“Há dois anos, Alonso transformou aqui um déficit de 14 pontos em uma vantagem de 11. Agora, ele está sob risco. Com as duas vitórias de Vettel, há uma tendência se apresentando”, o narrador da BBC Ben Edwards define o cenário do campeonato antes do GP da Coreia.
Com a disputa se afunilando, as questões de sempre da estratégia – todos acreditam que os ponteiros devem fazer duas paradas, mas chamam a atenção para quem vem de trás e larga com os macios, podendo fazer apenas um pit – se misturam com uma dúvida: como a Red Bull vai agir tendo seu principal piloto na luta pelo título largando atrás do companheiro. “É preciso deixar a corrida rolar até a parte final e daí ver o que é melhor para a equipe”, defende Coulthard, mesmo pensamento de Marc Gené, na Atena 3, da Espanha. “Fazer algo na primeira curva é complicado, mas na reta é mais fácil de controlar. Porém, não acredito em nada na primeira volta, porque as diferenças são muito pequenas”. Mas o narrador Antonio Lobato desconfia que não vá demorar tanto: “Não podemos garantir que Webber terá o mesmo cenário depois da largada”, diz, ainda na volta de apresentação.
De fato, o alemão toma a ponta logo na primeira curva, para desconfiança do espanhol. “Vettel já está à frente, mas vem Webber tentando voltar. Não creio, não creio, não creio. Ele só está tampando os que vêm atrás. Até agora, Grosjean se comporta bem e Vettel se vai. Como sabia que isso ia acontecer?”
Na Globo, o narrador Luis Roberto está mais empolgado com Massa. “Vamos lá, Felipe! Que primeira volta de GP!” O comentarista Reginaldo Leme contradiz Lobato. Pelo menos, em termos. “Webber não deu moleza. Tentou de todas as formas segurar a posição, mesmo que fosse trocar de posição depois.”
Para Luciano Burti, “é ótimo para Vettel passar Webber, mas é ainda melhor para Alonso ter superado Hamilton, porque ele seria muito difícil de ultrapassar. Agora pode imprimir o ritmo da Ferrari. Surpreendeu o fato de que quem largou por fora foi bem.” Mas Lobato tem sua explicação: “Na largada, Webber atrapalhou todos os que largavam do lado limpo.”
Coulthard ressalta o “contraste entre aqueles com mais e menos experiência” nas manobras dos seis primeiros e do meio do pelotão, onde Kobayashi fez strike em Button e Rosberg. O inglês chama a manobra do japonês de “idiotice” e o comentariSta considera essa “uma boa maneira de descrever o que acabou de acontecer. Ele veio do nada”. Voltas depois, quando o drive through é confirmado para o piloto da Sauber, o escocês reclama que “parece uma pena pequena quando você tirou dois carros da corrida, mas não há muito o que se possa fazer.”
Preocupados com a diferença de ritmo entre Ferrari e Red Bull, os espanhóis custam a perceber que a bandeira amarela na reta oposta anula o DRS. Mas os brasileiros logo observam. “O resgate não tem muita prática e acabou demorando demais. Várias ultrapassagens deixaram de acontecer porque os carros estavam mais próximos nas primeiras voltas”, lamenta Burti. “O maior prejudicado foi Massa, porque ele estava conseguindo se manter perto de Hamilton, mas agora está a 1s2”, diz Luis Roberto, sem ver que Raikkonen passou todo o período de bandeira amarela bem próximo do brasileiro.
Os espanhóis se resignam com o rendimento da Red Bull, pelo menos na primeira parte da prova. “Com este composto, a Red Bull tem mais rendimento que a Ferrari. A grande questão é saber se, com o pneu duro, as forças mudarão. Não sabemos se a Ferrari pode ser melhor. O que sabemos é que o equilíbrio do carro para ir bem com o supermacio ou o macio é muito diferente”, Gené mantém as esperanças.
Porém, depois de ficar por todo o primeiro stint comparando o ritmo de Alonso em relação a Vettel, Gené tem um golpe de realidade na primeira parada e começa a se preocupar com Hamilton. “A Ferrari tem pouca margem”, avisa, quando o espanhol demora para marcar a parada do inglês. Lobato fica nervoso: “Tem que voar, tem que voar”, repete durante a parada. “Muito no limite! Não estamos preparados para estas emoções.”
