“Chegamos a Montreal, talvez com o desejo que acabe a sequência, que não haja mais um vencedor diferente. E quem pode fazê-lo é Fernando Alonso, que larga em terceiro. Aqui dá para ganhar.” O narrador da espanhola Antena 3, Antonio Lobato, mal sabia que em menos de duas horas estaria em apuros. O motivo? A degradação dos pneus, que, antes mesmo da largada, era assunto obrigatório nas transmissões do GP do Canadá. “A estratégia mudou muito porque acertaram o carro com a temperatura mais baixa. Por isso, o favorito parecia ser Vettel, mas a corrida pode ser de Hamilton por essa questão do calor”, aponta Luciano Burti, na Globo.
O alemão também assusta o comentarista espanhol Marc Gené. “Ele tem um pequeno plus que vimos nas simulações de corridas e na classificação. O que me preocupou é que ele fazia muitas poucas correções.” Mas o piloto de testes da Ferrari também está de olho no companheiro de primeira fila do piloto da Red Bull . “Se alguém tem de ganhar, é Hamilton, mais por orgulho. Porque já está merecendo. Ele tem de arriscar mais.”
Na Sky Sports britânica, o narrador David Croft pergunta: “Quem acertou o carro pensando em tirar tudo de uma volta na classificação e quem acertou pensando ‘amanhã vai estar mais quente, não vou colocar muita temperatura no meu pneu’?” Seu companheiro de transmissão, Martin Brundle, já sabe quem observar no início da prova. “Vamos olhar com atenção o Button, forçado a largar com o pneu macio.”
Nada de troca de posição entre os primeiros na largada, para a surpresa do inglês. “Nem Massa, nem Alonso largaram bem. Que estranho ver isso, porque eles sempre voam.” Mesmo sem as ‘asas’ de sempre, o brasileiro impressiona. “Massa sabe que está pilotando por sua carreira”, observa Brundle. “Muito confiante”, completa Lobato. “As feridas começam a cicatrizar e está andando muito bem o brasileiro”. Gené emenda: “ele faria um grande favor a Fernando se pudesse caçar Webber e ultrapassá-lo.”
Mas a empolgação não dura muito. “O carro saiu bastante de frente, ele perdeu a linha ideal, e, depois, a traseira. É um erro, não tem o que falar”, admite Burti. “O carro está pesado, tem menos aderência e, por isso, é complicado quando se perde a linha.” Para Gené, o brasileiro teve sorte de não bater, mas deveria estar decepcionado porque “vinha fazendo a corrida do ano e cometeu um erro.”
Na disputa da ponta, Lobato vê que “Hamilton está apertando porque não quer ser atacado por Fernando” e se anima para “ver o ritmo real em velocidade de reta, algo em que a Ferrari ganhou bastante”. Minutos depois, admite que teme Vettel, cujo ritmo “começa a assustar”. Mas Gené não se impressiona. “Ainda não vimos a degradação e, com este calor, acredito que seja francamente difícil fazer uma parada. Teria que parar com 25 voltas e confiar que os macios durem 45. Mas o ritmo de Button com macios não é bom. É corrida de duas paradas.”
Ritmo bom mesmo, só com a Lotus, como observa Brundle. “Parece que a temperatura está os favorecendo.” Quem não parece gostar nada da alta nos termômetros é a Red Bull. “Vettel entra porque não aguentaria mais”, se anima Lobato. “Vettel não está rápido… olhem o ritmo de Fernando! Quem não cometamos o mesmo ‘erro’ de Mônaco, que o deixem na pista até que o pneu não aguente”, espera Gené. Os espanhóis calculam perda total do pit pelo tempo mostrado no gráfico da FIA, desconsiderando que os pilotos que entram nos boxes não fazem a chicane nem as duas primeiras curvas. O mesmo acontece com Reginaldo Leme na Globo.
Como Burti esperava, pois “esses pneus macios demoram a esquentar”, Hamilton para depois e volta à frente de Vettel, em briga que anima os espanhóis. “Vettel, por favor, se mostre para Hamilton nos retrovisores. Essa briga ajuda Fernando.” Sim, porque o espanhol não havia parado. Quando o faz, retorna adiante. “Na frente, na frente, na frente! Ganhou as duas posições. Impressionante mais uma vez! Tem que aguentar como seja”, berra Lobato, para logo levar um banho de água fria de Gené. “Vai ser difícil. O pneu não está aquecendo rápido e ele não tem DRS.”
