jogo de pneus, e não parecia ter grande evolução com a estratégia diferente na primeira parte da prova.
Verstappen de mal a pior
Ninguém sofria tanto, contudo, quanto Verstappen. Largando em sétimo, ele perdeu posição para Sainz, depois passou o espanhol, mas lá ficou até ser um dos primeiros a parar na volta 10. E foi o primeiro a ter a desagradável experiência de colocar o pneu duro, que não dava aderência alguma.
O stint dele foi tão ruim que o holandês voltaria aos boxes em apenas 16 voltas, para colocar os médios, com os quais teria que dar 31 voltas! Pior: quando parou de novo, já estava em décimo, em parte pelo pneu, em parte por um pitstop lento por não ter recebido a luz verde para sair do box. Mas as más notícias não pararem por aí: na segunda parada, com o sistema de “semáforo” manual, a roda dianteira direita travou, e ele perdeu ainda mais tempo.
Safety Car trava as estratégias
There's some lore behind this one 😏
— Formula 1 (@F1) April 14, 2025
Carlos Sainz goes wheel-to-wheel with his Ferrari replacement Lewis Hamilton during a great battle in Bahrain ⚔️#F1 #BahrainGP pic.twitter.com/zOONDlHHfN
Enquanto isso, Hamilton tinha um bom segundo stint, ainda de médios. Quando parou, na volta 17, ele tinha 12s de desvantagem para Leclerc e cinco carros entre eles. Quando o SC foi acionado, na 32, só havia Norris entre as duas Ferrari, e 11s que seriam “apagados” pela neutralização da corrida. Na pista, Hamilton passou Doohan, Verstappen, Antonelli e Ocon.
Mas a Ferrari tinha uma decisão difícil pela frente: como eles só tinham usado os pneus médios até aquele momento, ou ficariam na pista o máximo possível com os médios para colocarem os macios, ou encarariam os duros, que não tinham funcionado para ninguém.
O SC decidiu por eles. Acreditando que seu carro gasta mais pneu que os rivais diretos (motivo pelo qual largaram com os médios), eles colocaram os duros. Hamilton chegou a atacar e passar Norris mesmo assim após a relargada, mas o piloto da McLaren reagiu e passou também Leclerc, indo à caça de Russell.
Os dramas de Russell
O piloto da Mercedes vivia seus próprios dramas. Ele teve um problema eletrônico que afetou tanto a parte da cronometragem, quanto seu próprio carro, fazendo o brake by wire parar de funcionar. Na tabela de tempos, era como se seu carro não existisse, o que afetou o DRS – o seu e o dos rivais, porque quem chegava a 1s de seu carro não recebia o alerta para ativar a asa traseira móvel.
Isso atrapalhou seu ritmo e ampliou a vantagem de Piastri, ao mesmo tempo em que dificultou a vida de Norris, que não conseguiu passá-lo. Isso, mesmo com uma diferença significativa entre os dois: sem mais pneus médios disponíveis, e tendo a escolha entre o duro e o macio, Russell estava com a borracha menos durável, pois a Mercedes queria fugir de qualquer maneira do pneu de faixa branca. Com pneus médios e um carro bem mais rápido, Norris ficou em terceiro e saiu do Bahrein sem entender muito bem como podia ainda ser líder do mundial.
Foi uma corrida cheia de histórias para serem contadas. Verstappen acabou em sexto, atrás das duas Ferrari, e preocupado com o desgaste de pneus, um problema novo para a Red Bull.
Gasly conseguiu os primeiros pontos da Alpine, à frente de Esteban Ocon, uma das duas Haas que pontuaram mesmo tendo largado em 14º e 20º. Ocon usou o undercut no começo para ganhar terreno e Bearman, o overcut, sendo o último dos pilotos que largaram com pneu macio a parar, só na volta 16.
Em sua segunda corrida pela Red Bull, Yuki Tsunoda andou mais perto de Verstappen do que seus antecessores e pontuou em um dos finais de semana mais difíceis da equipe nos últimos anos, chegando em nono.
Bortoleto tem corrida difícil
O brasileiro Gabriel Bortoleto teve uma prova bem difícil. Largou com os médios, pois a Sauber tentava aproveitar qualquer SC que pudesse aparecer depois que os pilotos que largariam com macios parassem, parou cedo para tentar um undercut em Lawson (o que não deu certo por pouco), e foi para os pneus duros.
A parada antecipada fez com que ele fosse o segundo piloto a usar o composto, quando ainda não estava claro que ele teria que ser evitado. O plano inicial era fazer 25 voltas com os duros para tentar ter pneus mais novos no final, mas o Safety Car antecipou a parada.
Mesmo assim, ele se viu em último, mas com pneus médios contra Stroll e Alonso de duros. Mas não conseguia se aproximar. Ao final da prova, Bortoleto se queixou do comportamento da Sauber, que perdia aderência atrás de outros carros. Ele foi classificado em 18º depois da desclassificação de seu companheiro, Nico Hulkenberg, que tinha sido o 15º, pelo excesso de desgaste da prancha que regula a altura do carro.
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