Os brasileiros também ‘se emocionam’ demais e lamentam a posição perdida por Massa no box para Hamilton, ainda que o inglês nunca tenha deixado de ser quarto. “A primeira rodada de paradas não funcionou como esperado para a Ferrari”, lamenta Luis Roberto. “A explicação é que o tempo de parada de Massa foi muito pior”, emenda Reginaldo. Aparentemente avisada pela produção, a dupla volta atrás. “Explicando: depois da parada, Felipe não conseguiu superar Hamilton”, diz o narrador.
A dificuldade de Perez em se manter na trajetória quando encontra Alonso e Hamilton saindo dos pits com pneus novos mostra para Burti e Coulthard que a tentativa de fazer uma parada não está dando certo mas, para Luis Roberto, o mexicano “abriu para o Hamilton passar.”
Na volta 21, Gené percebe que imaginar que Alonso possa pressionar Vettel é querer demais. “Ele tem que pensar na segunda colocação e em perder menos pontos.” Enquanto isso, a briga é entre Massa e Hamilton. “Lewis não defendeu muito, mas não tem o que fazer quando o outro é 15km/k mais rápido na reta”, diz Coulthard quando brasileiro supera o inglês, que tem graining, segundo o engenheiro da Ferrari, Rob Smedley. Já os britânicos acham que o inglês tem borracha presa na asa dianteira, prejudicando sua performance. Porém, quando Hamilton recebe a mensagem de que tem um problema mecânico que afeta o equilíbrio, Gené mata de primeira. “Pode ser com a barra estabilizadora.”
Mas a suspeita inicial de Smedley abre uma gama de possibilidades para os espanhóis, que veem graining nos pneus de Webber, pois Alonso está se aproximando. “O que o telespectador está se perguntando agora é ‘por que isso não acontece com Vettel?’”, questiona Lobato. “Pode ser acerto ou estilo”, responde Gené.
Ainda que destaquem a “grandíssima” e “surpreendente” corrida de Massa, os espanhóis dão atenção à perseguição de Alonso a Webber e ignoram os tempos do brasileiro, que ganha destaque na Globo. “O grande passo que Felipe deu foi no ritmo de corrida. Fizeram alguma coisa com o certo porque esse era o principal problema no início do ano”, diz Burti. “Dizem que ele vai anunciar que fica na Ferrari em pouco tempo, mas isso nos faz imaginar se ele não melhoraria sua performance se as conversas tivessem bem encaminhadas antes”, acredita Coulthard.
A pausa no “caso Massa” se dá pela luta de Hamilton para ficar à frente de Raikkonen, mesmo muito mais lento. “É o tipo de piloto que agrada todo mundo. Menos o chefe dele porque ele apronta as suas”, opina Reginaldo. “Lewis é um racer. Ano passado, conseguiu se defender de Webber pela segunda posição, e agora luta pela quinta”, lembra Edwards, enquanto Coulthard vê falta de agressividade em Kimi. “Ele está muito bem em seu retorno, mas é verdade que ele tem sido muito cuidadoso em suas disputas. Fico imaginando o que seria se arriscasse mais, como no Bahrein, quando poderia ter vencido.”
Hamilton tem de parar novamente e os espanhóis riem da mensagem de seu engenheiro, que lhe diz que está mais rápido que Ricciardo. “Você está lutando pelo mundial e te dizem que está mais rápido que Ricciardo. Ele deve pensar ‘mas… Ricciardo’?”, se diverte Lobato.
Na luta da ponta, o foco não sai do minucioso acompanhamento da diferença entre Alonso e Webber. “A Red Bull parou Webber para se defender de Fernando. O que ele poderia fazer é ficar mais tempo na pista para apostar que terá pneus mais novos no final. A Ferrari tem de torcer para que a Red Bull tenha errado e entrado no box cedo demais”, avalia Gené. É isso que o bicampeão faz.