E foi, Hamilton tomou a ponta, em importante manobra, como frisam os britânicos. “Alonso mostrou que, fundamentalmente, tem um carro mais rápido quando esteve com ar limpo. Mas o crítico da ultrapassagem é que agora Hamilton tem a vantagem de ter ar limpo”, diz Brundle. “Nesses pneus macios, a McLaren é um carro bem mais forte.”
Praticamente em coro, Burti e Gené frisam que “a sorte de Alonso é que a Red Bull não tem velocidade de reta” e o espanhol segue em segundo por todo o stint. “A estratégia foi perfeita. Ficamos na frente do nosso rival mais direto no mundial”, comemora o piloto de testes da Ferrari.
Agora são os espanhóis que chamam a atenção para as Lotus, “fizeram as melhores simulações de corrida” na sexta-feira. “Grosjean e Raikkonen devem tentar fazer uma parada.” À medida que a corrida vai se desenrolando, o que era para todos uma corrida de dois pit stops vai mudando de cara. Gené é um dos que resiste, pois “o problema que aqueles que querem fazer um pit têm de colocar os supermacios, que duram 20 voltas.” Não é o único. Quando Kobayashi para, na volta 25, Croft pergunta a Brundle se ele acha possível uma parada. “A partir desse momento, dá para acreditar.” Mas o repórter Ted Kravitz parece mais cético. “Acho que eles poderiam tentar uma parada, mas acredito que os pneus vão acabar antes. Quem vai a uma parada é o Raikkonen”. E o narrador completa “Se alguém vai tentar isso, é a Sauber”.
Mas a dupla inglesa se preocupa mesmo é com a corrida de Button. Croft lembra que o piloto da McLaren saiu de último para vencer no ano passado. “Isso me impressionaria bastante hoje”, responde Brundle, guardando às devidas proporções o ‘feito’ do compatriota em 2011. Em um trocadilho com os planos A e B sobre os quais Hamilton conversa com seus engenheiros, o narrador, em tom de brincadeira, pergunta ao repórter Kravitz qual é o plano J, pois nada parece funcionar para Jenson.
Falando na comunicação da McLaren, Burti interpreta o tal plano A que seguirão como de uma parada, enquanto Reginaldo chama a atenção para “a boa corrida de Massa, após seu erro. Ele está no ritmo da ponta mesmo com muito mais voltas nos pneus.”
Gené ao menos está aliviado com a performance da Red Bull. “Temíamos no briefing que Vettel escapasse, porque ele parecia ter mais ritmo. É tranquilizador que isso não tinha acontecido. Eles trabalham em configuração de classificação, por isso o tráfego penaliza muito. Temos de confiar que as voltas em que Hamilton forçou no começo lhe custe no final do stint.”
De fato, o inglês é o primeiro a perder rendimento. “Estamos entrando na janela de duas paradas, mas todos estão vendo o que podem fazer. Hamilton é o mais lento, mas Alonso e Vettel talvez tentem chegar ao final”. Kravitz mal acaba a frase quando Hamilton entra nos boxes novamente.
“É importantíssima essa volta do Hamilton com pneu frio. São nessas horas que o piloto decide”, destaca Burti. “Acho que ele já fez o suficiente para ficar na frente, agora pode começar a se preocupar com desgaste. Mas será que a Ferrari vai tentar não parar?”, o brasileiro solta no ar. “Eles têm que esperar o pneu degradar, mas é arriscado ficar tanto tempo na pista com um jogo de pneus. Não dá para saber o que é ritmo e o que é economia de pneus”, avalia Gené que, depois de ser contra a estratégia de um pit até meados da prova, já não sabe o que pode acontecer. “Esta corrida está apaixonante. O normal é fazer duas paradas, mas quem conseguir fazer uma, ganha. Se tentar, é arriscado, porque ninguém nunca tentou andar tanto assim. Mas o que Perez e Raikkonen fizeram indica que poderia dar certo.”
Enquanto Hamilton vai diminuindo a diferença, britânicos focam na corrida de Webber e não discutem a possibilidade de que Vettel e Alonso não parem mais, até que o rádio de Lewis chama a atenção de Croft. “Ele teria de passá-los na pista, mas com essa vantagem de pneu não seria um problema. A Red Bull e a Ferrari perderam o momento de responder”, vê Brundle. “Não vai ser Button desta vez que vai abrir caminho, vai ser Hamilton, como em Hockenheim há alguns anos”, Croft se empolga.
