F1 A briga dos escapamentos e a “recomendação” da FIA - Julianne Cerasoli Skip to content

A briga dos escapamentos e a “recomendação” da FIA

o escapamento da Sauber chamou a atenção em Jerez

Em teoria, seria só recolocar os escapamentos para seu lugar de costume e ponto final, mas a F-1 não volta atrás assim, tão facilmente, e não demorou para que começassem as acusações de que há quem esteja mais dentro das regras que outros.

A era dos escapamentos soprados no difusor, iniciada em 2010 pela Red Bull, gerou uma pilha de conhecimento aos engenheiros, que estão tentando replicar o efeito aerodinâmico que os gases têm a capacidade de prover mesmo após as mudanças nas regras. Assim, a tendência de usar esses gases para “selar” o ar que passa rente às asas traseiras virou prioridade – a diferença é que, ao invés de fazer isso por baixo, agora é por cima.

O regulamento atual determina uma área na parte de cima da carenagem dentro da qual as equipes podem decidir onde colocar os escapamentos. A regra diz basicamente que, deve haver duas saídas, uma de cada lado dentro dessa área e os últimos 10cm devem apontar para cima, em um ângulo de 10 a 30º.

O problema é um requerimento que a FIA despachou às equipes pedindo que os novos escapamentos não buscassem influenciar na aerodinâmica. E os testes de Jerez mostraram que alguns levaram a tal recomendação mais a cabo que outras.

Os escapamentos de McLaren, Ferrari e Sauber chamaram a atenção pela clara influência aerodinâmica que causavam. A equipe italiana, inclusive, testou algumas configurações diferentes – bastante questionáveis do ponto de vista regulamentar e bem longe da recomendação da FIA.

A McLaren optou por uma espécie de recorte na carenagem, na tentativa de fazer com que a parte final do escapamento esteja o mais baixa possível – ou seja, mais perto do assoalho. Ela aponta para cima no ângulo mínimo, mas logo depois disso os gases descem por uma espécie de canaleta e são direcionados para baixo, em solução semelhante à encontrada pela Sauber.

A Ferrari foi a que mais ousou até o momento. Experimentou uma saída que, embora tivesse os 10cm finais virados para cima, eles eram cobertos pela carenagem em uma espécie de túnel que direcionava os gases para baixo. Depois, com sinais de superaquecimento, essa parte da carenagem foi cortada. Nas laterais da asa traseira, a Ferrari testou uma espécie de canalizador de ar, buscando utilizar ao máximo esse fluxo.

É questionável o quanto se pode ganhar mesmo conseguindo canalizar o ar da melhor maneira possível, pois as novas regras integram o pedal do piloto com a aceleração do motor. Parece uma coisa óbvia, mas ano passado as equipes mantinham o motor “acelerado” o tempo todo para que o fluxo de gases do escapamento não se alterasse, a fim de usar o benefício aerodinâmico do escapamento soprado o tempo todo, evitando que o carro tivesse perdas repentinas de aderência. Agora, isso é proibido, então os engenheiros já estão trabalhando com um ganho menor, que só ocorrerá quando o piloto estiver com o pé no acelerador.

Mas afinal, o quanto vale uma recomendação? Às vezes fica a impressão de que não são as regras da F-1 que permitem interpretações vagas, mas sim a forma como elas são controladas. As asas flexíveis são outro caso parecido: elas não poderiam flexionar, mas o fazem, e de forma visível. No entanto, como os engenheiros descobriram uma maneira disso não transparecer nos testes da FIA, algo fora do regulamento se torna legal.

Dia desses um amigo me perguntou por que a FIA muda tanto as regras. Boa pergunta. Por que proibiram os difusores soprados, por exemplo? Falarão que eles geram muito consumo de combustível e, principalmente, gasto com algo que não será usado pela indústria automobilística. Então por que fazer uma regra que continua permitindo o mesmo tipo de uso do escapamento, apenas trocando-o de lugar?

É difícil deixar de relacionar a política nisso tudo. Historicamente, carros dominantes foram parados assim, na canetada. Mudanças de regras acabaram com domínios como aqueles dos quais Vettel pode se comparar no último ano, como a Williams dos 1990 e a Ferrari dos 2000. Seria essa a verdadeira “recomendação”?

7 Comments

  1. Bom dia. Como nao sei nada de engenharia, diria que Adrian vai driblar a canetada da FIA e coisa e tal.
    Leituras diversas e criatividade, tudo bem, em cima das margens (cada vez mais desmedidas) do regulamento.

    Contudo, a FIA nao esconde de ninguem a sua face autoritaria e ditadora que e’. E vejam so’, o ex-chefe da Ferrari esta la’ nao e’?

  2. Creio que mudanças tão constantes nas regras sejam políticas. Revisões das regras de construção e de pontuação quase sempre são consequências do passado recente. O argumento é quase sempre em favor da competitividade, que deixa o esporte mais bonito aos olhos dos espectadores. Várias vezes lemos por aí aquela frase que termina com um “favorecer o espetáculo”. As vezes uma regra burlada favorece o espetáculo, uma equipe quebra um domínio anterior, e a a leitura da FIA é de que está tudo legal. Isso vai até o meio do campeonato, onde se vê que a fatura será liquidada rapidamente. Então, a FIA revoga essa legalidade favorecendo o espetáculo e a competitividade. É até dificil imaginar como seria o campeonato se a liberdade fosse mais ampla do que essse aspecto político, pois esse lado (pro bem ou pro mal) é intrínseco da categoria.

  3. Ju, vc toca em um ponto mt importante, afinal, as regras existem, mas quando ha a interpretação dos técnicos, e nesse caso, a políticagem, engessada pela possibilidade de atingir Aou B, chegamos em paradoxos. No caso das asas flexíveis (teve tbm o F-duct da Mclaren), que são visíveis pelas imagens de tv, vc não acha que a possibilidade de utilizar as imagens nos julgamentos técnicos, uma tentativa válida? Afinal vê-se a flexão e continua-se na mesma. O que vc acha? E sobre a liberdade de criação, num passado remoto, tinha-se carros mais diferenciados, que buscavam soluções mais personalizadas, com a década de 70/80/90. O que vc acha sobre a liberdade de criação, e qual vc acha que seria o limite mais generalizado, que não influenciasse a segurança, a desportividade e os gastos de forma exarcebada? Vc acha possível um meio termo nesse caso?

    • Wagner, escreverei sobre esse tema da liberdade aos engenheiros em breve.

      • Nesse tema, seria interessante também abordar o excesso de regrinhas para os projetos de hoje. Na minha visão, as regras deveriam ser mais “retas”, sem tantos detalhes, e cada projetista que se vire…

  4. Essa é umas das partes que eu mais gosto na F1, a criatividade dos engenheiros e projetistas. E na minha opinião os engenheiros deveriam term mais liberdade, mas claro dentro regras rígidas principalmente de controle de gastos, ai sim valeria a criatividade mais que a grana.

  5. Mais uma vez a F1 com atitudes estranhas, como é possivel agora TODOS os carros com o desenho do degrau na frente!!! De repente os engenheiros acordaram e TODOS tiveram a mesma criativa idéia de fazerem a parte da frente todos iguais!! Isso é uma piada ! Tem algo estranho nessa história. A Mercedes lançou ontem o carro e por ultimo e a frente igualzinha!!
    Hahahaha, isso é brincadeira.


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