Porém, ao invés de se aproximar de Webber após a segunda parada, Alonso cada vez tem Massa mais por perto. “Não apareceu na TV, mas vimos que Alonso perdeu muito tempo com a Caterham no terceiro setor”, justifica Coulthard, em volta na qual o espanhol foi 1s5 mais lento que o brasileiro. “O Massa mais rápido não é algo que vemos com frequência, mas não acho que a Ferrari vai permitir essa ultrapassagem, a não ser que Fernando tenha um problema. Eles precisam economizar pneus, é uma prova longa;”
O escocês chega a supor que talvez seja uma boa ideia para a Ferrari que Massa passe Alonso. “Ele está perguntando sobre os tempos de Webber, talvez mandando a mensagem de que poderia atacá-lo. Ele não está longe, então não seria uma tática ruim o Alonso deixá-lo passar para ver se conseguiria lutar com Webber, porque eles poderiam reverter na última volta sem problemas.”
No entanto, isso nem passa pela cabeça dos espanhóis. Quando Smedley diz a Felipe que “está um pouco perto demais de Fernando”, comentário que causa risos dos britânicos, Lobato afirma que “é uma conversa que serviu para explicar bem as coisas”. Para Gené, “pediram para ele dar espaço, primeiro porque se tentar uma ultrapassagem corre o risco de bater e segundo porque seguir um carro tão próximo causa mais degradação.”
Há certo desconforto entre os espanhóis quando Alonso está envolvido em qualquer episódio de favorecimento dentro da equipe, portanto, após uma das inúmeras paradas para publicidade, o narrador Lobato trata de explicar a situação. “Estávamos conversando durante o comercial que Massa não poderia passar Fernando, que está lutando pelo mundial. As ordens de equipe existem e é a mesma situação que ocorreu com Webber e Vettel na primeira volta. Afinal, é uma questão de sair daqui líder do mundial ou não.”
Os brasileiros tratam de evitar “falsas expectativas”, como define Luis Roberto. “O jogo de equipe faz parte. Alonso está disputando o campeonato.” Reginaldo ressalta que “está claro que Felipe chega quando quer no Alonso. Ultrapassaria se fosse permitido. É talvez sua melhor corrida dos últimos dois anos.”
Burti destaca que o próprio Alonso deve estar se surpreendendo com sua falta de ritmo. “Quando se viu em terceiro, talvez imaginasse que conseguiria passar Webber.” Os espanhóis, contudo, têm uma explicação. “Dá a sensação de que Fernando tem problemas de graining”, diz Lobato. “Dá para ver isso claramente nas imagens. E é muito. Os pneus não estão funcionando bem nesta temperatura”, atesta Gené. Nesse caso, como diz Jacobo Vega, “o bom para Fernando é que Massa está atrás.”
Quando Hamilton arranca um pedaço da grama artificial, Luis Roberto pede que as áreas de escape sejam de asfalto, enquanto Burti pondera que “isso existe em todos os circuitos e não costuma haver problema, é só essa que não está bem presa.” Gené lembra que havia falado “com o Charlie Whiting e ele me disse que, se isso acontecesse, ia colocar o SafetyCar”. Mas, depois de alguma consideração, Lobato acha que é melhor que nada ocorra. “Acho que está difícil de qualquer jeito”, o narrador se rende.
Luis Roberto e Lobato tentam dar emoção à corrida no final, com as mensagens ameaçadoras do engenheiro de Vettel, Guillaume Rocquelin, o Rocky. Gené não se impressiona com o tom de preocupação, pois acredita que “isso está ocorrendo com todos”, mas ele e Lobato se divertem com o tom da conversa. “Ele falando que pode acontecer qualquer coisa é como se dissesse ‘cara, você não apenas vai perder o campeonato, pode acontecer um acidente horrível’”. O comentarista diz que “Vettel deve estar com medo porque nunca vi um engenheiro repetindo tantas vezes a mesma coisa.”
Mas não há nada que Rocky dissesse que diminuísse o ritmo de Vettel atrás de sua terceira vitória seguida e da liderança do Mundial. “É a segunda vez que a Red Bull coloca os dois pilotos no pódio, mas Alonso continua lá. Pode ter perdido a liderança, mas a Ferrari não vai desistir deste título”, diz Edwards, que não se surpreende com a vitória dominadora do alemão em Yeongam. “Só há umas 12 voltas que não liderou em três corridas aqui. Não fosse pela quebra de 2010, teria vencido as três provas.”
Coulthard concorda, dizendo que “não há dúvidas de que este menino é especial”, mas sente por Webber, que “deve estar frustrado por, novamente, não ter convertido uma boa classificação em vitória após uma largada ruim.”