Gené olha para os 14s8 entre Hamilton e Alonso após o segundo pit do inglês e diz “14s em 18 voltas…”, considerando a hipótese de uma parada para a Ferrari, já que “ninguém sabe o que Vettel vai fazer”. Mas Lobato não se convence: “cara, são mais 18 voltas. Vimos Kimi, mas o Lotus é melhor com os pneus, não sei se a Ferrari pode fazer o mesmo.” O comentarista observa o ritmo inicial do piloto da McLaren e calcula que ele chegaria lutando com Alonso. “O problema é se Fernando consegue manter esse ritmo”, avisa o narrador. “Red Bull e Ferrari estão esperando para ver. Eles perderam a janela para responder e os tempos de volta estão bons por enquanto”, avalia Kravitz na Sky. Para Reginaldo, por ter pneus três voltas mais usados que o próprio Alonso, “seria uma surpresa muito grande se Vettel não parar”.
Os britânicos começam a ver que outros pilotos, e não apenas o trio de ferro da frente, estão entrando na jogada. “Os líderes têm de permanecer na tática de uma parada, caso contrário vão perder para Grosjean”, aponta Brundle, enquanto o comentarista espanhol Jacobo Vega, por outro lado, crê que a Ferrari está correta. “Acho a estratégia perfeita, porque a segunda posição ele já tinha. Ao não parar, deram a chance de lutar pela vitória.”
O narrador inglês está nervoso: “Não sabemos o que está acontecendo com os pneus de Alonso porque eles estão falando espanhol no rádio”. Ok, era italiano, mas os tempos diziam que a situação não era das melhores. Até os espanhóis já sabem que Alonso vai perder a vitória e têm medo de Vettel. Não observam o ritmo de outros. “Não entendemos muito bem a parada de Vettel”, se surpreende Lobato, a exemplo de Brundle e dos brasileiros. “Quanto ele acha que pode ganhar?”, diz o narrador. É neste momento que Gené observa que Grosjean não está longe.
Falando em Grosjean, Burti vê um “diferente estado de espírito” no francês anos após sua estreia na categoria, em 2009. “Ele não chegava nem perto do Alonso quando foram companheiros, mudou de ares e agora está o ultrapassando.”
Para os britânicos, uma questão de tática. “Parece que, se seu carro for bom com os pneus, a estratégia de uma parada era o melhor caminho hoje, mas não para Alonso”, diagnostica Croft. “É porque ele ficou perseguindo Hamilton e segurando Vettel, isso tirou muita vida do pneu dele e agora ele está pagando o preço”, completa Brundle.
Nisso, Hamilton já está na liderança, e com margem. “Ele faz tudo certo aqui no Canadá, tem duas vitórias e três poles, mas ao mesmo tempo foi onde cometeu alguns de seus piores erros”, lembra Reginaldo, em estatística também apontada pelos britânicos. “Finalmente deu certo para Hamilton. E em um circuito de que ele gosta tanto”, comemora Croft. “Ele sai como líder e muito fortalecido”, vê Reginaldo. Já Brundle está “impressionado com Hamilton, mas principalmente com Grosjean e Perez cuidando dos pneus e chegando no pódio.”
Os brasileiros se divertem com o semblante dos pilotos no pódio. Para o narrador Luis Roberto, “Grosjean está com cara de ‘não sei o que está acontecendo’”, enquanto Reginaldo acredita que “os três estão com cara de vencedores.”
Quem não tem a mesma sorte é Alonso. E os espanhóis lamentam. “É triste porque ninguém merecia o pódio mais que ele. O pneu acabou de uma vez e você nunca sabe quando ia acontecer”, justifica Gené. “A Ferrari tentou uma estratégia que, em alguns momentos, parecia que ia funcionar”, Vega emenda, “É que não sabíamos”, responde o comentarista. “Ninguém sabia quanto ia durar. Criticaram pelo conservadorismo de Mônaco, agora não se pode criticar. O que fica claro é a degradação dos carros. Como a Ferrari classifica melhor, degradamos mais que Lotus e Sauber.”
Mais uma corrida de deixar comentarista de cabelo em pé e resta a Burti finalizar. “É o melhor momento da F-1.”
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Para os britânicos, uma questão de tática. “Parece que, se seu carro for bom com os pneus, a estratégia de uma parada era o melhor caminho hoje, mas não para Alonso”, diagnostica Croft. “É porque ele ficou perseguindo Hamilton e segurando Vettel, isso tirou muita vida do pneu dele e agora ele está pagando o preço”, completa Brundle. A tese de mestrado dos ingleses foi perfeita!