O próprio Michael Schumacher pode ter tido o apoio da Mercedes para chegar à F1, mas, levando-se em conta os programas de desenvolvimento em si, os maiores exemplos são Lewis Hamilton e Sebastian Vettel. Os dois – não coincidentemente – campeões do mundo mais jovens da história foram recrutados ainda crianças pela McLaren (em parceria com a Mercedes) e a Red Bull.
A história do inglês é o mais próximo de um conto de fadas que a Fórmula 1 pode chegar. Aos 11 anos, ao receber o prêmio pelo título inglês de kart, Hamilton se aproximou de Ron Dennis, se apresentou, e disse que um dia andaria em um de seus carros. O então chefão da McLaren pediu que lhe ligasse em dez anos. Mas Hamilton já estava no radar da equipe, e foi contratado com apenas 13. A partir daí seguiu uma rotina igualmente intensa de pressão e vitórias. Quando estreou, em 2007, o piloto liderou o campeonato da sexta à penúltima etapa e sendo vice-campeão do mundo.
Vettel também foi vice-campeão no primeiro ano em que teve um carro competitivo na F1, em 2009. Apoiado pela Red Bull, o piloto fazia parte paralelamente do programa da BMW e, portanto, tinha dois caminhos para entrar na categoria. Pulou algumas etapas nas fórmulas menores – algo recorrente entre os pilotos Red Bull – e acabou estreando pela equipe alemã em 2007, da qual era reserva. Mas Vettel fez a sábia opção pelo caminho da empresa austríaca, e seguiu para a Toro Rosso em 2008, para logo ser promovido ao time principal.
É isso que esperam Jaime Alguersuari e Sebastien Buemi. Os pilotos de 21 e 22 anos, respectivamente, são outros exemplos de crias do programa da Red Bull. No entanto, os titulares da Toro Rosso contam com um rival que vem ganhando força: Daniel Ricciardo, também de 21 anos, sucedeu justamente Alguersuari como campeão da F3 inglesa em 2009 e acumula atualmente as funções de piloto reserva nas duas equipes da Red Bull, andando nos carros de Faenza às sextas-feiras de GP. Com a vaga de Mark Webber cada vez mais aberta, a briga é forte para mostrar serviço.
Das equipes grandes, a Ferrari foi a última a enxergar o filão. Na verdade, foi obrigada a fazê-lo, após o fiasco da promoção às pressas do reserva Luca Badoer em consequência do acidente que tirou Felipe Massa de boa parte da temporada de 2009. Conhecida por contratar apenas profissionais experimentados e usar as equipes para as quais fornece componentes, como a Sauber, para testar suas crias, a Ferrari hoje conta com a Academia de Pilotos, que cedeu o reserva deste ano, Jules Bianchi. Quem também faz parte do programa é Sergio Perez, estreante em 2011 justamente pela Sauber.
Mas formar jovens talentos não é apenas preocupação das grandes. Até Lotus e Force India entraram na onda dos programas de desenvolvimento. A primeira, com o intuito não apenas de descobrir novos pilotos em geral, mas principalmente de fomentar o automobilismo na Ásia. É o mesmo caminho da equipe de Vijay Mallya, que decidiu focar seus esforços na própria Índia.
Mais do que buscar talentos em si, essas iniciativas são fundamentais para o crescimento da categoria em mercados que parecem não sentir as crises financeiras por que a Europa vem passando.
Nesse cenário, parece não haver espaço para brasileiros. No entanto, multinacionais fortes no Brasil têm, sim, interesse em contar com pilotos do país. Tanto, que a Renault apoiou alguns num passado recente e hoje, a Ferrari – com o respaldo da Fiat e do Banco Santander, prestes a ter no Brasil seu maior mercado – tem todo o interesse em ter brasileiros a bordo. Tanto, que Nicolas Costa, primeiro vencedor da Fórmula Future, faz parte da Academia de Pilotos da Scuderia.
Todo o conceito do programa, aliás, não visa apenas o “adestramento”, mas também direcionam o investimento para zonas de interesse da empresa. Uma McLaren, por exemplo, encontrou em Hamilton um astro de que a Inglaterra carecia. Será que, mesmo com toda seu talentos e títulos no kart, não chegaria a hora em que o pai de Lewis, que chegou a ter três empregos para garantir o sonho do filho, conseguiria captar recursos o suficiente? E Vettel, cujo pai era carpinteiro, onde chegaria?
Num esporte em que talento não é tudo, os programas de desenvolvimento são uma espécie de ProUni do automobilismo. Nascer no lugar certo ajuda, mas tem que fazer a lição de casa direitinho.
2 Comments
Dos estreantes mais recentes, acredito que Hamilton seja o mais impressionante de todos.
Exatamente por iniciar em uma grande equipe e apresentar resultados logo de cara, não se deixando intimidar por pilotos muito mais experientes. Justificou totalmente cada centavo investido em sua formação.
Só não foi campeão logo no ano de estreia, por um pouco de ansiedade em querer decidir rapidamente o campeonato e cometeu erros quando não poderia.
Vettel e Hamilton tem em comum o arrojo que já lhes causaram acidentes em tentativas de ultrapassagens e escapadas de pista por puro excesso de confiança.
Mas é mais fácil tornar um piloto mais cuidadoso do que mais rápido.
A adaptação parece a palavra chave dessas academias. Com o elevado nível de profissionalismo exigido pelo mercado no geral, onde ontem já é tarde, etapas tem que ser aceleradas. Isso só é possível com o ProUni da f1, rsrsrsrs. Não sei se é bom ou ruim, mas tendo em vista os custos exorbitantes, esses programas procuram garimpar tesouros. Se é restritivo por um lado, cria alternativas, mesmo que mt difíceis, para quem se destaca. Vj o grande diferencial para o passado, onde a cara e a corajem, e um bocado de dólares no bolso, eram suficientes para se ter uma chance. Mas a disputa hj é tão massacrante, que vemos pilotos de grande potencial fora da disputa, como Di Grassi e Hulkenberg. Bom ou ruim, nunca valeu tanto o ditado, hora certa, lugar certo!