Reginaldo, em meio aos destaques para Massa, que “fez a segunda melhor volta, foi consistentemente melhor e provou que poderia fazer outro pódio”, chama a atenção para a semelhança desta final de campeonato com 2010, “mas agora Vettel tem a experiência de dois títulos”, enquanto Burti destaca Newey como o maior vencedor da Coreia. “Concordo com Alonso: será a corrida da Índia que vai definir. Se as atualizações da Ferrari não forem suficientes, será muito difícil.”
Gené segue nessa linha. “O único lado bom é que são duas semanas até a próxima corrida e veremos se vamos conseguir produzir um pequeno milagre. Essa diferença com Fernando não é real. Ele tinha margem. Tiveram mais do que três décimos hoje e esse é um circuito diferente de Suzuka. Uma pena é que o resultado do Japão não é justo, porque era para Fernando ter sido segundo”, diz o comentarista, enquanto Lobato trata de valorizar seu piloto. “Fernando deu o máximo. E quando é ele quem dá o máximo há pouco o que dizer. Vitória para a Red Bull, que fez bem o dever de casa e melhorou o carro. Fernando tem de estar preocupado porque a Ferrari não reage. Ele já não pode dar mais.”
Mesmo destacando a melhora do ritmo da Ferrari em relação à McLaren, Edwards não pode deixar de concordar com o domínio da Red Bull – e usa uma expressão um tanto estranha para definir o momento positivo de Vettel. “O assassino sorridente ataca novamente, depois de ter dado um duro golpe na liderança de Alonso em Suzuka, ele passa à frente e a possibilidade de seu terceiro título seguido é cada vez mais realista.”
8 Comments
Assassino sorridente foi a melhor..kkkkkkkkk
Assassino sorridente nada haverrrrr!!
Hola Julianne, saindo um pouco do tema, tenho uma curiosidade em saber se ha hj algum piloto Brasileiro em algum programa de desenvolvimento das equipes de F1, temos visto a esse menino na GP2 Nasr, vimos o Razia , mas entendo que nenhum dos dois esteja em algum programa.
Como funciona isso, eh pura caca de talentos ou vc pede tambem pro sei paitrocinador pagar algo ?
Será que veremos a continuidade de Brasileiros na F1 ?
Poxa vida a ultima vitoria foi do Barrichello e o ultimo titulo, meu Deus, do Senna, melhor nao fazer conta.
Obrigado
FP
O próprio Razia, apesar de não fazer parte exatamente do programa, usufrui da estrutura da Red Bull em Milton Keynes, inclusive mudou-se para lá neste ano. Ali ele faz trabalhos físicos e trabalha com os simuladores da equipe. Mas não é o mesmo esquema dos pilotos da Toro Rosso, por exemplo.
A Ferrari, equipe comercialmente boa para os pilotos do país tendo em vista o interesse de Fiat e Santander no Brasil, teve o Nicolas Costa por conta do acordo com a F-Futuro, mas não tem mais.
O Nasr foi sondado para o programa em si da Red Bull quando corria na Alemanha, mas decidiu não entrar pois via que isso limitava muito suas opções na F1. E concordo com ele. Hoje, vale mais acordos como o do Perez e do Maldonado do que fazer parte de um programa desses.
Enfim, a esperança para 2013 seria o Razia conseguir uma vaga e acredito que ele tenha feito por merecer neste ano – e é curioso como aquele que o bateu na GP2, o valsecchi, não aparece ligado a equipe ou teste nenhum! Já o Nasr tem uma carreira meticulosamente estudada e não vai queimar etapas: sua meta é ser campeão da GP2 em 2013 para conseguir uma boa vaga na F1 no ano seguinte. E vai chegar trazendo dinheiro.
Prometo um post sobre essa questão dos jovens pilotos e seus apoios financeiros para breve!
Obrigado outra vez , muito legal saber que o Nasr tem um plano de carreira , estarei torcendo para que de certo, se a Redbull tentou o menino eh por que la no futuro poderemos velo en una boa equipe.
To curioso p/ saber qual for a frase do Edwards em Ingles… o termo “killer”, sendo traduzido p/ “matador” seria apropriado. Acho pouco provavel que ele tenha usado “assassin”…
Foi justamente assassin, por isso estranhei!
crazy!!!!!!!